* ILSE LIEBLICH LOSA *
[20/03/1913 - 06/01/2006]
[20/03/1913 - 06/01/2006]
Escritora.
Filha de Josef Lieblich (f. 1930) e de Hedwig Hirsch (f. 1936), nasceu em Melle-Buer, Osnabrück, e faleceu no Porto a 6 de Janeiro de 2006, com 92 anos de idade.
Frequentou o liceu em Osnabrück e Hildesheim, um instituto comercial em Hanôver e em 1930, ano do falecimento do pai, partiu para Inglaterra, onde tomou conta de crianças.
Regressou à Alemanha, mas devido à origem judaica e às perseguições nazis que recaíam sobre si e a família, estando prestes a ser detida em virtude de críticas a Hitler, abandonou-a, situação recriada na obra O mundo em que vivi.
Em Março de 1934, com vinte e um anos, refugiou-se em Portugal, na cidade do Porto, onde o irmão mais velho, Fritz Lieblich, já residia.
Casou, no ano seguinte, com o arquitecto Arménio Taveira Losa [1908-1988], adquirindo a nacionalidade portuguesa. Não mais deixou de viver no Porto até morrer.
Enquanto escritora, recebeu em 1984 o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens pelo conjunto da obra.
Colaborou em diversos jornais e revistas – Colóquio/Letras, O Comércio do Porto, O Diabo, Diário de Notícias, Gazeta Musical e de Todas as Artes, Jornal de Letras, Jornal de Notícias, Portucale, Público (1990-1992), Seara Nova, Vértice –, sendo-lhe atribuído, em 1998, o Grande Prémio da Crónica pela Associação Portuguesa de Escritores/Câmara Municipal de Beja pela obra À flor do tempo.
Traduziu para português escritores e autores de língua alemã, como Adolf Himmel, Anna Seghers, Anne Frank, Bertholt Brecht, Erich Kastner e Max Frisch e para alemão autores nacionais.
Com Óscar Lopes [02.10.1917-22.03.2013], um dos primeiros estudiosos a chamar a atenção para a relevância da sua primeira obra, organizou uma antologia da moderna lírica portuguesa (Berlim, 1969).
Para além da sua faceta de escritora, Ilse Losa manteve com o marido relevante participação cívica, enfileirando, a partir dos anos 40, nos movimentos de oposição ao salazarismo.
Como refere Ana Isabel Marques, tal acarretou vigilância policial regular pela PIDE/DGS, a qual não pôde “deixar de se reflectir na sua actividade literária, uma vez que dificilmente esta estaria imune aos mecanismos de autocensura” [Ana Isabel Marques, As traduções de Ilse Losa no período do Estado Novo: mediação cultural e projecção identitária, Tese de Doutoramento em Línguas e Literaturas Modernas, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2009, p. 4].
Finda a II Guerra Mundial, integrou a Delegação do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, com o número de sócia n.º 243, onde foi 1.ª Vogal da Direcção de 1947-1948, presidida por Maria Branca Lemos, e participou em diversas actividades associativas [Lúcia Serralheiro, Mulheres em Grupo Contra a Corrente, Evolua Edições, 2011].
Proferiu pequenas palestras dirigidas às sócias, versando sobre “Impressões de uma viagem a Inglaterra”, “Aspectos da vida da Alemanha entre as duas guerras” e “Ornamentação do lar” [Lúcia Serralheiro, p. 121].
Também colaborou no Boletim da AFPP com vários textos, nomeadamente “O primeiro passeio”, extracto do romance Eclipse, ainda não editado, e os seus escritos mereceram igualmente menção: Matilde Rosa Araújo publicou uma recensão ao livro O Mundo em que Vivi e foi feita referência à edição, em 1951, do livro de poesias Grades Brancas.
Nas três décadas seguintes, continuou associada aos grupos oposicionistas da cidade do Porto e destacou-se no âmbito da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos [Ana Isabel Marques, 2009, pp. 76-87]. Fez parte da direcção e subscreveu diversos documentos em defesa das condições dos presos e exigindo a sua libertação [CNSPP, Presos Políticos – Documentos 1970-1971].
Salientem-se os dois exaustivos trabalhos académicos que Ana Isabel Marques dedicou a Ilse Losa e que importa serem persperscrutados, não só pelas muitas e inéditas informações contidas e reconstrução biográfica, como por proporcionarem um novo olhar sobre a sua obra, libertando-a da quase exclusiva, e muito redutora, associação à literatura para os mais novos: Paisagens da Memória - Identidade e Alteridade na Escrita de Ilse Losa e As traduções de Ilse Losa no período do Estado Novo: mediação cultural e projecção identitária.