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sábado, 13 de abril de 2013

Do fundo do baú

O último Desafio veio de um baú realmente precioso.

Pensava ser pouco provável que os blogueiros acertassem, porém fiquei positivamente surpreso pelo fato do assíduo Martim Kim ter dado vários detalhes da correta resposta, indicando ser realmente o Henrique Mutti no Ford modelo A, ano 1929, na Grande Prova Automobilística Pelotas - São Lourenço do Sul - Pelotas, realizada no dia 22 de Março de 1931. Certamente esse foi o Desafio que foi mais longe no tempo, afinal estamos falando de uma competição realizada há 82 anos, uma das primeiras provas automobilísticas da história do Rio Grande do Sul. A prova foi disputada por dez pilotos, sendo que os cinco primeiros colocados foram os seguintes:

1º Henrique Mutti - Ford modelo A - 1h33min33s
2º Delmar Alves - Ford modelo A - 1h36min37s
3º Epaminondas Santos - Chevrolet - 1h37min20s
4º Zenon Valente - Chevrolet - 1h45min50s
5º Álvaro Pandiá - Hudson - 1h59min45s

De acordo com o livro "Automobilismo no Tempo das Carreteras", de autoria de Luiz Fernando Andreatta e Paulo Roberto Renner, esta foi a reedição daquela que provavelmente foi a primeira prova disputada no estado, no dia 11 de Abril de 1926, apenas três meses após a fundação da Associação Riograndense de Estradas e Rodagem. Naquela ocasião, o tempo do primeiro colocado (sabe-se apenas que foi um Buick) foi de 2h26min.

Pois bem, a história desse Desafio surgiu quando soube da visita do filho do vencedor da prova de 31, Henrique Mutti Jr, que há mais de 40 anos vive em Los Angeles, Estados Unidos. Henrique, que é membro da Confraria dos Pilotos Jurássicos Gaúchos, esteve revendo os amigos durante essa semana, que foi marcada por dois eventos especiais. O primeiro deles, uma andada no Velopark, assim como vem ocorrendo nas programações da Confraria, e a Festiva da última quinta-feira à noite, em São Leopoldo. Nesta última, tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente e conversar um pouco para saber mais sobre sua passagem pelas pistas. Sim, tal como o pai, ele também se aventurou em competições já na década de 50 tendo destacada atuação nas duas primeiras edições das 12 Horas de Porto Alegre, em 1962 e 63. Segundo comentou o emocionado Roberto Giordani, Henrique foi um dos primeiros e talvez o melhor piloto de turismo de sua época.

Henrique me contou um pouco mais sobre seu pai, confirmando que aquela prova de 31 foi a única da qual participou. Algumas curiosidades sobre aquela prova retirei de um texto escrito pelo próprio Henrique, endereçado ao Paulo Trevisan, que há cerca de três anos recebeu das mãos da irmã de Henrique o troféu daquela prova para ser doado ao acervo Museu do Automobilismo Brasileiro. Seguem alguns trechos.

"Creio que nós da família achávamos que o feito do meu pai era mais “coisa de familia” e nunca pensamos que lhe pudesse ter sido dada tanta importância assim. Mas seria falsa modéstia se eu não dissesse que quando o movimento “Mutti Senior” começou, - tudo por “culpa” e entusiasmo do incomparável Roberto Giordani, - uma certa euforia tomou conta não só de mim e da nossa família, como também dos conhecidos e amigos sabedores do fato.

Pelo que eu saiba, a decisão do nosso pai Henrique Mutti (Sr) de correr na Prova Automobilística Pelotas-Sao Lourenco-Pelotas em 1931, aconteceu numa roda de café. Eu imagino que a cena deve ter sido uma daquelas intermináveis discussões que dividiam os fanáticos dos Fords e dos Chevrolets. Sabe lá também se o café não estava temperado com alguma grapa de alta octana e num daqueles momentos surgiu o desafio para por fim à discussão!!!


Se não me engano, nessa ocasião o meu pai já era um dos sócios-proprietários da Agência Ford em Pelotas e competir c/um Ford Modelo A contra um Chevrolet de 6 cilindros (acho que era chamado de Chevrolet Pavão) seria ótima publicidade, principalmente se o Ford chegasse numa colocação honrosa. Se ganhasse então, nem se fala!   

Quanto ao carro, o mais lógico seria usar um coupé, na época chamado de “baratinha”, cujo perfil aerodinâmico parecia ser o mais apropriado. Entretanto, talvez porque fosse o que havia disponível no momento, eles usaram um sedan de quatro portas e ”tolda de lona” que foi removida para a corrida. Além disso o carro foi aliviado do parabrisa, parachoques, faróis, paralamas e estribos e sabe lá que mais elementos necessários para reduzir o peso e melhorar a parca aerodinâmica. Cobrindo a parte traseira, onde iriam os bancos que certamente deviam ter sido retirados, eles montaram um “tonneau” também de lona para reduzir a turbulência do ar. Mal sabiam eles que já estavam utilizando as vantagens do efeito Kamm, só descoberto pelo físico alemão do mesmo nome, bem mais tarde (1938) e que diz que uma traseira truncada (como a do sedan) resulta em um coeficiente de penetração aerodinâmica melhor do que uma traseira que desce gradativamente (como a do coupé), desde que o comprimento da carroceria dos veículos seja o mesmo. Embora desconhecido na época, esse efeito aerodinâmico naturalmente já funcionava em 1931 e sem dúvida deve ter ajudado na conquista da vitória do Ford Modelo A No. 9."

Além do grande valor histórico, esse registro é simplesmente fantástico. Abaixo mais duas imagens daquela prova, mostrando os três primeiros colocados e os "volantes" que participaram da aventura. Mais abaixo uma imagem do troféu que se encontra em Passo Fundo e os registros da passagem do Henrique junto aos eventos da Confraria nesta última semana.
 





Fonte das imagens: livro Automobilismo no Tempo das Carreteras, Henrique Mutti Jr e Francisco Feoli.