[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]
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sábado, 21 de janeiro de 2023

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

[3099.] PAULA PAIS || O LIVRE PENSAMENTO - 2022

 * PAULA PAIS *

O Livre Pensamento

Edição da Autora || 2022

[Paula Pais || O Livre Pensamento || Novembro de 2022]

Peça de Teatro original de Paula Pais centrada na figura de Carolina Beatriz Ângelo e estreada, em 16 de Outubro de 2019, no Pequeno Auditório do Teatro Municipal da Guarda.

"O texto poético e a encenação minimalista de Paula Pais foram certeiros na forma e no conteúdo, recorrendo a uma tristeza suave nos diálogos e na evocação das memórias de Carolina pelo seu falecido marido, Januário, ao som de um músico ao vivo (violinista António Barbosa).

[...]

Estou certo que Carolina Beatriz Ângelo teria ficado feliz com esta peça que enaltece e prioriza valores que ainda hoje são essenciais para uma sociedade mais livre, democrática e feliz." (Victor Afonso, Prefácio)

domingo, 13 de novembro de 2022

[3042.] MARIA VELEDA || CONFERÊNCIA "A MULHER EDUCADORA" - 12/01/1908

 * MARIA VELEDA *

"Centro Escolar Dr. Afonso Costa - Educação feminina"

Vanguarda || 09/01/1908

Anúncio de que Maria Veleda realizará no dia 12 de Janeiro de 1908, no Centro Escolar Afonso Costa, na Calçada de Arroios, 7, 1.º andar, pelas 8 horas da noite, uma conferência sobre “A mulher educadora”, «primeira da série de prelecções destinadas a despertar o interesse das mulheres portuguesas pela instrução»:

«Centro Escolar Dr. Afonso Costa - Educação feminina

No próximo domingo, 12, pelas oito horas da noite, realiza a professora D. Maria Veleda uma prelecção, subordinada ao tema “A mulher educadora”, primeira da série de prelecções destinadas a despertar o interesse das mulheres portuguesas pela instrução.

Esta prelecção far-se-á no Centro Escolar Dr. Afonso Costa, e a ela poderão assistir todas as senhoras e suas famílias. Da segunda prelecção, que há-de realizar-se ainda este mês, encarregar-se-á como gentilmente prometeu, a distinta médica, sr.ª D. Beatriz Ângelo, sob o tema: “Higiene Infantil”. A terceira será confiada à ilustre escritora feminista, sr.ª D. Ana de Castro Osório, e terá por tema “Educação Cívica”.»

[Vanguarda, 09/01/1908]

[João Esteves]

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

[2882.] CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO || ENTREVISTA AO JORNAL "A REPÚBLICA" - 05/04/1911

 * CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO *

ENTREVISTA AO JORNAL REPÚBLICA || 05/04/1911

O jornal República publica uma entrevista com Carolina Beatriz Ângelo, a propósito do seu requerimento para se poder recensear:

«Uma eleitora? - A sr.ª D. Beatriz Ângelo quer votar - A ‘República’ entrevista-a

Hoje correu que uma senhora, D. Beatriz Ângelo, uma mulher distintíssima, requerera para ser inscrita no recenseamento. A notícia alvoroçou aquela parte do público, que não está ainda dentro da moderna corrente libertadora. Era certo o boato? A sr.ª D. Carolina Beatriz Ângelo entregara o seguinte requerimento à comissão do recenseamento eleitoral do 2º bairro:

Ex.mo  Sr. Presidente da Comissão do 2º Bairro de Lisboa. Carolina Beatriz Ângelo, abaixo assinada, de trinta e dois anos de idade, natural da cidade da Guarda, freguesia de S. Vicente, viúva, médica, residente em Lisboa na rua António Pedro, S. D., 1º andar (freguesia de S. Jorge de Arroios, 2º Bairro), como cidadão português, nos termos dos artigos 18º e 20º do Código Civil, não excluída dos seus direitos políticos de eleitor por qualquer dos impedimentos taxativamente enumerados no art. 6º do Decreto com força de Lei de 14 de março de 1911, e estando antes compreendida em ambas as categorias de eleitoridade dos nos 1º e 2º do artigo 5º do Decreto referido, por quanto não só sabe ler e escrever mas é chefe de família, vivendo nessa qualidade com uma filha menor, cujo sustento e educação provê pelo seu trabalho profissional, bem como aos demais encargos domésticos, - pretende em  tempo e para todos os efeitos legais, que o seu nome seja incluído no novo recenseamento eleitoral, a que tem de proceder-se por virtude dos artigos 15º, 16º e outros do Decreto citado de 14 de março de 1911. Para tanto, o requer a V. Ex.ª, tendo em vista o disposto nos artigos 17º e 18º do mesmo Decreto com força de Lei. E. R. J. Lisboa, 1 de abril de 1911. Carolina Beatriz Ângelo. (segue-se reconhecimento).

Uma vez lido este requerimento, por sinal bem longe de ser banal, corremos a casa da sr.ª D. Beatriz Ângelo, ali para a Estefânia, tão interessante com o seu ar de faubourg. Fomos recebidos num gabinetesinho, cheio de estantes. Não nos fala aquele interior da existência duma fée du logis. Nada de biscuits, de flores, de gentis futilidades. Aquela severidade revela um cérebro, - amigo, porém, da ordem, do arranjo, - cérebro onde as ideias devem estar cuidadosamente arrumados, dispostas como soldados em parada.

- Ah! vem por causa do meu requerimento?... perguntou a distinta médica, quando reparou que não era um cliente, mas um jornalista que tinha pela frente.

- Tem uma história. É o resultado duma combinação feita há tempos por um grupo de sufragistas neste mesmo gabinete... É possível que outros requerimentos apareçam, - o da minha amiga D. Ana de Castro Osório, por exemplo... As restrições da lei eleitoral não se podem referir a nós, não nos atingem. Esse requerimento é o sinal da batalha. Quer dizer, as sufragistas portuguesas vão entrar numa fase ardente de propaganda e de acção. E pode crer que estamos admiravelmente apetrechadas para uma luta apaixonada. Tratando-se da entrada da mulher na política, diz-se geralmente que o espírito dela não está para isso preparado. Estamos arranjadas, meu caro senhor, se tivéssemos de marcar compasso de espera, enquanto a maioria das mulheres não acaba de adquirir as primeiras luzes...

- Está-nos então prometida uma campanha renhida, sensacional?... perguntamos.

- Conte com esse belo espectáculo, - respondeu-nos a sr.ª D. Beatriz Ângelo. Em breve teremos organizada a nossa Associação. Não vamos roubar direitos aos homens. Que os homens durmam tranquilamente, vamos reclamar somente o que é nosso.

- V. ex.ª tem feito muito pela sua causa?

E a sr.ª D. Beatriz Ângelo sorrindo, apenas disse:

- Bastante, bastante entre as minhas clientes e as minhas amigas...

*

A comissão do recenseamento eleitoral do 2º bairro, reunida ontem para tratar do requerimento da sr.ª D. Carolina Beatriz Ângelo, resolveu dar-se por incompetente e remeter os documentos ao sr. ministro do Interior.

Consta que a petição foi escrita por um conhecido advogado.»

[República, p. 2, col. 1]

[República || 05/04/1911] 

[João Esteves]

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

[2875.] LIGA REPUBLICANA DAS MULHERES PORTUGUESAS || REPRESENTAÇÃO DE 03/02/1911

 * LIGA REPUBLICANA DAS MULHERES PORTUGUESAS *

REPRESENTAÇÃO ENTREGUEA TEÓFILO BRAGA, PRESIDENTE DO GOVERNO PROVISÓRIO DA REPÚBLICA, EM 03/02/1911

Ana de Castro Osório, Carolina Beatriz Ângelo e Maria Laura Monteiro Torres, em nome da Comissão de Propaganda Feminista da LRMP, entregaram, em 3 de Fevereiro de 1911, uma representação a Teófilo Braga, Presidente do Governo Provisório, onde se reclamava o direito de voto para a mulher economicamente independente. É assinada por toda a comissão de propaganda feminista e sufragista e Teófilo Braga «comprometeu-se a apresentá-la na primeira reunião de ministros, pois que as reivindicações que nela se fazem são de justiça e estão em harmonia com as suas ideias» [“Propaganda feminista e sufragista”, O Mundo, 04/02/1911].

«Feminismo

 Reclamações 

A Comissão de propaganda feminista da «Liga Republicana das Mulheres Portuguesas» foi no dia 3 recebida pelo sr. Dr. Teófilo Braga, digno presidente do Governo Provisório, apresentando-lhe a representação que a seguir publicamos.

O ilustre homem de ciência, depois de ouvir ler a representação, cumprimentou as senhoras presentes pelo trabalho apresentado, dizendo-lhes que de todo o seu coração advogaria uma causa tão justa e que tão claramente corresponde à evolução da sociedade moderna. O sr. Dr. Teófilo Braga disse, numa verdadeira e interessante conferência sobre o feminismo, palavras de tanta lucidez e tanta verdade, que bom seria fossem escutadas por aqueles que sem ciência nem consciência falam levianamente de coisas que nem sabem explicar e muito menos compreender.

Representação

Ao Ex.mo Sr. Dr. Teófilo Braga e mais membros do Governo Provisório da República

Cidadãos:

A «Liga Republicana das Mulheres Portuguesas», tendo muitos e variados assuntos a tratar dentro do seu vasto plano de orientação e auxílio moral da mulher, delegou, na comissão que assina a presente, o especial encargo da propaganda feminista e do estudo e reclamações a fazer sobre as leis existentes e as que o Governo venha a promulgar sob o ponto de vista de interesse feminino. 

Cumprindo pois o mandato que nos foi concedido, nós vimos ainda uma vez mais reclamar para o nosso sexo o sufrágio nas condições modestíssimas em que julgamos de nosso dever fazê-lo, para não pôr o Governo Provisório na contingência desagradável de recusar o que constitui uma das mais nobres afirmações do Partido Republicano – a igualdade de direitos da mulher.

Nós desejamos que a República nascente, para a qual trabalhámos com o entusiasmo da nossa propaganda, e que já tem legislado tão larga e nobremente, não cometa o erro imperdoável que a grande revolução francesa cometeu, negando à mulher todos os direitos políticos, tendo-se aliás servido dela para a sua propaganda na oposição.

Nós não vimos reclamar, porque isso seria pedir por agora um impossível social, o sufrágio universal, como  à luz da razão e da ciência seria justo, mas vimos reclamar o que temos feito desde o princípio: o direito de voto para as mulheres que pela sua posição especial devem poder exercê-lo; isto é – as que contribuam para a colectividade com o dinheiro das suas contribuições directas, as que exerçam uma profissão científica ou literária, as que sendo independentes moral e economicamente não podem, por uma imposição do preconceito e da rotina, continuar na República a viver no regímen vexante dos tutelados, fora da sociedade como os cretinos.

O voto como o pedimos é apenas o estabelecimento dum princípio de justiça, o qual, honrando o Governo da República, auxiliará a nossa propaganda, pois que a mulher tratará de trabalhar e se elevar para obter o direito que hoje apenas a uma minoria pequena aproveitará.

Vimos também reclamar para as mulheres o direito de serem votadas e nomeadas para todas as comissões pedagógicas de higiene e assistência, como para as juntas paroquiais e municipais, onde por certo farão bons serviços, por isso que a mulher é, talvez mais do que o homem, amante do seu torrão, agarrada à sua pequenina pátria – quer dizer à sua localidade – que desejará ver aumentada e melhorada. Assim, aproveitando a tendência regionalista da mulher, a República poderá encontrar no seu trabalho um bom auxílio para a renovação pátria.

A terra portuguesa, tão baixo caída pela criminosa incúria da monarquia, necessita para se erguer à altura que lhe compete do concurso de todos os cidadãos, e a mulher é um factor que não pode nem deve desprezar neste momento único de renovação social. Por isso, cidadãos, nós vimos requerer parta a mulher o direito de trabalhar pelo ressurgimento duma Pátria que também julga pertencer-lhe.

Em todos os países civilizados a mulher é hoje ouvida e chamada, especialmente nas questões pedagógicas, desempenhando cargos nos altos conselhos da instrução. Em Portugal, onde há mulheres da competência de Carolina Michaëlis de Vasconcelos, as reformas do ensino serão feitas sem que se chame a dar a sua opinião esta senhora, ou qualquer outra que do assunto tenha largo conhecimento?

Terminando por agora, não podemos deixar de vir reclamar contra o limite de idade, que é sempre vexante e injusto, e para a mulher muito mais ainda porque no nosso país onde a sua educação é tão descurada, só tarde ela pensa em adquirir uma posição que a torne independente, e que a incúria das famílias lhe não deu em moça.

Assim, nós pedimos que seja abolido o limite de idade para a admissão nas Escolas Normais, nas Juntas do Crédito Público e outras, como já conseguimos que fosse abolido para as estudantes de enfermagem, por pedido directamente feito pelas signatárias D.ra Carolina Beatriz Ângelo e Ana de Castro Osório ao actual enfermeiro-môr do hospital de S. José, o sr. Dr. Augusto de Vasconcelos.

Finalizando, não podemos deixar de cumprimentar o sr. Ministro do Interior pelo seu decreto que garante às professoras dois meses de descanso, com vencimento, no último período de gravidez e no primeiro depois do parto.

É uma medida de salvação pública que desejaríamos ver estender-se com força de lei a todos os empregos exercidos pelas mulheres, principalmente nos trabalhos violentos da indústria, sendo os patrões obrigados ao mesmo que o Governo se obriga hoje para as professoras, e amanhã fará a todas as suas empregadas.

A maternidade é a dolorosa e difícil contribuição de sangue que a mulher paga à sociedade; portanto é justo que a República, que olha carinhosamente pelos seus soldados, não despreze as mães, que mais ainda necessitam de protecção e amparo.

Não podemos terminar sem muito especialmente saudar, na nova legislação portuguesa, em que a mulher começa a ser considerada um indivíduo consciente e autónomo, a obra grandiosa do sr. Dr. Afonso Costa.

Saúde e fraternidade

Lisboa, 3 de Fevereiro de 1911

(a.a.) D.ra  Carolina Beatriz Ângelo
         Joana de Almeida Nogueira
         Virgínia da Fonseca
         Rita Dantas Machado
         Laura Monteiro Torres
         Adelaide da Cunha Barradas
         Constança Dias
         Ana de Castro Osório.»

[O Radical, 12/2/1911] 

[O Radical || 12/02/1911]

[João Esteves]

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

[2841.] LIGA REPUBLICANA DAS MULHERES PORTUGUESAS || SAUDAÇÃO A JOSÉ RELVAS - 03/02/1911

 * LIGA REPUBLICANA DAS MULHERES PORTUGUESAS *

"Representação da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas entregue ao Ministro das Finanças, sr. José Relvas"

O Radical || 05/03/1911

A Comissão de Propaganda Feminista da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas assina, em 3 de Fevereiro de 1911, uma mensagem dirigida ao ministro das Finanças, José Relvas, elogiando-o por ter proporcionado a admissão de mulheres em empregos do Estado. 

É subscrita por Adelaide da Cunha Barradas, Ana de Castro Osório, Carolina Beatriz Ângelo, Constança Dias, Joana de Almeida Nogueira, Laura Monteiro Torres, Rita Dantas Machado e Virgínia da Fonseca.

[O Radical || 05/03/1911]

[João Esteves]

quarta-feira, 1 de junho de 2022

[2827.] LIGA REPUBLICANA DAS MULHERES PORTUGUESAS || REPRESENTAÇÃO DE 03/02/1911

 * LIGA REPUBLICANA DAS MULHERES PORTUGUESAS *

REPRESENTAÇÃO || 03/02/1911

Ana de Castro Osório, Carolina Beatriz Ângelo e Maria Laura Monteiro Torres, em nome da Comissão de Propaganda Feminista da LRMP, entregam uma representação a Teófilo Braga, Presidente do Governo Provisório, onde se reclama o direito de voto para a mulher economicamente independente. É assinada por toda a comissão de propaganda feminista e sufragista e Teófilo Braga «comprometeu-se a apresentá-la na primeira reunião de ministros, pois que as reivindicações que nela se fazem são de justiça e estão em harmonia com as suas ideias» [“Propaganda feminista e sufragista”, O Mundo, 04/02/1911, p. 2, col. 4].

[O Radical || 12/02/1911]

«Reclamações 
A Comissão de propaganda feminista da «Liga Republicana das Mulheres Portuguesas» foi no dia 3 recebida pelo sr. Dr. Teófilo Braga, digno presidente do Governo Provisório, apresentando-lhe a representação que a seguir publicamos.
O ilustre homem de ciência, depois de ouvir ler a representação, cumprimentou as senhoras presentes pelo trabalho apresentado, dizendo-lhes que de todo o seu coração advogaria uma causa tão justa e que tão claramente corresponde à evolução da sociedade moderna. O sr. Dr. Teófilo Braga disse, numa verdadeira e interessante conferência sobre o feminismo, palavras de tanta lucidez e tanta verdade, que bom seria fossem escutadas por aqueles que sem ciência nem consciência falam levianamente de coisas que nem sabem explicar e muito menos compreender.
 
Representação
 
Ao Ex.mo Sr. Dr. Teófilo Braga e mais membros do Governo Provisório da República
 
Cidadãos:
 
A «Liga Republicana das Mulheres Portuguesas», tendo muitos e variados assuntos a tratar dentro do seu vasto plano de orientação e auxílio moral da mulher, delegou, na comissão que assina a presente, o especial encargo da propaganda feminista e do estudo e reclamações a fazer sobre as leis existentes e as que o Governo venha a promulgar sob o ponto de vista de interesse feminino. 
Cumprindo pois o mandato que nos foi concedido, nós vimos ainda uma vez mais reclamar para o nosso sexo o sufrágio nas condições modestíssimas em que julgamos de nosso dever fazê-lo, para não pôr o Governo Provisório na contingência desagradável de recusar o que constitui uma das mais nobres afirmações do Partido Republicano – a igualdade de direitos da mulher.
Nós desejamos que a República nascente, para a qual trabalhámos com o entusiasmo da nossa propaganda, e que já tem legislado tão larga e nobremente, não cometa o erro imperdoável que a grande revolução francesa cometeu, negando à mulher todos os direitos políticos, tendo-se aliás servido dela para a sua propaganda na oposição.
Nós não vimos reclamar, porque isso seria pedir por agora um impossível social, o sufrágio universal, como  à luz da razão e da ciência seria justo, mas vimos reclamar o que temos feito desde o princípio: o direito de voto para as mulheres que pela sua posição especial devem poder exercê-lo; isto é – as que contribuam para a colectividade com o dinheiro das suas contribuições directas, as que exerçam uma profissão científica ou literária, as que sendo independentes moral e economicamente não podem, por uma imposição do preconceito e da rotina, continuar na República a viver no regímen vexante dos tutelados, fora da sociedade como os cretinos.
O voto como o pedimos é apenas o estabelecimento dum princípio de justiça, o qual, honrando o Governo da República, auxiliará a nossa propaganda, pois que a mulher tratará de trabalhar e se elevar para obter o direito que hoje apenas a uma minoria pequena aproveitará.
Vimos também reclamar para as mulheres o direito de serem votadas e nomeadas para todas as comissões pedagógicas de higiene e assistência, como para as juntas paroquiais e municipais, onde por certo farão bons serviços, por isso que a mulher é, talvez mais do que o homem, amante do seu torrão, agarrada à sua pequenina pátria – quer dizer à sua localidade – que desejará ver aumentada e melhorada. Assim, aproveitando a tendência regionalista da mulher, a República poderá encontrar no seu trabalho um bom auxílio para a renovação pátria.
A terra portuguesa, tão baixo caída pela criminosa incúria da monarquia, necessita para se erguer à altura que lhe compete do concurso de todos os cidadãos, e a mulher é um factor que não pode nem deve desprezar neste momento único de renovação social. Por isso, cidadãos, nós vimos requerer parta a mulher o direito de trabalhar pelo ressurgimento duma Pátria que também julga pertencer-lhe.
Em todos os países civilizados a mulher é hoje ouvida e chamada, especialmente nas questões pedagógicas, desempenhando cargos nos altos conselhos da instrução. Em Portugal, onde há mulheres da competência de Carolina Michaëlis de Vasconcelos, as reformas do ensino serão feitas sem que se chame a dar a sua opinião esta senhora, ou qualquer outra que do assunto tenha largo conhecimento?
Terminando por agora, não podemos deixar de vir reclamar contra o limite de idade, que é sempre vexante e injusto, e para a mulher muito mais ainda porque no nosso país onde a sua educação é tão descurada, só tarde ela pensa em adquirir uma posição que a torne independente, e que a incúria das famílias lhe não deu em moça.
Assim, nós pedimos que seja abolido o limite de idade para a admissão nas Escolas Normais, nas Juntas do Crédito Público e outras, como já conseguimos que fosse abolido para as estudantes de enfermagem, por pedido directamente feito pelas signatárias D.ra Carolina Beatriz Ângelo e Ana de Castro Osório ao actual enfermeiro-môr do hospital de S. José, o sr. Dr. Augusto de Vasconcelos.
Finalizando, não podemos deixar de cumprimentar o sr. Ministro do Interior pelo seu decreto que garante às professoras dois meses de descanso, com vencimento, no último período de gravidez e no primeiro depois do parto.
É uma medida de salvação pública que desejaríamos ver estender-se com força de lei a todos os empregos exercidos pelas mulheres, principalmente nos trabalhos violentos da indústria, sendo os patrões obrigados ao mesmo que o Governo se obriga hoje para as professoras, e amanhã fará a todas as suas empregadas.
A maternidade é a dolorosa e difícil contribuição de sangue que a mulher paga à sociedade; portanto é justo que a República, que olha carinhosamente pelos seus soldados, não despreze as mães, que mais ainda necessitam de protecção e amparo.
Não podemos terminar sem muito especialmente saudar, na nova legislação portuguesa, em que a mulher começa a ser considerada um indivíduo consciente e autónomo, a obra grandiosa do sr. Dr. Afonso Costa.
Saúde e fraternidade
Lisboa, 3 de Fevereiro de 1911
(a.a.) D.ra  Carolina Beatriz Ângelo
         Joana de Almeida Nogueira
         Virgínia da Fonseca
         Rita Dantas Machado
         Laura Monteiro Torres
         Adelaide da Cunha Barradas
         Constança Dias
         Ana de Castro Osório
[O Radical, 12/2/1911]

[João Esteves]

sábado, 9 de abril de 2022

[2796.] CAROLINA BEATRZ ÂNGELO || INTERVENÇÃO DE ANTÓNIA BERMUDES - 03/11/1914

 CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO *

ROMAGEM AO CEMITÉRIO DOS PRAZERES || 03/11/1914

Intervenção de Antónia Bermudes em nome do Grémio Carolina Ângelo

[O Combate || 07/11/1914]

[João Esteves]

[2795.] CAROLINA BEATRZ ÂNGELO || INTERVENÇÃO DE ANA DE CASTRO OSÓRIO - 03/11/1914

 CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO *

ROMAGEM AO CEMITÉRIO DOS PRAZERES || 03/11/1914

Intervenção de Ana de Castro Osório em nome da Associação de Propaganda Feminista

[O Combate || 07/11/1914]

[João Esteves]

[2793.] CAROLINA BEATRZ ÂNGELO || O COMBATE - 07/11/1914

 * CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO *

ROMAGEM AO CEMITÉRIO DOS PRAZERES || 03/11/1914

Discursaram Ana de Castro Osório, em nome da Associação de Propaganda Feminista, e Antónia Bermudes, representando o Grémio Carolina Ângelo

[O Combate || 07/11/1914]

[João Esteves]

domingo, 30 de maio de 2021

[2582.] O VOTO DE CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO HÁ 110 ANOS || 28 DE MAIO DE 1911

 * O VOTO DE CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO HÁ 110 ANOS *

28 DE MAIO DE 1911 || 28 DE MAIO DE 2021

[Desenho do Mestre José Ruy || Novembro de 2016]

Apesar do voto de Carolina Beatriz Ângelo ser considerado como fortuito e, como tal, sistematicamente desvalorizado no contexto da I República, ele deve ser, antes, entendido no âmbito de um processo iniciado nos últimos anos da Monarquia e que levou a esse desfecho não tão imprevisível como isso.

Embora se possa sempre invocar que se tratou de um acto isolado, sem consequências outras que não uma vitória individual, a que não seria alheio o facto do juiz que autorizou o recenseamento eleitoral de Carolina ser o pai da amiga Ana de Castro Osório, também não é menos verdade que o sufrágio feminino era o culminar de uma estratégia mobilizadora das militantes republicanas e que vinha sendo delineada antes do triunfo da República.

O voto, mais do que um acaso, só foi tornado possível porque a elite das republicanas funcionara, ainda durante a Monarquia, como um verdadeiro grupo de pressão junto dos dirigentes republicanos, por pertencerem à mesma geração e frequentarem meios e terem objectivos comuns.

A força da sua capacidade reivindicativa e mobilizadora foi potenciada pelo 5 de Outubro de 1910 e o sufrágio feminino restrito, ao ter adeptos importantes na nova governação, chega a ser encarado como uma possibilidade real, disso dando conta a jornalista e feminista francesa Madeleine Pelletier que se deslocara a Portugal para se inteirar do que se passava.   

O seu voto só foi possível na sequência de uma revolução e quando o país ainda estava sob o efeito das suas consequências mais imediatas. Não por acaso, aconteceu sob a governação do Governo Provisório saído do 5 de Outubro e a sua aspiração seria definitivamente afastada com o triunfo do republicanismo mais conservador, patente nos governos subsequentes. 

Ao votar, Carolina ganhou notoriedade em Portugal, reforçou a mobilização em torno da reivindicação do sufrágio feminino e contribuiu, de forma decisiva, para a internacionalização do feminismo português.

Considerar o sucedido a 28 de Maio de 1911 um acaso é desvalorizar a intensa e persistente campanha que mobilizou, entre 1906 e 1911, cerca de dois milhares de mulheres em torno do reconhecimento de alguns dos seus direitos.

[João Esteves]

sábado, 17 de abril de 2021

[2572.] CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO || CARTÃO PARA TEÓFILO BRAGA (1911)

 * CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO *

Cartão pessoal de Carolina Beatriz Ângelo, Presidente da Associação de Propaganda Feminista, para Teófilo Braga, desejando as suas melhoras || 1911

[Museu da Presidência da República || PT/MPR/ATB/CX120/023]

terça-feira, 9 de março de 2021

[2520.] MENSAGEM DAS FEMINISTAS REPUBLICANAS A ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA || 22/01/1909

 * MENSAGEM DAS FEMINISTAS REPUBLICANAS A ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA || 22/01/1909 *

[Museu da Presidência da República || 22/01/1909]

Datado de 22 de Janeiro de 1909 e assinada por Adelaide Cabete, Ana de Castro Osório, Carolina Beatriz Ângelo, Maria Clara Correia Alves e Maria Veleda, o Museu da Presidência da República publicou ontem, Dia Internacional da Mulher, um texto dirigido a António José de Almeida enquanto republicano.

Esta mensagem resultou de um plebiscito promovido em Julho de 1908 pela secção “A Tribuna Feminina”, do jornal A República, onde colaboravam Adelaide Cabete, Ana de Castro Osório, Maria Clara Correia Alves e Maria Veleda

[A República || 08/07/1909]

Tinha a finalidade de auscultar a opinião feminina, ao «apurar qual dos republicanos – deputados ou não deputados, chefes ou não chefes, tem maior número de votos de confiança e simpatia entre nós», devendo as respostas/votos, «indicando o nome do político preferido pelas suas qualidades de carácter, dotes oratórios e orientação filosófica», ser enviadas para Adelaide Cabete, Ana de Castro Osório, Maria Clara Correia Alves ou Maria Veleda

Para surpresa das promotoras, a iniciativa redundou num êxito, recebendo-se cartas de todo o país: votaram 834 mulheres e a escolha recaiu sobre António José de Almeida (252 votos), seguido de Afonso Costa (192 votos) e Fernão Botto Machado (124 votos), o que deixou desgostosa Maria Veleda, que «outro nome desejaríamos ver triunfante, porque António José d'Almeida não se interessou ainda bastante pelo ideal feminista, a ponto de granjear por esse motivo o aplauso da mulher portuguesa, havendo outros que têm trabalhado com verdadeiro entusiasmo em prol da nossa libertação», como Botto Machado

O número de votantes prenunciava o grau de consciencialização política das mulheres letradas e não pode ser dissociado da adesão que a Liga Republicana das Mulheres Portugueses registou ao constituir-se em Agosto de 1908. 

O resultado foi apurado numa reunião realizada no consultório de Adelaide Cabete em 9 de Outubro de 1908, tendo-se decidido redigir uma mensagem a António José de Almeida e ir entregá-la pessoalmente. 

[A República || 10/10/1908]

É esta mensagem, assinada pelas cinco principais líderes do feminismo português ainda antes da implantação da República,  que o Museu da Presidência da República publicitou e que aqui se reproduz com a devida vénia.

[João Esteves]