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segunda-feira, 20 de abril de 2015

A Vida aos Quadradinhos - 1º Trimestre 2015

Depois de uma longa pausa, o A Vida aos Quadradinhos volta com um apanhado do primeiro trimestres deste ano (e preparem-se que vai ser longo). Espero que descubram muitas BDs e Mangas interessantes. E se tiverem sugestões, deixem-nas num comentário. :)


"A Pior Banda do Mundo (1 a 3 - volume 1)", de José Carlos Fernandes
Esta leitura surgiu no seguimento do primeiro encontro do Clube de Leitura de Braga - BD.
Há uns bons anos atrás, quando a Devir estava no seu auge de publicações, soube do lançamento do primeiro número de A Pior Banda do Mundo e, apesar de curiosa pelo seu conteúdo, esta BD nunca me veio parar às mãos. O tempo foi passando e só agora, com o relançamento em volumes de capa-dura, é que a oportunidade ressurgiu.
A Pior Banda do Mundo conta várias histórias, contidas em duas pranchas cada. As personagens são múltiplas mas repetem-se, por vezes, em histórias distintas. Tentar fixá-las pelo nome é difícil, mas pelas suas personalidades e manias já é mais fácil.
O melhor destas pequenas grandes histórias de duas páginas é que todas são críticas socias e, de certa forma, bem actuais, conseguindo pôr o dedo na ferida. Algumas são mesmo fascinantes e ficamos a pensar nelas durante uns tempos.
Uma pequena lista das minhas favoritas: O Triunfo da Entropia, As preocupações Metafísicas, O Condensador de Livros, A Última Palavra, As Estatísticas Vitais, O Lexicógrafo Implacável, Escola Superior de Faláca e Diletância, A Escrita Criativa, entre outros.
Passando então à arte propriamente dita, ou não se tratasse isto de uma banda desenhada, o que mais gostei foi a palete de cores, os tons sépia que dão mais vida às vinhetas. Por outro lado, o que menos gostei foi da inexpressividade das personagens, cujos rostos não transmitiam quaisquer emoções, salvas raríssimos casos. E, se por uma lado, isto é compreensível pela melancolia da própria história, acabava por tornar difícil distinguir as personagens pelos seus traços desenhados e não lhes percebíamos as intenções e ideias senão pelas palavras.

Em suma, gostei dos três volumes, em especial do segundo ( O Museu Nacional do Acessório e do Irrelevante) e espero em breve ler os restantes três.

"You Can't Disappear from Me - Vol. 1 a 4 (Boku kara Kimi ga Kienai)", de  Saki Aikawa
Este manga cai no erro de usar demasiados clichés , especialmente na última metade. Tem boas personagens e uma excelente química entre o casalinho principal, assim como uma arte apelativa, no entanto a história não acompanhou essa qualidade, o que foi uma pena.
Podem ler a opinião completa no Nekko-Mimi.

"The Circumstances of Our Strange Love (Boku to Watashi no Henai Jijou), de Shiro Amano
Este manga é pura diversão! Os personagens são adoráveis, o romance é super-fofo e o final é perfeito. Curtinho mas bom!
Podem ler a opinião completa no Nekko-Mimi.

"Undead", de Kazurou Inoue
Conhecendo já vários dos trabalhos deste mangaka, eu esperava algo mais. Undead tem algumas cenas engraçadas e a premissa é interessante, mas as histórias não são muito boas e não me consegui ligar a  nenhuma das personagens em especial, tirando na primeira história.
Podem ler a opinião completa no Nekko-Mimi.

"X-Men: Days of Future Past", de Chris Claremont e John Byrne
A razão porque esta é uma história clássica do Universo Marvel é óbvia, ou não fossem as repercursões enormes, no entanto custou-me muito a adaptar ao estilo comic dos anos 80, com diálogos e balões super-descritivos e repetitivos. E o mais engraçado é que mais de metade do álbum nem sequer é sobre o "Days of Future Past", mas até gostei mais da aventura no Canadá, com o regresso do Wendigo.
Foi bom conhecer esta história em BD, mas continuo a preferir a aventura no Wolverine: Dias de um Futuro Passado (publicado pela Devir no Wolverine 8 e 9, em 2000).

 “I Kill Giants – Eu mato Gigantes”, de Joe Kelly e JM (Kingpin Books)
Eu Mato Gigantes conta-nos a história de uma rapariga que, a princípio, pode parecer muito estranha: Usa orelhas de animais na cabeça, não tem amigos, passa muito tempo debaixo da mesa, recusa-se a subir ao primeiro andar de sua casa, e diz-se caçadora de Gigantes (tem inclusive um saco onde diz guardar a sua maior arma, e este está sempre fechado).
A protagonista está belissimamente bem apresentada e a história está construída de tal forma que, apesar de não ser inesperada, a revelação sobre o que se passa no 1º andar da sua casa acaba por ser surpreendente.
Houveram, no entanto, duas coisas que não gostei no enredo: o desfazamento entre os primeiros dois capítulos e os restantes; e a violência desmedida que ocorria entre a Barbara Thorson e a sua ‘rival’ na escola. Era demais!
Fora isso, adorei tudo, desde as personagens (excepto a ‘vilã’) até à forma como a história é contada. Tem o tamanho certo e desenrola-se ao bom ritmo.
Quanto à arte, tenho opiniões divergentes. Por um lado adoro o traço nas cenas mais dinâmicas: nos combates com gigantes, na representação das coisas que a Barbara vê no mundo, e melhor ainda nas cenas de medo e terror que ela sente. Mas por outro lado acho que o traço não funciona bem nos restantes casos, ou seja, nas cenas mais normais; parece apressado e descuidado.
Por exemplo, na cena do combate com o titã, o estilo brilha. Está fenomenal! Mas na escola … bem, digamos que não causa o mesmo impacto.

Em suma, I Kill Giants – Eu mato Gigantes é uma novela gráfica com uma história com a qual é fácil nos relacionarmos, que explora bem as suas potencialidades e nos dá uma protagonista bem interessante. A arte, nas cenas de acção, está fabulosa, mas nas cenas mais corriqueiras acaba por não funcionar bem. Mas não se deixem enganar por isso, pois I Kill Giants – Eu mato Gigantes é um trabalho que merece ser lido e apreciado. Recomendo!

"Black God (Kurokami) vol. 11 a 15", de Dall-Young Lim e Sung-Woo Park 
Adorei a interecção entre a Excel e a Mikami no volume 11. Outra coisa boa foi a evolução do relacionamente entre o Keita, a Kuro e a Akane. Por outro lado começa a aparecer ali um romance onde até agora este era muito frágil, por isso ainda é muito cedo para saber se gosto ou não. Uma coisa que não gostei foi do facto de mais uma rapariga ir viver com  o Keita. O harem não pára de crescer e esta rapariga é especialmente irritante. Fora isso, continua a vontade de saber como isto vai terminar.


"Sword of the Dark Ones", de Yasui Kentaro e Tsukasa Kotobuki
Um bom manga de acção, com excelententes personagens e páginas duplas estonteantes. Podem ler a opinião completa no Nekko-Mimi.

"The Wallflower (Yamato Nadeshico Shingi Henge) vol. 24 a 32), de Tomoko Hayakawa
Já há muito que esta série está demasiado cansativa e repetitiva. Testa constantemente a minha vontade de ler o final, que supostamente está tão próximo. Isto porque embora seja uma história super-engraçada, com personagens hilariantes, as piadas repetem-se até ao infinito, já tivemos pelo menos 4 Halloweens e 3 Natais desde o volume 1 e mesmo assim a autora quer-nos fazer acreditar que eles continuam todos com a mesma idade.
A verdade é que ao longo destes últimos volumes houve algum desenvolvimento das personagens mas foi tão ténue que eu estive quase para desistir. Só se aproveita 1 ou 2 capítulos por volume, o que é francamente mau. Mas eu persistirei! Quero ver o fim!

"Ressentiment vol. 4", de Kengo Hanazawa
Este manga é bastante obscuro, mas a premissa é bastante interessante: o mundo virtual sendo mais importante para o protagonista que o mundo real. A reviravolta dada no último volume é mirabolante e foi bem usada. Não posso dizer que amei a série, mas foi muito interessante e se conseguirem adaptar-se ao facto de a maiora das personagens não serem de uma beleza convencional, são capazes de dar umas boas gargalhadas, como eu fiz. O protagonista é em igual parte irritante e alguém com quem se pode empatizar facilmente, e foram realmente as personagens que fizeram o manga.

"Empowered 3", de Adam Warren
Tirando três ou quatro histórias, este volume foi bastante insignificante. A história do passado do Thugboy foi muito boa, e a da Ninjette também estava bem, assim como uma ou duas no início do volume. Mas a Emp foi a que menos desenvolvimento teve neste volume e passou o tempo quase todo em situações ridículas e repetitivas. Imagino que este volume seja de transição, porque até agora foi o mais fraco.
Mesmo assim a arte, como sempre, está absolutamente fabulosa. Linda! Tanto em cenas normais como, especialmente, as de acção. E até os capítulos arte-finalizados (coisa nova nesta BD, já que todos os desenhos são finalizados a graffite/lápis) estã muito bons.

"Três Sombras", de Cyril Pedrosa
Apesar de desconhecer por completo o trabalho deste artista, foi desde as primeiras páginas que "Três Sombras" me impressionou.
A história começa por mostrar-nos a vida corriqueira de uma pequena família que vive isolada na sua pequena quinta, na paz e harmonia do lar. Tudo isto muda quando, uma noite, três figuras surgem no horizonte e a partir daí nunca mais se afastam muito da família. As suas presenças assustam os membros da família, que se vêem impotentes perante as mesmas. E a história progride a partir daí.
E que história! Eu adorei! Fala da perda, da despedida, do amor e de como cada pessoa lida com estas coisas de forma bem diferente. A reacção da mãe é totalmente oposta à do pai e isso enriquece a história. Até mesmo as pessoas que eles vão conhecendo ao longo da viagem, para o bem e para o mal, e depois a parte final em que o pai conhece-se a si mesmo, aos seus medos e sentimentos e estes são exprimidos nas páginas de forma tão cruel. Está muito bom!
A única parte que não gostei particularmente no livro foi quando se revelou o vilão e saltamos de cena sem pré-aviso, de forma completamente abrupta e confusa. Depois a exposição do passado do 'vilão' foi um pouco extensa demais para o papel que ele teve na trama. Mas fora isso, não tenho nada a apontar.
Por seu lado a arte é lindíssima! O artista já trabalhou para os estúdios Disney e isso percebe-se na sequência de imagens, na fluidez dos desenhos e na composição geral das páginas. Este é um álbum que merece ser lido lentamente e apreciado vinheta a vinheta. Certas partes, como a no pantanal, com o velho que salva o pai e o filho, estão incrivelmente bem conseguidas, e então a cena do naufrágio ... Uau! Sem palavras! E para denotar a mestria do desenho, basta dizer (tanto quanto eu reparasse) nunca foram usados onomatopeias (sons escritos) e isso nem se notou, porque o próprio desenho evocava o som.
Um livro feito par ser visto e apreciado uma e outra vez.

Em suma, Três Sombras é uma obra magnífica, com desenhos maravilhosos e uma história tocante  que resultam num álbum que vale a pena ser lido e apreciado devagarinho.

"The Waking Dead - vol. 17", de Robert Kirkman, Charlie Adlard
Há uns tempos li muitos volumes desta série de uma assentada, de tal forma que fiquei saturada e tive de fazer uma pausa bem grande. Para dizer a verdade estava convencida que nunca mais lhe iria pegar, mas recentemente decidi que ia tentar mais uma vez e ver como corria. Realmente esta BD, para mim, não pode ser consumida em grandes doses, ou corre o risco de tornar-se nociva. É pelo facto de ser tão propensa a mortes grotescas e por seguir um ciclo vicioso de: Conflito inicial, conflito extremamente violento, vitória, pequeno rescaldo de 1 ou 2 capítulos, Conflito Incial, conflito extremamente violento, vitória, pequeno rescaldo de 1 ou 2 capítulos, e por aí em diante.
Esta última história, em especial, foi difícil de engolir, talvez porque uma das minhas personagens favoritas morreu de uma forma absolutamente estúpida e desnecessariamente gráfica (mas nesta BD tudo é gráfico até ao extremo).

"Gantz - vol. 30 a 37", de Hiroya Oku
Gantz é, desde o início, um manga bastante gráfico e com uma boa dose de violência. estes últimos volumes não trouxeram grandes surpresas mas a sequência de acção está muito boa e a ligação com as personagens cresce ainda mais à medida que os capítulos vão avançando. A exploração de divindade e religião que é mostrada nos últimos volumes é bastante interessante e o efeito dos rostos de 'Deus' = Wow!
No geral gostei muito do desfecho. A arte está soberba, como já é habitual, e a batalha final foi bem conseguida. o final propriamente dito, ou melhor dizendo: o rescaldo, foi um pouco facilitado demais, mas sinceramente se fosse outro os leitores iam ficar zangados, por isso eu vou deixar passar o cliché em branco.

"Y - The Last Man - vol. 2 a 10", de Brian K. Vaughan e Pia Guerra
A premissa para esta BD é muito intrigante: uma epidemia qualquer mata todos os mamíferos machos do planeta, incluindo todos os homens. Apenas Yorick Brown sobrevive. Ele e o seu símio.
Seguir as desventuras do Yorick pelo mundo, foi uma aventura em pêras. O rapaz atraía sarilhos que era uma coisa louca.
Esta BD tem boas personagens e sabe usá-las para avançar a trama, mas ao mesmo tempo achei que, dadas as circunstâncias, as coisas estavam um pouco facilitadas em certas ocasiões.
O que realmente mais gostei de ver nesta BD foi a degradação da sociedade assim que a calamidade ocorreu. E o seu posterior regresso a um certo nível de normalidade.
Uma coisa engraçada que reparei é que, nesta BD, toda a gente que leva um tiro ou desmaia por outro motivo, acaba por falar no seu sono e dizer coisas que as outras personagens nunca descobririam de outra forma. Achei essa tática muito fraca, sinceramente.
Por outro lado o final romântico foi muito climático e estava, fracamente, excelente, mas a consequente resolução da vida das outras personagens deixou muito a desejar. No entanto depois as últimas 3/4 páginas realmente brilharam e foram perfeitas.

**

E foram estas as muitas leituras bedéfilas do primeiro trimestre de 2015. E vocês, qual foi a melhor BD que leram este ano?

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