"Lisboa no Ano 2000 - Uma antologia assombrosa sobre uma cidade que nunca existiu", organizada por João Barreiros, com contos de A.M.P. Rodriguez, Ana C. Nunes, Carlos Silva, Guilherme Trindade, João Ventura, Joel Puga, Jorge Palinhos , Michael Silva, Pedro Afonso, Pedro G.P. Martins, Pedro Vicente Pedroso, Ricardo Correia, Ricardo Cruz Ortigão, Telmo Marçal.
Sinopse:
Bem-vindos à maior cidade
da Europa livre, bem longe do opressivo império germânico. Deslumbrem-se
com a mais famosa das jóias do Ocidente! A cidade estende-se a perder
de vista. O ar vibra com a melodia incansável da electricidade.
Deixem-se
fascinar por este lugar único, onde as luzes nunca se apagam, seja de
noite, seja de dia. aqui a energia eléctrica chega a todos os lares
providenciada pelas fabulosas Torres Tesla.
Nuvens de zepelins
sobem e descem com as carapaças a brilhar ao sol. Monocarris zumbem por
todo o lado a incríveis velocidades de mais de cem quilómetros à hora. O
ar freme com o estímulo revigorante da electricidade residual.
Bem-vindos ao século XX!
Lisboa no Ano 2000 recria uma Lisboa que nunca existiu. Uma Lisboa tal como era imaginada, há cem anos.
Opinião:
Demorei o meu rico tempo a ler a antologia da qual também faz parte um conto meu, mas deixem-me explicar-vos porquê: a antologia é bastante volumosa e eu decidi ler espaçadamente os contos, entre outras leituras. Podia tê-la lido toda de uma vez, mas não quis. E agora finalmente terminei.
Lisboa no Ano 2000 é um reinventar da capital portuguesa, como esta teria sido imaginada pelos autores do final do século XIX (com a monarquia ainda no poder e a electricidade como fonte de energia única). João Barreiros deu as regras e os outros autores exploraram os seus limites.
Fiquei agradavelmente surpreendida com alguns dos contos. Tive a oportunidade de conhecer, pessoalmente, quase todos os escritores (ou mesmo todos, se não estou em erro) e a grande maioria das histórias da antologia estão muito boas. Todas muito imaginativas.
Como em quase todas as antologias, existem uns contos que gosto mais que outros; os meus favoritos foram: "Dedos", A.M.P. Rodriguez; "Energia das Almas", João Ventura; "A Rainha", Pedro Vicente Pedroso; "Taxidermia", Guilherme Trindade; "Ex-Machina", Michael Silva; "Chamem-nos Legião", João Barreiros.
Podem ver as opiniões individuais nos posts que fiz para cada um dos contos:
"O Turno da Noite", João Barreiros- opinião (na Bang! 10)
"Venha a Mim o Nosso Reino", Ricardo Correia - opinião
"Os Filhos do Fogo", Jorge Palhinhos - opinião
"Dedos", A.M.P. Rodriguez - opinião
"As Duas Caras de António", Carlos Eduardo Silva - opinião
"Electro-dependência", Ana C. Nunes (o meu conto)
"Nanoamour", Ricardo Cruz Ortigão - opinião
"Energia das Almas", João Ventura - opinião
"Fuga", Joel Puga - opinião
"Tratado das Paixões Mecânicas", João Barreiros - opinião
"O Obus de Newton", Telmo Marçal - opinião
"Ex-Machina", Michael Silva - opinião
"A Rainha", Pedro Vicente Pedroso - opinião
"Taxidermia", Guilherme Trindade - opinião
"Quem Semeia no Tejo", Pedro G.P. Martins - opinião
"Coincidências", Pedro Afonso - opinião
"Chamem-nos Legião", João Barreiros - opinião
Em suma, Lisboa no Ano 2000 é uma antologia surpreendente, cheia de histórias imaginativas. Uns contos agradaram-me mais que outros, como sempre acontece, mas recomendo vivamente. E, claro que, esta opinião é independente da minha participação na mesma.
Já agora, se leram ou lerem a antologia, agradecia que deixassem comentários a dizer o que acharam dela num todo e também do meu conto. :)
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quarta-feira, 6 de agosto de 2014
segunda-feira, 2 de junho de 2014
::Conto:: O Obus de Newton

Opinião:
Senti que este conto foi demasiado longo. Havia lugar a muita descrição tecnológica, no que me pareceu ser uma homenagem a Jules Verne (e contra isso, nada!), mas foi demais.
Também senti que havia muito saudosismo dos tempos das conquistas portuguesas pelo mundo, o que é uma boa lembrança do que ainda se cria em 1900, ou do que se desejava que a nação portuguesa continuasse a ser.
A história em si é bastante complexa e está maravilhosamente estruturada mas a narrativa arrasta-se e divaga desnecessariamente.
E confesso que a prosa não me cativou e os diálogos provaram ser pouco naturais, especialmente no início.
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Antologia de Ficção Científica Fantasporto
"Antologia de Ficção Científica Fantasporto", organizado por Rogério ribeiro, com contos de Afonso Cruz, Bruno Martins Soares, Isabel Cristina Pires, António Carloto, Madalena Santos, João Ventura, José Cardoso , Luís Roberto Amabile, João Leal, António de Macedo, Manuel Alves, João Paulo Vaz, Telmo Marçal, Beatriz Pacheco Pereira, Rodrigo Silva, Filipe Homem Fonseca, Ágata Ramos Simões (Edições 1001 Mundos)
Sinopse:
O Fantástico nasce da mente e imaginação humanas e encontra campo fértil de expressão nas mais diversas formas artísticas. Tem sido esse o espírito do "Fantasporto", e foi aqui objectivo da 1001 Mundos trazê-lo para a literatura. Esta antologia nasce fruto dessa colaboração, e do trabalho do organizador, Rogério Ribeiro.
Esperamos que apreciem estes momentos de um tempo que ainda não é - ou que nunca foi - e que saíram da imaginação de autores de três continentes, mas com um forte elo que os une - a Língua Portuguesa.
Opinião:
Vou começar por falar dos contos, um a um, e no final farei um apanhado geral.
"O tempo tudo cura menos velhice e loucura", de António de Macedo
Um conceito engraçado com um bom desfecho, mas cuja execução deixou algo a desejar. Não entrei verdadeiramente na história e os 'factos' científicos que deveraim ter sido divertidos (entendi-os como uma sátira) foram um pouco aborrecidos. Já para não falar que a explicação do que aconteceu deixou muito a desejar.
"A inimaginável materialização de Samira", de João Paulo Vaz
Mais um excelente conceito que poderia ter dado um excelente conto, mas que se ficou apenas pelo mediano. O autor usou muito o 'contar' e pouco o 'mostrar'. Ou seja, relatou-nos os eventos de forma algo monótona, em vez de criar situações em que o leitor percepcioansse a mensagem sem ser por forma de relato.
"O Robot Auris", de Beatriz Pacheco Pereira
Uma história simples, que por momentos pareceu prestes a voltar para um lado completamente diferente, e que no fim me surpreendeu. gostei muito pelo seu tom sereno e pela caracterização, não só do Auris, como das crianças e dos seus pais.
"O Festival", de Filipe Homem Fonseca
Um conto com uma história interessante, com momentos muito bons e uma ideia base genial, mas que em certos momentos se perdeu e com isso esvaiu força. Se em certas cenas o autor nos mostrava como as personagens reagem, em outras apenas nos dizia, sem que o leitor criasse a empatia necessária. Mesmo assim foi uma boa história.
"Virgílio Bentley e o extra-terrestre", de Ágata (Ramos) Simões
Foi bom rever o Sr. Bentley e ri-me muitas vezes com este conto. O humor de Ágata Ramos Simões mantêm-se intacto (e como qualquer humor, não será do agrado de todos). O único problema do conto foi a falta de pormenores sobre o ET, a sua nave e o seu modo de comunicação. Os que havia pareceram insuficientes.
"As mãos e as veias", de Afonso Cruz
Se ao principio estranhei este conto, escrito em forma de peça de teatro, assim que o 'mistério' se desenrolou, tudo ficou diferente. Apesar de eu achar que um pouco mais de descrição seria agradável, pois até mesmo as peças de teatro descrevem dos movimentos e expressões, este foi um conto que me surpreendeu e agradou.
"Tsubaki", de Bruno Martins Soares
Com um início interessante e misterioso, esta história perde-se em tempos verbais desconexos, pontuação mal-conseguida (ao ponto de me irritar muito, apesar de em certos momentos me parecer que era propositada era tão errática que foi impossível perceber se o era ou não). A resolução não ajudou. A violência não fazia sentido algum no contexto da personagem que o autor nos mostrou antes (*SPOILER* se não matou o homem com quem entrou em duelo, porque o faria com o outro estranho? *Fim de SPOILER*).
Enfim, um conto decepcionante, apesar de ter potencial.
"Uma alforreca no quintal", de António Carloto
Apesar de ter gostado do tom do conto e da sua história simples mas significativa, fiquei decepcionada com a sua simplicidade e falta de explicações. Esperava mais do conto vencedor.
"Fogo!", de João Ventura
Um conceito excelente e uma execução inteligente. O final foi muito bom. Gostei muito do ritmo da história e da prosa, mas em certos momentos as explicações pareceram-me extensas de mais.
"O Cão", de Isabel Cristina Pires
Apesar de ter gostado da reviravolta final, a história não me cativou muito por se manter tão distante. o leitor não entra realmente na história. Se fosse experimentado de outra forma, seria ainda melhor, mas gostei.
"O mistério dos Uivos", de Madalena Santos
Confesso que estive quase, quase, para desistir de ler este conto, mas fui até ao fim. A ideia que fica é que a autora sabia tanto, queria mostrar tanto, que debitou informação como se não houvesse amanhã. Perdi-me, literalmente, na narrativa e só quase no fim consegui perceber afinal qual era o propósito do conto. As duas primeiras partes foram as piores e as mais dispensáveis. Não consegui sentir empatia pelas personagens e irritou-me bastante o facto de estas serem sempre narradas como "Técnica de Manutenção" ou "Bellvis Montesano", ou pior ainda "Técnica de Manutenção Bellvis Montesano" (nunca só um nome, só uma designação). Isto vezes sem conta.
Gostei da comunidade que foi introduzida, dos conceitos e até da ideia central do conto, mas achei-o mal executado, enfadonho e muito disperso.
"Expedição ao Futuro", de José Cardoso
Com uma boa linguagem e algumas cenas bem conseguidas, este conto pareceu-me demasiado disperso, o que tornou difícil a sua apreciação. Não consegui fazer grande sentido da história e achei que podia bem ter sido poupado a algumas divagações.
"Déjà-vu", de Luís Roberto Amabile
Nada nesta história se sobressai e achei que tinha muito pouco de ficção científica. Além de que não foram dadas explicações nenhumas para nada do (pouco) que aconteceu.
"Acordar o Profeta", de João Leal
Uma história que soube agarrar o leitor do início ao fim. Gostei da prosa, do desenvolvimento da ideia e da acção. Um bom conto com o compasso certo e fundações bem vinculadas.
"Zé", de Manuel Alves
Um dos meus favoritos da antologia. Apesar de sentir falta de maiores explicações (sobre o que é ZÊ e o que é o professor), o desenrolar das cenas está muito bem conseguido, a prosa está excelente e fica a vontade de ler uma continuação (embora esta não seja obrigatória, pois o conto é autónomo). Uma agradável surpresa.
"As Moças do Campo", de Telmo Marçal
No início este conto não me cativou, mas à medida que a história avançava, fui gostando mais e mais. O final, para mim, não foi dos melhores. Achei a resolução um pouco mal-executada, mas no geral o conto é um curioso. No entanto o que me deixou mais decepcionada foi o facto de este conto, praticamente, nem ser muito FC (a ficção científica é muito ténue, não que isso seja necessariamente mau, mas neste caso sentiu-se falta de algo mais).
"A besta-fera", de Rodrigo Silva
Conceito interessante, início bom, mas péssimo desenvolvimento. Muito apressado e sem nada que o mantenha na memória
Em suma, esta antologia pecou um pouco em termos de qualidade e diversidade. Vários temas se repetiram e isso nem teria sido muito problemático se os enredos fossem verdadeiramente originais e interessantes, bem explorados e na dose certa. Infelizmente, muitos dos contos não o fizeram.
Apesar de ter gostado de alguns contos, não adorei nenhum e isso é raro acontecer-me em antologias (há sempre ou que se destacam e são diferentes de leitor para leitor).
Esperava mais, confesso, mas não é um livro mau, apenas mediano.
Capa, Design e Edição:
Gosto muito da capa. O conceito em si é genérico, mas as cores e os efeitos estão muito bonitos e tornam-no num trabalho chamativo.
Em matéria de edição, não percebi a disposição dos contos na antologia. Não estavam por ordem alfabética dos autores, nem por ordem de prémios, nem sequer por temas.
Apesar de ter discernido alguns erros na edição, não foi nada de muito relevante a em termos de edição acho que fizeram um bom trabalho. Já ao nível da coordenação e escolha dos contos, embora saiba que depende muito do gosto pessoal do organizador, confesso que a antologia não me conquistou por completo.
Em termos de design, achei que podiam ter feito algo mais único, alusivo ao tema. Está eficiente, mas por isso mesmo não se destaca. Também achei que fazia falta, no início dos capítulos do vencedor do concurso e das menções honrosas, uma menção desse facto.
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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
As Atribulações de Jacques Bonhomme
"As Atribulações de Jacques Bonhomme", de Telmo Marçal (Edições Gailivro)
Sinopse:
Opinião:
Este livro é uma antologia de contos do autor, por isso antes de tudo fica uma opinião separada de cada uma das histórias curtas.
Os virtuosos
Está aqui a prova que em poucas palavras se podem mostrar personagens tão reconhecíveis quanto originais. Usando de estereótipos e de sarcasmo literário, é-nos contada uma história aparentemente simples, através da vida das mais diversas personagens.
Um excelente início para a antologia.
O paciente
A forma como nos foi apresentado o sistema dos hospitais, foi bastante efectiva e a visão do contraste a meio do conto, fez-me rir por mostrar que, quando habituados ao pior, se enfrentarmos logo melhor a nossa primeira reacção é estranhar e até rejeitar. O autor conseguiu mostrar bem alguns dos pilares da sociedade que apresenta, em poucas palavras.
O pico de Hubert
Gostei muito das histórias individuais, mas faltou-lhes algo. No geral não foi tão bom conto como os anteriores, talvez pela frontalidade narrativa.
O desbocado
Todos os contos do livro tê uma forte 'crítica' social, mas talvez este seja o mais directo. É impossível não reconhecer neste uma verdade da politica (quer nacional, quer internacional). Dá que pensar.
A saga do homem cavalo
Uma história brilhante cujo final não podia ser mais perfeito. Afinal, um cão açoitado dificilmente se afastará da casa dos donos quando a corrente se quebra e a liberdade está ao alcançar de uma 'pata'.
A amizade
Não foi dos meus favoritos, talvez por parecer, em momentos, divagar um pouco, mas não deixou de ser uma boa leitura com uma personagem central bem explorada e um fim mais que merecedor.
Os cofres de Kalvbard
Uma história inteligente e perpicaz, mas cuja primeira parte não encaixa com as restantes, parecendo 'saída do nada' e sem grande impacto no resto da história (apesar de, autonomamente, ser interessante).
Eu sou um carrasco
Apesar de ter gostado da voz narrativa, achei a história em si um pouco fraca, apesar de curiosa e, mais uma vez, com um final merecedor.
Um homem de carreira
Com uma boa sequência de acções, temos uma história muito curiosa e mais uma vez certeira na sua 'crítica'. O final deixou-me um pouco intrigada, mas foi satisfatório.
Reconversão de excedentes
Apesar de a trama ser interessante e o desenrolar das cenas ser mais que bem conseguido, o fim não me soou tão verossímil como os restantes. Daí que apesar de bom, este conto deixou um pouco a desejar no final (para mim, talvez a outros agrade).
Homem das cavernas
As descrições do sistema das cavernas esteve bastante bem conseguido, mas as personagens não me chamaram tanto como outras e a história foi um pouco fraca, muito por culpa da pressa em que nos é contada. Um conto mais longo teria talvez funcionado um pouco melhor.
Herói da causa
Este conto, mais do que os outro, pareceu misturar um pouco de toda a informação que os anteriores tinham providenciado. nesse aspecto foi bastante bem conseguido, mas em termos de personagens nenhuma se sobressaiu, de tal forma que a certa altura as confundia todas (até porque alguns nomes eram bastante parecidos) e nem eram assim tantas. No entanto, mais uma vez temos um fim brilhante!
Em suma, gostei bastante desta antologia e terei todo o gosto em seguir outras publicações do autor.No entanto tenho de dizer que, a partir do meio do livro, algo me começou a incomodar: O autor usa o mesmo 'tom' em todas as histórias, quase sem fazer grande diferenciação entre as personagens ou a própria história enquanto 'voz'. Daí que, ao fim de alguns contos a prosa se torne um pouco monótona e previsível. Certamente se tivesse lido os contos esporadicamente isto não me afectaria, mas lido seguido isto nota-se e torna-se restrictivo, especialmente quando o autor consegue brilhar no seu 'sarcasmo' e especialmente nos seus finais.
Outra coisa que não gostei particularmente foi o uso de palavras e coloquialismos que, vistas num cenário de ficção científica futurista, simplesmente não encaixam. As expressões mudam com o tempo, especialmente as mais 'banais' quase da gíria popular, por isso é difícil 'acreditar' que num cenário como o que nos é apresentado, as personagens usassem certas expressões correntes.
Fora isto é um bom livro e aconselho os fãs de ficção científica a lê-lo e mesmo os que olham para o género 'de canto' talvez seja uma boa aposta, sendo que os temas aqui retratados são bastante actuais (ou poder-se-á dizer intemporais)
Capa, Design Edição:
Quando vi a capa pela primeira vez, gostei bastante e continuo a gostar mas agora que li o livro não sei até que ponto se encaixa bem na antologia. Não que não faça sentido, mas havia tanto a explorar no mundo que o autor nos apresenta, que esta capa parece ... pouco.
O design interior é singelo mas eficaz, sem nada de gritante a apontar. a edição também parece competente, embora logo nas primeiras páginas tenha um pequeno erro.
Nota: Este livro foi-me emprestado pela Ana Ferreira. Obrigada!
Sinopse:
O primeiro contacto com a
prosa eficiente e económica, directa, de Telmo Marçal introduz-nos de,
forma imediata, nas regras do mundo em que viemos cair: Estamos
realmente na jaula da fera encurralada, mas eis que, afinal, somos nós
essa fera.
(…) Há, no entanto, um motivo legítimo para entrarmos assim incautos: não temos por hábito encontrar este tipo de prosa esta forma de pensarmos o mundo, na nossa literatura portuguesa.
(…) Somos perfeitos na caricatura mordaz. Mas quando se trata de construir mundos racionais, ainda que fechados e claustrofóbicos como os que aqui encontrarão, de imaginar uma alternativa ao nosso presente ou mesmo ao passado histórico idolatrado por este povo (ainda que não passe de uma versão expurgada dos pecados cometidos), quando, afinal, nos negam o romance das coisas não temos grande experiência… A nossa ficção científica, quando se manifesta, apropria-se normalmente de universos alheios que encontrara nas leituras dos romances estrangeiros; quando em raras ocasiões se aventura no caminho da especulação social, fá-lo timidamente ou assente em abordagens subjectivas ou puramente pessoais.
(…) em Telmo Marçal a opressão é total, implacável, e não há forma de escapar à intensidade ao que o momento presente nos impede de olhar para o futuro e nos força a sobreviver, a não ser pela ocasional ironia.
(…) Há, no entanto, um motivo legítimo para entrarmos assim incautos: não temos por hábito encontrar este tipo de prosa esta forma de pensarmos o mundo, na nossa literatura portuguesa.
(…) Somos perfeitos na caricatura mordaz. Mas quando se trata de construir mundos racionais, ainda que fechados e claustrofóbicos como os que aqui encontrarão, de imaginar uma alternativa ao nosso presente ou mesmo ao passado histórico idolatrado por este povo (ainda que não passe de uma versão expurgada dos pecados cometidos), quando, afinal, nos negam o romance das coisas não temos grande experiência… A nossa ficção científica, quando se manifesta, apropria-se normalmente de universos alheios que encontrara nas leituras dos romances estrangeiros; quando em raras ocasiões se aventura no caminho da especulação social, fá-lo timidamente ou assente em abordagens subjectivas ou puramente pessoais.
(…) em Telmo Marçal a opressão é total, implacável, e não há forma de escapar à intensidade ao que o momento presente nos impede de olhar para o futuro e nos força a sobreviver, a não ser pela ocasional ironia.
Opinião:
Este livro é uma antologia de contos do autor, por isso antes de tudo fica uma opinião separada de cada uma das histórias curtas.
Os virtuosos
Está aqui a prova que em poucas palavras se podem mostrar personagens tão reconhecíveis quanto originais. Usando de estereótipos e de sarcasmo literário, é-nos contada uma história aparentemente simples, através da vida das mais diversas personagens.
Um excelente início para a antologia.
O paciente
A forma como nos foi apresentado o sistema dos hospitais, foi bastante efectiva e a visão do contraste a meio do conto, fez-me rir por mostrar que, quando habituados ao pior, se enfrentarmos logo melhor a nossa primeira reacção é estranhar e até rejeitar. O autor conseguiu mostrar bem alguns dos pilares da sociedade que apresenta, em poucas palavras.
O pico de Hubert
Gostei muito das histórias individuais, mas faltou-lhes algo. No geral não foi tão bom conto como os anteriores, talvez pela frontalidade narrativa.
O desbocado
Todos os contos do livro tê uma forte 'crítica' social, mas talvez este seja o mais directo. É impossível não reconhecer neste uma verdade da politica (quer nacional, quer internacional). Dá que pensar.
A saga do homem cavalo
Uma história brilhante cujo final não podia ser mais perfeito. Afinal, um cão açoitado dificilmente se afastará da casa dos donos quando a corrente se quebra e a liberdade está ao alcançar de uma 'pata'.
A amizade
Não foi dos meus favoritos, talvez por parecer, em momentos, divagar um pouco, mas não deixou de ser uma boa leitura com uma personagem central bem explorada e um fim mais que merecedor.
Os cofres de Kalvbard
Uma história inteligente e perpicaz, mas cuja primeira parte não encaixa com as restantes, parecendo 'saída do nada' e sem grande impacto no resto da história (apesar de, autonomamente, ser interessante).
Eu sou um carrasco
Apesar de ter gostado da voz narrativa, achei a história em si um pouco fraca, apesar de curiosa e, mais uma vez, com um final merecedor.
Um homem de carreira
Com uma boa sequência de acções, temos uma história muito curiosa e mais uma vez certeira na sua 'crítica'. O final deixou-me um pouco intrigada, mas foi satisfatório.
Reconversão de excedentes
Apesar de a trama ser interessante e o desenrolar das cenas ser mais que bem conseguido, o fim não me soou tão verossímil como os restantes. Daí que apesar de bom, este conto deixou um pouco a desejar no final (para mim, talvez a outros agrade).
Homem das cavernas
As descrições do sistema das cavernas esteve bastante bem conseguido, mas as personagens não me chamaram tanto como outras e a história foi um pouco fraca, muito por culpa da pressa em que nos é contada. Um conto mais longo teria talvez funcionado um pouco melhor.
Herói da causa
Este conto, mais do que os outro, pareceu misturar um pouco de toda a informação que os anteriores tinham providenciado. nesse aspecto foi bastante bem conseguido, mas em termos de personagens nenhuma se sobressaiu, de tal forma que a certa altura as confundia todas (até porque alguns nomes eram bastante parecidos) e nem eram assim tantas. No entanto, mais uma vez temos um fim brilhante!
Em suma, gostei bastante desta antologia e terei todo o gosto em seguir outras publicações do autor.No entanto tenho de dizer que, a partir do meio do livro, algo me começou a incomodar: O autor usa o mesmo 'tom' em todas as histórias, quase sem fazer grande diferenciação entre as personagens ou a própria história enquanto 'voz'. Daí que, ao fim de alguns contos a prosa se torne um pouco monótona e previsível. Certamente se tivesse lido os contos esporadicamente isto não me afectaria, mas lido seguido isto nota-se e torna-se restrictivo, especialmente quando o autor consegue brilhar no seu 'sarcasmo' e especialmente nos seus finais.
Outra coisa que não gostei particularmente foi o uso de palavras e coloquialismos que, vistas num cenário de ficção científica futurista, simplesmente não encaixam. As expressões mudam com o tempo, especialmente as mais 'banais' quase da gíria popular, por isso é difícil 'acreditar' que num cenário como o que nos é apresentado, as personagens usassem certas expressões correntes.
Fora isto é um bom livro e aconselho os fãs de ficção científica a lê-lo e mesmo os que olham para o género 'de canto' talvez seja uma boa aposta, sendo que os temas aqui retratados são bastante actuais (ou poder-se-á dizer intemporais)
Capa, Design Edição:
Quando vi a capa pela primeira vez, gostei bastante e continuo a gostar mas agora que li o livro não sei até que ponto se encaixa bem na antologia. Não que não faça sentido, mas havia tanto a explorar no mundo que o autor nos apresenta, que esta capa parece ... pouco.
O design interior é singelo mas eficaz, sem nada de gritante a apontar. a edição também parece competente, embora logo nas primeiras páginas tenha um pequeno erro.
Nota: Este livro foi-me emprestado pela Ana Ferreira. Obrigada!
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