[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]
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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

[2256.] ADOLFO TEIXEIRA PAIS [I] || PRESO EM 1933, 1935, 1936, 1952 E DEPORTADO PARA O TARRAFAL (1936-1945)

* ADOLFO TEIXEIRA PAIS *
[07/07/1912 - ?]

Militante das Juventudes Comunistas, Adolfo Pais, referenciado como "O Cantador de Fado" ou "O Diabo", foi preso por quatro vezes e passou nove anos no Tarrafal.

[Adolfo Teixeira Pais || ANTT || RGP/896 || PT-TT-PIDE-E-010-5-896_m0197]

Filho de Ana Joaquina Teixeira e de Germano Pais, Adolfo Teixeira Pais nasceu em 7 de Julho de 1912, em Lisboa.

Empregado no comércio, militava nas Juventudes Comunistas e integrava a Célula N.° 47 do Comité de Zona N.° 4, tendo, anteriormente, pertencido à Célula N.° 46.

Este Comité reunir-se-ia às terças-feiras, pelas 21 horas, no Jardim da Parada, em Campo de Ourique e Adolfo Teixeira Pais desempenharia as funções de Secretário da Comissão de Organização, composta, entre outros, por Manuel dos Santos, "O Manuel da Fonte Santa", e Virgínio de Jesus Luís.

Segundo o seu Cadastro Político [ANTT, Cadastro Político 5210], também assistiria às reuniões que se efectuavam às segundas-feiras, à esquina do Café Itália ou à porta do Coliseu, com a Comissão Regional e onde estavam presentes os delegados das outras Zonas: Cintra, pela Zona N.° 1, Luna pela número 3, ele, pela N.° 4, e um tal Liberto ou Ferreira, da Comissão Regional.

Integrou o grupo que, em 20 de Janeiro de 1933, distribuiu manifestos clandestinos à porta das Oficinas Gerais da CML, na Rua 24 de Julho - Alcântara, entregues por Virgínio de Jesus Luís, enquanto Manuel dos Santos discursava no comício relâmpago então efectuado.

Finda a reunião do Comité de Zona N.° 4 realizada em 24 de Janeiro de 1933, os intervenientes  foram abordados na rua por dois guardas da PSP, tendo, na sequência de um tiro e do ferimento de um dos agentes, Adolfo Teixeira Pais fugido com Manuel dos Santos.

[Adolfo Teixeira Pais || ANTT || RGP/896 || PT-TT-PIDE-E-010-5-896_m0197]

Em 26/02/1933, Adolfo Pais seria preso em casa pela PSP, levado para o Governo Civil e, depois, entregue à Polícia de Defesa Política e Social [Processo 626]. Considerado «elemento bastante activo e perigoso», foi julgado pelo Tribunal Militar Especial em 2 de Março de 1934 e condenado a 600 dias de prisão [Processo 31/933 do TME].

Subscreveu a Carta Aberta impressa, datada de 30 de Março de 1933, em resposta a uma visita do Ministro do Interior [Albino Soares Pinto dos Reis Júnior (30/09/1888 - 14/05/1983)] ao Aljube e à respectiva nota oficiosa publicada nos jornais, em que 56 dos 75 presos no Aljube de Lisboa esclarecem e denunciam as torturas sofridas, sendo que «foram espancados 49, e alguns duma  maneira bastante selvagem».

Libertado em 21 de Dezembro de 1934, voltou a ser preso no ano seguinte, em Abril de 1935, quando era soldado. A ordem do Ministro da Guerra indicava que devia ser entregue à PVDE, tendo, em 24 de Abril de 1935, o Regimento de Artilharia de Costa N.° 1 - Trafaria confiado o soldado recruta Adolfo Teixeira Pais [Processo 1455].

Levado para a 1.ª Esquadra, foi transferido para Peniche em 16 de Maio, «em virtude de ter sido um dos principais autores duma insubordinação levada a efeito no calabouço N.° 6 do Governo Civil». Licenciado da tropa em 21 de Junho, voltou para os calabouços do Governo Civil em 12 de Julho, sendo libertado em 22 do mesmo mês.

[Adolfo Teixeira Pais || ANTT || RGP/896 || PT-TT-PIDE-E-010-5-896_m0197]

No ano seguinte, em 19 de Fevereiro de 1936, voltaria a ser preso, «enquanto comunista», pela Secção Política e Social da PVDE. Permaneceu numa esquadra até ser levado, em 15 de Abril, para Peniche e, em 14 de Outubro, já estava em Caxias, antecâmara da deportação para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde integraria a primeira leva de presos políticos e ficaria por 9 anos [Processo 625/36].

Abrangido pela amnistia de 18 de Outubro de 1945, regressou a Lisboa em 1 de Fevereiro de 1946, saindo em liberdade e ido viver para a Rua Convento da Encarnação 43 - 3.°.

Referenciado como electricista, Adolfo Teixeira Pais foi preso pela última vez em 18 de Agosto de 1952, «por emigração clandestina». Recolheu à Cadeia de Castelo de Vide, sendo julgado pelo Tribunal daquela Comarca [Processo 840/952].

Terá aderido ao Partido Socialista depois do 25 de Abril de 1974 e, nos anos 70, estaria como porteiro da embaixada portuguesa em Paris [Edmundo Pedro, 1978].

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 5210 [Adolfo Teixeira Pais / PT-TT-PIDE-E-001-CX05_, m0205, m0205a, m0205b, m0205c].

ANTT, Registo Geral de Presos 896 [Adolfo Teixeira Pais / PT-TT-PIDE-E-010-5-896].

[João Esteves]
[alterado em 07/02/2023]

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

[2254.] FLORIANO GABRIEL SOARES SAMPAIO LUZ [I] MILITANTE DAS JUVENTUDES COMUNISTAS - PRESO EM 1933, 1934, 1936, 1947

* FLORIANO GABRIEL SOARES SAMPAIO LUZ *
[11/10/1915 - ?]

Militante das Juventudes Comunistas, Floriano Sampaio Luz foi preso em 1933, 1934, 1936 e 1947. Conheceu os calabouços do Governo Civil, a Casa de Reclusão da Torre de São Julião da Barra, o Aljube, Caxias e esteve quase três anos deportado em Angra do Heroísmo. 

[Floriano Sampaio Luz || 1933 ou 1934 || ANTT || RGP/2729 || PT-TT-PIDE-E-010-14-2729_P2_m0014]

Filho de Palmira da Conceição Soares Luz e de Adolfo Jaime Sampaio Luz, Floriano Gabriel Soares Sampaio Luz nasceu em 11 de Outubro de 1915, em Lisboa.

Estudante, integraria, a Célula N.° 49 do Comité de Zona N.° 4 das Juventudes Comunistas, sendo o seu Secretário. Tinha, também, a cargo a Comissão Feminina.

Em 20 de Janeiro de 1933, foi um dos participantes na distribuição de manifestos clandestinos à porta das Oficinas Gerais da CML, em Alcântara.

Foi preso pela primeira vez em 24 ou 26 de Janeiro de 1933, quando participava numa reunião clandestina juntamente com Adolfo Teixeira Pais, "O Diabo", António da Piedade Cipriano, João Ferreira de Abreu e Manuel dos Santos, "O Manuel da Fonte Santa". Tratava-se de uma reunião do Comité de Zona N.° 4 realizada na Rua 1.° de Maio, no fim da qual foram surpreendidos por dois agentes da PSP.

Na sequência da recusa de os acompanharem à esquadra, um dos guardas foi ferido com um tiro. Enquanto Adolfo Teixeira Pais e Manuel dos Santos fugiram, os outros três foram logo presos, levados para os calabouços do Governo Civil e entregues à Polícia de Defesa Política e Social [Processo 626]. Segundo o Cadastro Político de Floriano Sampaio Luz, este era considerado «um elemento bastante activo e muito perigoso» [ANTT, Cadastro Político 4878].

Subscreveu a Carta Aberta impressa, datada de 30 de Março de 1933, em resposta a uma visita do Ministro do Interior [Albino Soares Pinto dos Reis Júnior (30/09/1888 - 14/05/1983)] ao Aljube e à respectiva nota oficiosa publicada nos jornais, em que 56 dos 75 presos no Aljube de Lisboa esclarecem e denunciam as torturas sofridas, sendo que «foram espancados 49, e alguns duma  maneira bastante selvagem».

Em 15 de Março de 1933, seria transferido para a Casa de Reclusão da Torre de São Julião da Barra, de onde se evadiu em 27 de Dezembro.

[Floriano Sampaio Luz || 1933 ou 1934 || ANTT || RGP/2729 || PT-TT-PIDE-E-010-14-2729_P2_m0014]

Julgado em 2 de Março de 1934, foi condenado a 10 meses de prisão correccional a contar da data de captura [Processo 31/934 do TME].

Voltou a ser detido em 6 de Abril de 1934, por se ter evadido anteriormente [Processo 626-A], e libertado no dia 1 de Maio.

Continuou com a sua militância e, em 10 de Março de 1936, voltou a ser preso por fazer parte da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas e ter participado, juntamente com António Gomes Pereira, Edmundo Pedro, Helder David Dias de Meneses, Júlio Agostinho Marques da Silva, Manuel José Ferreira e outros, nos comícios relâmpago realizados na Escola Industrial Machado de Castro e Escola Comercial Rodrigues Sampaio.

Uma semana depois, quando era conduzido da Secção Política e Social da PVDE à esquadra onde se encontrava incomunicável, conseguiu fugir [Processo 1813], permanecendo em Espanha entre 29 de Maio e 2 de Agosto de 1936, dia em que se entregou no Posto da Secção Internacional da PVDE em Vilar Formoso.

A fuga para Espanha fora feita na companhia de José Cabral de Jesus, que também tinha escapado à PVDE.

Levado incomunicável para uma esquadra, foi transferido para a 1.ª em 6 de Agosto e entrou no Aljube em 19 do mesmo mês. Em 17 de Outubro, embarcou para Angra do Heroísmo e aí foi julgado pelo TME em 29 de Maio de 1937, condenando-o em 4 anos de prisão e perda dos direitos políticos [Processo 165/936 do TME].

Três anos depois, em 7 de Junho de 1939, foi transferido de Angra para a prisão de Caxias, onde entrou a 8, depois de ter passado um dia no Aljube. Por ter sido indultado, foi libertado em 24 de Dezembro de 1939.

[Floriano Sampaio Luz || 01/04/1947 || ANTT || RGP/2729 || PT-TT-PIDE-E-010-14-2729_P2_m0013]

Voltou a ser detido, para averiguações, em 1 de Abril de 1947, levado para o Aljube e libertado em 6 de Maio.

[Floriano Sampaio Luz || 01/04/1947 || ANTT || RGP/2729 || PT-TT-PIDE-E-010-14-2729]

Paula Godinho, na Dissertação de Doutoramento em Antropologia "Memórias da Resistência Rural no Sul - Couço (1958 - 1962)" [UNL - FCSH, 1998], evoca a memória de Floriano Sampaio Luz, «velho lutador com quem convivi ao longo de mais de 20 anos, que me ensinou a perceber "por dentro" instituições com a marca do segredo e a perscrutar, de forma participante, a matéria de que se fazem os revolucionários e as revoluções».

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 4878 [Floriano Gabriel Soares Sampaio Luz / PT-TT-PIDE-E-001-CX09_m0324, m0324a, m0324b, m0324c].

ANTT, Registo Geral de Presos 2729 [Floriano Gabriel Soares Sampaio Luz / PT-TT-PIDE-E-010-14-2729_m0271].

[João Esteves]

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

[2189.] JOSÉ RUAS FERREIRA [II] || MILITANTE DAS JUVENTUDES COMUNISTAS ASSASSINADO EM 4 DE SETEMBRO DE 1932

* JOSÉ RUAS FERREIRA *
[1908 ? - 04 ou 27/09/1932]

ASSASSINADO NO COMÍCIO-RELÂMPAGO DE ALCÂNTARA DE 4 DE SETEMBRO DE 1932

[Processo 52/1932 || Porto || ANTT || PT-TT-PIDE-DP-D-001-5232_m0248]

Um dos primeiros jovens a ser assassinado pela Polícia na via pública, quando participava num comício-relâmpago organizado pela Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas no Largo de Alcântara, em 4 de Setembro de 1932, para celebrar o Dia da Juventude. 

Filho de Clara das Dores Ferreira e de Manuel Cerqueira [ou Sequeira, segundo o Processo 52/1932] Ruas, José Ruas Ferreira nasceu na Freguesia de S. Jorge - Arcos de Valdevez. 

Referenciado como manipulador do pão ou padeiro, José Ruas Ferreira teria ligações ao Partido Comunista e ao Socorro Vermelho Internacional desde 1927, quando foi abordado pelo sapateiro e militante comunista José  Silva [autor de Memórias de um operário publicadas no Porto em 1971 e que, significativamente, vivia no mesmo arruamento - Rua da Senhora das Dores - 45].

Em 15 de Abril de 1931, foi preso pela Delegação do Porto da Polícia Internacional Portuguesa, «por estar envolvido no movimento revolucionário e por ser revolucionário avançado» [ANTT, Cadastro 1053 que consta do Processo 52/1932], sendo libertado em 28 de Abril.

[Processo 52/1932 || Porto || ANTT || PT-TT-PIDE-DP-D-001-5232_m0244]

Já a residir na Rua de Santa Catarina 1022, foi preso pela Delegação da Polícia Internacional Portuguesa em 4 de Março de 1932, quando tinha 24 anos, «por pertencer ao Socorro Vermelho Internacional e Partido Comunista».

[Processo 52/1932 || Porto || ANTT || PT-TT-PIDE-DP-D-001-5232_m0243]

Interrogado em 9 de Março de 1932 por Joaquim do Passo, confirmou que tinha sido aliciado para o Partido Comunista pelo sapateiro José Silva, tendo participado em reuniões em que estiveram presentes, para além daquele, Adalberto Pinto de Oliveira, o alfaiate António de Carvalho, António Nunes, o padeiro Basílio Tavares, o sapateiro Benjamim Marques, o padeiro Manuel João, o ferroviário Maximiano Pires, morador em Campanhã, o tipógrafo Rodrigo Lopes, entre outros cujo nome desconhecia.  




[Processo 52/1932 || Porto || ANTT || PT-TT-PIDE-DP-D-001-5232]

Referiu, ainda, que pagou sempre as quotas até Abril de 1931, quando foi preso, e depois de ter saído da prisão. 

Em princípios de Julho ou Agosto de 1930, fora nomeado para uma comissão com o fim de organizar as Juventudes Comunistas no Porto, tendo participado em reuniões com Adalberto Pinto de Oliveira, José da Silva, que orientava os trabalhos, e o cortador de carnes Manuel da Silva. A organização não teria tido mais do que seis filiados - Adalberto Pinto de Oliveira, João Rodrigues Viegas, José Ruas Ferreira, Manuel de Oliveira e dois outros -, tendo as actividades ficado desorganizadas com a prisão de José Silva.

Por fim, em princípios de Agosto de 1931, fora contactado por Manuel Viana Ribeiro [ANTT, RGP/421] para organizar a Zona 2 do Socorro Vermelho Internacional, tendo aliciado o padeiro António Braga, trabalhador na Padaria Alemã, na Rua Mártires da Liberdade, o padeiro Constantino da Costa, residente em Pinhão, e o ferroviário Maximiano Pires. 

[Processo 52/1932 || Porto || ANTT || PT-TT-PIDE-DP-D-001-5232_m0257]

Enviado preso para Lisboa em 14 de Abril de 1932, por despacho do Ministro do Interior, de 22 de Junho, foi-lhe fixada residência obrigatória em Peniche [Processo 52/Porto], para onde seguiu em 9 de Agosto e de onde se evadiu.

Pouco depois, em 4 de Setembro, José Ruas Ferreira participou no "comício-relâmpago" de Alcântara, tendo Francisco de Paula de Oliveira (Pável) sido o orador e estando presentes, entre outros, Domingos dos Santos - "O Calabrez", Manuel dos Santos e Pedro Batista da Rocha

Do confronto com a polícia, resultou a morte do guarda António Trancoso e do manifestante identificado, inicialmente, como Alfredo Ruas. Alvejado e levado, sob prisão, para o Hospital de São José, aí faleceu, sendo que o inspector da PIDE Fernando Gouveia também o referencia, nas suas memórias, por José Ruas

[José Ruas Ferreira || ANTT || Cadastro Político 3956]

Também na data do seu falecimento há disparidades, já que, primeiro, anotou-se no seu Cadastro que faleceu naquele Hospital em 27 de Setembro de 1932, «em virtude de ter sido ferido, quando da manifestação comunista em Alcântara, em 4 deste mês» [ANTT, Cadastro Político 3956Processo 561].

Depois, acrescentou-se que «foi ferido quando dos tumultos que, neste dia, tiveram lugar em Alcântara, motivados pela manifestação ali levada a efeito pelas Juventudes Comunistas, comemorando a XVIII Jornada Internacional, tendo dado entrada, sob prisão, no Hospital de S. José, por haver suspeitas do epigrafado ter sido um dos provocadores dessa desordem e ter feito uso da sua arma de fogo» [ANTT, Cadastro Político 3956; Processo 558], constando como data do seu falecimento o dia 4 de Setembro.

Fonte:
ANTT, Processo Crime de António Domingues Ferreira, Fernando Alves de Sousa e Ângelo Alves Ribeiro [PT/TT/PIDE-DP/D/001/5232] [Processo 52/1932].

ANTT, Cadastro Político 3956 [José Ruas Ferreira / PT-TT-PIDE-E-001-CX12_m0689, m0689a].

[João Esteves]

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

[1985.] JOÃO CÉSAR VIEIRA JÚNIOR [I] || DEPORTADO DUAS VEZES PARA ANGRA DO HEROÍSMO

* JOÃO CÉSAR VIEIRA JÚNIOR *

Preso por três vezes (1933, 1936, 1940) e deportado por duas vezes para Angra do Heroísmo (1933, 1936). 

Activista da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas, foi preso pela primeira vez em 28 de Março de 1933 e enviado para a Fortaleza de São João Baptista, em Angra do Heroísmo. Novamente preso em 1936, passou pelo Aljube, Peniche e Caxias, sendo novamente deportado para os Açores. Preso pela terceira vez em 11 de Junho de 1940.

[João César Vieira Júnior || 1933 || ANTT || RGP/87 || PT-TT-PIDE-E-010-1-87_P2_m0180b]

Filho de Margarida Adelaide Vieira e de João César Vieira, João César Vieira Júnior nasceu em Lisboa, em 20 de Julho de 1915.

Empregado de escritório [ANTT, Cadastro Político 4786] / comércio [ANTT, RGP/87] e filiado nas Juventudes Comunistas, onde teria o N.º 123-A, foi preso pela primeira vez em 28 de Março de 1933, «sob a acusação de estar envolvido em manejos comunistas». 

Segundo o seu Cadastro Político que consta na Torre do Tombo, integraria a Célula 12-A, controlada por Afonso Martins da Silva, também ele empregado do comércio, e representava aquela no Sub-Comité de Zona N.º 1. Para além de distribuir manifestos, proceder à venda de jornais clandestinos e preparar «um simpatizante comunista», foi considerado pela PVDE como «bastante activo e consciente», «apesar de ser um elemento ainda um pouco novo» [Processo 713, enviado ao TME em 19/06/1933].

[João César Vieira Júnior || Fotografia de 12/06/1940 || ANTT || RGP/87 || PT-TT-PIDE-E-010-1-87_P2_m0180]

Por ordem do Governo, foi transferido para Angra do Heroísmo em 19 de Novembro de 1933, integrando a leva de 143 presos políticos que embarcou no vapor Quanza, fundeado a cerca de 500 metros da praia sul de Peniche. Dessa leva consta Afonso Martins da Silva.

Julgado em 25 de Agosto de 1934 pela Secção dos Açores do Tribunal Militar Especial, considerou-se que parte das suas actividades políticas estavam abrangidas pela amnistia de 5 de Dezembro de 1932, sendo punido ao abrigo do Decreto 23.203, de 6 de Novembro de 1933 [Processo 58/933, do TME].

Regressou de Angra do Heroísmo em 9 de Novembro e continuou a residir em Lisboa, na Rua D. Dinis, 18  1.º.

[João César Vieira Júnior || Fotografia de 12/06/1940 || ANTT || RGP/87 || PT-TT-PIDE-E-010-1-87_P2_m0180]

João César Vieira Júnior voltou a ser preso em 4 de Março de 1936, novamente por actividades comunistas. Preso numa esquadra, foi transferido para o Aljube em 24 de Abril, seguiu, dois dias depois, para Peniche e, em 14 de Outubro entrou na Fortaleza de Caxias - Reduto Norte. 

Novamente deportado para Angra do Heroísmo, embarcou em 17 de Outubro de 1936 e foi julgado pelo Tribunal Militar Especial em 29 de Maio de 1937, sendo condenado a dois anos de prisão correccional [Processo 625/936, enviado ao TME em 09/06/1936]. 

Apesar de ter cumprido a pena imposta pelo TME, foi mantido em prisão preventiva por decisão da SPS/PVDE, datada de 21/03/1938, regressando dos Açores em Agosto de 1938 e libertado no dia 8.

[João César Vieira Júnior || ANTT || RGP/87 || PT-TT-PIDE-E-010-1-87_P2_m0180]

A terceira prisão deu-se em 11 de Junho de 1940, por mandado de captura do 8.º Juízo Criminal de Lisboa [Processo 880/940].

O nome consta do Memorial de Homenagem aos Ex-Presos Políticos, inaugurado na Fortaleza de Peniche em 9 de Setembro de 2017.

Fontes:
ANTT, Registo Geral de Presos / 87 [João César Vieira Júnior / PT-TT-PIDE-E-010-1-87_P2_m0180, m0180a, m0180b].
ANTT, Cadastro Político 4786 [João César Vieira Júnior / PT-TT-PIDE-E-001-CX10_m0508, m0508a].

[João Esteves]

terça-feira, 8 de maio de 2018

[1807.] JOAQUIM LOPES MARTINS [I]

* JOAQUIM LOPES MARTINS || MORTO AOS 21/22 ANOS EM CONSEQUÊNCIA DE ESPANCAMENTOS NA PRISÃO *

Joaquim Lopes Martins foi um dos muitos jovens vítima das torturas sofridas quando preso pela Polícia de Defesa Política e Social, tendo falecido no Hospital Curry Cabral em 2 de Julho de 1933.

Se pouco se sabe do seu percurso político para além de ser militante da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas ["Reorganização da FJCP – 1934-1935", Avante!, 08/05/2003] e, eventualmente, com ligações à Célula N.º 18 do Comité de Zona Nº 1 do Partido Comunista [ANTT, Cadastro Político 4119], importa preservar a sua memória fixando-lhe o rosto ainda tão juvenil, tanto mais que é um nome que não consta de "Os que ficaram pelo caminho".   

[ANTT || Fotografia 1924, 04/08/1932 || -ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Filho de Maria de Jesus e de Joaquim Martins Gomes, Joaquim Lopes Martins nasceu em Arganil, em 1911.

Padeiro, a viver na Praça Luís de Camões nº 46, 5.º Esquerdo (Lisboa), foi preso em 27 de Junho de 1932, acusado de ser "simpatizante da Célula Nº 18 do Comité de Zona Nº 1 do Partido Comunista Português" e ser "detentor de uma mala com material destinado ao fabrico de bombas", dada a guardar por João Marques Lustosa.

[ANTT || Fotografia 1924, 04/08/1932 || -ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Joaquim Lopes Martins foi acusado de integrar o Grupo Defesa Sindical da Associação de Classe dos Manipuladores de Pão, que negou e, "nos interrogatórios, tentou o mais possível encobrir a sua qualidade de membro de uma Célula Comunista, acabando, por fim, por confessar" [ANTT, Cadastro 4119; Processo 460].

Em 11 de Agosto de 1932, por parecer do Director Geral da Segurança Pública e anuência do Ministro do Interior, foi-lhe "fixada residência obrigatória em Timor ou Cabo Verde".

[ANTT || Fotografia 1924, 04/08/1932 || -ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Em consequência dos maus-tratos policiais e prisionais, entrou no Hospital Curry Cabral em 28 de Novembro de 1932, onde faleceu em 2 de Julho de 1933, "pelas 5 e 30 horas, no Serviço 1, Sala 1" [informação da Direcção dos Hospitais Civis].

Como o seu processo já se encontrava no Tribunal Militar Especial de Lisboa desde 24 de Fevereiro, a Polícia de Defesa Política e Social informou-o do "falecimento do epigrafado" [Ofício 783, de 05707/933].  

[ANTT || Fotografia 1924, 04/08/1932 || -ca-PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANT

NOTA: Atenção ao uso indevido destas imagens sem a devida autorização do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 4119 [Joaquim Lopes Martins / PT-TT-PIDE-E-001-CX11_m0264, m0264a].
ANTT, Fotografia 1924 [Joaquim Lopes Martins / C-4119 / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903_m0025].
"Reorganização da FJCP – 1934-1935", Avante!, 08/05/2003.

[João Esteves]

segunda-feira, 2 de abril de 2018

[1782.] UNIVERSALINO ALVES DE ANDRADE [I] || PRESO EM 1932

* UNIVERSALINO ALVES DE ANDRADE || MILITANTE DA FEDERAÇÃO DAS JUVENTUDES COMUNISTAS PORTUGUESAS (1932) *

Filho de Maria Carolina Andrade e de António Alves de Andrade, terá nascido em 1912, em Lisboa.

Escriturário, integraria a Célula de Empresa Nº 18 das Juventudes Comunistas, formada por elementos da Companhia dos Telefones, tendo sido convidado a aderir por Constantino Antunes, seu secretário.  

Preso em 1 de Junho de 1932 e libertado no dia seguinte [Processo 389], tendo sido enviada cópia do processo ao director daquela Companhia.

Fonte:
ANTT, Cadastro Político 5594 [Universalino Alves de Andrade / PT-TT-PIDE-E-001-CX15_m0574].

[João Esteves]

Acrescenta-se a informação complementar de Adriano Silva, a quem muito se agradece: Universalino foi diretor da Caixa de Previdência do Pessoal da Companhia dos Telefones, cujos relatórios estou a catalogar e podem consultá-los na BPMP na cota P-A-7431. Adriano Silva (BPMP).

quinta-feira, 15 de março de 2018

[1766.] DOMINGOS DOS SANTOS - O CALABREZ [I]

* DOMINGOS DOS SANTOS - "O CALABREZ" || PRESO, PELA PRIMEIRA VEZ, AOS 17 ANOS || DEPORTADO PARA ANGRA DO HEROÍSMO E PARA O CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DO TARRAFAL *

Dirigente da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas desde 1932, chegando a pertencer ao seu Comité Central, Domingos dos Santos foi preso, pela primeira vez, em 1933, passou pelo Aljube e foi deportado para a Fortaleza de São João Baptista, em Angra do Heroísmo. Novamente preso em 1937, foi deportado para o Tarrafal, de onde regressou ao fim de três anos. 

Integrou, com Álvaro Cunhal, a Delegação da FJCP ao VI Congresso da Internacional  Comunista Juvenil, realizado em Moscovo no Verão de 1935.

[Domingos dos Santos || ANTT || RGP/58]

Filho de Berta das Dores [Santos] e de Aníbal dos Santos, Domingos dos Santos nasceu em 1 de Maio de 1915, em Lisboa.

Serralheiro do Arsenal do Exército, conhecido por "O Calabrez", era procurado desde Fevereiro de 1933 por estar identificado como fazendo parte do Comité Regional de Lisboa das Juventudes Comunistas, juntamente com António da Piedade Cipriano ("Borodine"), João Ferreira de Abreu e Virgílio de Jesus Luís, entre outros [Processo 626].

Segundo o seu Cadastro Político que consta da Torre do Tombo, foi preso em 11 de Abril de 1933, seria o filiado Nº 150 das Juventudes Comunistas e pertencia à Célula Nº 15 que reunia, à hora do almoço, no Arsenal do Exército, sendo o responsável pela Comissão do Socorro Vermelho Internacional [ANTT, Cadastro 4383].

Segundo o mesmo documento, para além de fazer parte do Comité de Aprendizes do Arsenal do Exército, integrava o Comité de Zona Nº 1, onde tinha a cargo a Comissão Sindical; o Comité Regional de Lisboa, sendo o responsável pela Comissão Regional Política e de Agitação e Propaganda; a Comissão Central Sindical das Juventudes Comunistas; e o Grupo de Defesa Académica da Escola Industrial Afonso Domingos, que frequentava.

Para além de participar em todas as reuniões dos organismos a que pertencia, interveio na distribuição e venda da imprensa clandestina, colaborou na redacção de artigos e de desenhos e, na madrugada de 4 de Setembro de 1932, participou em pinturas e afixação de selos e cartazes nos prédios situados no Alto do Varejão, Caminhos-de-Ferro, Estrada da Circunvalação e Alto de S. João [Processo 713]. 

Nesse mesmo dia, esteve na manifestação realizada no Largo de Alcântara, de forma a celebrar o Dia da Juventude. Francisco de Paula de Oliveira (Pável) foi o orador desse "comício-relâmpago", tendo do confronto com a polícia resultado a morte do guarda António Trancoso e do manifestante Alfredo Ruas/José Ruas Ferreira.

Apesar do seu processo ter sido enviado ao Tribunal Militar Especial em 19 de Junho de 1933 a fim de ser submetido a julgamento, foi por ordem do Governo que, em 19 de Novembro de 1933, Domingos dos Santos, então com 18 anos, foi enviado para a Fortaleza de São João Baptista, em Angra do Heroísmo.

[Domingos dos Santos || ANTT || RGP/58]

Julgado em 25 de Agosto de 1934 pela Secção dos Açores do Tribunal Militar Especial, atendeu-se ao facto de ser menor de idade e, por isso, foi condenado a trezentos dias de prisão, já cumpridos, e perda de direitos políticos por cinco anos [Processo 58/933, do TME; Processo 713, da Polícia de Defesa Política e Social].

Regressou de Angra do Heroísmo em 9 de Novembro de 1934 e saiu em liberdade no dia seguinte, continuando a viver em Lisboa, no Beco do Forno do Castelo, 16 - Loja. 

Domingos dos Santos regressou à luta política e, em 1935, integrou o Secretariado da Federação das Juventudes Comunistas, juntamente com Álvaro Cunhal, Francisco Ferreira e José Gilberto Florindo de Oliveira. 

Em Julho de 1935, o Comité Central da FJCP escolheu Álvaro Cunhal e Domingos dos Santos, que usava o pseudónimo "Felipe Magalhães/Magalhães", como Delegados ao Congresso da Internacional  Comunista Juvenil (IJC) que se realizava em Moscovo, tendo os dois viajado juntos. Segundo Pacheco Pereira, saíram de Portugal pelo Alentejo, passaram os Pirenéus para chegar a França, atravessaram de comboio a Alemanha nazi e chegaram à União Soviética, em Agosto, através dos países bálticos [JPP, Álvaro Cunhal - Uma biografia política, Vol. 1, p. 114]. 

Durante a permanência em Moscovo, Francisco de Paula Oliveira terá diligenciado para que Domingos dos Santos ali permanecesse enquanto representante da FJCP na IJC.

Na sequência da partida, em Julho de 1936, de Álvaro Cunhal para Espanha e da prisão de José Gilberto Florindo de Oliveira, Domingos dos Santos ficou a controlar a FJCP.

Em Março de 1936, a Polícia já estava na posse de informações sobre o papel activo de Domingos dos Santos, que só seria preso um ano depois, em 30 de Abril de 1937. No seu Cadastro Político, é referida a sua participação no Comité Central da FJCP, juntamente com Gilberto de Oliveira "e um indivíduo de apelido Cunhal, filho de um advogado do mesmo apelido" [Cadastro 4383]. 

[Domingos dos Santos || ANTT || RGP/58]

Preso no Segredo da Cadeia do Aljube, integrou a segunda leva de presos políticos enviada para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde chegou em 12 de Junho de 1937. Aí permaneceu até 7 de Julho de 1940 e desembarcou em Lisboa em 15 de Julho, sendo enviado para Caxias [Processo 772/37].

Libertado em 27 de Setembro de 1940 e "entregue na mesma data ao Pai" [ANTT, RGP/58], quando tinha 25 anos de idade e nove anos de intensa militância. 

José Pacheco Pereira refere que terá enlouquecido com a deportação [JPP, Vol. 1, p. 103] e que, posteriormente, se terá curado, não mantendo actividades políticas [JPP, Vol. 2, p. 700].

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 4383 [PT-TT-PIDE-E-001-CX08_m0678, m0678a, m0678b, m0678c].
ANTT, Registo Geral de Presos / 58 [TT-PIDE-E-10-1-58_c0130].

[João Esteves]