* FEMINISMO || 1906 *
É na imprensa que, a partir de 1906, se encontra com regularidade um vasto manancial de reflexões sobre o feminismo, nomeadamente sobre o que se reivindicava para as mulheres portuguesas, pronunciando-se, entre outras, Albertina Paraíso, Ana de Castro Osório, Lucinda Tavares, Maria Veleda e Virgínia Quaresma.
Os textos dedicados ao feminismo pelo “Jornal da Mulher”, secção do periódico O Mundo iniciada em 25 de Junho de 1906 e da responsabilidade de Albertina Paraíso, são imprescindíveis para compreender o que se passava nesse campo nos últimos anos da Monarquia.
Os vocábulos "feminista" e "feminismo" surgiram com frequência na imprensa republicana dos anos de 1906, 1907 e 1908, quer em artigos assinados por mulheres, quer em textos e secções da responsabilidade dos redactores.
A temática feminista passou a fazer parte do conteúdo de diários como O Mundo e Vanguarda e são mais as apreciações positivas do que os comentários depreciativos.
Por exemplo, a Vanguarda, diário republicano independente, inclui, em 1906, a secção “Galeria feminista”, criada depois da apresentação pública da Secção Feminista da Liga Portuguesa da Paz e dedicada a mulheres que se destacavam pelo empenhamento a favor dos seus direitos. O texto, por vezes desenvolvido, era acompanhado da fotografia da homenageada, recaindo as escolhas em Carmen de Burgos y Seguí (24/05/1906), Lisa Lualdi, portuguesa a viver em Nápoles (06/06/1906), Belén Sárraga de Ferrero (07/06/1906), Avril de Sainte-Croix (27/06/1906).
A generalização do vocábulo feminismo não pode ser dissociado do que se entendia por ele, considerado genericamente como a luta justa pelos direitos da mulher. Existia a consciencialização de que a sua condição tinha de mudar e, durante algum tempo, ela envolve tanto a elite feminina, como líderes do republicanismo, com o trunfo, não desprezável, de que a sua imprensa não hostilizava essa aspiração.
[João Esteves]