[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]
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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

[2722.] JAIME SERRA || 1921 - 2022

* JAIME DOS SANTOS SERRA *

[21/01/1921 - 09/02/2022]

[Jaime Serra || F. 29/03/1949 || ANTT || RGP/19050 || PT-TT-PIDE-E-010-94-19050_P2]

Filho de pais de origem camponesa idos do Pezinho, Concelho do Fundão, para Lisboa, Jaime dos Santos Serra nasceu em 22 de Janeiro de 1921, num quarto em Alcântara, onde a família passou a viver. 

O pai, Jaime Eleutério Serra, trabalhador rural, empregou-se na capital como descarregador de mar e terra e militou no movimento sindical, tendo em casa literatura anarquista e a coleção do jornal A Batalha. Poucos anos depois, mudou-se de Alcântara para o Caramão da Ajuda, junto ao Cemitério, onde comprou um terreno e construiu uma "barraquinha de madeira", posteriormente revestida, por fora, a tijolo, dedicando-se, então, ao negócio ambulante de roupas. 

No final da década de 1920, na sequência de um acidente com a carroça e subsequente operação, faleceu, deixando viúva Ana dos Santos, de 39 anos, com cinco filhos pequenos a cargo, a mais nova com menos de dois anos.

Jaime Serra, com nove anos, continuou na escola de forma a concluir a instrução primária e, nas horas vagas, ajudava, tal como os irmãos, a mãe nas vendas. Concluída aquela, foi trabalhar no Barreiro, na construção das novas oficinas da C.P., onde assistiu, em 1933, a uma greve contra a prisão pela PVDE de um sindicalista e à tentativa da greve de 18 de Janeiro de 1934. 

Aos 14 anos, por questões económicas, começou a trabalhar como servente na construção civil e, em 1935/1936, mudou-se do Barreiro para a Cruz Quebrada, devido às obras na fábrica de fermentos holandeses.

No trajeto diário entre o Caramão da Ajuda e a Cruz Quebrada assistiu, em 8 de Setembro de 1936, à revolta dos marinheiros e ao seu trágico desfecho mediante o bombardeamento dos navios a partir do Forte do Alto do Duque. Terminada a obra, passou pelo desemprego, aproveitando para frequentar diariamente a Biblioteca de Alcântara.

Passou a colaborar com o Socorro Vermelho Internacional e a militar na Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas, sendo Alfredo Dinis o controleiro da zona Ajuda/Alcântara. Teria 15 anos e foi através deste que foi para a Construtora Moderna, em Pedrouços, com cerca de 2000 operários, e se matriculou na Escola Industrial Marquês de Pombal, vindo a trabalhar como traçador de construção civil e, depois, naval.

Preso, pela primeira vez, em Janeiro de 1937, quando ainda tinha 15 anos, na sequência da distribuição do Avante! num sábado à noite. Apanhado numa rusga da PSP, seguiu para a Esquadra da Ajuda e, depois, para o Governo Civil, onde permaneceu cerca de um mês e seria espancado, o que o marcou quanto ao futuro político e prisional.

Entre 1940 e 1947, trabalhou como traçador naval no Arsenal do Alfeite, beneficiando das aprendizagens na Escola Marquês de Pombal e da experiência na traçagem de construções metálicas, nomeadamente dos pavilhões para a Exposição do Mundo Português. No novo emprego, estreitou-se o contacto com o Partido Comunista, envolveu-se na constituição de uma Comissão de Trabalhadores, responsável pela elaboração de um Caderno Reivindicativo, e controlou a Célula local quando tinha 19 anos. Continuava, entretanto, a frequentar a Escola Industrial Marquês de Pombal, mesmo quando esteve dois anos na tropa, na Artilharia1, em Campolide.

Integrou, em 1947, o Comité Local de Lisboa do Partido Comunista, juntamente com António Dias Lourenço, o controleiro, Américo de Sousa e José Maria do Rosário, e esteve envolvido na greve das construções navais de Lisboa e Margem Sul de Abril desse ano, tendo de passar à clandestinidade. Era já casado, tinha uma filha e montou uma casa clandestina no Alto de S. João, na Rua Dom Fuas Roupinho.

Manteve intensa atividade relacionada com a campanha presidencial de Norton de Matos e em 27 de Março de 1949, aos 28 anos de idade e com duas filhas, foi preso na rua e a casa assaltada pela PIDE. O pseudónimo era, na altura, José da Silva, mantendo, assim, as iniciais do nome verdadeiro. A companheira também foi presa e libertada devido a ter as crianças com ela, indo para casa de família.

Passou pela tortura da estátua e do sono durante oito dias, seguida de seis meses incomunicável no Aljube, numa cela de 2 metros por 1 metro e meio, com um bailique que se levantava durante o dia, sem nunca prestar quaisquer declarações.

Do Aljube seguiu para Peniche, onde participou nas lutas greves de fome e recusas por melhores condições de alimentação e de dormida. Daí, fugiu em 3 de Novembro de 1950, juntamente com Francisco Miguel: através de uma janela gradeada, serrada um pouco todos os dias, subiram para o terraço da fortaleza e, com uma corda, desceram pelo lado do mar. 

Enquanto o camarada de fuga foi apanhado, por se terem cruzado com um guarda da Fortaleza que os reconheceu, Jaime Serra conseguiu chegar a Mafra ao fim de três dias a caminhar a pé, sempre de noite, escondendo-se de dia no mato.

Retomou os contactos partidários que tão bem conhecia, pois controlava a Organização de Lisboa, e voltou à luta. Teve mais dois filhos, sendo que a mais velha e o mais novo acabaram por ir para a União Soviética, para a Escola Internacional de Ivanovo. Laura, a companheira, não mais foi presa e manteve-se na clandestinidade até ao 25 de Abril de 1974.

Em 1951-1952, esteve no sector das Beiras, responsável por 5 distritos, que percorria de quinze em quinze dias numa bicicleta motorizada: Coimbra, Aveiro, Viseu, Guarda e Castelo Branco. Em 1952, foi eleito para o Comité Central e, em 27 de Fevereiro de 1954, foi preso pela terceira vez.

Tentou fugir do Aljube em 1955, mas a fuga só se concretizaria em Caxias, em 3 de Março de 1956. Contou, sempre, com apoio familiar, tendo a PIDE, como represália, prendido os irmãos durante três meses: "a minha irmã esteve sempre com as janelas pregadas em Caxias". 

Voltou a controlar Lisboa, integrou o Secretariado e esteve na Comissão Organizadora do Congresso de 1957, onde apresentou um relatório sobre a política anticolonial, proclamando o direito à autodeterminação e independência das colónias, bem como ajuda à formação de movimentos de libertação.

Preso em 8 de Dezembro de 1958, pela quarta e última vez, no Porto, aonde se dirigiu devido a detenções, quando já integrava o Secretariado do Comité Central. Transferido no dia seguinte, para Lisboa, voltou a fugir de Peniche em 3 de Janeiro de 1960, com Álvaro Cunhal e outros dirigentes.

Mais uma vez, voltou à luta antifascista, nunca vivendo fora do país, a não ser quando cumpria missões partidárias, como no caso da fuga de Agostinho Neto por via marítima.

Integrou, entre 1962 e 1970, a Comissão Executiva do Comité Central, desempenhando tarefas fundamentais, como o controlo do aparelho de tipografias, controlo do aparelho de Fronteiras e da redação do Avante!, para além das ligações com o exterior e com as cadeias, enviando e recolhendo informações.

Entre 1970 e 1974, tornou-se  o responsável pela constituição e intervenção da ARA - Ação Revolucionária Armada, considerada uma organização autónoma que integrava comunistas e simpatizantes.

No 25 de Abril de 1974, habitava uma casa clandestina nos arredores de Lisboa e, com Álvaro Cunhal e Octávio Pato, constituiu a delegação que se reuniu com o general Spínola na Cova da Moura em nome do Partido Comunista Português.

Sempre discreto, manteve-se como dirigente e militante do Partido Comunista. Nos últimos 20 anos, escreveu vários testemunhos sobre as suas vivências políticas, individuais e coletivas, falecendo com 101 anos de idade, em 9 de Fevereiro de 2022. 

[Dados recolhidos da entrevista de Miguel Medina a Jaime Serra, Esboços - Antifascistas relatam as suas experiências nas prisões do fascismo, vol. 2, CML, 2001]

[João Esteves]

domingo, 3 de janeiro de 2021

[2455.] A FUGA DE PENICHE || 3 DE JANEIRO DE 1960

 * 3 DE JANEIRO DE 1960 *

A FUGA DO FORTE DE PENICHE DE 10 DIRIGENTES DO PARTIDO COMUNISTA

[Gravura de Margarida Tengarrinha]

Em 3 de Janeiro de 1960, fugiram do Forte de Peniche dez dirigentes do Partido Comunista: 

1. Álvaro Cunhal [Fotografia de 25/03/1949]

2. Carlos Costa [F. 17/06/1953]

3. Francisco Martins Rodrigues [F. 31/01/1966]

4. Francisco Miguel [F. 09/07/1947]

5. Guilherme da Costa Carvalho [F. 15/11/1960] 

6. Jaime Serra [F. 03/01/1955]

7. Joaquim Gomes [F. 20/01/1959]

8. José Carlos [F. 25/03/1972]

9. Pedro Soares [F. 24/01/1959]

10. Rogério de Carvalho [F. 21/01/1966]

1.2.

3.4.

5.6.

7.8.

9.10.

A fuga contou com a ajuda/colaboração do guarda prisional José Jorge Alves.

Coube a José Dias Coelho e a Margarida Tengarrinha "documentar" com Bilhetes de Identidade todos os fugitivos, o que foi concretizado na "Oficina de Falsificações", então situada em Linda-a-Velha.

Neste processo, José Dias Coelho deslocou-se às diferentes casas onde estavam alojados os fugitivos para os fotografar.

[João Esteves]

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

[2240.] A FUGA DE PENICHE || 3 DE JANEIRO DE 1960

* A FUGA DE PENICHE || 1960 *

Em 3 de Janeiro de 1960, fugiram do Forte de Peniche dez dirigentes do Partido Comunista: Álvaro Cunhal, Carlos Costa, Francisco Martins Rodrigues, Francisco Miguel, Guilherme da Costa Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares e Rogério de Carvalho.

No dia 7, o Diário de Lisboa inseria, na primeira página, uma pequena notícia relativa à fuga desses presos: 


[Diário de Lisboa || 7 de Janeiro de 1960]

[João Esteves]

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

[2005.] A FUGA DE PENICHE || 3 DE JANEIRO DE 1960

* 3 DE JANEIRO DE 1960 *

A FUGA DO FORTE DE PENICHE DE 10 DIRIGENTES DO PARTIDO COMUNISTA:

Álvaro Cunhal || Carlos Costa || Francisco Martins Rodrigues || Francisco Miguel || Guilherme da Costa Carvalho || Jaime Serra || Joaquim Gomes || José Carlos || Pedro Soares || Rogério de Carvalho

[Gravura de Margarida Tengarrinha]

A fuga contou com a ajuda/colaboração do guarda prisional José Jorge Alves.

Gravura de Margarida Tengarrinha, baseada num esboço de Álvaro Cunhal.

Coube a José Dias Coelho e a Margarida Tengarrinha "documentar" com Bilhetes de Identidade todos os fugitivos, o que foi concretizado na "Oficina de Falsificações", então situada em Linda-a-Velha.

Neste processo, José Dias Coelho deslocou-se às diferentes casas onde estavam alojados os fugitivos para os fotografar.