Dia desses, nos comentários de um post, surgiu a dúvida sobre a participação do piloto e preparador Antônio Tergolina na equipe da Nascar de Richard Petty. Tergolina, que foi piloto e preparador na equipe Galgos Brancos, teve, durante sua permanência nos Estados Unidos, muito contato com o também piloto Henrique Mutti Jr, que é quem escreve o post de hoje.
O texto, publicado na íntegra, veio a pedido do amigo Roberto Giordani, que "cutucou" o Mutti para que nos contasse mais sobre as aventuras do Tergolina por aquelas bandas.
"Desconheço que ele tenha trabalhado na equipe do Richard Petty, mas em 1973, quando eu me mudei de San Diego para Los Angeles, foi quando nos re-encontramos e ele realmente estava trabalhando em uma oficina bem montada e muito famosa, de propriedade de um argentino (cujo nome me escapa), especializada em Ferraris “i altri machine italiane”. Creio que era realmente a oficina mais importante aqui da Costa Oeste americana, uma região que contem a maior concentração de carros exóticos dos EUA. Eu estive lá uma ou duas vezes e ele estava muito satisfeito. Inclusive me contava de alguns artistas famosos que apareciam por lá sendo que um deles era o Fernando Lamas com quem o Tergolina conversava bastante... em italiano. Mas passado algum tempo, ele acabou saindo para outra, pelo velho e conhecido problema do salário não condizente com o necessário envolvimento e as responsabilidades do complexo trabalho exigido pela mecânica Ferrari.
Com o tempo, os nossos laços de amizade foram-se fortalecendo, mas como Los Angeles é mais ou menos como São Paulo e, em extensão territorial até maior, então tudo é longe. Por isso nos víamos esporadicamente quando ele e a família dele, sempre muito acolhedora, me convidava para churrascos e outras reuniões de família e amigos. Na época eu tinha uma namorada americana que, após algumas visitas desistiu de me acompanhar à reunião dos brazucas, desambientada com os problemas de comunicação entre o idioma inglês dela e o português falado pelo resto da brasileirada, um problema que se agravava bem mais, após umas caipirinhas.
Uma vez ou outra ele me mostrava algumas fotos do tempo em que ele trabalhava na Escuderia Galgos Brancos, dos irmãos Andreatta, cuja família ele muito admirava. Uma das fotos mostrava uma carburação com 8 Webbers, com a tubulação de admissão construída por ele e instalada em um motor V8 de uma das carreteras. De gozação eu comentei: lindo trabalho mas e... funcionou? Ele deu uma risada, atrelou um “mas bah tchê” e passou a descrever os detalhes dos acertos necessários para atingir um bom funcionamento.
Se não me engano, foi após a saída da oficina Ferrari que ele passou a trabalhar para um concessionário Nissan (cuja marca na época era chamada de Datsun) e onde ele iniciou o profundo relacionamento com os carros da marca que mais tarde (em ’78 e ’79) iríamos defender quando corremos algumas provas com um esportivo Datsun 280-Z com parcial patrocínio de uma outra revenda Nissan para onde o “Tony” (como ele era conhecido) havia se transferido. Ele era muito estimado por todos na oficina e estava sempre disposto a ensinar os truques de mecânica aos mais novos ou até mesmo para o resto da equipe de mecânicos, sempre que aparecia um carro com um problema mais complicado. Incrivelmente, ele ainda levava os manuais técnicos para casa e ficava estudando as complexidades do sistema de injeção de combustível que, na época, ainda era meio tabu. Isso tudo, após um dia inteiro de “dar soco em ferramenta” como ele dizia. Realmente ele tinha uma sede insaciável de se atualizar aos desenvolvimentos da mecânica e constantemente ele estava fazendo os cursos de mecânica que os revendedores normalmente colocam à disposição dos seus mecânicos. Com isso, ele foi conquistando muitos certificados, inclusive o de "Master Mechanic" que é uma das graduações mais altas da profissão.
Ele chegou a voltar a morar no Brasil por um tempo, mas depois retornou a Los Angeles, após ter sido diagnosticado de câncer, pois ele teria a possibilidade de obter um tratamento médico mais adequado às finanças e melhor cobertura pelo seguro de saúde da família.
Não preciso repetir que eu senti muito a morte dele. Ele tinha o gênio explosivo típico dos “oriundi”, meio faisca adiantada, mas era uma pessoa alegre, que gostava de contar piadas e tinha uns pensamentos filosóficos sem igual. Para uma pessoa que começou muito cedo (aos 10 ou 12 anos acho) como lavador de peças de caminhão em uma oficina no alto da serra, ele atingiu uma posição surpreendente, em uma terra estranha, sendo as duas preocupações maiores dele, a de conviver com amigos e de sempre dar uma manutenção adequada à família. Como bom italiano, ele sempre dizia: “pode faltar de tudo, mas a mesa tem que ser farta”.
Saudosos abraços,
Henrique Mutti Jr.
Abaixo uma imagem da carretera #6 com Tergolina na pilotagem, durante prova em Porto Alegre, 1958.
Obrigado, Mutti. Obrigado Giordani.
Fonte da imagem: blog Hiperfanauto.
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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
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