[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]
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sábado, 13 de novembro de 2021

[2613.] MARIA DA CONCEIÇÃO RODRIGUES PATO [II] || 1900 -1984

* MARIA DA CONCEIÇÃO RODRIGUES PATO *

[27/10/1900 - 13/03/1984]

[Maria Pato || Fotografia in Elas estiveram nas prisões do fascismo || URAP || 2021]

Vinte e cinco anos a caminho das prisões fascistas

Maria da Conceição Rodrigues Pato nasceu em S. João dos Montes, Vila Franca de Xira, em 27 de Outubro de 1900, casou com João Floriano Baptista Pato [26/06/1895 - 14/12/1983] e era mãe de Carlos Alberto [21/12/1920 - 26/06/1950], Abel [n. 09702/1922], João e Octávio Floriano Rodrigues Pato  [01/04/1925 - 19/02/1999], “sogra” de Albina Fernandes [05/01/1929 - 02/10/1970] e avó de Álvaro Pato (n. 1950), todos militantes comunistas que passaram anos e anos presos, sofrendo  bárbaras torturas. 

Foi a mulher que mais tempo caminhou para as prisões fascistas para ver aqueles familiares, presos, em simultâneo ou de forma continuada, a partir da década de 40: segundo palavras do neto Álvaro, "percorreu milhares de quilómetros a andar de cadeia para cadeia"

Em 1974, em conversa com a jornalista Gina de Freitas, publicada em 25 de Setembro de 1974 no Diário de Lisboa, contou o que foram “30 anos de sofrimento”, entre Maio de 1949 e Abril desse ano, a partir do momento em que a PIDE prendeu o filho Carlos, morto em Caxias depois de barbaramente torturado com 130 horas de estátua e sem lhe prestarem assistência médica, apesar das insistências dos outros presos, tendo guardado “uns sapatos dele, todos rebentados devido a ter ficado muito inchado por causa das torturas” [A força ignorada das companheiras, p. 30]. 

Depois detiveram Abel, empregado bancário, no Aljube, entre 16/11/1953 e 12/02/1954, para ver se denunciava o irmão Octávio, na clandestinidade desde 1945; de seguida, em 1961, calhou a vez a este e a Albina Fernandes, sua companheira, serem detidos com os dois filhos pequenos em Caxias; e, por último, em 1973, foi o neto Álvaro, preso em 25 de Maio, sendo libertado de Caxias em 27 de Abril de 1974. 

[Elas estiveram nas prisões do fascismo || URAP || 2021]
[Na capa, fotografia prisional de Albina Fernandes que recusou ser separada do filho Rui, então com apenas dois anos]

Como confessou a Gina de Freitas, "a minha vida foi um pesadelo", sendo "uma das grandes vítimas do monstruoso regime que durante 48 anos amordaçou e apavorou tanta e tanta gente do nosso país" [Gina de Freitas].

Faleceu em 13 de Março de 1984.

[João Esteves]

sábado, 7 de dezembro de 2019

[2215.] BONA DA SILVA [I] || PRESO EM 1947 E AFASTADO DA ARMADA

* GILBERTO BONA DA SILVA *
[01/12/1913 - 1983]

Gilberto Bona da Silva integrou, a partir de 1936, o grupo inicial de neo-realistas de Vila Franca de Xira. 2.º Sargento da Marinha, foi preso em 1947 e expulso da Armada, sendo reintegrado após Abril de 1974. 

[Bona da Silva || PT/BCM-AH/FMA-AF/Álbuns de Fotografias de Sargentos/Álbum 10 || N.º 4837]

Filho de Maria da Silva C. e de João José da Bona, Bona da Silva nasceu em Ereira, concelho do Cartaxo, em 1 de Dezembro de 1913.

Frequentou o Curso Industrial da Escola Marquês de Pombal e ingressou na Armada aos dezassete anos, frequentando a Escola de Marinheiros de Vila Franca de Xira, o que foi decisivo para vir a integrar o grupo de neo-realistas local, conjuntamente com Alves Redol, António Dias Lourenço e Garcez da Silva.

[Bona da Silva || in José Rogeiro, Neo-Realistas de Vila Franca de Xira || 2006]

Colaborou esporadicamente no periódico Concelho do Cartaxo. Em 27 de Outubro de 1935, iniciou a sua colaboração no Mensageiro do Ribatejo e, entre 1938 e 1940, publicou crónicas e contos em O Diabo e na revista Pensamento.


[Fotografias de Garcez da Silva || Alves Redol e o Grupo de Neo-Realistas de Vila Franca || Editorial Caminho || 1990]

Entre as muitas iniciativas em que esteve envolvido no âmbito do grupo local dos neo-realistas, consta a participação no serão de arte que ocorreu no Grémio Artístico Vilafranquense em 18 de Janeiro de 1939, proferindo uma palestra sobre Bocage.

[Gilberto Bona da Silva || 27/02/1947 || ANTT || RGP/17241 || PT-TT-PIDE-E-010-87-17241]

Preso em 27 de Fevereiro de 1947, uma semana depois de Luís Eugénio Ferreira, a quem a PIDE partiu os dentes e que era cunhado de Alves Redol, por terem sido encontrados documentos comprometedores aquando da prisão de Fernando Piteira Santos numa casa clandestina na Estrada da Portela. A documentação apreendida pela PIDE incluía plantas de instalações militares, nomeadamente da Escola de Marinheiros, elaboradas no âmbito da formação de Grupos Antifascistas de Combate.

[Bona da Silva || 06/05/1947 || Fotografias enviada pela filha mais nova, a quem muito se agradece]

Levado para o Aljube, seguiu para Caxias meses depois, em 24 de Maio e, por fim, em 21 de Julho de 1947, ficou preso no Forte da Trafaria por ter sido entregue na Casa de Reclusão do Governo Militar de Lisboa.

[Gilberto Bona da Silva || 27/02/1947 || ANTT || RGP/17241 || PT-TT-PIDE-E-010-87-17241]

Afastado da Armada, passou para a Marinha Mercante, onde permaneceu até 1972. Reintegrado na sequência do 25 de Abril,  passou a desempenhar funções na biblioteca do Museu da Marinha.

Faleceu em 1983.

[João Esteves]

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

[2212.] CARLOS ALBERTO RODRIGUES PATO [IV] || PASSEIO NO TEJO - 1941

* CARLOS PATO *
[1920 - 1950]

PASSEIO NO TEJO || MAIO (?) DE 1941

[Carlos Pato é o segundo a contar da esquerda || Soeiro Pereira Gomes, Álvaro Cunhal e António Vitorino encontram-se ao centro]

[2211.] CARLOS ALBERTO RODRIGUES PATO [III] || CARTA DE ANTÓNIO GUERRA - 1974

* CARLOS PATO *
[1920 - 1950] 

"CARTA ABERTA A OCTÁVIO PATO" 

ANTÓNIO GUERRA || DIÁRIO DE LISBOA || 24 DE AGOSTO DE 1974

[Diário de Lisboa || 24/08/1974]

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

[2208.] CARLOS ALBERTO RODRIGUES PATO [II] || ALGUNS CONTOS - 2012

* CARLOS PATO *
[1920 - 1950]

ALGUNS CONTOS

Edição Página a Página || 2012

Prefácio: José Casanova || Ilustrações: Clara Pato


[2206.] CARLOS ALBERTO RODRIGUES PATO [I] || A MORTE, EM CAXIAS, AOS 29 ANOS

* CARLOS PATO *
[21/12/1920 - 26/06/1950]

Muito jovem, Carlos Pato integrou o chamado Grupo de Neo-Realistas de Vila Franca de Xira, destacou-se no associativismo local e militou no Partido Comunista, participando na sua reorganização no início da década de 1940. 

Nome muito prestigiado e estimado em Vila Franca, sua terra natal onde perdura na memória de quem o conheceu, faleceu na prisão de Caxias com apenas 29 anos, vítima das violentas torturas a que fora submetido e deliberada falta de assistência médica. 

[Carlos Alberto Rodrigues Pato]

Filho mais velho de Maria Rodrigues Pato [n. 1900] e de João Floriano Baptista Pato [26/06/1895 - 14/12/1983], Carlos Alberto Rodrigues Pato nasceu em 21 de Dezembro de 1920, em S. João dos Montes - Vila Franca de Xira.

Frequentou o curso comercial nocturno no Colégio Afonso de Albuquerque onde, com Arquimedes da Silva Santos [n. 18/06/1921] e António Teodoro Garcez da Silva [1915 - 2006], esteve envolvido na criação de uma Caixa Escolar com o objectivo de promover iniciativas culturais e integrou, com aqueles dois, os corpos directivos eleitos em assembleia realizada em 16 de Outubro de 1937 [Garcez da Silva, Alves Redol e o Grupo Neo-Realista de Vila Franca, Caminho, 1990]

Nesse mesmo ano de 1937, passou a integrar o chamado Grupo de Neo-Realistas de Vila Franca de Xira formado, entre outros, por Alves Redol [29/12/1911 - 29/11/1969], António Dias Lourenço [25/03/1915 - 07/08/2010], Arquimedes da Silva Santos, Gilberto Bona da Silva [1913 - 1983], Garcez da Silva e Mário Rodrigues Faria [11/01/1921 - 08/02/2004].

Carlos Pato e Mário Rodrigues Faria [Garcez da Silva] ou Silvestre Mota [Contos e Outras Prosas de Mário Rodrigues Faria, Prefácio, Organização e Notas de Luísa Duarte Santos] foram os responsáveis por dactilografarem o manuscrito Gaibéus, de Alves Redol, de forma a apressar o envio para a tipografia a fim de se proceder à sua publicação. 

Publicou a crónica "Safra", o seu primeiro trabalho, na "Página literária" do Mensageiro do Ribatejo de 11 de Junho de 1939, assinando-o como Alberto Rodrigues, os seus dois nomes do meio, texto «em que a nota paisagística e a sensibilidade à dureza do labor humano na lezíria já pronunciavam o contista de "Valados"» [Garcez da Silva, "Alves Redol, o "Mensageiro do Ribatejo" e o Grupo Neo-Realista de Vila Franca", in Alves Redol, Testemunhos dos seus contemporâneos,  Caminho, 2001].

[Diário de Lisboa || 27/06/1950 || p. 2]

O seu conto "Valados", o único dos três contos publicado em vida, consta da colectânea Contos e Poemas de Vários Autores Modernos Portugueses, impressa em 22 de Abril de 1942 e organizada por Carlos Alberto Lança e Francisco José Tenreiro [20/01/1921 - 31/12/1963], incluindo, também, textos de Arquimedes da Silva Santos, Faure da Rosa [1912 - 1985], Manuel da Fonseca [1911 - 1993], Soeiro Pereira Gomes [1909 - 1949] e Sidónio Muralha [1920 - 1982].

[Contos e Poemas de Vários Autores Modernos Portugueses || 1942]

Da sua produção literária, conhecem-se apenas três contos, editados um ano após a morte - "Ao receber a jorna...", "Valados", "Graxas" - com palavras introdutórias de Alves Redol. Foram reeditados em 1974 e 2012, neste último caso com prefácio de José Casanova e ilustrações de Clara Pato, mantendo-se o texto daquele escritor.


Simultaneamente, tornou-se militante do Partido Comunista com apenas dezassete anos: participou na sua reorganização em 1940/1941, fez parte do seu Comité Local e, posteriormente, do Comité Regional do Ribatejo, sendo por seu intermédio que o irmão Octávio Pato [01/04/1925 - 19/02/1999] aderiu, primeiro, à Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas e, depois, ao Partido Comunista.


[Passeio no Tejo || Maio (?) de 1941 || Carlos Pato é o segundo a contar da esquerda || Soeiro Pereira Gomes, Álvaro Cunhal e António Vitorino encontram-se ao centro]

Carlos Pato foi um dos participantes dos denominados Passeios do Tejo, organizados em 1940, 1941 e 1942; presidiu, entre 1945 e 1948, à Direcção do Ateneu Artístico Vilafranquense, destituída pelas autoridades fascistas em 13 de Maio de 1948; e foi o responsável pelo núcleo de Vila Franca do MUD (Movimento de Unidade Democrática).

[Carlos Pato || 28/04/1947 || ANTT || RGP/19199 || PT-TT-PIDE-E-010-96-19199_m0407]

Empregado bancário de uma filial do Banco Nacional Ultramarino em Vila Franca de Xira, foi preso pela primeira vez em 27 de Abril de 1947 e enviado para Caxias, saindo em liberdade condicional em 17 de Julho. 

Em 1948/49, fez parte da Comissão para a candidatura do general Norton de Matos, sendo preso na madrugada de 28 de Maio de 1949, no âmbito das suas actividades políticas e associativas. A brigada que o prendeu, chefiada pelo inspector Jorge Ferreira, invadiu a casa, entrou nos quartos e revistou-os, incluindo o berço da filha.   

[Carlos Pato || 28/04/1947 || ANTT || RGP/19199 || PT-TT-PIDE-E-010-96-19199_m0407]

Espancado e sujeito à tortura da estátua durante mais de 130 horas, sem nunca ter sido julgado, faleceu, em grande sofrimento, em 26 de Junho de 1950, apesar dos sucessivos pedidos de ajuda pelos restantes 14 companheiros: «cerca das seis e meia da manhã do dia 26 de Junho de 1950, na sala 7 do rés-do-chão do forte de Caxias, o militante comunista Carlos Pato, num sofrimento atroz, sucumbia às violentas torturas a que fora submetido pela PIDE e à recusa, por parte dessa polícia, em lhe facultar a assistência médica de que necessitava» [José Casanova, "Prefácio" ao livro Alguns Contos de Carlos Pato, Página a Página, 2012]. 

Depois do falecimento de Militão Ribeiro [1896 - 1950] na Penitenciária de Lisboa em 2 de Janeiro de 1950, dos assassinatos de José Moreira [1912 - 23/01/1950] e do jovem Alfredo Lima [04/06/1950], a morte de Carlos Pato ensombrava ainda mais aquele ano. 

Casado com Clotilde da Silva Henriques Pato, tinha apenas 29 anos e deixava dois filhos órfãos: uma menina, com 20 meses, e um rapaz com sete, nunca tendo chegado a ver este. A seu pedido, estava previsto que a mulher e os dois filhos o visitassem, o que nunca sucedeu devido aos entraves postos pela PIDE e ao desenlace fatal.

"Luísa Duarte Santos, que mais do que uma vez acompanhou a mulher de Carlos Pato, Clotilde, à prisão (onde também tinha o marido preso), relatou, mais tarde, o último encontro do casal: «Era um domingo de sol, e subíamos a custo o carreiro íngreme, até ao Forte. No final da visita – nesse dia, em comum – os presos regressariam às salas, após serem revistados. Numa porta, ao topo da recepção, onde estivéramos, reparei, enquanto esperava, que o Carlos falara com o chefe dos guardas, e pedira-lhe para dar um recado à mulher. Notei e impressionou-me – ainda hoje o recordo – a intensa palidez do seu rosto. A Clotilde saiu comigo e disse-me: “O Carlos pediu-me que trouxesse no próximo domingo os filhos, que os queria ver.” A palidez, que tanto me impressionou, seria a morte a rondá-lo. Poucas horas após essa visita, nessa noite, o Carlos falecia: o seu coração sucumbiu ao desgaste torturante da estátua»" [Avante!, 01/07/2010]. 

A mãe, manteve «sempre guardados  uns sapatos dele, todos rebentados devido a ter ficado muito inchado por causa das torturas. Foram tantas as torturas que ele até deixou de urinar e depois acabou por urinar sangue» ["A minha vida foi um pesadelo", in Gina de Freitas, A Força Ignorada das Companheiras, Plátano Editora, 1975].

[Diário de Lisboa || 27/06/1950 || p. 2]

O seu falecimento só foi imediatamente conhecido devido à informação prestada por Arquimedes da Silva Santos, então quintanista de medicina e igualmente preso em Caxias, dada a um advogado que, casualmente, visitava um outro detido. A notícia chegou a Vila Franca de Xira através de telegrama e segundo Júlio Gaudêncio, amigo de Carlos Pato, para além das ligações políticas, coube-lhe dar a notícia da sua morte a Alves Redol: «nunca vi um homem chorar como eu o vi chorar, com as mãos na cabeça, chorando com a notícia que tinha acabado de receber» ["Júlio Gaudêncio", in Alves Redol, Testemunhos dos seus contemporâneos,  Caminho, 2001].

Já não podendo esconder o sucedido, a PIDE ainda tentou condicionar as exéquias fúnebres, tendo, no entanto, o funeral constituído uma imponente manifestação de pesar, já que Carlos Pato era muito considerado e estimado pela população vilafranquense: «era um jovem extraordinário, era um rapaz maravilhoso [...] de quem toda a gente gostava» ["Júlio Gaudêncio", in Alves Redol, Testemunhos dos seus contemporâneos].

«- Devo-te muito do que há-de ser o futuro do meu filho; devemos-te todos, mesmo os que te quiseram mal, alguma coisa da felicidade que virá para os filhos de cada um... // E por isso te chorámos, e por isso te lembraremos sempre, mais ainda nas horas de alegria do que nos momentos de amargura» [Alves Redol, 1951].

Em 17 de Maio de 1975, o Largo do Cerrado passou a denominar-se Largo Carlos Pato.


[Diário de Lisboa || 17/05/2019]

Júlia Coutinho, através do seu precioso Blogue As Causas da Júlia, tem procurado que Carlos Pato não caia no esquecimento.

O livro Contos e Outras Prosas de Mário Rodrigues Faria, com Prefácio, Organização e Notas de Luísa Duarte Santos [Edições Fénix, 2016], contém duas fotografias de grupo onde consta a identificação de Carlos Pato: uma de 1939, na praia, com Francisco Roque, Mário Rodrigues Faria, José Ralha e Arquimedes da Silva Santos; a outra, de 1939/40, reporta-se a um jogo de futebol no antigo campo do Águia, em Vila Franca de Xira, com Manuel Cardoso, Carvalho, Francisco Roque, João Pato, Arquimedes da Silva Santos, Mário Rodrigues Faria, António Pedro, Canelas e Mendes.

[João Esteves]

NOTA: Desenho referente a Carlos Pato, datado de 1977, integrado na colecção de calendários para o ano de 1991 editado pelo Partido Comunista. 



[João Esteves]

domingo, 1 de dezembro de 2019

[2200.] ÁLVARO MONTEIRO RODRIGUES PATO [I] || MUSEU DO ALJUBE - 4 DE DEZEMBRO

* ÁLVARO PATO *

[Álvaro Pato]

MUSEU DO ALJUBE || VIDAS NA RESISTÊNCIA 

CONVERSA CONDUZIDA POR ANA ARANHA || 4 DE DEZEMBRO DE 2019 || 16 HORAS


Falar de Álvaro Pato é reviver décadas de luta antifascista, marcadas pela dor, sofrimento, resistência e coerência política ímpar, mas serve, também, para constatar a impunidade, após 1974, dos que prenderam, torturaram e mataram durante 48 anos.

                [Octávio Pato]                [Antónia Joaquina Monteiro]

Filho de Antónia Joaquina Monteiro e de Octávio Floriano Rodrigues Pato [01/04/1925 - 19/02/1999], ambos militantes do Partido Comunista, Álvaro Monteiro Rodrigues Pato nasceu em Março de 1950, quando os pais estavam na clandestinidade.

[Carlos Pato]

Quando nasceu, o tio, Carlos Pato [Carlos Alberto Rodrigues Pato (21/12/1920 - 26/06/1950)], igualmente militante do Partido Comunista, estava preso em Caxias e não tardaria a morrer devido às violentas torturas sofridas às mãos da PIDE, deixando uma filha e um filho muito pequenos, respectivamente com 20 e 7 meses. 

Como os riscos eram muitos e, com apenas dezasseis meses, Álvaro Pato passou a viver com os avós paternos [Maria da Conceição Rodrigues Pato (n. 1900) e João Floriano Baptista Pato (26/06/1895 - 14/12/1983)], em Vila Franca de Xira, sendo que a avó foi a mulher que, entre 1949 e 1974, mais anos passou a caminho das prisões fascistas para visitar os filhos, a nora ou o neto.

[Maria da Conceição Rodrigues Pato || Diário de Lisboa || 25/09/1974]

Aos nove anos, Álvaro reencontrou-se, fugazmente, com o pai num encontro clandestino preparado na Nazaré; voltou a ver a mãe somente aos treze, quando ela lhe apareceu junto à casa dos avós paternos.

[Abel Rodrigues Baptista Pato || 20/11/1953 || ANTT || RGP/21381 || PT-TT-PIDE-E-010-107-21381_m0367]

Em 1961, com a prisão do pai e da companheira, Albina Fernandes [05/01/1929 - 02/10/1970], Álvaro Pato, um rapazito de 11 anos, iniciou as suas caminhadas semanais a Peniche e a Caxias para os ver, acompanhando o tio Abel [Abel Rodrigues Baptista Pato, chegou a estar preso no Aljube em finais de 1953, inícios de 1954], a avó Maria, o avô João e os (novos) irmãos Isabel e Rui. Visitas que se prolongaram por muitos anos, nove, até à libertação do pai, chegando, nas férias, a estar acampado 15 dias no parque de campismo de Peniche, para o poder visitar com mais frequência, muito contribuindo para o estreitamento dos laços afectivos (e também políticos) entre os dois.

[Albina Fernandes]

Entretanto, Álvaro Pato começou a participar na secção cultural da União Desportiva Vila-franquense, onde conheceu, por exemplo, Vítor Dias, e por volta dos dezasseis anos ingressou no Partido Comunista.  

Passou pela Escola Machado de Castro e, em 1968, entrou no Instituto Industrial, também em Lisboa, tendo feito parte da direcção da Associação, entretanto encerrada pelas autoridades académicas, o que provocou greves às aulas e a prisão de vários colegas. A viver num quarto em Lisboa, foi avisado pelos avós que a GNR o tinha procurado com um mandado de captura e passou a viver numa semi-clandestinidade, sustentando-se como desenhador através de projectos de construção civil que Álvaro Veiga de Oliveira [25/01/1929 - 24/08/2006] lhe entregava.

Em Outubro de 1970, Albina Fernandes suicidou-se, cabendo a Álvaro Pato dar a notícia ao pai e ao irmão Rui.

Mobilizado para a tropa em 1971, desertou em Abril de 1972 por estar em vias de ser enviado para a Guiné, já que era «politicamente suspeito», informação dada por um alferes, comandante de pelotão. Entrou, então, na clandestinidade, chegando a reencontrar o pai, também na clandestinidade, numa reunião política ocorrida no Porto em Outubro de 1972. Passou a ser António Gomes da Silva, segundo o forjado documento de identificação.


[Álvaro Pato || in Joana Pereira BastosOs últimos presos do Estado Novo, Oficina do Livro, 2013, p. 135]

Em 25 de Maio de 1973, quando tinha por tarefa a organização, na Margem Sul, de um movimento de jovens trabalhadores, foi preso num autocarro apanhado em Coina, devido a denúncia do jovem com quem se ia encontrar: Silvano, com dezoito anos, era, afinal, informador da PIDE. 

Seguiu, primeiro, para a delegação da PIDE em Setúbal, onde não prestou quaisquer declarações. Levado para Caxias, e apesar da recusa em se identificar, foi reconhecido por um guarda do tempo em que visitava a companheira do pai, Albina Fernandes.

Começaram as torturas, tendo a do sono perdurado por 11 dias e 11 noites. Não falou. Quando presente a Tribunal Militar, devido à deserção, ousou  denunciar os maus-tratos que a PIDE lhe tinha infligido, o que teve por consequência ser espancado no regresso à prisão.

Libertado em 27 de Abril de 1974, tinha à sua espera a mãe: "Não trocaram uma palavra. Abraçaram-se a chorar, durante largos minutos" [Joana Pereira Bastos, Os últimos presos do Estado Novo, Oficina do Livro, 2013, p. 135].

[Álvaro Pato || in Joana Pereira BastosOs últimos presos do Estado Novo, Oficina do Livro, 2013, p. 135]

Recuperar a liberdade não é sinónimo de remeter para o passado os espancamentos e as torturas infligidas pela PIDE. Esses momentos nunca se apagam, continuam alojados na memória e no corpo. Sempre. Por tudo isto, é necessário falar sobre o que foram 48 anos de ditadura. E é das suas vivências, muitas delas dolorosas, que Álvaro Pato, provavelmente, conversará nesta quarta-feira, 4 de Dezembro, no Museu do Aljube, com Ana Aranha.

[João Esteves]

domingo, 5 de janeiro de 2014

[0442.] MARIA DA CONCEIÇÃO RODRIGUES PATO [I] || 1900 - 1984


Uma vida de resistência a caminho das prisões políticas salazaristas * 
[1949-1974] 

Casada com João Floriano Baptista Pato, Maria Rodrigues Pato nasceu em outubro de 1900. 

Mãe de Abel, Carlos Alberto (21/12/1920 - 26/06/1950) e Octávio Floriano Rodrigues Pato (1925-1999), “sogra” de Albina Fernandes (1929-1970) e avó de Álvaro Pato, militantes comunistas. 

Foi a mulher que mais tempo caminhou para as prisões fascistas para ver aqueles familiares, presos, em simultâneo, ou de forma continuada, a partir da década de 40: segundo palavras do neto Álvaro, "percorreu milhares de quilómetros a andar de cadeia para cadeia"


[pp. 27-31]

Em 1974, em conversa com a jornalista Gina de Freitas, publicada a 25 de setembro de 1974 no Diário de Lisboa, contou o que foram “30 anos de sofrimento”, entre maio de 1949 e abril desse ano, a partir do momento em que a PIDE prendeu o filho Carlos, morto em Caxias depois de barbaramente torturado com 130 horas de estátua e sem lhe prestarem assistência médica, apesar das insistências dos outros presos, tendo guardado “uns sapatos dele, todos rebentados devido a ter ficado muito inchado por causa das torturas” [A força ignorada das companheiras, p. 30]. 

Depois detiveram Abel, empregado bancário, para ver se denunciava Octávio Pato, na clandestinidade desde 1945; de seguida, em 1961, calhou a vez a este e a Albina Fernandes, sua companheira, serem detidos com os dois filhos pequenos em Caxias; e, por último, em 1973, foi o neto, preso onze meses e um dia, sendo libertado de Peniche em 26 de abril de 1974. 
[João Esteves]

* Júlia Coutinho, no blogue As Causas da Júlia, insere a fotografia de Maria Rodrigues Pato, assim como a respectiva entrevista publicada no Diário de Lisboa *