[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]
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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

[2512.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [LXXIX] || 1926 - 1933

 * PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || LXXIX *

0642. António Correia [ ]

[Mértola, c. 1896, 2.º sargento. Filiação: Maria Antónia e António Correia. Estava deportado em Timor quando foi abrangido pela amnistia de 05/12/1932. Desembarcou em Lisboa em 09/06/1933 e apresentou-se em 11/06/1933, indo residir para uma das dependências do Quartel da Pontinha. Aparece, posteriormente, como engenheiro reformado, tendo 56 anos em 1952.]

0643. António Correia [1926]

["O Espanhol", S. Bartolomeu de Messines - Silves, 1902, brochante - Barreiro. Filiação: Constança de Jesus e José Correia Júnior. Preso em 15/12/1926, "por suspeita de conspirar contra a Situação e de ter ligações revolucionárias com Ludgero da Conceição Cigarrito". Libertado em 08/01/1927 (v. Processo 2926).]

0644. António Costa Ferreira [1932]

[Lousada - Romariz, 1886, condutor de trens da Companhia Portuguesa dos Caminhos-de-Ferro - Porto. Filiação: Sofia da Conceição e João Ferreira Paulino. Preso no Porto em 23/06/1932, "por ser portador de diversos pacotes com manifestos clandestinos de propaganda subversiva", entregando-os nas estações de Viana, Valença e Monção. Por ser funcionário público, foi-lhe aplicado o Decreto 20.314 e três meses de prisão (Processo 93/Porto).]

00645. António Craveiro [1927]

[António Craveiro.
Coimbra, c. 1896. Construtor civil. Filiação: Maria da Encarnação e José da Clara Craveiro. Solteiro. Residência: Rua Carvalho Araújo, 31 - Lisboa. Preso em 28/07/1927, "por falsa denúncia". Libertado pelo diretor da Polícia de Informações do Ministério do Interior, tenente Brás Vieira, em 30/07/1927, após pagamento de 500 escudos para uma instituição.]
[alterado em 10/12/2024]

0646. António Custódio Gonçalves Monteiro [1931]

[S. Miguel de Gémeos - Celorico de Basto, tenente de Infantaria. Filiação: António Maria Gonçalves Monteiro. Frequentou o Liceu Nacional Central de Braga e, entre 1911/1912 e 1914/1915, a Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra. Em Abril de 1931, aquando da Revolta da Madeira, foi pedida, como medida preventiva, a sua prisão ao Ministério da Guerra. Em 24/08/1931, por estar comprometido no movimento revolucionário em preparação, foi-lhe fixada residência obrigatória em Peniche, apresentando-se nessa data. Em 28/08/1931, foi considerado como estando implicado na Revolta que eclodiu em 26/08/1931.]

0647. António Custódio [1928]

[Soldado 140/5414 da GNR. Preso em 05/06/1928, por ser considerado o principal responsável de um complô na Companhia da GNR aquartelado na Estrela (Processo 3747). Deportado para a Guiné em 06/06/1928.]

00648. António da Costa Carvalho [1932]

[António da Costa Carvalho || F. 19/07/1932 || ANTT || PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

[Tomar, 1902 (?), carregador dos Caminhos de Ferro. Filiação: Maria Marques e Bernardo da Costa Carvalho. Casado. Residência: Linhaceira. Preso pela Polícia Internacional Portuguesa e enviado para Lisboa em 18/07/1932, acusado de ter proferido frases contra o Governador Militar (de Elvas?) (v. Processo 456). Libertado em 20/07/1932.]
[alterado em 29/12/2021]

0649. António Costa Lamego Júnior ou Manuel dos Santos [1927, 1928, 1931, 1938]

[António Costa Lamego Júnior ou Manuel dos Santos || ANTT || RGP/9599 || PT-TT-PIDE-E-010-48-9599]

[Lisboa, 25/03/1885, 2.º contra-mestre reformado da Armada. Filiação: Palmira dos Anjos e António da Costa Lamego. Preso em 25/09/1927, "por reunir no Centro 19 de Outubro e conspirar contra a Situação" (Processo 3243). Deportado para Angola em 01/11/1927, não sabendo de quando data o seu regresso. Preso em 27/11/1928, "por conspirar contra a actual Situação Política do País." (Processo 4128). Libertado em 11/12/1928, foi-lhe fixada residência em Vinhais. Preso pelas autoridades da Marinha em Março de 1931, por se ter ausentado de Vinhais. Ouvido, em 11/03/1937, na Secção Política e Social da PVDE por ter proferido frases contra o Presidente do Conselho e ministros. O processo foi arquivado por falta de provas, embora fosse considerado um elemento perigoso (Processo 2430). Preso pela SPS da PVDE em 25/03/1938, quando completava 53 anos, recolhendo a uma esquadra incomunicável. Transferido para a 1.ª esquadra em 16/04/1938 e, depois, para Caxias em 19/04/1938, foi libertado em 17/07/1938.]   

[João Esteves]

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

[2057.] AMÉRICO GONÇALVES DE SOUSA [II] || 16 ANOS NAS PRISÕES SALAZARISTAS E 19 DE CLANDESTINIDADE

* AMÉRICO GONÇALVES DE SOUSA *
[1918 - 1993]

Dirigente do Partido Comunista, totalizou cerca de 16 anos nas prisões salazaristas e 19 de intensa e continuada luta clandestina, tendo sido deportado para o Tarrafal com 18 anos.

[Américo Gonçalves de Sousa || 1935 || ANTT || RGP/1697 || PT-TT-PIDE-E-010-9-1697_P4_m0209d]

Militante e dirigente do Partido Comunista, tendo integrado o seu Comité Central, Américo Gonçalves de Sousa, “O Russo”, iniciou muito novo a actividade política, esteve várias vezes preso e conheceu as principais prisões [Aljube, Peniche, Caxias, Tarrafal], sendo enviado, com apenas 18 anos, para o Campo de Concentração do Tarrafal.

Fundidor de profissão, era filho de Maria Gonçalves e de Joaquim Mário de Sousa, nasceu em Lisboa, na freguesia de Santo Estêvão, em 18 de Julho ou 3 de Agosto de 1918, constando esta dúvida na Biografia Prisional da autoria da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE) / Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE).

A sua militância política iniciou-se na Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas (FJCP), quando trabalhava no Arsenal da Marinha, e prolongou-se por décadas, tendo sofrido a violência da ditadura mal completara os dezassete anos. 

Preso pela primeira vez em 7 de Setembro de 1935, por actividades comunistas, Américo de Sousa percorreu, em escassos meses, o Aljube, Peniche e de novo o Aljube, de onde partiu para o Tarrafal: detido inicialmente numa esquadra, foi transferido para a Cadeia do Aljube em 30 de Dezembro e, em 28 de Abril de 1936, para a Fortaleza de Peniche, regressando ao Aljube em 6 de Maio, data em que foi julgado e condenado pelo Tribunal Militar Especial a 18 meses de prisão correccional. 

[Américo Gonçalves de Sousa || 1935 || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904_m0042 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Apesar de “só” faltarem cumprir 301 dias, foi enviado em 17 de Outubro para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, integrando o grupo de presos que o inaugurou em 29 do mesmo mês.

Cumprida a pena a que fora condenado, continuou em prisão preventiva no Tarrafal, de onde só regressou em 15 de Julho de 1940, sendo então «restituído à liberdade por ter sido amnistiado» [RGP/1697].

Voltou à luta política e escassos meses, ainda em 1940, integrou, com Joaquim Pires Jorge [28/11/1907 - 06/06/1984], José Gregório [19/03/1908 - 1961], Júlio de Melo Fogaça [10/08/1907 - Janeiro de 1980], Manuel Guedes [14/12/1909 - 08/03/1983], Militão Bessa Ribeiro [13/08/1896 - 02/01/1950] e Sérgio Vilarigues [23/12/1914 - 08/02/2007], o primeiro grupo que procurava a reorganização do Partido Comunista [JPP, Álvaro Cunhal – Uma biografia política, vol. 2, 1941-1949]. No ano seguinte, era funcionário, tal como todos aqueles, usando o pseudónimo de “Abel”.

Em Julho de 1946, Américo de Sousa participou no II Congresso Ilegal do Partido Comunista realizado numa casa da Lousã com a ajuda do casal António Correia e Natividade Correia [esta também desenvolvera atividade importante no seio das secções de Coimbra/Figueira da Foz da AFPP e CNMP] e teve importantes funções no Comité Local de Lisboa (anos 40/50). 

Américo Gonçalves de Sousa chegou a controlar o historiador Jorge Borges de Macedo [03/03/1921 - 18/03/1996], cuja esposa, Branca Braga de Macedo, militou na década de 40 na Associação Feminina Portuguesa para a Paz, desempenhando cargos nas direcções de 1947 e 1948. 

[Américo Gonçalves de Sousa || 12/10/1955 || ANTT || RGP/1697 || PT-TT-PIDE-E-010-9-1697_P4_m0209c]

Quinze anos depois de se libertado do Tarrafal, em 29 de Setembro de 1955, quando era dirigente do Comité Local de Lisboa e destacado membro do Comité Central, foi preso em Lisboa e levado para o Aljube. Em 22 de Novembro passou para o Forte de Caxias, onde foi sujeito a continuados castigos.

[Américo Gonçalves de Sousa || 12/10/1955 || ANTT || RGP/1697 || PT-TT-PIDE-E-010-9-1697_P4_m0209c]

Em 3 de Fevereiro de 1957 regressou ao Aljube, cadeia de onde se evadiu na madrugada de 26 de Maio do mesmo ano com Carlos Brito e Rolando Verdial [a mãe deste, Emília Dionísia Ferreira dos Santos Silva Verdial, morreu em 7 de Outubro de 1960, no regresso de uma visita ao filho, então preso em Caxias. Segundo o jornal Avante!, de Novembro, o seu desaparecimento foi acelerado pela forma desumana e humilhante como a PIDE a tratou, não atendendo sequer à idade avançada da progenitora: começou por impedir a visita do dia 6 pelo facto de Emília e Mem Verdial, vindos do Porto, terem chegado minutos depois da hora regulamentar; no dia seguinte concederam-na, mas não foi permitida aos pais que se aproximassem do preso, o beijassem e abraçassem; e o desenlace fatal deu-se no regresso a casa, chegando já sem vida à sua residência] através da janela de uma enfermaria desactivada situada no último andar e para onde tinham sido enviados os presos mais perigosos: cortaram parte das grades e, após passarem por vários prédios, apanharam um táxi no Largo da Graça.

E porque não é possível haver resistência(s) sem mulheres, aquela fuga contou, entre outros, com o apoio da militante comunista Deolinda Franco.

Mais uma vez, Américo de Sousa regressou ao trabalho clandestino do Partido Comunista, continuando a integrar o Comité Central eleito no V Congresso realizado entre 8 e 15 de Dezembro de 1957. Então, entre as pessoas que controlaria estava o advogado Manuel João da Palma Carlos [24/06/1915 - 01/11/2001], ambos com papel de relevo na preparação das eleições presidenciais de 1958 [JPP, Álvaro Cunhal, vol. 3]. No âmbito do trabalho partidário no terreno, e segundo José Pacheco Pereira, Américo de Sousa defendeu a partir de certa altura a desistência de Arlindo Vicente enquanto candidato presidencial e o apoio a Humberto Delgado.

No ano seguinte, em Abril, integrou com Alexandre Castanheira [n. 1928] e Octávio Pato [01/04/1925 - 19/02/1999] a delegação do Partido Comunista que se reuniu em Itália com o Partido Comunista Italiano.
  
[Américo Gonçalves de Sousa || 18/12/1961 || ANTT || RGP/1697 || PT-TT-PIDE-E-010-9-1697_P4_m0209a]

Américo de Sousa voltou a ser preso a 15 de Dezembro de 1961, juntamente com Carlos Costa, quase cinco anos depois de andar fugido e ter regressado à clandestinidade, constando da sua ficha prisional a indicação que tinha na cara marcas de varíola para, assim, ser mais facilmente identificado.

[Américo Gonçalves de Sousa || 18/12/1961 || ANTT || RGP/1697 || PT-TT-PIDE-E-010-9-1697_P4_m0209a]

Nesta sua terceira prisão, voltou a fazer o percurso Caxias-Aljube-Peniche, prisão para onde foi transferido em 18 de Abril do ano seguinte por ter sido condenado, por cúmulo jurídico, a 4 anos.

O vaivém entre as prisões não pára, já que em 1 de Junho de 1964 entrou, mais uma vez, em Caxias de onde foi transferido, a 25 de Setembro, para Peniche. 

No ano seguinte, em 23 de Fevereiro de 1965, foi condenado na pesada pena de oito anos e meio, supressão de direitos políticos por quinze e medidas de segurança de internamento de seis meses a três anos, prorrogável, as quais iniciou em Dezembro de 1968.


  
[Américo Gonçalves de Sousa || 18/12/1961 || ANTT || RGP/1697 || PT-TT-PIDE-E-010-9-1697_P4_m0209]

Quase toda a década de 1960 foi passada em prisões, já que Américo de Sousa só seria libertado em 20 de Outubro de 1971, depois de ter estado preso consecutivamente quase dez anos.

Em 53 anos de idade, totalizou cerca de 16 anos nas prisões salazaristas e 19 de intensa e continuada luta clandestina.

Dirigente da URAP depois do 25 de Abril de 1974, faleceu em Março de 1993. 

O nome consta do Memorial de Homenagem aos Ex-Presos Políticos, inaugurado na Fortaleza de Peniche em 9 de Setembro de 2017.

NOTA 1: Atenção ao uso indevido das imagens sem a devida autorização do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

NOTA 2: Actualização do texto publicado neste Blogue em 20 de Julho de 2014.

Obrigado a José Marcelino, também ele um resistente e ex-preso político, pela informação e documentação disponibilizadas.

Fontes:
ANTT, Registo Geral de Presos 1697 [Américo Gonçalves de Sousa / PT-TT-PIDE-E-010-9-1697_P4_m0209].
ANTT, Livro de Cadastrados - 4 / Fotografia 2994 [Américo Gonçalves de Sousa / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904_m0042].

[João Esteves]

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

[1929.] ANTÓNIO CORREIA [III] || DESENHO FEITO NO TARRAFAL POR ATHAYDE E MELLO

* CAPITÃO DE ARTILHARIA E AVIADOR ANTÓNIO CORREIA || PRESO NA TRAFARIA, ALJUBE, CAXIAS, PENICHE E DEPORTADO PARA O TARRAFAL *
[1895 - 1961]

[Desenho da autoria do Tarrafalista Athayde e Mello (1940-1945), gentilmente disponibilizado pela Neta de António Correia

Capitão de Artilharia e Aviador.

Filho de Maria Lucinda Lemos e de Henrique Martins Correia, António Correia nasceu em 21 de Julho de 1895 em S. Pedro de France, perto de Viseu, e faleceu na Quinta das Mestras, Vila da Feira, em 1961, vítima de uma hemorragia cerebral. 

Casado com Florinda Cerqueira de Mesquita [n. 28/04/1886], teve duas filhas. A mais nova, Maria Amélia Cerqueira Martins Correia, casou com o advogado e antifascista Fernando Mouga. 

[António Correia || RGP/14176]

Ainda estudante do liceu, alistou-se "como voluntário na unidade de artilharia de Viseu" [Fernando Mouga, Janela da Memória, p. 271], "fez a guerra em França" e obteve, em Inglaterra, "o diploma de piloto-aviador de combate que dele fez um dos pioneiros da aviação militar portuguesa". Um acidente de aviação em Torres Novas, quando voava com Ribeiro da Fonseca, fizeram-no regressar à Arma de Artilharia, sendo "o capitão mais novo, ao tempo, do Exército português e na Arma permaneceu até que, já na situação de reserva, o ministro, fascista, da Guerra - Fernando dos Santos Costa - o demitiu".

Embora tenha cursado Direito em Coimbra, "ficando-se pela frequência do primeiro ano", seguiu a carreira militar.

Radicado em Viseu, depois de "desligado da aviação e de servir na Artilharia, em Amarante", este "republicano de consequente acção democrática" fomentou a "criação de uma Universidade Livre", onde também leccionou, e fundou o jornal local República, que dirigia e onde escrevia. Conviveu, entretanto, com os seareiros Raul Proença e Câmara Reys e Almeida Moreira, fundador do Museu Grão Vasco.

Durante a Guerra de 1939-1945, o capitão António Correia foi preso e conheceu, durante quase quatro anos, as principais prisões fascistas, em virtude de uma carta enviada ao embaixador de Inglaterra em Portugal onde "se afirmava o apoio dos republicanos de Viseu à causa dos Aliados e se censurava a posição de Salazar". 

[António Correia || RGP/14176]

Por denúncia, a polícia política teve conhecimento da missiva e António Correia foi preso a 11 de Janeiro de 1942, enviado para o Aljube e, como era militar, seguiu para a Casa de Reclusão da Trafaria a 19 do mesmo mês. Demitido do Exército por despacho de Santos Costa, foi transferido, a 8 de Julho do mesmo ano, para o Aljube, por si considerado muito pior do que o inferno em missiva ao capitão Arruda, detido na Trafaria. Dali passou para Caxias (28 de Julho) e, a 5 de Agosto, embarcou para o Tarrafal, onde permaneceu até 27 de Janeiro de 1944.

De regresso ao continente, voltou a Caxias a 2 de Fevereiro e foi transferido para Peniche a 23 de Maio, prisão onde permaneceu até ser restituído à liberdade a 1 de Novembro de 1945. Poucos dias depois, foi um dos oradores do imponente comício realizado no Teatro Avenida: "pela primeira vez depois do advento do fascismo salazarista era possível à oposição democrática de Viseu manifestar-se maciçamente num acto público". 

Libertado, "tratou de viver com honra na situação a que fora reduzido de homem sem haveres nem rendimentos que lhe permitissem subsistir: trabalhou no comércio em Lisboa e Viseu como empregado, na Seara Nova com Câmara Reys ao lado de Manuel Ricardo; fixado por fim, nos arredores de Vila da Feira em casa de Maria Isabel, sua filha mais velha, leccionou num colégio da vila com o simples nome de António Correia até que a pide o localizou e impôs ao director que o despedisse".

[António Correia || RGP/14176]

Publicou dois livros, Poucos Conhecem os Açores, com prefácio de Câmara Reys (1942) e Palavras Sem Eco (1960), tendo esta recolha de escritos de opinião sido apreendido pela PIDE.

Na sequência do 25 de Abril, foi restituído, postumamente, no posto e na Arma de onde tinha sido demitido. A nova gestão da Câmara Municipal de Viseu atribuiu o nome de António Correia a uma rua, "embora secundária, da cidade". Por pouco tempo, pois a vereação eleita tratou de riscar aquele nome da toponímia.

O advogado, escritor e investigador José António Barreiros, no seu blogue O Mundo das Sombras, dedica-lhe um post com uma fotografia lindíssima de António Correia.

NOTA: Este Blogue agradece a Fernanda Mouga, Neta de António Correia, a disponibilização do desenho do seu Avô da autoria de António Faria e Atayde e Melo [n. 02/11/1914].

[João Esteves]

sábado, 24 de setembro de 2016

[1521.] 5 DE OUTUBRO DE 2016 [I]

* EVOCAÇÃO À LIBERDADE PELO GRANDE ORIENTE LUSITANO UNIDO *


Para além da homenagem a Edmundo Pedro, António Ventura evocará a memória dos Maçons falecidos que estiveram no Tarrafal, entre os quais António Correia.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

[1340.] CONSELHO NACIONAL DAS MULHERES PORTUGUESAS [XXVI] || COIMBRA [I]

* CONSELHO NACIONAL DAS MULHERES PORTUGUESAS || COIMBRA || JANEIRO DE 1946 *

Em Janeiro de 1946, Maria da Natividade Pinheiro Correia, militante comunista de Coimbra casada com António Correia, assinou, com as iniciais M. C., na Gazeta de Coimbra, então periódico "largamente influenciado pelos comunistas locais" [Alberto Vilaça], o artigo "Porque não se cria em Coimbra uma delegação do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas", o qual constituiu o primeiro passo para a sua efetiva concretização.  

[Gazeta de Coimbra || Janeiro de 1946]

A cópia deste artigo, bem como outra documentação e informações, foi gentilmente enviado pela autora, Dr.ª Natividade Correia, em Fevereiro de 1998.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

[0916.] ANTÓNIO CORREIA [II]

* ANTÓNIO CORREIA *

 [1895-1961]

|| BIOGRAFIA PRISIONAL ||

[Comissão do Livro Negro sobre o Regime Fascista, Presos Políticos no Regime Fascista III – 1940-1945, 1984]

domingo, 8 de fevereiro de 2015

[0914.] ANTÓNIO CORREIA [I]

* ANTÓNIO CORREIA *

[1895-1961]

Capitão de Artilharia e Aviador.

Filho de Maria Lucinda Lemos e de Henrique Martins Correia, António Correia nasceu a 21 de Julho de 1895 em S. Pedro de France, perto de Viseu, e faleceu na Quinta das Mestras, Vila da Feira, em 1961, vítima de uma hemorragia cerebral. 

Casado com Florinda Cerqueira de Mesquita [n. 28/04/1886], teve duas filhas. A mais nova, Maria Amélia Cerqueira Martins Correia, casou com o advogado e antifascista Fernando Mouga

Ainda estudante do liceu, alistou-se "como voluntário na unidade de artilharia de Viseu" [Fernando Mouga, Janela da Memória, p. 271], "fez a guerra em França" e obteve, em Inglaterra, "o diploma de piloto-aviador de combate que dele fez um dos pioneiros da aviação militar portuguesa". Um acidente de aviação em Torres Novas, quando voava com Ribeiro da Fonseca, fizeram-no regressar à Arma de Artilharia, sendo "o capitão mais novo, ao tempo, do Exército português e na Arma permaneceu até que, já na situação de reserva, o ministro, fascista, da Guerra - Fernando dos Santos Costa - o demitiu".

Embora tenha cursado Direito em Coimbra, "ficando-se pela frequência do primeiro ano", seguiu a carreira militar.

Radicado em Viseu, depois de "desligado da aviação e de servir na Artilharia, em Amarante", este "republicano de consequente acção democrática" fomentou a "criação de uma Universidade Livre", onde também leccionou, e fundou o jornal local República, que dirigia e onde escrevia. Conviveu, entretanto, com os seareiros Raul Proença e Câmara Reys e Almeida Moreira, fundador do Museu Grão Vasco.

Durante a Guerra de 1939-1945, o capitão António Correia foi preso e conheceu, durante quase quatro anos, as principais prisões fascistas, em virtude de uma carta enviada ao embaixador de Inglaterra em Portugal onde "se afirmava o apoio dos republicanos de Viseu à causa dos Aliados e se censurava a posição de Salazar". 


Por denúncia, a polícia política teve conhecimento da missiva e António Correia foi preso a 11 de Janeiro de 1942, enviado para o Aljube e, como era militar, seguiu para a Casa de Reclusão da Trafaria a 19 do mesmo mês. Demitido do Exército por despacho de Santos Costa, foi transferido, a 8 de Julho do mesmo ano, para o Aljube, por si considerado muito pior do que o inferno em missiva ao capitão Arruda, detido na Trafaria. Dali passou para Caxias (28 de Julho) e, a 5 de Agosto, embarcou para o Tarrafal, onde permaneceu até 27 de Janeiro de 1944.

De regresso ao continente, voltou a Caxias a 2 de Fevereiro e foi transferido para Peniche a 23 de Maio, prisão onde permaneceu até ser restituído à liberdade a 1 de Novembro de 1945. Poucos dias depois, foi um dos oradores do imponente comício realizado no Teatro Avenida: "pela primeira vez depois do advento do fascismo salazarista era possível à oposição democrática de Viseu manifestar-se maciçamente num acto público". 

Libertado, "tratou de viver com honra na situação a que fora reduzido de homem sem haveres nem rendimentos que lhe permitissem subsistir: trabalhou no comércio em Lisboa e Viseu como empregado, na Seara Nova com Câmara Reys ao lado de Manuel Ricardo; fixado por fim, nos arredores de Vila da Feira em casa de Maria Isabel, sua filha mais velha, leccionou num colégio da vila com o simples nome de António Correia até que a pide o localizou e impôs ao director que o despedisse".

Publicou dois livros, Poucos Conhecem os Açores, com prefácio de Câmara Reys (1942) e Palavras Sem Eco (1960), tendo esta recolha de escritos de opinião sido apreendido pela PIDE.

Na sequência do 25 de Abril, foi restituído, postumamente, no posto e na Arma de onde tinha sido demitido. A nova gestão da Câmara Municipal de Viseu atribuiu o nome de António Correia a uma rua, "embora secundária, da cidade". Por pouco tempo, pois a vereação eleita tratou de riscar aquele nome da toponímia.

O advogado, escritor e investigador José António Barreiros, no seu blogue O Mundo das Sombras, dedica-lhe um post com uma fotografia lindíssima de António Correia.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

[0910.] FERNANDO MOUGA [II]

* FERNANDO DA SILVA MOUGA *

[05/12/1914-15/01/1997]

Advogado.

Neto de camponeses alentejanos de Safara por parte da mãe e de ribatejanos por parte do pai, filho de professores primários que, "namorando-se nos tempos da implantação da República, se escreviam tratando-se por «cidadãos»", Fernando Mouga nasceu em Casais de Ferreira do Zézere, "terra de meus avós paternos", a 5 de Dezembro de 1914, "numa terça-feira, às três horas da tarde, pormenor que me foi dado por minha mãe para me satisfazer a curiosidade de saber quando, exatamente, apareci no mundo", e faleceu em Viseu a 15 de Janeiro de 1997.

Frequentou o Instituto dos Missões Laicas, de Sernache do Bonjardim, para onde entrou em 1924, o Instituto do Professorado Primário Português - Instituto Sidónio Pais, em Lisboa, o Liceu Camões e o Gil Vicente, onde foi colega e amigo de Mário Dionísio e de José Pedro Dias Júnior, "dançarino de fandango com requintes subtis de sapateado aprendido nas terras da Borda de Água do Ribatejo onde nascera e se criara", e que passou vários anos preso em Peniche no início da década de 60 quando era Professor do Ensino Técnico.

Matriculou-se em Direito, primeiro na Universidade de Coimbra (1933), onde emparceirou, em meados de 1936, com António Maldonado de Freitas no boicote à conferência de um catedrático fascista italiano, transferindo-se depois para Lisboa (1936), para o Campo de Sant'Ana. Na capital, conviveu politicamente com Álvaro Cunhal, Fernando Piteira Santos, Manuel João da Palma Carlos, Manuel da Fonseca e Manuel Campos Lima, tendo frequentado a redação do jornal O Diabo. Voltaria a reencontrar Álvaro Cunhal, inesperadamente, em Viseu, pouco antes da sua prisão em 1949, no Luso. 

Devido ao falecimento da Mãe a 17 de Setembro de 1937, teve de conciliar o trabalho com os estudos, passando a aluno voluntário de Direito. 

Aluno de Marcelo Caetano, "cujos méritos de sabedoria e de proficiência de ensino se não podem negar de boa-fé", descreve-o, em duas situações por si presenciada, como "homem autoritário e impiedoso": uma com Fernando Piteira Santos que, ao confrontar aquele no plano das ideias, ouviu um "Senhor Piteira, cale-se!" e aconselhou-o, sob forma de ameaça, a pedir transferência para a Faculdade de Letras; a outra, muito mais elucidativa do seu carácter fascizante, ao recusar a possibilidade de um aluno, operário vindo de Alhandra, realizar o exame por o comboio se ter atrasado, fazendo com que perdesse o ano.   

Cumpriu o serviço militar em Beja e Viseu, cidade onde se fixou definitivamente em Maio de 1944 e iniciou a advocacia.

A militância política, iniciada na década de trinta, intensificou-se naquela cidade, datando de finais dos anos 40 a ligação ao Partido Comunista.

Participou ativamente no MUD, "a minha primeira experiência de combate político, organizado, ao fascismo", tendo-se oposto, juntamente com o médico César Anjo (1915-1969), à entrega posterior das listas locais às autoridades por irem "enriquecer gratuitamente o ficheiro da polícia política e possibilitar represálias a todo o tempo e em qualquer aspetos da vida dos cidadãos comprometidos".

Em 1949, interveio na campanha do general Norton de Matos, integrando as comissões concelhia e distrital de Viseu.

Fez parte, em 1951, do Movimento Nacional Democrático liderado por Ruy Luís Gomes e participou nos Congressos Republicanos de Aveiro, tendo apresentado com Augusto César Anjo e J. Simões uma comunicação intitulada "Tomás da Fonseca Vivo - Um inteletual sem Bandeira irmanado com o Povo" (1969).

Autor do poema "Esta Guerra Não É Nossa", "manifesto contra as guerras coloniais, em jeito de romance popular, bem rimado e de palavras simples" e editado em folheto clandestino pelo Partido Comunista.

Escreveu poesia, embora a maioria não tenha sido editada. Poemas seus integraram a obra coletiva Contos e Poemas de autores modernos portugueses, organizado e editado por Carlos Alberto Lança e Francisco José Tenreiro (1942). Segundo Otto Solano, Luís de Freitas Branco (1890-1955) compôs "duas canções revolucionárias sobre poemas de Fernando Mouga e José Gomes Ferreira de conteúdo abertamente subversivos".

Após o 25 de Abril interveio politicamente no âmbito do MDP/CDE.

Em 1974, aceitou "o cargo de delegado da Direção-Geral dos Desportos, em Viseu, para comparticipar pela prática (e que maravilhosa experiência foi!) na autêntica revolução que, dirigida pelo Prof. Melo de Carvalho [...], se propunha, na pureza do ideal do 25 de Abril, implantar no país uma política desportiva no real interesse do Povo e, consequentemente, da Nação". 

Por sua casa, em Viseu, passaram, em absoluta segurança, clandestinos e lá se realizaram reuniões de responsáveis do Partido Comunista. 

Casado com Maria Amélia Cerqueira Martins Correia, filha de António Correia (1895-1961) que, entre 1942 e 1945, passou pelas prisões da Trafaria, Aljube, Caxias, Tarrafal e Peniche, Fernando Mouga, Cidadão íntegro de um "país onde os grandes homens sempre foram muito poucos e muitas as coisas pequenas", é um nome a evocar da Resistência e da Intervenção Cívica em Viseu.

Escreveu o livro memorialista Janela de Memória (Gente, Bichos, Factos e outras coisas que tecem a vida e à vida chegaram nas voltas do mundo), concluído "exatamente às dezassete horas e um quarto do dia treze de Setembro de 1995" e publicado em 1996.


[0909.] FERNANDO MOUGA [I]

* FERNANDO DA SILVA MOUGA *
[1914-1997]

Eis um livro de Memórias provavelmente pouco mediático e que urge divulgar e reler, não só pela descrição de vivências pessoais, mas também pelo que nos é dado a conhecer da luta contra a ditadura salazarista, nomeadamente em Viseu. 

Por estas páginas perpassam nomes da Resistência (uns mais conhecidos, outros menos), pequenas/grandes histórias desconhecidas (como a das listas do MUD em Viseu) e ainda a evocação comovente de António Correia, sogro de Fernando Mouga, capitão de artilharia e aviador que esteve em França na I Guerra e que, devido à sua oposição à Ditadura, foi demitido do Exército por Santos Costa e conheceu, entre 1942 e 1945, a prisão militar da Trafaria, o Aljube, Caxias, Tarrafal e, finalmente Peniche.

Um abraço ao José Mouga, pela amizade, pelas Histórias, pelo convívio que a profissão proporcionou e por esta Janela da Memória.