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sexta-feira, 2 de abril de 2010

X1

Agora o Luiz Borgmann se superou. Encontrou nos seus arquivos registros do modelo original do protótipo X1, construído pelo Haroldo Dreux e que recentemente teve sua história contada aqui no blog. As imagens foram publicadas na revista Quatro Rodas de Setembro de 1966.



Valeu, Borg!

Fonte das imagens: arquivo Luiz Borgmann - revista Quatro Rodas.

terça-feira, 16 de março de 2010

Haroldo Dreux

Há algum tempo recebi alguns registros do Jorge Dreux, filho do ex-piloto Haroldo Dreux, mostrando o pai, acompanhado do companheiro Aldo Costa, quando estes competiam com um VW Fusca, em meados dos anos 50. Além de Haroldo (de óculos escuros) e Aldo, aparece também o Arno, que era o mecânico da revenda VW Panambra, responsável pela barata.





De acordo com as informações obtidas lá no blog amigo "Histórias que Vivemos", este Fusca foi o primeiro a ser utilizado em competições aqui no Rio Grande do Sul, em 1956. Ele era equipado com um motor Porsche 1.500 Super, 1588 cc e 70 hp.

O VW Fusca com motor Porsche venceu diversas corridas sendo a primeira no Circuito Parque Farroupilha naquele mesmo ano. Ainda em 1956 a dupla Aldo Costa/Haroldo Dreux participou da I Mil Milhas Brasileiras em Interlagos e concluiu num excelente sétimo lugar. Vale lembrar que o segundo colocado na geral foi também um VW Fusca com motor Porsche, pilotado por Eugênio Martins e Christian Heins, demonstrando a força daquele equipamento. Mais tarde, em 1960, a dupla Costa/Dreux concluiria os 500 km de Porto Alegre na segunda posição, atrás somente da dupla Catharino Andreatta/Breno Fornari. Nos 500 km de Porto Alegre de 1962 a dupla e seu VW-Porsche #36 chegou em quarto lugar (imagem abaixo).


A receita VW-Porsche começava a proliferar. O quinto colocado foi um carro idêntico, pilotado pela dupla Paulo Feijó/Renato Petrillo. O último resultado de expressão de Costa/Dreux que tenho registro - vou confirmar com o Jorge - foi um terceiro lugar na prova II Circuito da Indústria Automobilística Cavalhada/Vila Nova disputada em dezembro de 62.

Haroldo Dreux foi uma importante personalidade do automobilismo gaúcho daquela época e deixou sua marca não apenas nos ótimos resultados nas provas disputadas, mas também pelo espírito empreendedor. Sobre este último, divido com vocês um relato do amigo Raymundo Castro a respeito da construção do Protótipo X1, que já teve suas imagens publicadas por aqui há alguns meses, cortesia do amigo Roberto Giordani.

"Alô, Leandro.

Estou repassando um resumo de informações sobre o histórico da construção da réplica do Porsche que era identificada como " X1 ". Procurei ilustrar com maior fidelidade os fatos e dados da época, mas não encontrei nenhum documento ou desenho, uma vez que provavelmente todo material ficou retido na fábrica Albarus, após a ruptura do Haroldo com outros Diretores da empresa. De modo que transmitirei apenas dados da memória.

No início da década de 1960 o Haroldo ficou entusiasmado com as linhas do Porsche modelo 904 que recém havia sido lançado na Europa. Solicitou a mim, na época Engenheiro do Controle de Qualidade da Albarus, que entrasse na equipe para construção de um protótipo que deveria ter mecânica nacional e somente dois lugares. Usando projetistas do setor de ferramentas e baseando-se em fotos de revistas foi feito um layout completo.
A carroceria seria feita em chapas de aço sendo a estrutura principal uma viga retangular que no habitáculo constituiria as caixas inferiores das portas, afunilando para formar espaço para as rodas dianteiras e terminando parafusados no quadro de tubos paralelos usado nos Volks Sedan. A suspensão dianteira e a caixa da direção seriamentão, totalmente Volks. As vigas laterais fechariam o contorno da carroceria servindo de fixação da caixa de cambio VW, montada invertida, uma vez que o motor seria central. A suspensão traseira seria com um braço longitudinal fixado aos semieixos VW e com um suporte especial para regulagem da altura de uma mola espiral. Conforme definição do Haroldo, o motor seria um dois litros Boxer, arrefecido a ar e usando as dimensões de cilindro do JK (Alfa Romeo). A carcaça principal seria feita de chapa de aço soldada, os cilindros fabricados em alumínio com camisas embutidas em ferro fundido. Dois cabeçotes de alumínio com quatro comandos de válvulas. Uma ventoinha projetada para a potência a ser dissipada. O virabrequim a ser fabricado a partir de um bloco maciço de aço. Bielas A. Romeo.

O protótipo X1 seria fabricado como um produto da Albarus e a idéia do Haroldo era após testes do protótipo produzir pequenos lotes em linha de montagem. A produção do protótipo do motor teve início com profissionais alocados da ferramentaria. A parte de chaparia foi um capítulo a parte. O Haroldo contratou um chapeador de POA, chamado Carlan, que era um gênio no trabalho em chapas de aço. Ele recortava um pedaço de chapa, levava para casa e no outro dia aparecia com um paralama pronto. Ele não mostrava o processo de fabricação para ninguém, mas sabia-se que ele usava aquelas máquinas de conformar que tem dois roletes redondos que giram num sentido e no outro e o operador vai movimentando a posição da chapa manualmente. O Carlan realmente fez um trabalho artesanal magnífico. A fabricação dos componentes do motor foi executada como planejado com uma exceção que foram os cabeçotes. Na fase de protótipo a ideia era efetuar um bloco fundido em alumínio, conformando dutos e câmaras de combustão com machos e fabricando as aletas de arrefecimento com um processo de usinagem. Tentamos algumas fundições do RS mas não tivemos exito. Ao usinar sempre apareciam vazios no fundido e não encontramos nenhuma fundição que conseguisse apresentar uma peça que não fosse um queijo suiço.

A parte de montagem mecânica seria feita na Escuderia Galgos Brancos do Catarino Andreatta que na época era financiado pela Albarus como forma de divulgação dos produtos SPICER. Na oficina da Escuderia tínhamos o mecânico Tergolina, já famoso na preparação de carreteiras.

Julgo que no ano de 64 ou início de 65, houve a saída do Haroldo da Albarus, quando o projeto X1 foi cancelado pela empresa. O Haroldo na sua saída, negociou a compra do que já tinha sido concluído do protótipo que levou para a nova empresa de fabricação de autopeças TORNADO, que ele havia constituido e era o principal acionista. Fui contratado por esta nova empresa e continuamos a construção, porém usando como motor um VW da época que originalmente era com 1200cc, porém equipado com um virabrequim TORNADO passava para 1400cc. Com carburação dupla o protótipo era um carro com desempenho muito bom para a época. Na Tornado o X1 foi concluido executando-se a pintura, o dispositivo de comando das marchas, assentos, estofamento, tanque de combustível, etc...

Pelo ano de 65 o X1 foi exposto no Salão do Automovel que na época ainda era no Parque Ibirapuera. No retorno de SP voltei dirigindo o XI. Foi uma experiência gratificante. Creio que em 66 o X1 foi vendido a um morador de POA e era usado como veículo normal. Após foi vendido para um dono de uma oficina de reparação chamado Mantovani, em Caçapava do Sul, RS, que procedeu pequenas modificações de estilo e substituiu o motor por um VW AP. Está com ele até hoje.

Abraços, Raymundo."


Excelente relato do Raymundo que aparece abaixo, junto ao X1 em sua configuração atual.



Agradeço ao Jorge e ao Raymundo pelas imagens e informações.

Fonte das imagens: arquivo Jorge Dreux, Roberto Giordani e "Histórias que Vivemos".

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Generosas instruções

Hoje passo o teclado ao Roberto Giordani, que nos traz um relato seu, envolvendo também o ex-piloto Haroldo Dreux. A conversa surgiu quando apareceu uma imagem de uma prova disputada em Porto Alegre, no fim dos anos 50, na qual aparecia discretamente o Volkswagen com motor Porsche 1500 cc pilotado por Haroldo. Foi seu filho Jorge Dreux que identificou o mesmo. O relato de Giordani é dirigido a este último.

"Jorge Dreux: gostaria de relatar especialmente a ti e aos meus amigos Jurássicos uma passagem muito marcante na minha carreira de piloto de competição, e que envolve a figura do Engenheiro e Piloto Haroldo Dreux, o Sr. teu pai.

Muito jovem ainda eu o conheci, mas ficou gravado em mim uma ótima lembrança do mesmo, pelo cavalheirismo, que não era e nem é até agora muito comum de se encontrar neste esporte motor, e pela atenção que teve comigo no longínquo ano de 1960, momentos antes da largada de uma prova denominada Circuito Cidade de Taquara, na cidade de Taquara evidentemente, e destinada a viaturas de Turismo com motores de capacidade até 1500 cc, e creio que divididas em duas categorias.

O traçado do circuito era um perfeito desenho de um paralelogramo, evidentemente com quatro curvas de 90º e quatro retas ligando-as, sendo duas retas bem mais longas que as outras duas restantes.

A corrida foi transmitida pelo saudoso Ernani Behs, filho de Taquara e "speeker", se não estou equivocado, da Rádio Guaíba AM, que em 1957 tinha ido ao ar pela primeira vez e se consagrado com a transmissão direta da Copa do Mundo de Futebol de 1958 que consagrou o primeiro título do Brasil neste esporte.

O grid de largada estava repleto de "feras"; nomes consagrados e experientes em competições, inclusive em edições de Mil Milhas Brasileiras, com viaturas muito bem preparadas, que por si só, já antes da largada me davam " um frio na espinha", só de estar ali e pensar que teria de enfrenta-los. Com DKW( em outra categoria ) estava nosso amigo Jurássico, Heinz Iwers, e se não estou equivocado já chegava na pista diplomado pela Escola de Pilotagem de Nurburgring na Alemanha; aquilo tudo era " muita areia para o meu caminhãozinho", que somente a grande vontade de pilotar em competições que eu tinha faziam com que eu não tivesse " um saracutico" de emoção do momento. Com viaturas VW, além de outros, estavam Lauro( Laurinho)Maurmann Jr e Romeu Hass, dois " baita botas " que tinham suas preparações feitas pelo Renato Petrillo, sócio do Laurinho, e que tinham ido para Taquara com a séria intenção de um ou outro de ganharem a corrida; o terceiro VW da digamos, "equipe", era o meu, que por falta de tempo e de "grana" mesmo, o Petrillo só pode dar uma modesta melhorada no desempenho e colocar um escapamento dito " cruzado " que produzia um enorme ruído, próprio para chamar a atenção, mas acredito que não conseguia acrescentar nem meio HP à potência daquele motor muito fraco que mal chegava aos 1200 cc de cilindrada.

Notando um certo nervosismo meu antes da largada e como eu estava na ocasião pilotando um VW, certamente ao ver-me naquela meia alteração o Sr.teu pai houve por bem, e acertou, dentro de seu cavalheirismo e de sua tranqüilidade, passa-me algumas sugestões de pilotagem e até de mecânica para melhorar o desempenho da fusqueta. Comentei com ele que o desempenho ia bem até engatar a 4ª marcha( devia ser longa demais, para mais de metro) e daí para frente era um sacrifício para levantar o giro; como em um piscar de olhos o Sr. teu pai saiu rápido e voltou com um par de rodas com pneus mais curtos e pouca borracha e ajudou-me a colocar na tração. O gesto, como não poderia deixar de ser, gerou em mim uma enorme admiração por ele.

Para piorar o nervosismo, além de ser o último do grid, quando o Nestor Brunelli deu a bandeirada de largada, "São Pedro" resolveu abrir as comportas d'água do céu e despejou uma barbaridade de chuva na pista; e aí foi um "Deus nos acuda" não somente para mim. Percorri, lógico, em último, a enorme reta logo após a largada até a primeira esquina( curva de 90º) sob um fechado spray de água produzido pelos carros mais velozes que o meu( aliás, todos); ao me aproximar da dita esquina notei pelo menos uns 10 competidores amontoados em cima da calçada ou mesmo espalhados, naquilo que tinha sido um "chega junto" em que ninguém cedeu. Passei por eles, feliz da vida que já não era mais o último; não durou muito minha alegria! Aqueles que puderam voltar a correr, pareceu que se arrumaram e saíram todos juntos de volta à pista: não demorou muito para chegarem em mim e eram tantos e vinham tão juntos que não havia espaço para todos no meu retrovisor........... pensei comigo: " o que é que o filho da Da. Marietta(minha mãe) estava fazendo ali, naquele momento???". Não me apavorei; consegui um espaço para deixa-los passar e continuei minha corrida, tendo na cabeça as generosas instruções recebidas do Sr. Dreux. Como disse, a vontade de competir era muito forte; terminei a corrida e fui agradecer e devolver as rodas e pneus emprestados.

A partir daquela corrida e por mais quase duas décadas de sucessos ou não eu estive no automobilismo de competição, sempre tendo em mente os fundamentos de pilotagem que um cidadão generosamente me passou naquele longínquo 1960 na cidade de Taquara.

Jorge: te contei esta longa e até hilariante história para deixar registrado o que já sabes: o forte caráter e a disposição de um cidadão chamado Haroldo Dreux, que se dispôs a ajudar-me, mesmo sabendo que meu carro era ruim e sem chances de uma boa corrida. Fica aqui registrado, uma história que certamente desconhecias.

Um grande abraço a todos.
Roberto Giordani."

Abaixo aparece o VW Porsche em frente à carretera #24, durante largada da prova 500 km de Porto Alegre em 1958.