Ando por essas ruas ladeadas de poesia, a contemplar árvores que principiam a paz, flores, pássaros, cada ser nativo, cada floreio enlaçando amigos que pelas calçadas vão, os mais ternos dos casais.
Em olhar o céu aqui cinza, já não quero, prefiro a imensidão azulada abraçando as pipas nas mãos dos meninos que voam comigo, assim adentrando a fantasia de voar sem asas por lugares ancestrais como os de dentro de mim, bem ali em ruas que se enviesam em pequenas vielas e jardins, sonhos de criança a brincar e a sorrir, vou ali perdida entre lembranças e anseios de um tempo de paz.
Aqui, nos dias cinzas dessa selva de pedra, a chuva é minha alma a chorar, pelo que se foi, pelo que deixei para trás, mas, não por remorso, ou arrependimento, só pelo fato da nostalgia que enche o peito pela vida que se viveu, o caminho que se trilhou, o saber de tanta luta e fortuna que se conquistou até aqui, nostalgia que se instaura em mim. A chuva também é choro dos desamparados, os que não sabem para onde ir nesses caminhos e ruas sem saída, vagueiam sem saber onde ir, ou onde pousar.
E a vida segue, o futuro breve a romper com o passado que nunca ido, mora dentro de nós, não importa o quanto se olhe para a frente de cabeça erguida. São nessas ruas cheias de pichações que leio arte e rebelião de seres indomados que clamam sorte e dias melhores. Como todos nós um clamor em alta voz.
Ando pelas ruas a observar tudo, ruínas, monturos e de lá o que parece perdido, pessoas que não prestam mais, quem os amaria assim seres que são esquecidos, entregues à própria sorte, sem valor, sem vida, impelidos de sorrir e de viver, já vegetam a dor que neles morre a cada dia, todo dia sem encontrar o bemfazer.
E a tristeza em mim grita como esse céu cinza, corroendo a ferida aberta, e chora com a chuva, dia a dia, mesmo que o sol volte outra vez no céu azul a cantar poesia, eu cinza aqui morreria toda vez
quando ao passar nas ruas e esquinas, nas vielas, visse meninos e meninas sem esperança a ansiar quem os oferte a mão , educação, sonho e pão, aqui nessas ruas imensas da terra da garoa que chora sempre pelos que já não são. Quem os amaria? Que alma boa existiria pra ver além das flores e arranha-céus , os seres indefesos e pequeninos feito insetos que só querem uma flor pra germinar?
Enfim em meio aos dias cinzas, vou fantasiando e como se tapasse a visão, devaneio dias de luz, sol em amplidão, pipas ao léu, pessoas a correr na cidade que não para pra brincar, e se vestem de esperança e fé, sabendo que a vida é assim como ela é, importa viver e sonhar, ter um motivo pra não voltar atrás, e mesmo que a chuva chore a dor dos homens, dos que lutam sem sorte, dos que já beiram a morte, invoco aos céus, a benevolência de um dia azul a nascer,há de raiar, o sol pra todos certamente brilhará.
Paula Belmino
Alguns momentos em São Paulo que nos inspiram, nos faz viver, reviver, criar poesia em nós