[Cipriano Dourado]

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[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]
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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

[2513.] A VISITA A COIMBRA DOS CANDIDATOS ÀS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 1958 || TEXTO DE PAULO MARQUES DA SILVA [III]

 * A VISITA A COIMBRA DOS CANDIDATOS PRESIDENCIAIS DE 1958 *

Texto || Paulo Marques da Silva

«A visita a Coimbra dos candidatos às eleições presidenciais de 1958

     As eleições presidenciais de 8 de Junho de 1958 geraram um grande entusiasmo em torno da campanha do general Humberto Delgado. Após a desistência de Arlindo Vicente a favor de Delgado, em 30 de Maio de 1958, conhecido como o “Pacto de Cacilhas”, e lançado o mote da campanha na conferência de imprensa no café Chave D`Ouro, em Lisboa, no dia 10 de Maio, com a frase “Obviamente demito-o”, referindo-se a Salazar, seguiu-se uma vasta movimentação popular, criando-se uma forte dinâmica de unidade na oposição, como se viu na grande manifestação ocorrida na deslocação do general à cidade do Porto, quatro dias após aquela frase mítica. Começaram, então, as intimidações e a repressão do regime, visível nos casos da proibição da deslocação a Braga do general Humberto Delgado ou nos incidentes na estação de Santa Apolónia, em Lisboa, a 16 de Maio, na chegada do candidato à capital, com a polícia a carregar sobre a população que ali se juntara.

    O entusiasmo existente em torno da candidatura de Humberto Delgado era evidente no país, e o povo ganhou alento e esperança para vir para a rua receber o general, por onde este passava durante a campanha.

   Vejamos um relato das passagens por Coimbra dos dois candidatos, Humberto Delgado e Arlindo Vicente, antes da desistência deste último. Mas não é a descrição da imprensa, do historiador, ou do cidadão comum que testemunhou os factos. É a visão do informador Inácio, muito provavelmente, o maior informador de Coimbra. É através dos seus relatórios sobre estas passagens por Coimbra e dos pormenores recolhidos nas suas informações, que vamos deixar o leitor tentar perceber as diferenças existentes na recepção aos candidatos presidenciais.
 


Informação de Inácio de 28-5-1958
 
Dr. ARLINDO VICENTE
 
     A sua chegada a esta cidade não teve coisa alguma de especial.
   Na estação velha era aguardado por 4 membros da sua Comissão chefiados pelo Dr. ALBERTO VILAÇA, três jornalistas, e um simples estudante, rapaz ainda novo. Havia mais alguns indivíduos mas como simples espectadores.
     No muro que veda a estrada em frente da estação, estavam cerca de 50 operários, por ser a hora de saída do seu emprego, o Dr. ARLINDO VICENTE fez-lhes saudação com as mãos, mas não obteve qualquer resposta.
     A sessão realizada no Teatro Avenida teve realmente muita assistência, notando-se que a sua maioria era constituída por caixeiros, operários e empregados – muita gente – (digo), ralé.
     Na estrada de Eiras, Casal do Ferrão e Relvinha, viu-se muita gente, mas da pior condição.
     O automóvel Volkswagen MI-17-49 guiado por pessoa desconhecida em Coimbra, veio duas vezes ao Teatro Avenida trazer indivíduos, tipo trabalhadores ou operários. Esta gente era de fora.
     A mesa da sessão era assim constituída:
 
     Eng.º MEM VERDIAL
     HENRIQUE BARRETO
     JOÃO PIMENTEL DAS NEVES
     EVA AMADO
     MANUEL FIUZA PIMENTEL
     MANUEL RAMALHO GANTES
    Dr. ALFREDO GOMES, da Comissão do General Humberto Delgado que representou a Comissão de Coimbra.
 
     ORADORES
 
     Dr. ALBERTO VILAÇA
     MANUEL LOUZÃ HENRIQUES
     AUGUSTO CÉSAR ANJO
     MÁRIO SILAS CERQUEIRA
     MÁRIO SACRAMENTO
     Eng.º MEM VERDIAL
     Fechou a série de discursos o candidato ARLINDO.
 
    Todos os discursos foram muito inflamados, destacando-se os dos seguintes oradores:
 
     Eng.º MEM VERDIAL
     Dr. AUGUSTO CÉSAR
     Dr. ALBERTO VILAÇA
     MANUEL LOUZÃ HENRIQUES
 
     Estava prevista a vinda de MARIA ISABEL ABOIM INGLÊS para discursar, mas não apareceu.
     Houve certa decepção por esta ausência.
   No palco encontravam-se vários indivíduos, para além da mesa constituída.
     A Dr.ª MADALENA ALMEIDA parecia chefiar um grupo desta gente.
    O candidato retirou hoje para Lisboa no comboio foguete da manhã, nada tendo havido de especial.
  Era apenas acompanhado pelo Dr. ALBERTO VILAÇA, que também seguiu viagem no mesmo comboio para a capital onde vai discursar.

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Informação de Inácio de 1-6-1958

 
GENERAL HUMBERTO DELGADO EM COIMBRA
 
     Para o Hotel Astória onde se foi hospedar entraram para receber o General, não só a Comissão de Coimbra (já conhecida) como também as seguintes personagens:
 
a) Da Comissão do ARLINDO: - Dr.ª MADALENA ALMEIDA, EVA AMADO, MANUEL LOUZÃ HENRIQUES.
b) Dr. MÁRIO SILVA E FERREIRA DA COSTA.
c) Dr. ANTÓNIO CONTENTE RIBEIRO e RAÚL MADEIRA, ambos de Soure.
d) Drs. ADELINO MESQUITA, ALBANO DUQUE, Dr. JOÃO BOGALHO, Dr. CUSTÓDIO OLIVEIRA, da Figueira da Foz.
     No átrio do Hotel estava bastante gente.
 
     No Teatro Avenida era enorme a multidão. A sua lotação estava excedida vendo-se muitas capas negras. No palco muita gente também e diversas comissões de fora de Coimbra.
     O serviço no palco era dirigido pelos Drs. JOSÉ FERREIRA e FERNANDO LOPES.
     A mesa da presidência tinha a seguinte constituição:
 
     Major DAVID NETO
     Dr. VASCO DA GAMA FERNANDES
     Dr. MANUEL MONTEZUMA DE CARVALHO
     MÁRIO QUEIROZ MARQUES – estudante
     MÁRIO SILVA – estudante.
 
     ORADORES
 
     Dr. FERNANDO LOPES
     DAVID NETO
     VASCO DA GAMA FERNANDES
     JOSÉ RIBEIRO
     Dr. JAIME CORTESÃO
     Dr. ROLÃO PRETO
     Dr. VIEIRA DE ALMEIDA – monárquico
 
     Os Drs. JAIME CORTESÃO, FERNANDO LOPES, VASCO DA GAMA FERNANDES, ROLÃO PRETO e JOSÉ RIBEIRO foram os que fizeram os seus discursos de bastante violência contra o E.N. tendo arrancado à assistência muitos aplausos.
    Na assistência à Portagem era notória uma grande mole de gente do povo-operários-trabalhadores e mulheres das fábricas. Muitos estavam por espirito de curiosidade e nem sequer podem votar por não estarem inscritos. Havia bastante ralé e muitos rapazes novos.
   Devo frisar que todo o comércio da baixa que costumam fechar uns minutos depois das 19 horas o fez precisamente a essa hora e outros até um pouco antes para o pessoal poder assistir à chegada do General.
     A imprensa de Coimbra compareceu no seu total à sessão do Avenida. O Diário de Coimbra mandou dois redactores além do chefe da redacção, o célebre JOSÉ CASTILHO.»

[Paulo Marques da Silva]

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

[2255.] PAULA GODINHO [I] || MEMÓRIAS DA RESISTÊNCIA RURAL NO SUL - COUÇO (1958-1962)

* PAULA GODINHO *

MEMÓRIAS DA RESISTÊNCIA RURAL NO SUL - COUÇO (1958 - 1962)

Celta Editora || 2001



[Paula Godinho || Memórias da Resistência Rural no Sul - Couço (1958 - 1962) || Celta Editora || 2001]

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

[1869.] JOÃO ALVES FALCATO [I]

* JOÃO ALVES FALCATO || A CANDIDATURA DE ARLINDO VICENTE NAS «ELEIÇÕES» DE 1958 *

|| Edições Avante! | 2018 ||

Testemunho do médico comunista João Alves Teixeira Falcato (1931 - 2011) que, em 1958, "foi a «alma» dos serviços de candidatura" de Arlindo Vicente, "acompanhou toda a campanha" e os esforços de "união das candidaturas de Arlindo Vicente e Humberto Delgado" [Armando Myre Dores].

Contém informações e documentos inéditos e relevantes.




[João Alves Falcato || Edições Avante! || 2018]

terça-feira, 2 de setembro de 2014

[0723.] ALBERTO VILAÇA [II] || TEMPOS DE MUNDA E DE MONDEGO

* ALBERTO DE OLIVEIRA VILAÇA * 
[1929-2007]

TEMPOS DE MUNDA E DE MONDEGO

[in Alberto Vilaça, Tempos de Munda e de Mondego, Calendário de Letras, 2007, VIII]
Para a História de Coimbra, do Antifascismo e da Democracia 




Entre muitas outras referências a reter, é de referir a importância de Eva Amado nos movimentos de oposição em Coimbra, tendo pertencido ao núcleo local da Associação Feminina Portuguesa para a Paz e apoiado a candidatura de Arlindo Vicente na campanha presidencial de 1958.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

[0483.] CESINA BERMUDES [I] || 1908 - 2001

* CESINA BORGES ADÃES BERMUDES *
[20/05/1908-09/12/2001]


Médica. 

Filha de Félix Redondo Adães Bermudes [1874-1960], escritor e dramaturgo, e de Cândida Bermudes.

Terá feito a instrução primária em casa, estudou no Liceu Camões, concluiu o 7.º ano em 1926 e licenciou-se na Faculdade de Medicina de Lisboa em 1933. 

Concluiu o curso com 24 anos e fez, de seguida, “o internato geral, o internato de cirurgia e, em 1936-37, a especialidade de obstetrícia” [Vanda Gorjão, p. 103]. 

Foi Assistente de Anatomia do Professor Henrique de Vilhena [1879 - 1958] na Faculdade de Medicina de Lisboa e, em 1947, concluiu o doutoramento com 19 valores, sendo a primeira mulher a fazê-lo. 

No entanto, não pôde tomar posse por ser desafecta ao regime, tendo desenvolvido, na década de 40, intensa actividade política de oposição ao salazarismo. 

Assinou, em 1945, as listas do MUD, subscrevendo a constituição no seu seio de uma Comissão de Mulheres. 

Envolveu-se, em 1948-1949, na campanha presidencial do General Norton de Matos, sendo uma das dirigentes da respectiva Comissão Eleitoral Feminina em Lisboa. Discursou, em seu nome, em vários comícios. 

Juntamente com Ermelinda Cortesão e Luísa de Almeida, marcou presença na Assembleia de Delegados de 7 de Fevereiro, realizada no Centro Republicano António José de Almeida, em que se decidiu pela não ida às urnas daquele. 

Presa em 14 de Outubro de 1949, por integrar a Comissão Central do Movimento Nacional Democrático Feminino, recolheu ao Forte de Caxias, de onde foi libertada três meses depois, a 14 de Janeiro de 1950, depois de submetida a três interrogatórios. 

Em 1950, esteve envolvida na constituição do Comité Nacional de Defesa da Paz, juntamente com Maria Isabel Aboim Inglês, Maria Lamas e Virgínia Moura.

Aquando da trasladação dos restos mortais do antigo Presidente da República Manuel Teixeira-Gomes, em Outubro de 1950, marcou presença no cortejo fúnebre rumo ao cemitério de Portimão com centenas de outros oposicionistas. 

Assinou, com Virgínia Moura, o documento comemorativo do 10.º aniversário do MUD (1955) e, em 1957, integrou, com as escritoras Maria Lígia Valente da Fonseca Severino e Natália Correia, a Comissão Cívica Eleitoral de Lisboa para que a oposição pudesse intervir legalmente nas eleições que se avizinhavam. 

Apoiou a candidatura de Arlindo Vicente e, depois, a do General Humberto Delgado, diluindo-se, posteriormente, a sua visibilidade política. 

Manteve-se, no entanto, sempre solidária na assistência médica a muitas clandestinas do Partido Comunista Português, nomeadamente na ajuda a parturientes vivendo na ilegalidade. 

Foi campeã de natação, participou em corridas de bicicletas e de automóveis e foi uma das introdutoras das técnicas do parto psicoprofilático (parto sem dor) em Portugal depois de ter estado em Paris, em 1954, num curso sobre aquele e onde encontrou os médicos Joaquim Seabra-Dinis [1914 - 1996[, Pedro Monjardino [1910 - 1969] e João dos Santos [1913 - 1987[. 

Seguindo as pisadas do pai, pertenceu, desde 1927, à Sociedade Teosófica, onde desempenhou as funções de secretária-geral, acreditava na reencarnação e optou pela alimentação vegetariana. 

Concedeu, a 7 de Fevereiro de 2000, uma entrevista a Ilda Soares de Abreu e Maria Teresa Santos, publicada na revista Faces de Eva. 

Faleceu em 9 de Dezembro de 2001, com 93 anos. 

[João Esteves]