Guardo em gavetas antigas amores sonhados, platônicos, iludidos, desejados, vividos. Dentro delas, com perfume de alfazema a infância, as brincadeiras, as árvores antigas, onde a menina se atrevia a escalar, sempre mais alto, e o pai pelo senso comum, de certo machista, dizia que menina não subia em árvore, mas ela atrevida, num instante, ia do chão ao mais alto galho, para sentir o calor do sol no rosto, o vento levar os cabelos, como se levasse as flores desabrochadas.
Bem guardadas em gavetas envernizadas pelo tempo, guardo nomes sagrados: meu avô contador de histórias, minha avó passarinho, vizinhos amados que já se foram, primos, amigos, todos que se encantaram no céu, e bem acomodados, os nomes que fazem minha alma, anunciam, contam quem sou.
Guardo em gavetas forradas de cetim, os sonhos, as manhãs dos livros lidos e das histórias ouvidas e contadas, vividas.
Guardo neste armário, de gavetas imagináveis, os nomes, os cheiros, gostos, cores amareladas, jardins.
Guardo em gavetas, um fichário incontável da minha história, minhas memórias, toda a saudade, toda vida, a poesia que habita em mim.
Paula Belmino