* EMÍLIA SANTOS SILVA [VERDIAL] *
REPUBLICANA, FEMINISTA E ANTIFASCISTA || PORTO
[Emília Santos Silva || A Pátria || 14/02/1911 || in Fina d'Armada, As mulheres na implantação da República || 2010]
Professora primária, republicana e democrata portuense.
Filha de Ana Teixeira [f. 01/06/1894] e de Dionísio Ferreira dos Santos Silva [1853-1920], comerciante de chapelaria, proprietário de jornais e um dos envolvidos na revolução republicana de 31 de Janeiro de 1891, tendo sido detido no Aljube do Porto e enviado para bordo do paquete Moçambique, onde seria julgado em Conselho de Guerra e absolvido.
Irmã do médico republicano Eduardo Ferreira dos Santos Silva [18/03/1879 - 14/09/1960] e de mais três professoras [Elvira, Etelvina e Evangelina], sendo que todos os nomes começavam pela letra E.
Emília Santos Silva casou com o oposicionista ao Estado Novo Mem Tinoco Verdial [n. 03/12/1887], engenheiro industrial e professor nos Institutos Industriais de Lisboa e Porto e Instituto Comercial do Porto, deputado pelo Partido Democrático entre 1919 e 1921 e, posteriormente, activista do Movimento de Unidade Democrática (MUD). Também o sogro de Emília Santos Silva, o ator Miguel Henriques Verdial [1849-1922, bisavô de Sérgio Godinho], era outro dos revolucionários do 31 de Janeiro, tendo sido degredado para África.
Oriunda de uma família portuense conhecida pelo republicanismo e combate antisalazarista, a sua intervenção cívica prolongou-se por décadas.
Enquanto professora no Clube Republicano Rodrigues de Freitas, no Porto, foi, durante a Monarquia, a primeira oradora republicana daquela cidade [Fina d’Armada].
Em carta enviada ao irmão, datada de 3 de Janeiro de 1910, propõe-se discutir, «ou antes debiquemos um pouco sobre feminismo», assumindo-se como intransigente defensora dos direitos das mulheres em igualdade com os dos homens, pois não reconhecia às mulheres direitos diferentes dos daqueles. Nessa significativa missiva, rebate ponto por ponto a opinião de Eduardo Santos Silva de que «a mulher deve pugnar pelos seus direitos e não pelos mesmos direitos do homem, porquanto ela não é igual a ele», concluindo que a «Humanidade tanto se compõe de homens como de mulheres e não pode haver duas liberdades diferentes e antagónicas, uma para cada sexo. E é por isso, caro Eduardo, que eu queria - e por que não? - ver a mulher associada a todos os ramos da atividade humana.» [in Gaspar Martins Pereira, Eduardo Santos Silva. Cidadão do Porto (1879-1960), Campo das Letras, 2002].
Em Fevereiro de 1911, foi nomeada professora da Escola Normal do Porto.
Pertenceu, tal como a cunhada, a actiz Alda Henriques Verdial [Godinho] [15/05/1889 - 26/01/1964], avó de Sérgio Godinho, e outros familiares ao Núcleo Feminino de Assistência Infantil, criado em 30 de Agosto de 1916 no âmbito da Junta Patriótica do Norte, e foi subscritora permanente da Casa dos Filhos dos Soldados, destinada a acolher e educar os órfãos de guerra.
Em Fevereiro de 1911, foi nomeada professora da Escola Normal do Porto.
[Diário do Governo || 44 || 23 de Fevereiro de 1911]
Pertenceu, tal como a cunhada, a actiz Alda Henriques Verdial [Godinho] [15/05/1889 - 26/01/1964], avó de Sérgio Godinho, e outros familiares ao Núcleo Feminino de Assistência Infantil, criado em 30 de Agosto de 1916 no âmbito da Junta Patriótica do Norte, e foi subscritora permanente da Casa dos Filhos dos Soldados, destinada a acolher e educar os órfãos de guerra.
Mãe de seis filhos, um dos quais Rolando dos Santos Silva Henrique Verdial [n. 22/05/1924] com responsabilidades clandestinas no Partido Comunista Português.
Emília Santos Silva Verdial foi vítima das perseguições à família durante a ditadura do Estado Novo e faleceu em 7 de Outubro de 1960, no regresso de uma visita ao filho, então preso em Caxias.
Segundo o jornal Avante!, de Novembro de 1960, o seu desaparecimento foi acelerado pela forma desumana e humilhante como a PIDE a tratou, não atendendo sequer à sua idade avançada: começou por impedir a visita do dia 6 de Outubro pelo facto de Emília e Mem Verdial, vindos do Porto, terem chegado minutos depois da hora regulamentar; no dia seguinte concederam-na, mas não foi permitida aos pais que se aproximassem do preso, o beijassem e abraçassem; e o desenlace fatal deu-se no regresso a casa, chegando já sem vida à sua residência.
O sucedido serviu para o Avante! alertar para a forma como o regime ditatorial tratava os familiares e presos desde sempre, assinalando que «milhares de pessoas, numa significativa manifestação de dor e de repulsa, incorporaram-se no funeral de D. Emília Verdial, uma Mãe portuguesa como tantas e tantas outras, vítimas do ódio do ditador fascista ao longo destes 34 anos» [“D. Emília Verdial morta em consequência das perseguições às famílias dos presos”, Avante!, n.º 295, Novembro de 1960].
Emília Dionísia Ferreira dos Santos Silva faleceu menos de dois meses depois do desaparecimento do irmão Eduardo, falecido a 14 de Setembro de 1960.
Em 1962, aquando da evocação em ditadura do dia 8 de Março no Porto, entre as iniciativas constava o apelo «para que se cobrissem de flores as campas de Herculana de Carvalho [1900-1952] e Emília Verdial, mães dos dirigentes comunistas Guilherme da Costa Carvalho e Henrique Nuno Verdial» [Manuel Tavares, Feminismos. Percursos e Desafios (1947-2007), Texto Editores, 2010, p. 136].
Apesar da intervenção pública de Emília Santos Silva e, provavelmente de uma ou outra irmã, a atenção tem recaído unicamente sobre o progenitor e descendentes masculinos.
NOTA: No seu livro Republicanas quase desconhecidas [Temas e Debates, 2011], Fina d'Armada insere uma fotografia do casal Alda Verdial/Francisco Magalhães Godinho, cunhados de Emília Santos Silva Verdial [p. 97].
Emília Dionísia Ferreira dos Santos Silva faleceu menos de dois meses depois do desaparecimento do irmão Eduardo, falecido a 14 de Setembro de 1960.
Em 1962, aquando da evocação em ditadura do dia 8 de Março no Porto, entre as iniciativas constava o apelo «para que se cobrissem de flores as campas de Herculana de Carvalho [1900-1952] e Emília Verdial, mães dos dirigentes comunistas Guilherme da Costa Carvalho e Henrique Nuno Verdial» [Manuel Tavares, Feminismos. Percursos e Desafios (1947-2007), Texto Editores, 2010, p. 136].
Apesar da intervenção pública de Emília Santos Silva e, provavelmente de uma ou outra irmã, a atenção tem recaído unicamente sobre o progenitor e descendentes masculinos.
NOTA: No seu livro Republicanas quase desconhecidas [Temas e Debates, 2011], Fina d'Armada insere uma fotografia do casal Alda Verdial/Francisco Magalhães Godinho, cunhados de Emília Santos Silva Verdial [p. 97].
[João Esteves]
[actualizado em 16 de Abril de 2017]
[actualizado em 16 de Abril de 2017]