[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]
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domingo, 19 de março de 2023

[3238.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [CLXXX] || 1926 - 1933

 PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CLXXX *

01183. Eurico Pinto Mateus [1932, 1937]

[Eurico Pinto Mateus || ANTT || PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

[Lisboa, 24/11/1908, estucador - Lisboa. Filiação: Carolina Maria Pereira e Simão Mateus. Solteiro. Residência: Rua da Saudade, 3 - Lisboa. Desenvolveu, no início da década de 1930, intensa atividade sindical no âmbito do Sindicato da Construção Civil, chegando a integrar a Comissão Inter-sindical (CIS), e militou no Partido Comunista, trabalhando política e partidariamente com Francisco Roque Júnior, detido no Aljube, Grácio Ribeiro, estudante deportado para Timor, e Manuel Moor, fugido à polícia e só preso em 1937. Por volta de 1932, já era um defensor das ideias anarquistas, aproximando-se do anarcossindicalismo, por estar "mais de acordo com os princípios estabelecidos pelo proletariado, pois é contra a força armada, contra o Estado Organizado e contra as classes privilegiadas", proferindo "conferências e preleções aos operários da Construção Civil, nas quais lhe explica as razões do aparecimento do anarco-sindicalismo e seus fins, bem como aconselha a massa operária a desprezar as ideias expostas pelos partidos que se servem dela, para os seus fins, com falsas promessas". Era ainda "contra todas as ditaduras, inclusive a proletária, à maneira russa". No âmbito da intervenção junto da classe dos estucadores, Eurico Pinto Mateus era seu delegado ao Conselho Administrativo do Sindicato da Construção Civil. Preso em 21 de Outubro de 1932, "por ter entregue manifestos anarquistas a Alfredo Crispim Duarte", tendo-os recebido de Francisco Cardoso Pires [RGP/7499], libertado do Aljube havia pouco tempo. Considerado pela Polícia de Defesa Política e Social como tendo "uma relativa cultura e facilidade em falar e escrever", desenvolvendo, "apesar de bastante novo", "uma enorme actividade de ideias social-revolucionárias", foi julgado pelo Tribunal Militar Especial em 17 de Junho de 1933 e absolvido, pelo que foi libertado. No ano seguinte, pertenceu ao Comité de Ação do 18 de Janeiro, não tendo concretizado a distribuição das armas prevista aquando do desencadear da Greve Geral. Cooperou, entre outros, com Armando dos Santos Calet, Bartolomeu José da Costa, Custódio da Costa, João Sarmento Dias, João Serra, José Severino de Melo Bandeira, Manuel Henriques Rijo, Silvino Augusto FerreiraApós essa data, exilou-se em Espanha, onde integrou o Secretariado da Federação dos Anarquistas Portugueses Exilados (FAPE), após uma reunião promovida por Marques da Costa e onde estiveram presentes Alberto Dias, de Lisboa, Custódio Bresce de Lima, do Porto, e José Rodrigues Reboredo, de Viana do Castelo.

[Eurico Pinto Mateus || ANTT || PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Expulso de Espanha, foi preso em 4 de Março de 1937 e levado para o Aljube, onde recolheu à enfermaria. Passou, de seguida, por uma esquadra, regressou ao Aljube e seguiu para o Campo de Concentração do Tarrafal em 6 de Novembro de 1937, integrando a 3.ª leva de presos políticos. Aí permaneceu até 20 de Fevereiro de 1945. Regressado a Portugal, voltou a residir na Rua da Saudade, 3, Cave - Lisboa.]

01184. Manuel Joaquim Rodrigues Dias [1932]
[Lisboa, c. 1906, empregado do comércio - Lisboa. Filiação: Emilia Rodrigues Dias e José Dias. Solteiro. Residência: Estrada dos Prazeres, 6 / Travessa de S. Bernardino - Vila Leonor, 2. Preso em 21/05/1926, "por suspeita de ser bombista"; libertado em 25/05/1926. Preso pela PSP de Lisboa em 20/10/1932 e entregue no dia 21/10/1932, por se ter reunido com um grupo de indivíduos numa leitaria na Rua de Santo António dos Capuchos, estes terem fugido à aproximação de Polícia e se ter recusado a identificá-los. Libertado da 1.ª esquadra em 24/10/1932.]
[alterado em 21/03/2023]

[João Esteves]

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

[2259.] CUSTÓDIO DA COSTA [I] || GREVE GERAL DE 18/01/1934 - 13 ANOS NO TARRAFAL

* CUSTÓDIO DA COSTA *
[10/01/1904 - 22/11/1980]

Anarcossindicalista, preso por duas vezes (1932, 1934), Custódio da Costa participou activamente na Greve Geral Revolucionária de 18 de Janeiro de 1934 e integrou o grupo de presos políticos que inaugurou o Campo de Concentração do Tarrafal, onde esteve deportado treze anos (1936 - 1949).

[Custódio da Costa || ANTT || Livro de Cadastrados 3 || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Filho de Joaquina Marques da Costa e de Manuel da Costa, Custódio da Costa nasceu em 10 de Janeiro de 1904, na freguesia de Esgueira - Aveiro.

Padeiro anarcossindicalista, foi preso, pela primeira vez, em 30 de Maio de 1932, «por andar a distribuir manifestos de propaganda subversiva e de incitamento à greve geral» [ANTT, Cadastro Político 5145], tendo, ainda, entregue alguns daqueles a Luís Nunes de Azevedo [Processo 403]. Residiria, então, na Rua Manchester, N.° 1 - 1.°, Lisboa, e saiu em liberdade em 15 de Junho do mesmo ano.

Em 1933, no âmbito das suas actividades  sindicais, representou a Federação da Alimentação no Conselho Confederal da Confederação Geral do Trabalho.

Teve papel de destaque na Greve Geral de 18 de Janeiro de 1934, integrando o seu Comité de Acção e colaborando com Eurico Pinto Mateus, João Serra, Joaquim Montes, Manuel Henriques Rijo, Manuel Vilanova / Manuel Rodriguez Vilanueva, padeiro de nacionalidade espanhola, e Romão dos Santos Duarte na preparação, transporte e distribuição de explosivos [Processo 1011].

Como sinal para o despoletar do movimento, Custódio da Costa estava encarregue de fazer explodir uma bomba no Miradouro da Senhora do Monte, na Graça, às 3 horas da manhã do dia 18, o que não chegou a suceder por decisão dos dirigentes da CGT perante a forte e inesperada mobilização policial em Lisboa e arredores.

[Custódio da Costa || 1934 || ANTT || RGP/54 || PT-TT-PIDE-E-010-1-54_P2_m0016]

Com residência na Rua da Senhora da Glória 74, foi preso em 4 de Fevereiro de 1934 e julgado pelo TME em 8 de Março. Condenado a 12 anos de degredo, ficando, depois, à disposição do Governo, recorreu da decisão, mas esta foi confirmada em acórdão de 15 de Março. Seguiu para Angra do Heroísmo em 8 de Setembro de 1934 e, depois, em 23 de Outubro, integrou a primeira leva de presos políticos que inaugurou o Tarrafal, onde permaneceu até 1949, pertencendo à respectiva Organização Libertária.

[Fotografia postada por Antónia Gato no FNM, com as respectivas identificações || Organização Libertária do Tarrafal - 1945 || Processo do 18 Janeiro de 1934: Da esquerda para a direita, sentados: José Ramos dos Santos; Bernardo Casaleiro Pratas; Joaquim Duarte Ferreira; Américo FernandesEm Pé: Joaquim Pedro; Custódio da Costa; José Ventura Paixão; José Ricardo do Vale; António Gato PintoAcácio Tomás de Aquino]

Cumpridos os 12 anos a que fora condenado pelo TME, foi entregue, em 31 de Dezembro de 1945, ao Ministério da Justiça. Continuou detido no Tarrafal mais três anos e oito meses. 

Em 6 de Agosto de 1949, o Tribunal de Execução das Penas concedeu-lhe a liberdade condicional, por proposta do Director do Campo, sob cinco condições: «fixação da residência em Cabo Verde, sem prejuízo da vinda à Metrópole, mediante autorização da entidade fiscalizadora»; «não frequentar meios ou locais especialmente procurados por elementos suspeitos»; «não acompanhar pessoas suspeitas ou de má conduta, designadamente antigos companheiros que tenham estado ligados a actividades subversivas»; «aceitar a protecção e indicações de uma instituição do Patronato ou de pessoa encarregada de o exercer»; e «a fiscalização fica a cargo do Director da Colónia Penal de Cabo Verde e da Polícia Internacional e de Defesa do Estado».

[Custódio da Costa || 11/11/1949 || ANTT || RGP/54 || PT-TT-PIDE-E-010-1-54_P2_m0015]

Saiu em liberdade condicional em 1 de Setembro, desembarcou, em 10 de Novembro de 1949, em Lisboa e, no dia seguinte, foi submetido a mais uma sessão de  fotografias policiais, indo residir para casa de Victor dos Santos Pereira, no Campo 28 de Maio, 294, 2.°.

Sem poder ausentar-se do Concelho de Lisboa sem a devida autorização e obrigado a apresentar-se nos Serviços Centrais da PIDE no dia 11 de cada mês, até às 20 horas, foi-lhe concedida a liberdade definitiva por sentença de 24 de Outubro de 1952 do Tribunal de Execução das Penas.

Em liberdade, terá entrado para a Marinha Mercante.

Participou, depois do 25 de Abril de 1974, no ressurgir do movimento libertário, com ligações ao jornal A Batalha. Foi nesta redacção que, em Janeiro de 1975, foi entrevistado para o Diário de Lisboa por José António Salvador sobre os acontecimentos de 18 de Janeiro de 1934.

[Custódio da Costa || Janeiro de 1975 || Diário de Lisboa || 18/01/1975]

[Diário de Lisboa || 18 de Janeiro de 1975]

Faleceu em 22 de Novembro de 1980.

[Custódio da Costa || 11/11/1949 || ANTT || RGP/54 || PT-TT-PIDE-E-010-1-54_P2_m0014]

NOTA: Atenção ao uso indevido das imagens sem a devida autorização do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Fontes:
ANTT || Livro de Cadastrados 3 [Custódio da Costa / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903].

ANTT, Processo Político 5145 [Custódio da Costa / PT-TT-PIDE-E-001-CX08_m0424, m0424a].

ANTT, Registo Geral de Presos 54 [Custódio da Costa / PT-TT-PIDE-E-010-1-54].

"O '18 de Janeiro de 1934' - Uma bomba de 9 quilos para Lisboa", Diário de Lisboa, 18/01/1975.

[João Esteves]

quinta-feira, 10 de maio de 2018

[1808.] EURICO PINTO MATEUS [I]

* EURICO PINTO MATEUS || ANARCO-SINDICALISTA || PARTICIPAÇÃO NO 18 DE JANEIRO DE 1934 || EXILADO EM ESPANHA || DEPORTADO PARA O TARRAFAL (1937-1945) *

Estucador, Eurico Pinto Mateus desenvolveu, no início da década de 1930, intensa actividade sindical no âmbito do Sindicato da Construção Civil, chegando a integrar a Comissão Inter-sindical (CIS), militou no Partido Comunista e, por volta de 1932, já era um defensor das ideias anarquistas, aproximando-se do anarco-sindicalismo.

Preso uma primeira vez em 1932, foi absolvido. Por ter participado nos preparativos da Greve Geral de 18 de Janeiro de 1934, refugiou-se em Espanha, onde integrou a Federação dos Anarquistas Portugueses Exilados (FAPE). Expulso daquele país, foi preso em 1937 e enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde permaneceu cerca de sete anos.

[Eurico Pinto Mateus || 1932 ? || ANTT || PVDE, Polícias Anteriores 3 NT 8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Filho de Carolina Maria Pereira e de Simão Mateus, Eurico Pinto Mateus nasceu em Lisboa, em 24 de Novembro de 1908.

No início dos anos 30, quando militava no Partido Comunista, fez parte da Comissão Inter-Sindical (CIS), trabalhando politica e partidariamente com Francisco Roque Júnior, detido no Aljube, Grácio Ribeiro, estudante deportado para Timor, e Manuel Moor [RGP/8793], fugido à polícia e só preso em 1937.

Entretanto, abraçou o anarco-sindicalismo, por estar "mais de acordo com os princípios estabelecidos pelo proletariado, pois é contra a força armada, contra o Estado Organizado e contra as classes privilegiadas", proferindo "conferências e preleções aos operários da Construção Civil, nas quais lhe explica as razões do aparecimento do anarco-sindicalismo e seus fins, bem como aconselha a massa operária a desprezar as ideias expostas pelos partidos que se servem dela, para os seus fins, com falsas promessas". Era ainda "contra todas as ditaduras, inclusive a proletária, à maneira russa" [ANTT, Cadastro Político 4559].

No âmbito da intervenção junto da classe dos estucadores, Eurico Pinto Mateus era seu delegado ao Conselho Administrativo do Sindicato da Construção Civil [Processo 587/SPS].

Preso, pela primeira vez, em 21 de Outubro de 1932, "por ter entregue manifestos anarquistas a Alfredo Crispim Duarte", tendo-os recebido de Francisco Cardoso Pires [RGP/7499], libertado do Aljube havia pouco tempo [ANTT, Cadastro Político].

Considerado pela Polícia de Defesa Política e Social como tendo "uma relativa cultura e facilidade em falar e escrever", desenvolvendo, "apesar de bastante novo", "uma enorme actividade de ideias social-revolucionárias", Eurico Pinto Mateus foi julgado pelo Tribunal Militar Especial em 17 de Junho de 1933 e absolvido, pelo que foi libertado.

No ano seguinte, pertenceu ao Comité de Acção do 18 de Janeiro, não tendo concretizado a distribuição das armas prevista aquando do desencadear da Greve Geral. Cooperou, entre outros, com Armando dos Santos Calet [RGP/302], Bartolomeu José da Costa, Custódio da Costa [RGP/54], João Sarmento Dias [RGP/334], João Serra,  José Severino de Melo Bandeira [RGP/331], Manuel Henriques Rijo [RGP/349], Silvino Augusto Ferreira [RGP/12592] [Processos 1011, 1227 e 1237/SPS].

Após essa data, exilou-se em Espanha onde integrou o Secretariado da Federação dos Anarquistas Portugueses Exilados, após uma reunião promovida por Marques da Costa e onde estiveram presentes Alberto Dias, de Lisboa, Custódio Bresce de Lima, do Porto, e José Rodrigues Reboredo, de Viana do Castelo [RGP/12947] [ANTT, Cadastro 4559; Cristina Clímaco, "Os anarquistas no exílio (1930-1936)"].


[CLNSRF || Presos Políticos No Regime Fascista II (1936-1939) || 1982]

Expulso de Espanha, Eurico Pinto Mateus foi novamente preso em 4 de Março de 1937 e levado para o Aljube, onde recolheu à enfermaria. 

Passou, de seguida, por uma esquadra, regressou ao Aljube e seguiu para o Campo de Concentração do Tarrafal em 6 de Novembro, integrando a 3.ª leva de presos políticos. Aí permanece até 20 de Fevereiro de 1945.

Regressado a Portugal, Eurico Pinto Mateus voltou a residir na Rua da Saudade, 3, Cave - Lisboa.

[Eurico Pinto Mateus || 1932 ? || ANTT || PVDE, Polícias Anteriores 3 NT 8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

NOTA: Atenção ao uso indevido desta imagem sem a devida autorização dos serviços do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 4559 [Eurico Pinto Mateus / PT-TT-PIDE-E-001-CX09_m0044, m0044a, m0044b, m0044c].
ANTT, Fotografia 2011 [Eurico Pinto Mateus / C-4559 / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903_m0030].
ANTT, Fotografia 2049 [Eurico Pinto Mateus / C-4559 / [ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903_m0033].
ANTT, Registo Geral de presos/6244.

[João Esteves]