[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]
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sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

[2212.] CARLOS ALBERTO RODRIGUES PATO [IV] || PASSEIO NO TEJO - 1941

* CARLOS PATO *
[1920 - 1950]

PASSEIO NO TEJO || MAIO (?) DE 1941

[Carlos Pato é o segundo a contar da esquerda || Soeiro Pereira Gomes, Álvaro Cunhal e António Vitorino encontram-se ao centro]

domingo, 14 de julho de 2019

[2160.] SOEIRO PEREIRA GOMES [I] || POEMA DE 1949 DEDICADO A CÂNDIDA VENTURA [V]

* POEMA DE SOEIRO PEREIRA GOMES || 20 DE JULHO DE 1949 *

Já gravemente doente, Soeiro Pereira Gomes [1909 - 1949] esteve clandestino em casa de Nina Perdigão [1902 - 1988], onde reencontrou Cândida Ventura [1918 - 2015] numa das suas muitas passagens pela mesma residência. 

Desse convívio, resultou o "Poema Único - Para a C...", dedicado a Cândida Ventura que, então, usava o pseudónimo "Carlota". Perdido durante muito tempo, foi reencontrado por Rui Perdigão em 1983, «numa caixa de velhos papéis que andou mais de vinte anos de um lado para o outro e que, por fim, voltou a chegar-me às mãos» e que inseriu no seu livro O PCP visto por dentro e por fora [Editorial Fragmentos, 1988].

Poema Único

Para a C...

                                    Menina dos olhos grandes,
                                    Tão grandes que neles vejo
                                     A minha imagem e o mundo
                                     Com que sonho e que porfio...

                                     Menina do riso ingénuo
                                     À porta dos lábios mudos
                                     Como fio de água fresca
                                     Entre o musgo duma rocha...

                                     Menina de tez morena
                                     Que o sol beija e mais ninguém
                                     E de corpo tamanino
                                     E de rosto tão bonito...

                                     - Porque usas carrapito?
                                     P'ra realçar teus encantos
                                     Que são tantos, tantos, tantos
                                     Como estrelas há no céu?...

                                     Menina do meu enleio
                                     Menina doutras meninas
                                     Que tenho nos olhos tristes:
                                     - Solta as tranças, vai cortar
                                     (Não dói nada... e é mais bonito)
                                     Vai cortar o carrapito!

                                                                               20/07/1949

[Rui Perdigão || O PCP visto por dentro e por fora || Fragmentos || 1988]

sábado, 13 de julho de 2019

[2159.] NINA PERDIGÃO [IV] || 1902 - 1988

* TOMÁZIA JOSEFINA HENRIQUES PERDIGÃO *
[02/05/1902 - 1988]

[Tomázia Josefina Henriques Perdigão || ANTT || RGP/5021 || PT-TT-PIDE-E-010-26-5021]

Mais conhecida por Nina Perdigão

Filha de Tomázia Alves de Azevedo Henriques [f. 24/08/1936], proprietária, e de Joaquim dos Santos Henriques, Nina Perdigão nasceu a 2 de Maio de 1902 na Freguesia de Cedofeita, Porto, cidade onde faleceu em 1988. 

Teve quatros irmãos, todos rapazes: Luís, Carlos, Joaquim e António Azevedo Santos Henriques

Casou com Licínio Pinheiro Perdigão [1905 - 1934], nascido em Manaus, Brasil, arquitecto que cursou a Faculdade de Belas Artes do Porto entre 23/09/1922 e 03/10/1929 e que faleceu muito novo em início de carreira, não voltando a contrair matrimónio. 

[Licínio Pinheiro Perdigão || Fotografia retirada do Blogue Família Perdigão da autoria da neta Manuela Perdigão]

Viúva muito nova e mãe de dois filhos pequenos (Rui e Gil Perdigão), ficou economicamente dependente dos pais que estavam ligados à indústria têxtil portuense e detinham inúmeras propriedades. A sua militância política iniciou-se na década de 30, no âmbito do Socorro Vermelho Internacional, vendendo o boletim Solidariedade e selos para angariar fundos para os presos políticos, militantes clandestinos e vítimas da Guerra Civil de Espanha. 

Com 34 anos e recém viúva, foi presa na residência da Avenida da Boa Vista, 341, Porto, em 22 de Outubro de 1936, acusada de fazer parte do Socorro Vermelho Internacional do Norte [ANTT-PIDE/DGS Proc. 122/37], só sendo libertada em 30 de Maio de 1937. 

[Rui Perdigão || O PCP visto por dentro e por fora || Fragmentos || 1988]

Novamente detida em 9 de Agosto deste ano a fim de ser submetida a julgamento, recolheu ao Aljube do Porto e saiu em liberdade em 26 de Agosto depois de ter sido condenada pelo Tribunal Militar Especial na multa de 2.400$00, que se substituía, quando não paga, por quatro meses de prisão correccional [Processo nº 39/937 do Tribunal Militar Especial de Lisboa, fl. 25].

A mulher do Presidente Óscar Carmona, Maria do Carmo Ferreira da Silva [1888 - 1956], procurou interceder por Nina Perdigão junto de Salazar, tendo este afirmado: «Será um bom exemplo para as mulheres portuguesas»! [Rui Perdigão, O PCP visto por fora e por dentro]. 

Cumpriu a sentença no Aljube do Porto, numa cela juntamente com Alice Pereira Gomes [1910 - 1983], irmã de Soeiro Pereira Gomes. 

Em 1944, aderiu, formalmente, ao Partido Comunista Português, tendo a sua insuspeitada casa na Rua do Breyner - 213 funcionado, durante  muito tempo, como ponto de apoio às actividades dos dirigentes, nomeadamente os do Secretariado. Passaram por lá, entre outros, Cândida Ventura [1918 - 2015], Joaquim Pires Jorge [1907 - 1984], Júlio Fogaça [1907 - 1980], Octávio Pato [1925 - 1999], Sérgio Vilarigues [1914 - 2007] e, no Verão de 1949, Soeiro Pereira Gomes [1909 - 1949], este na fase terminal da doença que o vitimou, levado por Pires Jorge

Apesar de gravemente doente, «a sua alegria, em geral, era esfusiante», «o riso contagioso» e, nessa casa, reencontrou Cândida Ventura, que usava o pseudónimo Carlota, e a quem dedicou o "Poema Único - Para a C...", datado de 20 de Julho de 1949. Foi, também aí, que Soeiro Pereira Gomes se inspirou para os últimos escritos, escondidos até ser possível recuperá-los mais tarde: «Foi minha mãe, Nina Perdigão, que com uma enorme paciência reconstruiu os textos, tendo sido em muitos sítios obrigada a dar uma versão sua de certas frases, totalmente desaparecidas. Foi este o texto que serviu à primeira edição dos Contos Vermelhos aparecida clandestinamente» [Rui Perdigão]. 

Na década de 50, Nina Perdigão, os dois filhos e a nora, Fernanda Maria Baía da Silva, casada com Rui Perdigão, montaram um "aparelho" de apoio técnico e logístico «altamente importante» de apoio ao seu Secretariado, «no qual se integram automóveis para deslocações dos seus membros pelo País, casas  de refúgio, apartamentos «legais» para reuniões, etc.». [Rui PerdigãoO PCP visto por dentro e por fora, 1988]. Envolvia, ainda, o serviço clandestino de fronteiras que permitia a saída do país de militantes na clandestinidade. 

[Rui Perdigão || O PCP visto por dentro e por fora || Fragmentos || 1988]

Além disso, Nina Perdigão tornou-se o seu principal sustentáculo económico durante a clandestinidade, envolvendo, segundo o filho Rui Perdigão, 150.000 contos, doados principalmente durante a década de 50: «Referindo-se à importância do aparelho e desta dádiva, Pires Jorge disse-me certa vez: Diz-se que o Partido é indestrutível, e é; mas nos anos 50, se não fosse a herança que Júlio Fogaça entregou, e a dádiva que a vossa família fez, assim como o apoio técnico que prestou, não sei o que teria acontecido ao Partido. Decerto teríamos voltado à situação dos anos que se seguiram à "reorganização"» [Rui Perdigão].  

Tomázia Perdigão foi, segundo o Diário de Maria Luísa Ribeiro de Lemos, uma das fundadoras da Delegação do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, sendo a sócia nº 273 de acordo com o caderno de Irene [Fernandes Morais] Castro, a sua última presidente, com residência na Rua do Breyner [Lúcia Serralheiro, Mulheres em Grupo Contra a Corrente, 2011] . 

O investigador José Pacheco Pereira considera que foram duas as famílias do Porto que mais ajudaram o Partido Comunista na clandestinidade, a saber, a família de Guilherme da Costa Carvalho, cujos pais e irmã também pertenciam à AFPP, e a de Nina Perdigão.

Nina Perdigão, tal como o filho Rui e a nora, afastou-se do Partido Comunista após os acontecimentos da Checoslováquia: «Uma parte muito importante da sua fortuna deu-a ao PCP nos anos difíceis que se seguiram à prisão de Cunhal e Militão Ribeiro. Apesar da sua posição intransigentemente crítica, quanto à orientação do PCP nos últimos anos, Sérgio Vilarigues, do Secretariado, e Georgete Ferreira, do Comité Central, quiseram prestar-lhe homenagem, tendo ido visitá-la ao hospital onde morreu» [Rui Perdigão]. 

[Rui Perdigão || O PCP visto por dentro e por fora || Fragmentos || 1988]

Faleceu no Verão de 1988. 

Lúcia Serralheiro incluiu uma biografia de Tomázia Josefina Henriques Perdigão/Nina Perdigão no Dicionário no Feminino (séculos XIX-XX) [Livros Horizonte, 2005].

[João Esteves]

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

[1073.] BERENICE PEREIRA GOMES [I] || 1913 - 2004

* BERENICE PEREIRA GOMES *
[1913 - 2004]

[Berenice com o irmão || in Soeiro Pereira Gomes na esteira da Liberdade, Edição da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e Museu do Neo-Realismo, 2009]

Professora do ensino primário. 

Filha de Celestina Soeiro Pereira Gomes e de Alexandre Pereira Gomes, nasceu a 3 de Março de 1913 e faleceu, no Porto, em 21 de Fevereiro de 2004. 

Irmã de Joaquim, Alice, Alexandre, Jaime e Alfredo Pereira Gomes, nasceu, tal como os últimos quatro, em Espinho, na casa da tia-avó Leopoldina da Costa, que desempenhava o cargo de chefe dos telefones e era também parteira naquela localidade. 

Oriunda de uma família da média burguesia rural do concelho de Baião, cresceu e viveu em Gestaçô até 1924, ano em que o pai, proprietário rural de ideias republicanas, «que soube transmitir a todos os filhos, amplos ideais de liberdade e democracia» [Giovanni Ricciardi, p. 116], se mudou com os quatro filhos mais novos para o Porto, onde Alice Pereira Gomes [1910 - 1983] estudava, enquanto Joaquim Soeiro Pereira Gomes [14/04/1909 - 05/12/1949] frequentava, em Coimbra, o curso de engenheiros agrícolas da Escola Nacional de Agricultura. 

Se a intervenção política de Berenice não pode ser equiparada à de Joaquim ou de Alice, em determinado momento a “passionária” da família e activista do Socorro Vermelho Internacional presa em Outubro de 1936, juntamente com Adolfo Casais Monteiro, foi, no entanto, uma das centenas de activistas da Delegação do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, sendo a sócia nº 329. 

[João Esteves]

sexta-feira, 25 de julho de 2014

[0716.] MANUELA CÂNCIO REIS [I] || 1910 - 2011

* MANUELA CÂNCIO REIS *
[02/01/1910 - 08/12/2011]
[1931 - Pormenor]
Compositora, musicóloga e maestrina.

O pai, Francisco Filipe dos Reis, republicano que chegou a estar preso durante a Monarquia, era chefe dos escritórios da fábrica Cimento Tejo, em Alhandra, e teve considerável intervenção cultural na terra através dos espectáculos teatrais e de variedades que organizava, para além de ensaiador, dramaturgo, poeta e compositor. Foi o responsável pela conclusão da construção do Teatro de Alhandra, inaugurado em 1905, apenas cinco anos decorridos sobre a chegada à vila, e influenciou o percurso artístico da filha, que estudou em Lisboa e, depois, com professores particulares, tendo ainda aprendido piano e composição musical.

Manuela Câncio Reis casou a 25 de Maio de 1931, aos 21 anos, com Joaquim Soeiro Pereira Gomes [14/04/1909 - 05/12/1949], colega mais velho do irmão no curso de regente agrícola da Escola Nacional de Agricultura de Coimbra.

O enlace realizou-se nesta cidade, na Igreja da Conceição, e fixaram-se em Alhandra, por Soeiro Pereira Gomes passar a trabalhar como empregado de escritório na Fábrica de Cimentos Tejo.
 
[1931 - Manuela Câncio e Soeiro Pereira Gomes]
O marido, militante do Partido Comunista, teve de passar repentinamente à clandestinidade em 11 de Maio de 1944, na sequência do papel desempenhado nas greves de 8 e 9 do mesmo mês, no Ribatejo.

Manuela Câncio chegou a ser detida, como refém, e mantida na esquadra da polícia do Alto de S. João, episódio descrito no seu livro Eles vieram de madrugada [1981]. Apesar dessa prisão, nunca lhe foi aberto qualquer processo relacionado com a detenção ou sujeita a julgamento.

A partir do momento em que o marido entrou na clandestinidade, a vida de Manuela Câncio sofreu transformações profundas e dramáticas. Partiu para Lisboa, onde passou a trabalhar como secretária na empresa Campos Ferreira, exportador de vinhos, e a viver em pensões, não deixando de ajudar os pais.

Foram tempos difíceis e de dificuldades económicas, recebendo notícias espaçadas do marido através de Virgílio Barroso, irmão de Maria de Jesus Simões Barroso [n. 02/05/1925], matemático que assegurava a ligação entre ambos.

Durante esses cinco anos, até ao falecimento do marido, vítima de um cancro nos pulmões, tiveram apenas breves encontros.

No primeiro livro memorialista, Eles vieram de madrugada – cartas para a clandestinidade a Soeiro Pereira Gomes, de 1981, evoca momentos decisivos do marido, temática recuperada em A Passagem, uma biografia de Soeiro Pereira Gomes, datada de 2007, quando já tinha 97 anos de idade e com Introdução de Isabel Câncio Reis Nunes, sua sobrinha, que refere no início que «Esta é uma história de amor. A história de amor de um homem e de uma mulher, a história de amor de um homem pela terra e pelo Homem» [p. 9].

Após a sua morte, viria a casar, por pouco tempo, com Virgílio Barroso, sendo ajudada no divórcio deste segundo enlace pelo advogado Avelino Cunhal [28/10/1887 - 19/12/1966], pai de Álvaro Cunhal [10/11/1913 - 13/06/2005].

Se a sua vida tem sido retratada em função do percurso de militante e de escritor de Soeiro Pereira Gomes, é de salientar a importância que Manuela Câncio teve no panorama cultural e artístico de Alhandra, com projecção na capital, nomeadamente enquanto autora de várias composições – Fiandeira, Bexigueiros, Noite de Luar, Rapazes dos Telhais (marcha), Cantigas ao S. João (vira), Fado do Zé Miúdo, Ceifeiras –, algumas com letra do marido.

Musicou revistas regionais, escreveu e musicou, com Soeiro Pereira Gomes, a revista Sonho ao Luar, estreada, em 1937, no Teatro Salvador Marques e representada no Éden-Teatro, e regeu um agrupamento musical feminino orfeónico na Emissora Nacional.


Viveu os últimos anos numa casa de repouso na Parede.

Antónia Balsinha incluiu o seu nome no estudo pioneiro que fez sobre o papel das mulheres de Alhandra na resistência ao fascismo nos anos 40, tendo-a entrevistado em Agosto de 2001.

Faleceu a 8 de Dezembro de 2011, a menos de um mês de completar 102 anos.

Feminae. Dicionário Contemporâneo, editado pela CIG em 2013, incluiu a sua biografia.

[João Esteves]