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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Curtas de Dezembro

1. Depois de uma época que só não foi exemplar por ter deixado escapar a Liga Europa, Jorge Jesus perdeu vários jogadores e começou a época com um plantel bem menos forte do que o dos últimos anos. O sorteio da Champions não ajudou, e o Benfica acabou eliminado das competições europeias mais cedo do que nos últimos anos. À margem das circunstâncias adversas, o futebol encarnado depende, mais do que nunca na era de Jesus, da qualidade individual, e é essa a principal crítica que lhe deve ser feita. Num modelo como o de Jesus, o mínimo desinvestimento tem um impacto significativo, e o desempenho ofensivo dos encarnados, esta época, é quase exclusivamente explicado pelos golos de Talisca, pelas arrancadas de Salvio e Gaitan, e pela qualidade de Enzo.

2. O Porto de Lopetegui é uma equipa de oito e oitenta. Tem um plantel formidável do meio-campo para diante; tem uma plantel banalíssimo do meio-campo para trás; tanto goleia como empata com o Boavista; tanto sufoca o adversário do primeiro ao último minuto como se deixa surpreender depois de estar a vencer por alguns golos de diferença. Agrada-me a atitude ofensiva da equipa e agrada-me a intenção de pressionar alto; desagradam-me, porém, as variações constantes de flanco, o excesso de vertigem e a incapacidade, mais ou menos geral, para controlar o ritmo de jogo. Não sei o que acontecerá na segunda metade da época, até porque, sobretudo numa prova de regularidade como é o campeonato, uma equipa assim tanto arrisca o fracasso quanto o sucesso.

3. Marco Silva está a fazer um trabalho interessante. Um clube como o Sporting deve ambicionar sempre o título. O que não pode fazer, num momento complicado em que não pode, de maneira nenhuma, competir com o investimento dos dois rivais e que vem na sequência de anos de crise desportiva, é anunciar publicamente essa ambição. Enquanto "outsider", o Sporting pode sempre intrometer-se nessas contas, como aconteceu o ano passado; enquanto candidato, dificilmente. Não tem plantel para isso e entra em campo pressionado para ganhar. Não obstante, Marco Silva tem apresentado bons indicadores. É verdade que ter Nani - que só por questões extra-desportivas não está a jogar num dos dez melhores clubes europeus - ajuda muito, mas a equipa tem comportamentos interessantes. Acima de tudo, é menos mecânica do que a equipa de Leonardo Jardim, que obteve o máximo do que poderia ter obtido a época transacta, e isso é já um indício do quanto poderá evoluir no futuro. Era importante agora, a meu ver, que dessem finalmente oportunidades a dois jogadores da equipa B que, por quaisquer razões, continuam na gaveta: Chaby e Iuri.

4. Em Espanha, o Real Madrid só não é campeão se não quiser. Dia sim, dia não, a imprensa portuguesa diz que Mourinho é o melhor do mundo. Mas basta ver as diferenças do Real de Mourinho para o Real de Ancelotti para se perceber que, no mínimo, a imprensa portuguesa é tendenciosa. Mourinho jogava com médios como Khedira, Granero ou Diarra. Chegou a jogar com Pepe no meio-campo. Modric nunca foi opção. Ancelotti joga só com dois médios: Modric e Kroos. Não é preciso falar de títulos para que se percebam as diferenças. Mesmo sem Ozil e sem Di Maria, jogando num sistema de jogo que nem sempre oferece uma boa rede de apoios, o Real é uma máquina de futebol de ataque. E isso tem a ver, acima de tudo, com as ideias de Ancelotti a respeito do seu meio-campo. É aí que é profundamente diferente de Mourinho. E é por aí que o seu Real é bem mais competente e criativo do que o Real de Mourinho. Voltemos alguns anos atrás no tempo, lembremo-nos de que foi ele quem "inventou" um meio-campo inteiro para que um jogador que nunca sequer tinha jogado como médio-defensivo se pudesse tornar o melhor dos últimos quinze anos nessa posição e teremos a melhor descrição possível de Carlo Ancelotti.

5. O novo Barcelona começou muito bem. Luis Enrique conseguiu que a equipa jogasse com o bloco tão subido quanto na era de Guardiola, com os sectores muito juntos e a pressionar muito alto. Ao mesmo tempo, ia apostando em jovens jogadores de grande talento, como Munir, usava aos três e aos quatro médios criativos, e conseguia dinâmicas inacreditáveis. Tudo isso se foi, pouco a pouco, dissipando. Às vezes fala-se da coragem de um treinador sem se saber muito bem do que se fala. Para mim, coragem é manter as ideias quando as coisas não correm bem. E o que Luis Enrique fez, a partir de dada altura, foi mostrar que não a tem. Primeiro, foi Piqué, de longe o melhor central do plantel (seguido de Bartra) a ser encostado. Luis Enrique prefere Mascherano e Mathieu porque são mais compenetrados, metem mais o pé, esfolam-se mais, etc.. Depois, foi a derrota diante do Real Madrid. O Barça ainda não tinha sofrido golos no campeonato, jogava bem e fazia coisas que mais nenhuma equipa (salvo o Bayern de Guardiola) faz. Depois da derrota com o rival da capital, o Barça é uma equipa mais banal do que o Barça de Tata Martino. Já não joga com a defesa subida, já não aproxima os sectores, já não pressiona alto, e já nem sequer é capaz de fazer um jogo de posse como antes. Entretanto, desde que Luis Suarez passou a poder jogar, Pedro Rodriguez nunca mais foi titular e Munir raramente foi chamado. Mais do que nunca, o Barça é uma equipa de avançados, e o seu treinador espera que Neymar, Messi e Suarez, para os quais os outros oito jogam, resolvam individualmente o que o colectivo deixou de querer resolver.

6. Paco Jémez foi um dos nomes mais falados para substituir Tata Martino. A direcção do Barça acabou por escolher mal, e Paco Jémez manteve-se aos comandos do Rayo Vallecano. Esta entrevista devia ser lida por toda a gente, mas principalmente por Luis Enrique, que é quem tem a responsabilidade, pela herança que tem, pela tradição do clube e pelas características dos jogadores que possui, de fazer o que nela é ensinado. Para Jémez, ter a bola a todo o custo, arriscando se for preciso arriscar, é o que mais importa, e metê-la na frente é sempre pior do que procurar alguém perto com critério. Além disso, é o adversário que tem de se preocupar com a sua equipa, não a sua equipa com o adversário, e a defesa defende os espaços, não os adversários. Por outro lado, quando um lateral sobe, deve estar preocupado com tudo menos com o facto de ter de vir defender a seguir: a equipa encarregar-se-á de compensar essa subida colectivamente. Para Paco Jémez, é falso que não se possa pressionar durante 90 minutos essencialmente porque pressionar, em seu entender, é um esforço colectivo que depende mais de ajudas, coberturas e posicionamentos relativos do que com esforço muscular, agressividade perante o portador da bola e perseguições individuais. Empatar, acrescenta ainda, é o pior resultado que pode obter: prefere perder, porque, evidentemente, pode perder dois jogos em cada três e fazer os mesmos pontos que faz com três empates. Há pouca gente que pensa assim, e há pouca gente que não vai achar em quase tudo o que Paco Jémez diz um certo atrevimento. E, no entanto, diz mais coisas acertadas em meia-dúzia de respostas do que se diz em dez anos de cursos de formação de treinadores.

7. Nuno Espírito Santo começou a sua aventura em Valência e tem sido bastante elogiado. Evidentemente, é elogiado porque tem tido bons resultados. O futebol do Valência baseia-se, porém, no erro do adversário e no contra-golpe. Tudo o que Nuno pretende é que a equipa chegue rapidamente à baliza adversária, assim que rouba a bola. Defensivamente, os comportamentos da equipa nem são maus, parecendo saber exactamente o que fazer nos momentos de pressing. Mas com bola exigia-se muito mais. E exigia-se sobretudo menos pressa. O Sevilha, o Villareal e o Rayo Vallecano, para dar exemplos de equipas com orçamentos inferiores ou muito inferiores, jogam muito mais à bola do que o Valência, e quando as coisas começarem a correr menos bem e os resultados começarem a ser menos lisonjeiros, talvez caia em desgraça com a mesma velocidade com que caiu em graça.

8. Em Inglaterra, o campeão Manchester City cometeu, a meu ver, o maior pecado que um campeão pode cometer: não ter mudado nada para a nova época. Os campeões precisam de estímulos novos para continuarem a querer ser os melhores, e uma boa maneira de criá-los seria modificar qualquer coisa, sobretudo na forma de atacar da equipa. Sem grandes reforços e sem grandes mexidas na maneira da equipa jogar, o City perderá a pouco e pouco a capacidade de continuar no topo em Inglaterra.

9. O Arsenal de Wenger continua incapaz de ser uma equipa competitiva durante toda a época. Embora o investimento comece a aproximar-se do investimento feito por alguns rivais, e embora consiga finalmente preservar os melhores jogadores de ano para ano, mantêm-se os principais problemas na equipa: as competências defensivas e as lesões. É pena, porque a equipa consegue fazer coisas que a esmagadora maioria das equipas não consegue. E é pena porque Wenger é dos treinadores mais interessantes, do ponto de vista ofensivo. Gosto do estilo, mas tenho de reconhecer que, se não caprichar mais, sobretudo na forma como a equipa defende, o estilo de Wenger não é suficiente.

10. O Chelsea de Mourinho tem o melhor plantel, de muito longe, da Premier League. E mesmo com um meio-campo composto por Matic, Fabregas e Óscar, o futebol praticado é, na maioria das vezes, muito pobre. Defensivamente, a equipa não podia ser mais competente, mas continua a preferir entregar a decisão dos jogos às iniciativas individuais e ao aproveitamento dos detalhes do que às qualidades colectivas. Ainda assim, é capaz de chegar para ser campeão. Em Espanha, em Itália, em França e na Alemanha, Mourinho dificilmente seria campeão a jogar desta maneira. Mas em Inglaterra não há uma equipa capaz de ser regular desde que Ferguson se reformou, e isso é tudo o que importa. O seu Chelsea é competente defensivamente, e isso talvez seja suficiente.

11. Entretanto, Mourinho não perde uma oportunidade para aludir a Guardiola. Quando lhe perguntaram se podia ganhar quatro competições esta época, disse que não porque, ao contrário de outros campeonatos, o campeonato inglês não tem pausa de Inverno e até se joga no Natal. Já aqui tinha sugerido que a carreira de Mourinho pode ser descrita, a partir de certo momento, como uma tentativa de resposta a uma certa obsessão. Agora parece que encontrou outra.

12. Depois de uma época quase brilhante, o Liverpool de Brendan Rodgers está a fazer uma campanha sofrível. A saída de Suarez e a lesão de Sturridge fazem com que o ataque da formação inglesa seja muito diferente do que foi a época passada, e essa pode ser uma explicação para o sucedido, até porque não há muitas mais diferenças. Gosto de pensar, contudo, que uma equipa em que Mario Balotelli é titular em praticamente todos os jogos e em que Lazar Markovic mal tem oportunidades para jogar é uma equipa que não merece muito mais do que a modesta posição que ocupa. Pode-se tentar explicar o insucesso do Liverpool de muitas maneiras, mas referir um treinador que avalia tão mal a qualidade individual dos atletas que tem à sua disposição é capaz de ser suficiente.

13. Gostei muito do trabalho de Pochettino no Espanyol e, do que vi em Inglaterra, só posso dizer bem. A aventura com o Tottenham não tem sido tão feliz quanto isso, ainda que a equipa mantenha as aspirações intactas (está a cinco pontos do acesso à Liga dos Campeões) e há muita gente que tem criticado o seu trabalho. A primeira coisa que gostava de dizer é que Pochettino herdou uma equipa absurda, quase toda formatada pela ideia absurda de jogo que André Villas-Boas tentou implementar. A qualidade individual do Tottenham, ao contrário do que se possa pensar, é muito má, quando se pensa que o clube tem aspirações europeias: Lloris, Verthongen e Lamela são talvez os únicos que podiam jogar num clube maior. Daí que exigir a Pochettino outra coisa que não ficar entre os dez primeiros me pareça um exagero. Ainda assim, não se vê o técnico argentino a jogar para os pontos. Pelo contrário, é das poucas equipas da Premier League que tenta fazer coisas diferentes, que tenta jogar pelo meio, que tenta invadir espaços entre linhas, que joga com os apoios próximos. As derrotas não têm ajudado e vê-se que muitos dos jogadores não gostam de ter de pensar tanto e preferiam um futebol mais à inglesa. Há uns anos, Juande Ramos tentou fazer coisas parecidas e os jogadores do Tottenham, na altura, fizeram-lhe a cama. Lembro-me de ter dito que, embora tivesse regressado às vitórias com Harry Redknapp, o Tottenham perdera nessa altura uma boa oportunidade de se tornar um clube grande em Inglaterra. Não me enganei, ainda que os quartos e quintos lugares de Redknapp tenham dado alegrias a muita gente. Com Pochettino, o Tottenham tinha finalmente a oportunidade de ser, a médio prazo, uma equipa muito forte em Inglaterra. É verdade que os jogadores não são os melhores para isso, mas, para já, era pelo menos importante que esses mesmos jogadores não preferissem ser jogadores de equipa pequena. Infelizmente, é isso que me parece que querem ser.

14. Tim Sherwood, antigo treinador do Tottenham, percebe tanto de futebol como um lagarto ao sol percebe de física quântica. Na sequência da recente derrota do Tottenham com o Chelsea, sugeriu que o belga Verthongen é "muito mau a defender". Para Sherwood, defender é aquilo a que, nas distritas e na Premier League, vulgarmente se chama ter caparro. Verthongen, realmente, não tem caparro. Ou não faz grande uso dele. Isso não significa que não saiba defender. É com preconceitos deste género, preconceitos de que o futebol está completamente cheio, que continuamos a ter de lidar. Esta gente ganha milhões e continua a pensar como o velho que vai à bola ao Domingo a dizer que o futebol era bom era no tempo dos cinco violinos.

15. Na Alemanha, o Bayern vai chegar de novo à viragem do ano com o campeonato praticamente no bolso. É verdade que a resistência interna não é muita, e que o Dortmund, ainda por cima, tratou de facilitar a vida aos bávaros, mas não deixa de ser uma proeza. Quanto ao futebol da equipa, vai crescendo aos poucos e, mesmo sem alguns dos melhores intérpretes, Guardiola tem os seus pupilos cada vez mais próximos do que pretende. Além do 433 da época passada, a equipa joga agora também em 343 e em 352 com uma facilidade impressionante. A linha defensiva está sempre muito alta, o que é absolutamente decisivo para quem queira jogar como Guardiola joga, e os sectores sempre muito juntos, pelo que é fácil depois à equipa adaptar-se a um posicionamento diferente. Mais significativo ainda é perceber que o 343, por exemplo, não serve tanto para abrir a frente de ataque, pois os extremos são essencialmente jogadores para jogar por dentro e vir solicitar o passe a zonas entre a linha defensiva e a linha de meio-campo, quanto serve para ter mais gente no meio. A diferença de Guardiola para os restantes treinadores de futebol é tanta que fazer com que as pessoas a percebam é muito difícil.

16. Por cá, nos últimos dias, o Benfica recebeu o Belenenses, que jogou sem Miguel Rosa e sem Deyverson, possivelmente os dois jogadores mais influentes da equipa esta época. Se calhar é patetice minha, mas isto é capaz de ser um caso de polícia. Miguel Rosa desvinculou-se do Benfica e, mesmo assim, continua a ver a sua carreira comprometida por quem quer que no Benfica tenha algum poder. Já o ano passado tinha sido assim, e voltou a sê-lo este ano. E a única coisa que se faz é assobiar para o lado. Há muita coisa que vai mal no futebol. Há pouca coisa tão abjecta como isto.

17. Por falar em mafiosos, um dos sites portugueses com maior afluência, o TV Golo, foi há tempos bloqueado por todas as operadoras, segundo consta, na sequência de uma ordem judicial desencadeada por uma queixa da Sporttv. O site em questão disponibilizava links para videos de golos e apanhados dos melhores lances de jogos de muitas ligas. Não sei muito bem o que leva uma empresa como a Sporttv a sentir-se lesada por um site deste género (ainda por cima, tanto quanto pude perceber, o site inglês okgoals.com disponibiliza boa parte do que era disponibilizado pelo tvgolo.com), da mesma maneira que não consigo compreender a maior parte das razões contra a livre divulgação de conteúdos na internet, em geral. De qualquer modo, é no mínimo irónico que esta acção moralizadora dos costumes dos utilizadores da internet tenha vindo precisamente de uma empresa que, pelo menos até há bem pouco tempo, detinha o monopólio do negócio do futebol em Portugal e que o vendia como queria e pelos preços que queria. Haja escrúpulos...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Os energúmenos

Há pouca coisa em mim - confesso - que me cause mais repulsa que a estupidez do ser humano. Tolero, com facilidade, coisas que maior parte das outras pessoas não tolera, mas sou incapaz de conviver ou de aceitar sequer gente estúpida. Quando essa estupidez, então, me afecta directamente, quer pondo em causa aquilo que sei, quer arrogando-se de franca sabedoria, germinam em mim incontroláveis vontades de desdenhar. O escrúpulo é a ferramenta que usamos para aceitar a opinião alheia, mesmo quando ela não nos satisfaz. Contra estúpidos, porém, é frequente que perca a capacidade de manter os escrúpulos. É a esses doutores que este texto se dirige, na forma de uma lista de propriedades das suas doutas competências intelectuais. São, por isso, verdadeiros energúmenos:

1. Os que acham que a agressividade é uma coisa meramente mental e que para se tornar agressivo basta haver força de vontade.

2. Os que acham que o espírito de sacrifício é a maior virtude de um jogador.

3. Os que acham que o respeito se ganha exigindo-o arbitrariamente e não por demonstração de competência.

4. Os que querem bolas na linha só porque ouviram dizer que se deve jogar pelos flancos.

5. Os que protegem a humildade em vez do talento e os que dispensam os mais talentosos jogadores apenas porque não souberam lidar com o seu feitio.

6. Os que acham que podem justificar as suas ideias dizendo que aquilo que defendem está escrito em "livros" e que, como tal, não pode ser questionado, quando facilmente são desarmados se pensarmos que o livro mais influente na cultura ocidental se baseia na existência de uma entidade que, obviamente, não existe.

7. Os que não percebem que os jogadores mais competentes e através dos quais melhores resultados se podem extrair não são aqueles que dão tudo de si em termos físicos, mas sim aqueles que dão tudo de si em termos intelectuais, procurando perceber e melhorar as suas competências, não se limitando apenas a esticar ao máximo as suas competências actuais.

8. Aqueles que criticam um jogador por inventar e que aplaudem outro quando este faz algo simples, mas previsível.

9. Os que, com uma equipa cujas maiores virtudes são as competências técnicas e intelectuais, acham que os ingredientes necessários para vencer um adversário cujas principais características são a agressividade e a força são precisamente a agressividade e a força.

10. Os que não percebem que a impetuosidade não se contraria com impetuosidade, mas com inteligência, calma e qualidade de passe.

11. Os que não percebem que os melhores jogadores são os que tentam fazer as coisas mais difíceis e que, no meio de cinco adversários, dominar no peito, proteger a bola, metê-la no chão e dar num companheiro de modo a que a equipa possa começar a construir é muito mais difícil do que ir às alturas ganhar uma bola de cabeça cujo destino passa a ser absolutamente imprevisível.

12. Os que preferem jogadores que não compliquem àqueles que, sabendo das dificuldades, procuram ainda assim fazer coisas difíceis por perceberem que o êxito nas mesmas implica ganhos relevantes para a equipa.

13. Os que preferem jogadores velozes mas ineptos a jogadores lentos mas talentosos.

14. Os que têm Diogo Rosado e Fábio Paim no plantel e não os aproveitam, deixando-os no banco e utilizando outros como Wilson Eduardo.

15. Os que pensam que a qualidade de um avançado se determina pela quantidade de golos que marca e depois não têm capacidade para explicar por que é que o melhor avançado da Liga tem um quarto dos golos do melhor marcador da Liga.

16. Os que acham que o momento de atirar à baliza é mais importante que qualquer outro momento de jogo, usando o extraordinário argumento de que, no futebol, a conclusão é mais importante que a introdução e que o desenvolvimento apenas porque sim.

17. Aqueles que pensam que é possível criar jogadas de finalização de forma constante utilizando, em todo o processo ofensivo, apenas três ou quatro toques.

18. Os que ainda não perceberam por que razão é que o Braga, não sendo uma equipa especialmente bem organizada, nem especialmente agressiva, nem especialmente bem preparada fisicamente, está em primeiro no campeonato.

19. Os que acham que pedir atitude aos jogadores é uma fórmula mágica para os motivar e ignoram que a motivação só pode ser fruto do reconhecimento de competência.

20. Todos aqueles que, enfim, não privilegiam as características certas, aqueles que não percebem que tipo de carácter os seus jogadores devem possuir, aqueles que valorizam excessivamente as trivialidades, aqueles que acham que uma equipa deve ser composta por onze monges franciscanos, aqueles que acham que a simplicidade per si é louvável e que o futebol é um jogo simples, aqueles que não conhecem o episódio bíblico de David e Golias e acham que, para se vencerem Golias, se deve ser parecido com Golias, aqueles que não percebem que o próprio conceito de jogo implica que haja formas mais eficazes do que outras de se vencer e que, de maneira nenhuma, todas as estratégias são aceitáveis, etc...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Coisas por dizer

O período de férias impediu que pudesse falar de certas coisas, bem como concluir certas discussões. Ficaram pendentes, entre outras, discussões sobre aquilo que significa um central ser bom a sair a jogar (que não tem nada a ver com o ter boa qualidade de passe ou ser capaz de transportar e progredir com a bola), assunto que retomarei noutro texto, e discussões sobre a legitimidade da opinião, sendo que, para muitos, é consequência de qualquer regime democrático o poder dizer-se disparates. A cada um destes assuntos dedicarei, brevemente, um texto, mas para já importa falar do que se passou esta semana, pois há muito a dizer.

1. Começando pelo que se passou em Portugal ou com os clubes portugueses, uma palavra para a eliminação do Sporting ante uma Fiorentina a jogar muito mal e outra para o Nacional, que conseguiu eliminar o Zenit da Liga Europa. O Sporting confirmou o terrível início de época e, ironicamente, foi mesmo um dos jogadores a quem menos se podem apontar defeitos quem acabou por estar ligado ao golo de Jovetic. Do Nacional, não vi nada, mas este Zenit, sem as principais figuras e sem o treinador Dirk Advocaat, é certamente uma equipa bem diferente e muito menos forte do que o era há um ano.

2. Continuando no Sporting, Liedson voltou aos golos antes da estreia pela selecção nacional. Agora já ninguém se lembra que não marcava desde Maio e já é novamente o maior avançado de todos os tempos. Mesmo que tenha falhado golos escandalosos, lances esses que, se fossem protagonizados por Nuno Gomes, mereceriam ingente reprovação.

3. O Porto também venceu e há quem diga que Varela já começa a mostrar credenciais. Não sei se é pelo facto de ter participado no primeiro golo, no qual cruza sem olhar, ou se é por ter marcado o segundo, num lance em que o defesa esquerdo da Naval ficou a dormir. Neste tipo de jogos, contra adversários incompetentes a defender como o caso da Naval, jogadores explosivos como Varela têm facilidade em encontrar os espaços para poderem executar. O problema será quando estes espaços não existirem. Aí, Varela será só mais um.

4. O Benfica goleou o Setúbal. Desde cedo, antes mesmo do segundo golo, que me pareceu que o desfecho final seria algo parecido com o que aconteceu. As razões eram óbvias. Jesus não iria pedir nunca para os seus pupilos abrandarem e os erros de organização da equipa sadina eram gritantes. Há quem diga que as bolas paradas definiram o jogo. Discordo inteiramente disso. Antes dos lances que deram os golos, já o Benfica demonstrara conseguir penetrar com facilidade na defesa sadina, abrindo espaços graças à falta de educação táctica do conjunto liderado por Carlos Azenha. É verdade que o factor emocional terá ajudado ao desnivelamento do resultado, mas não foi a principal causa. O principal problema setubalense teve a ver com a forma como abordou o jogo. Interessado em marcações individuais, abdicou da organização própria. Sem talento, sem capacidade para sair das zonas de pressão e sem competência para fechar os espaços, a equipa sadina andou de um lado para o outro atrás dos jogadores do Benfica. É natural que uma equipa dinâmica, com jogadores que, sem bola, procuram os espaços livres, consiga arrastar um adversário que se preocupa com os adversários directos. Desconfio até que esta será a primeira de várias goleadas ao longo da época. Naval, Académica, Belenenses e Leixões, sobretudo pelo modo como jogam, são as equipas na calha para o que se segue.

5. Uma das coisas que Carlos Azenha disse quando chegou a Setúbal foi que ia defender à Sacchi. Marcações individuais é o antónimo disso. Mais um que pensa que ler é saber o significado das palavras que vêm escritas nos livros...

6. Se, como treinador, a sua competência não poderia ter ficado mais abalada, como líder poderia ter-se salvado. Optou por não o fazer. Em vez de defender os jogadores, em vez de poupá-los o mais possível à humilhação de modo a recuperá-los e a transmitir-lhes confiança, Carlos Azenha optou por sacudir a água do capote e colocou as culpas num plantel inexperiente, em jogadores de escalões secundários e na incapacidade dos mesmos para aguentar a pressão. Chamou-lhes , no fundo, incompetentes, mentalmente fracos e imaturos. Boa!

7. O melhor em campo, apesar dos três golos de Cardozo e das três assistências e um golo de Aimar, foi Javier Saviola. As movimentações sem bola do pequeno argentino foram perfeitas. Às vezes, parecia que arrastava meia-equipa sadina, abrindo espaços para os colegas, e ainda ficava sozinho. Foi muito por causa da sua movimentação que o Setúbal, apostando em marcações individuais, se desorganizou defensivamente. Sem Saviola, a história teria certamente sido outra.

8. O Braga continua líder e parece jogar cada vez melhor. Domingos, enquanto treinador, sempre me pareceu pouco coerente. As suas equipas tanto tinham coisas fantásticas como denotavam erros de principiante. O seu trabalho na Académica e no Leiria não foi perfeito, embora também não tenha sido fraco. Para já, o seu Braga está a jogar bem. Vamos ver no que dá. As minhas desconfianças começam, contudo, no facto de a aposta em Rodrigo Possebon não ser clara.

9. Hugo Viana está de volta. A pergunta que fica é: se o Sporting andava atrás de um médio, se não tinha muito dinheiro para gastar e se Hugo Viana até manifestou interesse em vestir a camisola verde e branca, por que razão não foi o escolhido?

10. Em Espanha, o Barcelona entra a ganhar com tranquilidade. Já o Real, superou o Deportivo com muitas dificuldades. Pellegrini vai ter muito que fazer para conseguir estar à altura de Guardiola. É sugestão minha que poderia começar por confiar mais em Gago, provavelmente o melhor médio-defensivo da actualidade.

11. O Barcelona conquistou a Supertaça Europeia num jogo de sentido único. O Shaktar interessou-se apenas em defender e o Barcelona mandou no jogo do princípio ao fim. Em muitos momentos, porém, não conseguiu ser rápido na circulação de bola de modo a aproveitar o espaço entre os diferentes elementos ucranianos. Como tal, não conseguiu muitas ocasiões de golo. A ausência de Iniesta deixa o Barça menos criativo e Ibrahimovic está ainda longe da forma física ideal. Valeu um lance de entendimento entre Messi e Pedro, lance que é um exemplo de como o Barcelona é uma equipa e não um conjunto de jogadores. Depois do golo, destaque para a forma como o Shaktar não conseguiu ter bola durante os cinco minutos que faltavam. Mais nenhuma equipa no mundo consegue trocar a bola durante tanto tempo quando o adversário precisa dela.

12. Em Itália, o Inter de Mourinho começou mal, mas compensou goleando o rival de Milão. O primeiro golo é uma obra-prima e um exemplo de como o futebol se joga pelo meio e não insistentemente pelas alas. A circulação rápida da bola e a movimentação constante dos jogadores acabou por abrir espaços para a entrada de um dos médios, neste caso, Thiago Motta, que só teve que escolher um lado. O Inter deste ano promete reavivar tudo o que de bom José Mourinho conseguiu ao serviço de Porto e Chelsea.

13. A Juventus continua a ser, para mim, o principal adversário doméstico do Inter. Desta feita, venceu sem apelo nem agravo a Roma e Diego, o tal que era fraquinho, foi o herói da partida.

14. Em Inglaterra, atenção ao Arsenal. Wenger parece ter deixado de lado, de vez, o 442 clássico. Com isso, deitou fora a principal fonte de problemas do futebol da sua equipa. A jogar em 433, com a filosofia de jogo que sempre revelou, este Arsenal será certamente mais consistente. Para já, um arranque de campeonato impressionante, com duas goleadas, só travado por um resultado injusto em casa do campeão. Em termos individuais, só um idiota poderia dizer que este Arsenal tem argumentos para rivalizar com Chelsea, Liverpool e Manchester, mas em termos colectivos é a equipa mais interessante em Inglaterra. A jogar assim, num 433 com um médio-defensivo nas costas de dois jogadores mais ofensivos e com dois extremos com liberdade para virem para o meio, o Arsenal mantém a dinâmica ofensiva que sempre possuíu sem se desequilibrar constantemente, como acontecia antigamente. Joga assim de forma mais pausada e não sempre em constante velocidade. O futebol é mais atractivo e mais seguro, ao mesmo tempo. Com o regresso de Nasri e Rosicky, se não abandonar estas ideias, o Arsenal tem tudo para fazer uma grande época.

15. O Chelsea lidera e mantém viva a candidatura ao título. O Liverpool começou mal e o Manchester não está em grande forma. O City terá muitos problemas ao longo do campeonato, assim como o Tottenham, que para já ocupa o segundo lugar, com os mesmos pontos que o Chelsea. Vai ser, porém, o campeonato mais interessante dos últimos anos.

16. Em França, Lisandro tem-se fartado de marcar golos. Mas o que é espantoso é mesmo como Cissokho é titular em vez de Grosso. Ferrara é que não desperdiçou a oportunidade de resgatar o internacional italiano e a Juventus arrecada mais uma boa contratação.

17. Na Alemanha, o Bayern de Van Gaal não começou bem, mas Robben veio dar uma injecção de qualidade e já valeu uma vitória. Espera-se um resto de época interessante.

18. Curiosidade de última hora: alguém sabe onde anda Co Adriaanse? Pista: foi campeão na última época, uma vez mais, e o seu nome continua a rimar com competência. Pena é que haja incompetentes, mesmo entre os holandeses, que tenham tanta ou mais reputação. Estou a falar de um que, por acaso, até lidera o campeonato holandês.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Defeso, Pré-Época, Novidades, Trafulhices e Mau Jornalismo

1. Lisandro e Lucho foram embora e com eles a capacidade de o Porto ser imprevisível. Agora sim, que ruíu o que restava do legado que Jesualdo encontrou quando chegou ao Porto, o treinador portista terá um teste a valer. Perder Lucho e Lisandro num ano não é o mesmo que perder Pepe, Paulo Assunção ou Quaresma. Lucho e Lisandro eram o motor da equipa, os jogadores mais importantes no desenvolvimente ofensivo do modelo e os principais responsáveis por o Porto não ser apenas a equipa rectilínea de transições velozes que Jesualdo pretende. Lucho e Lisandro conferiam ao modelo imprevisibilidade, espontaneidade, inteligência, variedade. Sem eles, o Porto não será só menos forte na soma das individualidades; será sobretudo menos forte colectivamente, pois eram os elementos que tornavam o colectivo de Jesualdo, reduzido a movimentações rápidas e previsíveis, numa equipa menos vertical, menos refém das transições. Arrisco mesmo a dizer que, tirando um ano em que Quaresma foi determinante individualmente, muito do que Jesualdo conquistou se deveu à possibilidade de contar com estes dois jogadores. Sem eles, a história será outra.

2. Para já, pelo início de temporada, mantém-se a impressão de que Jesualdo não sabe contratar. Falcão e Valeri serão jogadores a rever, mas parecem-me pouco capazes de fazer esquecer os dois argentinos que viajaram para França, sobretudo naquilo que de colectivo estes podiam oferecer. Quanto a Belluschi, aprecio algumas das suas qualidades, embora fique muito a dever, por exemplo, aos criativos dos rivais. O problema é que me parece que o argentino não tem nada a ver com o modelo de Jesualdo. E, ao contrário do que dizem, Jesualdo não adapta o modelo às características dos jogadores que tem. O modelo é rígido e só na frente conhece algumas variações. Tirando os três atacantes, que pelas suas características podem movimentar-se de forma diferente, do meio-campo para trás Jesualdo é inflexível. É por isso que jogadores menos tácticos e de toque mais curto, capazes de desequilibrar em espaços mais curtos, mas menos frios a jogar, têm poucas possibilidades de vingar. Veja-se os casos de Leandro Lima ou de Luis Aguiar. No modelo de Jesualdo, não há espaço para verdadeiros criativos. Os seus médios têm de ser competentes em transição, agressivos, capazes de definir com velocidade. Belluschi, por isso, terá dificuldades para se impor, uma vez que não é um jogador para um futebol tão veloz e objectivo como pretende Jesualdo. Quanto às restantes contratações, Álvaro Pereira é suficientemente bom para ser titular e dar alguma qualidade ao lado esquerdo da defesa. Mas Varela e Miguel Lopes são anedotas. Se pensarmos em Guarín, em Tomás Costa, em Kazmierczak, em Nélson Benitez e em tantos outros, vemos que Jesualdo, ao longo destas épocas, contratou essencialmente mal. Analisando concretamente, temos Rolando e Cissokho, que são jogadores razoáveis e que jogavam porque não tinham concorrência à altura, Fernando, que só encaixou na equipa porque não havia ninguém para o lugar e se conseguiu impor a Pelé e a Guarín, Rodriguez, que já tinha mostrado todo o seu valor no Benfica, e Hulk, que é um jogador que vale pelas suas qualidades individuais e que, por isso, não requer muita atenção. Jesualdo é competente na forma de trabalhar, mas é francamente fraco a avaliar jogadores e tem tido alguma sorte em poder contar com o poderio financeiro do clube.

3. Por falar nisso, para onde foi desta vez o Pelé? E, já agora, uma vez que era, a par do grande médio-centro formado no Guimarães, a grande estrela da selecção de sub-21 da altura, para onde vai também Manuel da Costa? Estes dois colossos continuam a sua descida vertiginosa em direcção ao esquecimento. O Entre Dez bem avisou...

4. Ainda no Porto, cheira-me que este ano o lema vai ser: "Passem ao Hulk que ele resolve..." O problema é mesmo que a única coisa que ele resolve fazer é não passar a ninguém e continuar a estragar jogadas de ataque. Se é verdade que as suas qualidades individuais poderão solucionar alguns problemas ofensivos, não é menos verdade que o Porto será menos equipa, será muito mais previsível e estará dependente da inspiração de um jogador. Será muito pouco... E será sobretudo a confirmação de que o modelo de Jesualdo se baseia nas individualidades e não no colectivo...

5. Por fim, o caso Cissokho. Vender Lucho e Lisandro pelas quantias conseguidas é normal. Vender Cissokho por 15 milhões é estupidamente absurdo. O senegalês é um jogador mediano, que soube ocupar um lugar para o qual não havia concorrência, mas que tem ainda muito a melhorar. Soube cumprir os princípios defensivos exemplarmente, apesar de um início um tanto ou quanto displicente, e valeu-se da sua melhor característica, a força. É um jogador capaz de ser regular, mas sobre o qual não antevejo um futuro brilhante que justifique um investimento tão arriscado quanto o do Lyon. Dito isto, não é possível esquecer todo o processo negocial. O Lyon foi a primeira equipa a mostrar interesse no jogador, mas não ia além dos 7 ou 8 milhões de euros, quantia muito mais consentânea com o valor e com o potencial de Cissokho. O Porto, procurando esticar a corda, ia adiando o negócio. E, de repente, aparece o Milan a oferecer o dobro pelo mesmo jogador. Ninguém com um mínimo de imaginação terá ficado indiferente a este brusco e peremptório interesse do Milan. A primeira coisa que pensei foi que isto era um esquema para que o Lyon decidisse oferecer a mesma quantia. Mas a verdade é que o negócio se consumou. Não querendo acreditar, imaginei ingenuamente que o jogador chumbaria nos testes médicos e voltaria ao Porto, valorizado por uma oferta que afinal não passara de um embuste para fazer crer a terceiros que o jogador tinha mercado e valia o dobro daquilo por que estava a ser pretendido. Quando saiu a primeira notícia sobre os testes médicos falhados, percebi que aquilo que pensara na forma de um gracejo, na forma de uma tentativa de justificar algo que me parecia absurdo, estava afinal bem próximo da realidade. Por coincidência, imaginara exactamente aquilo que veio a acontecer. As razões que me levaram a imaginar o sucedido não poderiam diferir, por certo, das razões que fizeram com que isso acontecesse de facto. Não tenho dúvidas que o interesse manifestado pelo Milan nos dias seguintes não foi mais do que uma forma de reforçar a ideia de que o clube italiano estivera mesmo interessado no lateral do Porto. E o Lyon acreditou. E aceitou pagar o dobro daquilo a que estava disposto. Qualquer pessoa dotada de bom senso perceberá que o Milan nunca esteve interessado em Cissokho. Além da desculpa esfarrapada dos dentes e da oferta repentina e descabida pelo jogador, razões suficientes para fazer desconfiar qualquer pessoa, a equipa italiana, depois de gorado o negócio, não procurou contratar outro lateral-esquerdo. Ora, estavam dispostos a dar 15 milhões de euros por um lateral e afinal nem sequer precisavam de laterais? Não faz sentido. É por demais evidente que o Milan e o Porto negociaram uma transferência fictícia de maneira a valorizar Cissokho para que o único e verdadeiro interessado no jogador, o Lyon, ficasse com a impressão de que havia emblemas dispostos a pagar 15 milhões e que o jogador talvez valesse assim tanto. Expus esta ideia ainda o Lyon não tinha avançado para a contratação de Cissokho, logo após o senegalês ser rejeitado pelo Milan, e houve quem achasse ridículo que um jogador que tinha chumbado nos testes médicos pudesse ficar valorizado. A mim, contudo, parece-me ridículo o contrário, tendo em conta que o jogador sempre esteve apto para jogar futebol. O interesse do Milan - repito - foi uma ficção, uma impostura, e teve a finalidade de impressionar e de acirrar o interesse do Lyon. Tendo em conta a actual conjuntura legal que envolve as negociações de atletas, este embuste, mais do que o reflexo da capacidade negocial dos dirigentes portistas, consiste numa actividade fraudulenta que merecia uma investigação cuidada.

6. O Sporting, ao contrário dos seus rivais, não contratou muito. Matías Fernandez, Saleiro e Caicedo renderam Romagnoli, Derlei e Tiuí. Não tenho nada contra a política financeira e desportiva do clube de Alvalade e acho até absurdo argumentar que tem menos meios que os rivais. Não tendo um poderio financeiro tão elevado, tem uma formação mais competente, o que compensa. E o valor do plantel, por causa disso, não se ressente. Aliás, o plantel leonino não é inferior ao do Porto, por exemplo. Desculpabilizar campeonatos mal conseguidos por incapacidade de competir com o Porto é ridículo. Revela um comportamento hipócrita e tacanho. Se o Sporting não tem conseguido competir com o Porto, é porque não tem sido tão competente. Afirmar que Paulo Bento tem feito o possível e repetir chavões como "sem ovos não se fazem omeletas" é uma atitude bem portuguesa que revela conformismo e servilismo. O Sporting tem argumentos tão ou mais válidos que os rivais, tem "ovos" de categoria com os quais pode fazer "omeletas" formidáveis. Quem pensa o contrário, engana-se.

7. Pela pré-época leonina, auguro uma época sombria. Paulo Bento tem perdido, gradualmente, as suas melhores características. O jogo do Sporting, agora, resume-se a um marasmo sem explicação. Não há motivação, não há alegria. E assim é difícil que haja vontade. O problema do Sporting - repito - é de liderança. Não tem a ver com liderança, porém, no sentido psicológico. Tem a ver com o saber extrair dos atletas o seu melhor, de ser capaz de puxar pela sua vaidade, pelo seu brio. E isso não se faz apenas com um discurso de líder. Faz-se sobretudo usando um modelo de jogo no qual os atletas ao seu dispor se sintam valorizados. No actual modelo, uma coisa feia, rectilínea, que tem por fim chegar à frente o mais depressa possível, que valoriza essencialmente a velocidade e a força física, que pretende jogar apenas pelas alas e não pelo meio, os virtuosos, os inteligentes, os criativos estão amordaçados. O Sporting é, dos três grandes, a equipa com mais jogadores cuja principal característica é a inteligência. Deveria aproveitar esse facto para praticar um futebol inteligente, de posse e circulação de bola, e não o contrário. Pratica um futebol de distrital, um futebol de equipa pequena. Por essa razão, os jogadores entram em campo com os colossos europeus a pensar que lhes são muito inferiores. Daí os desastres com o Bayern; daí o facto de jogadores como Pereirinha e Djaló permanecerem acanhados; daí a estagnação de Moutinho e Veloso; daí a pouca preponderância de Romagnoli e Matías Fernandez; daí a aparência de que Liedson é Deus.

8. As exibições com o Twente foram das piores que vi desde que Paulo Bento assumiu as rédeas da equipa. E não acredito que o Sporting melhore muito ao longo da época. Não acho Paulo Bento péssimo, mas neste momento é prejudicial ao Sporting. Enquanto não sair, a equipa não ganhará nada de importante, permanecerá amarrada a ideias que não podem vingar e os jogadores não evoluirão. Uma vez que a política do Sporting necessita da valorização dos seus activos, Paulo Bento já nem sequer é o homem certo à frente do leme. Os primeiros jogos do campeonato e a eliminatória com a Fiorentina deveriam servir para se reflectir sobre o futuro do Sporting, até porque, muito provavelmente, esses jogos comprometerão toda a temporada.

9. Liedson leva mais de 500 minutos sem marcar, não é? Isso dá o quê, 6 jogos? E Postiga foi o melhor marcador da equipa na pré-época, não foi? E quem é que Paulo Bento tirou para fazer entrar Caicedo, o rapaz que ainda não marcou um golo esta temporada e que não ganhou um lance durante o jogo, ou o melhor marcador da equipa na pré-temporada? É por haver estes tipo de indiscutíveis que há "azias" permanentes no balneário. É de todo irresponsável e errado censurar Miguel Veloso, Djaló ou Vukcevic por ficarem chateados por não jogar. A responsabilidade não é deles; é de Paulo Bento e das suas ideias preconcebidas.

10. No Benfica, nem tudo são rosas, apesar de o início de época ser auspicioso. A indefinição quanto ao guarda-redes titular, a incapacidade de se perceber que Sidnei é evidentemente o melhor central encarnado e que David Luiz, neste momento, não só não pode ser lateral como não tem lugar a central, as desconfianças em relação a Shaffer, o melhor defesa-esquerdo a actuar em Portugal, a discrepância entre o aplauso constante a Javi Garcia e o apupo permanente a Yebda, quando são jogadores de um nível idêntico, um melhor posicionalmente, outro mais ágil e agressivo e tecnicamente superior, a dificuldade que se adivinha em gerir expectativas quando há jogadores de estatuto idêntico que vão ficar necessariamente de fora (entre Carlos Martins, Ruben Amorim e Ramires só vai jogar um), o excesso de avançados, etc., são alguns dos problemas individuais que poderão comprometer a temporada. Há que ter em conta essas coisas no momento de elevar as expectativas.

11. Outro problema, para mim o principal em termos colectivos, está relacionado com o sistema táctico e com a abertura que se nota no meio-campo. O Benfica de Jesus, ao contrário do que tem sido apontado, não joga em 442 losango, mas sim em 4132, com Aimar a jogar na mesma linha dos interiores. Não sendo alas, estes dois homens jogam então necessariamente mais abertos do que num 442 losango, em que seriam responsáveis mais pelo trabalho interior do que pelo exterior. No Benfica de Jesus, esta amplitude permite à equipa maior largura, mais velocidade, mas compromete o centro do terreno e os apoios pelo miolo. Além de a ligação entre meio-campo e ataque não ser garantida com tanta facilidade, pois o 10 joga mais afastado da dianteira, o que afasta os sectores e prejudica necessariamente a pressão, a equipa perde ainda um apoio frontal, um homem a aparecer frequentemente no espaço entre linhas, tão útil no futebol moderno. Sem isso, o Benfica terá de ser constantemente dinâmico, terá de cair na vertigem de jogar sempre com uma intensidade elevadíssima e será incapaz de controlar o ritmo de jogo quando lhe convier que este seja mais pausado. O Benfica será, por isso, uma equipa muito dependente dos dois momentos de transição e aí terá de se defender com a sua capacidade posicional. Se o posicionamento de um médio-defensivo garante o equilíbrio em relação à defesa, é à frente dele e sobretudo ao lado que me parece que há espaços indevidos. Os interiores, sendo responsáveis pelo trabalho exterior, não estão constantemente a fechar no meio e isso, sobretudo em transição, pode ser fatal. Nesta pré-época, o principal problema defensivo do Benfica foi precisamente o espaço entre o médio-defensivo e os outros três médios, coisa que, não sendo corrigida, pode trazer amargos de boca nada agradáveis.

12. Escalpelizados os principais defeitos do Benfica de Jesus, resta uma palavra de apreço pelo futebol praticado, provavelmente o melhor nesta década para os lados da Luz. Considero o Benfica o principal candidato ao título esta época. Individualmente, tem um plantel fortíssimo. Colectivamente, tem o homem certo à frente do leme. E a concorrência parece bastante debilitada, seja o Porto pelo muito músculo e pouca cabeça, seja o Sporting pela incapacidade de compreender a força do seu plantel.

13. Para os detractores de Aimar, esta será uma época de poucas palavras. O argentino é o jogador mais talentoso do campeonato português e, inserido num modelo de jogo que potencia o verdadeiro talento, vai certamente encantar. A inteligência de Jesus começou a ser revelada no preciso momento em que reconheceu que Aimar era o jogador mais importante da equipa, entregando-lhe a batuta e construindo o resto em função da sua existência.

14. Aimar e Saviola formarão a dupla mais temível da Liga Portuguesa. A importância da relação entre dois ou mais jogadores costuma ser pouco valorizada. Já referi que essa era a principal arma do Porto nas últimas épocas e que Lisandro e Lucho se entendiam como ninguém. Agora que saíram de Portugal e que, no Sporting, Paulo Bento insiste em não aproveitar a capacidade intelectual dos seus jogadores para criar duplas ou triplas que se entendam muito bem, é no Benfica e nesta dupla de argentinos que reside o grupo de jogadores que melhor se entende no futebol português. É de assinalar a facilidade com que jogam um com o outro, caindo às vezes no exagero saudável de trocarem a bola entre si num espaço de três metros, enquanto os adversários andam à rabia.

15. Das restantes equipas da Liga, destaco Braga e Vitória de Guimarães, por me parecerem aquelas que reúnem melhores elementos a nível individual. Com Madrid, Possebon, Hugo Viana, Mossoró, Alan e Linz, Domingos Paciência está obrigado a fazer um grande trabalho. De igual modo, com Custódio, Desmarets, Nuno Assis, Rui Miguel, Jorge Gonçalves e Douglas, Nelo Vingada também não se poderá queixar de falta de qualidade do meio-campo para a frente. O Marítimo de Carlos Carvalhal, pela competência que lhe reconheço, terá também uma palavra a dizer no que diz respeito aos lugares europeus. Estou com alguma curiosidade para ver o que Jorge Costa fará neste regresso à primeira Liga, pelo que não sei até que ponto o Olhanense não será uma surpresa agradável. O Nacional é um clube estável e ocupará, por certo, posições confortáveis. O Vitória de Setúbal, a Naval, o Rio Ave, o Leiria, o Belenenses, o Paços, a Académica e o Leixões parecem-me as equipas mais débeis e prevejo que sairão deste grupo as duas despromovidas.

16. Em Inglaterra, o Manchester perdeu Ronaldo e Tevez de uma assentada. Vieram Owen e Valencia, o que deixa a equipa bastante inferiorizada. Poderá ser a época de explosão de Nani, mas creio que o reinado dos Red Devils estará ameaçado. Liverpool e Chelsea são, para mim, os principais favoritos à conquista do campeonato.

17. O Arsenal de Wenger reúne talento que nunca mais acaba, mas o sistema táctico manter-se-á o principal problema do treinador francês. As saídas de Adebayor e Touré não são graves, se pensarmos que há Fabregas, Rosicky, Nasri, Arshavin, Van Persie, Walcott, Eduardo e Carlos Vela, mas teriam de ser incluídos num modelo que os beneficiasse... Na rigidez de um 442 clássico, não há médios vocacionados para preencher tanto espaço, nem tantos criativos como Wenger tem ao seu dispor usufruem da liberdade que seria desejável.

18. O Manchester City contratou muito, mas mantém um treinador incompetente. Apesar de ter contratado bastante para o ataque, a defesa não está mal apetrechada. Zabaleta, Micah Richards, Kompany, Touré e Wayne Bridges deverão conferir qualidade ao sector. No meio-campo, há também alguns jogadores de qualidade, como Gareth Barry ou Martin Petrov. Mas Robinho, Santa Cruz, Adebayor e Tevez mereciam um treinador a sério.

19. Em Itália, continua a revolução de mentalidades. Ainda há muita gente que acredita que o futebol italiano é fechado, mas a verdade é cada vez menos condizente com esse preconceito. Há muito que o futebol italiano deixou de ser defensivo e este ano parece-me que se dá mais um passo rumo à desacreditação de tais ideias. Mourinho jogará de forma completamente diferente, pressionando provavelmente muito mais alto, e, contratando convenientemente para o meio-campo, terá equipa para lutar novamente pela Liga dos Campeões.

20. A Juventus será talvez o mais sério rival do Inter. Diego, Tiago, Camoranesi e Filipe Melo seriam as minhas escolhas para o meio-campo. Del Piero e Amauri constituíriam a dupla ofensiva. Não esquecer Giovinco, que este ano deverá aparecer em força.

21. O Milan de Leonardo parece-me estar um pouco abaixo da concorrência. A chegada de Huntelaar trará qualidade ao ataque, mas, pelo que pude ver na pré-época, os processos ofensivos passam muito por esperar que Ronaldinho esteja inspirado. Se Beckham regressar a Milão, como se diz, um 442 losango com Pirlo, Beckham, Seedorf, Ronaldinho, Huntelaar e Pato, bem trabalhado, seria demolidor.

22. Em Espanha, as contratações milionárias do Real Madrid fizeram furor. O Barcelona será novamente campeão e o resto é conversa.

23. Dispensar Huntelaar e Van der Vaart é uma palermice. Se acrescentarmos a esta lista a pouca vontade de Pellegrini em contar com Sneijder, Robben, Guti ou até mesmo Gago, parece-me evidente que o Real vai ser uma equipa de gente com músculos, mas sem muitas ideias. E duvido que Kaká consiga compensar tanta desorientação. Depois, contratar Granero, um jovem da cantera que regressou este ano do Getafe que pouco ou nada vai jogar e ceder o jovem Daniel Parejo, um jogador muito mais talentoso e com uma margem de progressão assombrosa, revela muito do que é este clube. Em resumo, o Real contratou em demasia e terá muitos problemas em formar uma equipa.

24. O Barcelona manteve a estrutura e contratou pouco e bem, como se recomenda. Não será por acaso que as duas contratações dos catalães, Maxwell e Ibrahimovic, passaram pelo Ajax. Também não é por acaso que Bruno Alves não foi para Barcelona e que Guardiola tenha optado por fazer regressar o central brasileiro Henrique. E também não é por acaso que o Barcelona se manterá como o mais forte candidato à vitória na Liga dos Campeões.

25. Para finalizar, um pequeno aparte sobre um momento da pré-época. Gosto de defender quem merece ser defendido e atacar quem merece ser atacado. Del Piero falhou um penalty na final da Peace Cup e a Juventus acabou por não ganhar a competição. Aos risos, que são naturais, juntou-se a estupidez de quem gosta de ser estúpido e falou-se em um dos piores penalties de sempre. A estupefacção tomou conta de mim. É verdade que Del Piero falhou, mas o penalty não foi mal marcado. Antes pelo contrário, Del Piero fez tudo o que o que deveria ter feito. Repare-se que ele modifica a corrida no momento anterior ao remate, tentando enganar o guarda-redes. Tecnicamente, não foi displicente. Ele sabia exactamente o que ia fazer e a sua ideia era fazer o guarda-redes cair para um lado e chutar para o meio. Aliemos a isto o facto de o guarda-redes, nas quatro penalidades anteriores, ter sempre tentado adivinhar o lado para onde o avançado ia chutar. Del Piero esteve certamente com atenção a isso. Sabia que o guarda-redes preferia adivinhar o lado e não haveria melhor forma de convertê-lo do que chutando para o meio da baliza. Tendo em conta que Del Piero raramente bate para o meio, o penalty foi até imprevisível. Por paradoxal que pareça, o guarda-redes defendeu a bola porque foi burro. E com a burrice dos outros é difícil de contar. Se o guarda-redes fosse inteligente, jamais decidiria ficar quieto. O que ele imaginou foi que Del Piero, por ser um craque, iria tentar bater à Panenka. Mas isso não é ser esperto. É ser burro. Porque Del Piero nunca bate à Panenka. Teve sorte e a bola bateu-lhe nos pés. Às vezes os burros têm sorte. E os comentadores, sem se darem ao trabalho de raciocinar, nem perceberam que o penalty foi bem batido, quer em termos de decisão, quer em termos técnicos, e que não houve displicência alguma. Houve sim sorte do guarda-redes. Catagolar um penalty bem batido que não deu golo porque o guarda-redes teve sorte como um dos piores penalties é uma doença grave. Ou então é aquele impulso de homem das cavernas de relatar factos surpreendentes aos outros, de contar histórias mirabolantes, como se conhecer tais histórias fizessem essas pessoas mais sábias, e que conduzem ao exagero de falar de coisas normais como se fossem coisas extraordinárias. Veja-se o que a redacção do Mais Futebol escreveu a seguir: "Curiosamente aquele não era mesmo o momento de Del Piero: para além de falhar o penalty, o internacional italiano falhou também a «recarga» - que de qualquer forma não ia valer, mas que fez em desespero de causa." Pois, o que o Del Piero queria era mesmo fazer a recarga. Claro. Nem estava irritado por não ter marcado nem nada. Ele queria mesmo era fazer a recarga... E chamam a isto jornalismo? Isto não é jornalismo; isto são bandalhos a dizer asneiras...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Semana de Decisões

1. O Porto sagrou-se campeão nacional pela quarta vez consecutiva. E foi outra vez um justo vencedor. Apesar das dificuldades, dos contratempos, foi o conjunto mais conjunto, por assim dizer. E isso é o suficiente, quando os rivais se revelam tão fracos. Para mim, Jesualdo só não merecia ter sido campeão no seu primeiro ano. De lá para cá, tem sido capaz de construir uma equipa competitiva, assente numa ideia colectiva clara. A defender, os seus processos estão ao nível dos melhores da Europa e nem sequer tem comparação com o que se faz cá dentro. A atacar, tem algumas limitações, necessitando e muito da capacidade de explosão dos seus jogadores mais ofensivos e, no fundo, das individualidades que um clube grande consegue colocar ao seu dispor. Não sendo perfeito a esse nível, esteve uma vez mais melhor que os treinadores rivais e pode mesmo gabar-se de ser campeão tendo um plantel inferior ao do Benfica e ao do Sporting.

2. No rescaldo da conquista do campeonato, insiste-se num erro que não faz sentido. Os méritos de Jesualdo são evidentes e a justiça não poderia consagrar outra equipa. Mas se há coisa em que o professor continua a mostrar ser pouco dotado é na apreciação de jogadores. No entanto, a douta sabedoria da populaça afirma com galhardia que Jesualdo sabe, melhor que ninguém, explorar o potencial dos jogadores e fazê-los crescer. Isso não é verdade. As contratações falhadas voltaram a ser bastantes: Sapunaru, Benitez, Pelé e Guarín vieram juntar-se a Kazmierczak, Bollati e Stepanov, de anos anteriores. E para o ano já estão anunciados pelo menos mais dois jogadores que não terão vida fácil no Dragão: Varela e Miguel Lopes. O Porto continua a depender muito de alguns jogadores fulcrais como Helton, Lucho, Meireles e Lisandro. Fala-se em renovação do plantel, mas esquece-se que, à excepção de Hulk, todos os jogadores que entraram este ano na equipa fizeram-no por não haver outras soluções. Rolando e Cissokho são jogadores medianos, ao nível do que há nos rivais, de Tonel e Grimi, de David Luiz e Jorge Ribeiro. Daí até serem uma mais-valia individual vai um bocado. São melhores que as alternativas, mas não foram nunca jogadores determinantes. Fernando veio fazer a pré-época e acabou por agarrar o lugar, não sem antes o professor experimentar várias outras opções. A qualidade de Fernando veio logo ao de cima e a única coisa que foi melhorando ao longo da época foi a sua confiança. Não houve mão de Jesualdo, também aqui. Teve a sorte de lhe aparecer ali aquele fulano e de não ter uma opção para o lugar que reunisse consenso. Quanto a Rodriguez, o seu valor ficara já evidente a época passada. Pelo que resta Hulk, o único em quem Jesualdo apostou continuamente, em que demonstrou depositar uma confiança inexcedível. Resumindo, os jogadores que despontaram neste Porto, à excepção de um ou outro, despontaram não porque Jesualdo tenha olho para a coisa, mas porque alguém tinha de agarrar o lugar. E o que dizer de Tarik, praticamente ostracizado depois de ser uma das peças fundamentais na época passada? E a não aposta deliberada em nenhum jovem da casa, chegando ao cúmulo de mandar vir Hélder Barbosa a época passada para logo o preterir? Jesualdo continua a demonstrar não ser muito competente na hora de escolher jogadores. Os seus méritos existem, são o motivo pelo qual o Porto é um justo vencedor, mas estão noutro lado.

3. No Benfica, antecipa-se o cenário mais lógico: a demissão de Quique. O treinador espanhol tem coisas boas, mas a incapacidade para perceber como é que isso pode ser exponenciado chega a ser bizarra. A persistência num sistema que nunca funcionou e que, aos poucos, todos foram percebendo que não podia dar mais não deixaria antever uma segunda época brilhante. Há quem seja contra trocas constantes de treinadores e que queira dar mais tempo a Quique. O problema, para mim, não está nos resultados. Era admissível, num primeiro ano em Portugal, com uma equipa completamente nova, não se conseguir bons resultados. O que não é admissível é não haver evolução, não haver planos alternativos, não se perceber coisas básicas acerca da forma como se trabalha e, em última instância, não se perceber o que se está a fazer mal para poder melhorar. Perante tudo isto, Quique não pode continuar. Seria prolongar o vínculo com a mediocridade.

4. Por falar em mediocridade, o que dizer do futebol actual do Sporting? A era Paulo Bento terá chegado ao fim. Para bem do Sporting, é o melhor que pode acontecer. O futebol praticado foi perdendo riqueza à medida que a era de Paulo Bento avançava. Nos primeiros tempos, o Sporting jogava de forma fluida e alegre. Hoje, é tudo em esforço, sem imaginação, apelando às individualidades em vez de apelar ao colectivo. Em tempos, cheguei a pensar que Paulo Bento conseguiria impor um futebol suficientemente competente para ser campeão, ainda que com parcos recursos financeiros, quando comparados com os dos rivais. Hoje, repetidos até à exaustão os muitos erros que foi cometendo, já não possuo essa crença. Não perceber que o mal de Romagnoli é causado pelo mal da equipa, não perceber que certos jogadores precisam de certos mimos, não perceber que não pode gerir um balneário com indiscutíveis de qualidade discutível, não perceber que os atributos colectivos dos jogadores devem ser preferidos aos atributos individuais, não perceber que Liedson é nocivo a qualquer estratégia que pretenda dos avançados algo mais do que competência individual, tudo isto são pequenas falhas que, juntas, condicionam a capacidade da equipa. E o futebol ressente-se; e torna-se medíocre.

5. Jaime Pacheco foi finalmente despedido a duas jornadas do fim. O Belenenses está com um pé na segunda divisão e Rui Jorge deverá assumir a liderança do barco. Talvez fosse uma boa aposta para manter na próxima época, aconteça o que acontecer. Rui Jorge é daqueles para com quem o futebol ainda está em dívida.

6. Lá por fora, o Barça empatou mas acrescentou um ponto à diferença para o segundo classificado, o que o deixa ainda mais perto do título. Mas a notícia é mesmo a lesão de Iniesta. A sua ausência da final da Liga dos Campeões é agora uma possibilidade real e pode ser um duro revés nas ambições blaugranas. O médio-espanhol confere à equipa algo que, além dele, só Xavi consegue dar, doses abundantes de imaginação. A sua ausência não torna o Barcelona menos forte em termos atléticos ou técnicos, mas sim mais previsível, menos capaz de furar em espaços curtos. No futebol de toque curto da equipa catalã, Iniesta é o seu melhor intérprete e isso pode ser decisivo.

7. Entretanto, veio a final da Taça do Rei e o Barcelona venceu o primeiro troféu da época. Expressivos 4-1 frente ao Atlético de Bilbao, pelo menos mais 6 ou 7 oportunidades de golo, e uma segunda parte jogada unicamente num dos meios-campos. O futebol do Barça é demolidor e a quantidade de goleadas esta época uma coisa sem par. Falta a Liga dos Campeões para ser uma época inesquecível.

8. Depois da polémica meia-final entre Barcelona e Chelsea, a Sporttv não transmitir, em três canais possíveis, a final da Taça do Rei, optando por transmitir, à mesma hora, a interessantíssima final da taça de Itália entre Lazio e Sampdoria, ou um interessantíssimo Wigan vs Manchester United, não cheira nada bem. A mim, em particular, cheira-me a ressabiamento. Ou a malta que tinha apostado bom dinheiro no Chelsea e ficou a ver navios. O que é interessante tentar perceber é o que vai dentro da cabeça de quem escolhe transmitir um jogo do campeonato inglês, e a final da taça de Itália, e também outro jogo do campeonato francês, em vez de uma final da taça que, além de muito aguardada em Espanha, colocaria em campo a melhor equipa da época e o futebol mais espectacular da década. A mim, isto parece-me propaganda nazi. Virada para Cristiano, não para Adolfo, claro está.

9. Por falar em finais, Diego vai estar ausente da final da UEFA. Tudo por causa de um amarelo daqueles que dá vontade de perguntar ao árbitro se ele gosta mesmo de futebol. A UEFA já deveria ter intervindo, há muito, sobre estes casos. A hipótese de os melhores jogadores ficarem excluídos de uma final devido a um amarelo é absurda. Diego carregou literalmente o Bremen às costas e é inequivocamente a figura da edição deste ano da prova. Sem ele, a final nem sequer vale a pena ser vista. Restar-lhe-á o consolo de ter voltado à ribalta do futebol mundial e de lhe ser finalmente reconhecido todo o talento que tem e do qual certas pessoas não foram capazes de se aperceber.

10. De resto, em Itália é praticamente certo que o "scudetto" é de Mourinho, naquela que terá sido a pior época da carreira do técnico português. Em Inglaterra, o Manchester também já poderá encomendar as faixas.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Mentiras sobre o Chelsea - Barcelona

1. Há quem diga que marcar já em tempo de descontos, no único remate certeiro em toda a partida, com apenas dez jogadores em campo, tendo sobrevivido a alguns assaltos à sua baliza, é uma manisfetação inequívoca daquilo a que se chama "estrelinha de campeão". Estão errados. A razão pela qual isto aconteceu confunde-se com a própria essência do Barcelona. Mesmo com dez, foi a única equipa com clarividência em campo, conseguiu evitar zonas de pressão e progredir com a bola no terreno. Mas, mais do que isso, nunca desvirtuou o seu modo de jogar. Mesmo com dez, mesmo estando a fazer um mau jogo, mesmo tendo o melhor do mundo ali pronto para resolver individualmente o que o colectivo não estava a ser capaz de resolver, o Barça manteve-se fiel aos seus princípios. Continuou a circular a bola de um lado para o outro, a tabelar, a tentar furar. E isso deu frutos. Chama-se ter paciência. O simples facto de não ter rematado muito tem a ver com isto. Guardiola já teve oportunidade de dizer que prefere que a sua equipa, dentro da área, troque a bola até arranjar espaço para chutar. Dentro da área. É por isso que se vêem tabelas até quase à linha de golo. Esta equipa só chuta quando a probabilidade de êxito é elevada. Daí o único remate na partida ter dado golo. Não é sorte; é saber.

2. Também há quem diga que o Barcelona pode agradecer ao árbitro a passagem à fase seguinte. Concordo que o Chelsea tem algumas razões de queixa da arbitragem neste jogo, mas não tantas como querem fazer crer. A mão de Piqué é evidente. A de Eto'o não tanto e se uns árbitros marcariam, outros não. A falta sobre Malouda é fora da área. E não há mais nada. Não esquecer ainda que a expulsão de Abidal é forçadíssima. Mas se é verdade que o Chelsea se pode queixar deste jogo, o que dizer do jogo da primeira mão? A expulsão perdoada a Ballack, o penalty não assinalado sobre Henry e o amarelo a Puyol (que o impediu de jogar este jogo), na sequência da mesma jogada, não equivalem ao que se passou neste jogo? Parece-me evidente que sim. Nenhuma das equipas se pode queixar de ter sido mais prejudicada do que a outra.

3. Também há quem sugira que Hiddink deu um banho táctico a Guardiola. Admiro muitíssimo Hiddink, mas defender com uma linha de quatro e outra de cinco à frente da área não é táctica, é respeitinho. A táctica do Chelsea passava por defender o melhor possível o último terço do terreno e depois confiar na sorte. Se se reparar bem, as transições dos ingleses nem sequer eram bem definidas. Avançavam aos trambolhões, mais com o coração do que com ciência. E as oportunidades que tiveram foram quase todas consentidas pelo Barça, que revelou um desacerto defensivo anormal. No cômputo das duas mãos, o Barcelona foi muito melhor equipa, em todos os níveis, do que o Chelsea, embora neste jogo, sobretudo pelos erros defensivos, não tenha conseguido ser superior à equipa inglesa. Fez-se justiça, por isso.

4. Há ainda quem avente que Messi passou uma vez mais ao lado do jogo. Messi mostrou hoje o que é um grande jogador. É evidente que poderia ter tentado agarrar na bola e usar o seu poder de drible para resolver as coisas. Teve várias oportunidades para o fazer, mas nunca o fez. E nunca o fez porque optou por não fazê-lo. Preferiu sempre não desvirtuar o colectivo; preferiu sempre privilegiar a troca sustentada da bola em detrimento dos desequilíbrios individuais. No último lance de ataque da sua equipa, apoderando-se da bola no interior da grande área, poderia ter chutado, poderia ter ido para o drible, poderia até ter tentado cavar o penalty, mas preferiu assistir Iniesta para o golo. Nesta partida, sem fazer uma exibição de gala, Messi mostrou por que é o melhor do mundo. Porque os melhores do mundo também sabem pôr outros a brilhar; porque os melhores do mundo também são aqueles que percebem que o colectivo está acima do individual. Messi esteve apagado? Não. Esteve ao serviço do colectivo. E o colectivo está na final.

P.S. Faltam duas finais para a melhor equipa do ano poder entrar para a História.

P.S.2. Num jogo de nervos, a três minutos do apito final, com a partida a caminhar para o fim e com um resultado que não o satisfazia, ver Guardiola alegremente abraçado a Guus Hiddink, por entre sorrisos, é de homem.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Coisas que se passaram

1. A agressão de Pepe foi a notícia da semana. Em poucas palavras, 10 jogos para alguém que não tem antecedentes parece-me um castigo pesado, ainda que a paragem cerebral de Pepe tenha tido consequências pouco desculpáveis. No entanto, o que é importante tentar perceber são os motivos que levaram àquilo. Há quem diga que Casquero, o agredido, terá dito alguma coisa a Pepe, pois só assim se justificaria tal coisa. Mas se isso fosse verdade, não teria o internacional português mencionado o facto, em sua defesa? Para mim, Pepe perdeu a cabeça por frustração. Tivera responsabilidades directas nos dois primeiros golos do Getafe e, a três minutos do fim, cometia um penalty que daria boas hipóteses de derrota ao Real. Ao contrário da posição de Luis Sobral, que opta por não tentar explicar o que não sabe, a reacção de Pepe - parece-me - é apenas consequência da frustração de mais um mau jogo. E consequência também do jogador que é: irreflectido, imponderado, incapaz de conter os ímpetos. Foi a cereja no topo do bolo de uma época absolutamente desastrosa, época esse que o Entre Dez lembrará em breve e que coloca Pepe no seu devido lugar, bem longe dos melhores centrais europeus da actualidade.

2. Por cá, lesionou-se Lucho González e depois Hulk. Na minha óptica, a Providência fez troça do Sporting, como quem dá um chupa-chupa a uma criança e depois o tira quando esta está pronta a pô-la na boca. Se a lesão de Lucho deixou antever um final de época atribulado para o conjunto nortenho, estando o Sporting à espreita de uma escorregadela dos campeões nacionais, já a de Hulk veio permitir que a equipa não jogue manca. Assim, mesmo sem o jogador mais criativo da equipa (como é óbvio, não estou a falar do Hulk), o Porto continuará coeso, a jogar como equipa, com jogadores adultos como Mariano e Farias, e continua o mais sério candidato ao título.

3. Entretanto, Lisandro resolveu com classe e Fernando já é comparado a Paulo Assunção. O Entre Dez, como é hábito, resolveu antecipar-se às modas e disse, há coisa de seis ou sete meses, basicamente o mesmo. Não podem ouvir nada...

4. O Sporting, sem nenhum dos habituais titulares do meio-campo, rubricou uma exibição como há muito não se via. Pereirinha, o tal que não tinha talento, agora já tem muito potencial. Romagnoli joga demasiado para a equipa e no futebol, como todos sabemos, pensar primeiro no colectivo e depois em si não leva a lado nenhum. Postiga é outro que é fraquinho... Que paciência para isto. O Sporting, jogando desde o início da época com Patrício, Abel, Grimi, Carriço, Tonel, Moutinho, Izmailov, Pereirinha, Romagnoli, Vukcevic e Postiga já era campeão por esta altura.

5. Diz-se que Liedson fez um jogão, que continua a levar o Sporting às costas e que vai ficar mais uns anos em Alvalade. Em relação à última destas notícias, tenho a dizer que lamento, mas até 2012 (ano do termo do novo contrato do Levezinho, segundo consta), haverá apenas dois candidatos ao título: Benfica e Porto. Quanto ao jogo em si, ao contrário do que se disse, Liedson fez um jogo medíocre, mais um. Destaco dois lances que ilustram o modo primitivo com que se vê futebol em Portugal e que está na base do facto de se continuar a idolatrar um jogador absolutamente banal como ele: primeiro, aquela bicicleta na área, quando Postiga estava atrás de si, em muito melhores condições para finalizar; depois, aquela bola que recupera a meio do meio-campo adversário e com a qual tenta fazer um chapéu a um guarda-redes que já tinha voltado para a baliza há meia-hora. Além de o remate nunca poder dar em golo, foi um balão tão grande que mesmo que o guarda-redes ainda não tivesse regressado, podia ir tomar café, limpar o pó à casa, voltar e apanhar a bola. Mas o público aplaudiu. Mesmo tendo Liedson feito um disparate quando poderia ter iniciado uma jogada de perigo, face ao desposicionamento da defesa do Estrela. Depois, fala-se na assistência para Postiga como se fosse uma coisa extraordinária. Mas alguém viu o lance como deve ser? A movimentação é horrível, aproximando-se de Pedro Silva quando este tem a bola e obrigando-o a desenvencilhar-se sozinho. Por sorte, Pedro Silva conseguiu vir para dentro, o que soltou Liedson. Depois, um cruzamento com a bola a saltitar é uma coisa dificílima de efectuar. É isso e fazer um ovo estrelado. E então quando comparam essa assistência à do Postiga, na segunda parte, para o mesmo Liedson (que falha vergonhosamente), só podem estara gozar. A exibição de Liedson salda-se por um golo, num lance em que a defesa do Estrela está muito mal colocada. O resto são disparates, burrices e a alcateia das bancadas a uivar cerimoniosamente.

6. Ainda Liedson. Há quem diga que ele faz a diferença. Vamos ver. Tem esta época uma média de 0,64 golos por jogo, o que até é melhor do que a sua média desde que está em Portugal. Comparemo-lo com outros avançados do nosso campeonato. Cardozo tem o mesmo número de golos, mas a sua média é bem superior: 0,76 golos por jogo. Farias tem 7 golos e uma média de 0,90 golos por jogo. Nuno Gomes tem 7 golos e uma média de 0,58 golos por jogo. De facto, Liedson faz uma diferença do caraças.

7. Lá por fora, Arshavin marcou 4 ao Liverpool. Isto depois de os pupilos de Benitez terem encaixado 7 golos numa eliminatória da Champions. Mas há quem defenda que o Liverpool é a equipa que melhor defende na Europa. Está certo. Quer-me parecer que eles até são certinhos a defender quando jogam enfiados lá atrás. Mas quando têm que ir para cima do adversário, dão quilómetros de espaço. Isso não é defender bem. Isso é defender muito. E é sobretudo abdicar de lançar muitos elementos na frente para os ter cá atrás. O Liverpool não é a melhor equipa europeia a defender, porque defender também é atacar. E, quando ataca, o Liverpool defende francamente mal.

8. Chocante, chocante, era eu dizer que a melhor equipa europeia a defender é o Barcelona. Mas digo-o. Por várias razões. Primeiro, porque percebe que a melhor maneira de defender é ter a bola. Segundo, porque é das poucas equipas que, balanceadas para o ataque, se mantém posicionalmente equilibrada. Terceiro, porque não separa o acto de defender do de atacar. Quarto, porque em situação defensiva, mesmo pressionando alto, mesmo utilizando um bloco alto, ocupa na perfeição os espaços e mantém os sectores unidos.

9. Sobre futebol, há poucas coisas que vale a pena ler. Uma delas é a crónica semanal de Johan Cruijff. Na da semana passada, diz o seguinte: "La gente puede pensar que, jugando así, gastas muchas energías. No es verdad. Jugar el balón rápido, con las líneas juntas, requiere más un esfuerzo mental que físico. Si consigues jugar siempre en campo contrario, te cansas menos. Y robar muchos balones en campo del rival no es sinónimo de correr a lo loco, sino de correr lo justo hacia atrás para luego tener que correr poco hacia delante porque ya estás adelantado. Otra vez es el Barça, con su estilo, el que te lleva al engaño. Por su manera de jugar, corre menos de lo que parece. Por eso los jugadores parecen más frescos que el rival. Porque mientras unos sufren sin el balón, los otros se divierten." A melhor maneira de jogar futebol é divertindo-se, diz, entre outras coisas, Cruijff. Este Barcelona diverte-se tanto que no primeiro golo frente ao Valência, esta semana, parecia mesmo que estavam a gozar com os outros. De resto, nada a acrescentar ao que diz Cruijff: o Barcelona, a jogar como joga, despende menos energias que os adversários. Não será por falta de frescura...

10. Entretanto, o Real, aos trambolhões, vai encurtando terreno para o Barça. Sem jogar bem, mais com o coração e com Raúl do que com ciência, a equipa de Juande Ramos chega à fase derradeira do campeonato, em vésperas de clássico no Bernabéu, apenas a quatro pontos dos catalães e com a vantagem de não jogar a meio da semana. Vou-me armar em vidente e fazer um previsãozinha: só por azar é que a remontada não acaba já para a semana.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Momentos

A semana e meia que passou foi pródiga em episódios caricatos. É sobre eles que irei falar.

1. Luis Sobral voltou a dizer porcaria. O artigo completo pode ser lido aqui, mas vou deter-me na frase central: "Só há duas verdadeiras razões para seguir uma partida do futebol italiano: ver jogar Ibrahimovic, ver protestar José Mourinho." Ou seja, para Luis Sobral, o futebol italiano é uma trampa e só se aproveita Ibrahimovic e Mourinho (este porque protesta). Fica implícito que o resto do futebol italiano não vale nada e que nem sequer merece o sueco. Resta saber que futebol é que Luis Sobral aprecia, então. Se a liga mais competitiva do mundo não o satisfaz, talvez prefira a segunda liga do Azerbeijão. São gostos. Ainda bem que há liberdade de expressão.

2. Por cá, tivemos um senhor a armar um circo e a acabar feito palhaço. Falo de Queiroz. Pegou num pormenor insignificante e que deveria ser incentivado, fez dele um cavalo de batalha e reprovou-o. Pereirinha e Rui Pedro ousaram fazer uma coisa diferente e tiveram de prestar contas à Inquisição. Não satisfeito com a reprimenda apalermada de Rui Caçador, o seleccionador principal decidiu suspender os jogadores. Não sei se Queiroz terá aprendido com Paulo Bento a castigar todo aquele que revela uma personalidade ambiciosa, mas parece-me claro que o 25 de Abril em sua casa é dia de trabalhos forçados.

3. Entretanto, o Portimonense saiu em defesa de Rui Pedro, sendo que o jogador nem sequer pertence aos quadros do clube. Do Sporting, nem uma palavra de apoio ao capitão da selecção de sub-21. Miguel Veloso bem avisou que os jogadores não têm apoio de ninguém.

4. Ainda sobre o mesmo assunto, a reacção de Caçador e de Queirós foi a de enfatizar até ao absurdo o incidente. Outros, como eles, acharam que aquilo que os jovens fizeram foi repugnante, irresponsável e uma forma de menosprezar o adversário que ilustra a falta de valores e de humildade no nosso país. Ao contrário disto, lembram os valores morais e a dignidade de outros povos, numa atitude provinciana levada ao extremo. O que eu gostava mesmo de saber era o que é que essas pessoas diriam se vissem Henry e Wenger, no flash interview a seguir ao jogo em que o mesmo Henry e Robert Pires falharam um penalty idêntico, a rirem que nem perdidos da situação. Se calhar também são portugueses e também não têm humildade. Destaco as sábias palavras de Wenger, ditas por entre um sorriso, enquanto os jogadores do Manchester City se sentiam desrespeitados: "também faz parte do jogo cometer este tipo de erros". Pois faz. Também concordo que há uma diferença de mentalidades: Wenger não tem a tacanhez de Queiroz.

4. Provavelmente satisfeito com o pulso forte que demonstrou, Queiroz não fez a barba para o jogo com a Suécia. Se tivesse que adivinhar, diria que o seleccionador se cortou da última vez que fez a barba e decidiu castigar as lâminas de barbear por falta de responsabilidade.

5. Entretanto, antes do jogo com os nórdicos, Cristiano Ronaldo, confrontado com o porquê de não render tanto na selecção quanto no Manchester United, disse o seguinte: "Se todos fizessem o que fiz, éramos campeões mundiais". A única coisa que podemos depreender daqui é que Pereirinha e Rui Pedro, infelizmente, têm de se aguentar à bomboca, pois não são Cristiano Ronaldo. Ou seja, tentar marcar um golo de uma maneira diferente, mostrando criatividade e ao mesmo tempo coragem, é motivo para ser castigado; dizer abertamente que nem todos se esforçam como ele é um comportamento louvável. Viva a liberdade de interpretação.

6. Vieram finalmente os suecos e Portugal não jogou nada. Há quem diga que Portugal se fartou de jogar à bola, mas estes se calhar têm medo que Queiroz os castigue se disserem o contrário. Portugal atacou muito, correu muito, impôs um ritmo alto. Nada disto é jogar bem. Houve intensidade, houve vontade de ganhar, houve atitude, houve garra, houve compromisso. Só não houve ideias. Infelizmente, não houve a única coisa que era preciso ter havido. E o futebol praticado foi uma coisa irracional, sempre a uma velocidade estonteante, como se cada jogador tivesse de ir tirar o pai da forca. Futebol não é halterofilismo; joga-se com a cabecinha. Resultado: meia-dúzia de lances interessantes em 90 minutos e tantas oportunidades de golo para um lado como para o outro. A Suécia, uma selecção absolutamente banal sem Ibrahimovic, sem ter feito nada por isso, por pouco não ganhava o jogo.

7. Receita para o sucesso: jogar com um central a trinco porque os outros são grandes, jogar com o Bruno Alves de início, jogar a segunda-parte toda com 4 centrais de raiz em campo, tirar Tiago quando era o único com ideias, manter no meio-campo Meireles e Pepe, não colocar a jogar Nani nem Moutinho, trocar Danny por Hugo Almeida. Poderia acrescentar outras: apostar em Eduardo, não convocar Nuno Gomes, Postiga, Quim, Zé Castro, Fernando Meira, Pedro Mendes, Carlos Martins nem Quaresma. Estou de certeza a esquecer-me de mais qualquer coisa.

8. Imagem de marca do desafio: Queiroz com as mãos na cabeça, provavelmente a cogitar quem é que iria castigar por Cristiano Ronaldo falhar aquele golo.

9. Três jogos em casa, duas equipas medianas e uma fraca, dois empates e uma derrota; 5 jogos, 1 vitória, 6 pontos, três jogos sem marcar, 7 pontos de distância para o primeiro. São os números de Queiroz. Não seriam números maus, se Queiroz fosse seleccionador da Albânia. Assim, é a matématica a lixar a vida ao professor. O próximo a ser castigado é o Pitágoras, por ter ajudado a que houvesse forma de fazer contas.

10. Jogo amigável com a África do Sul. Ganhámos 2-0. Dois golos de bola parada, em dois falhanços incríveis da defesa sul-africana. Viva! A pergunta que se impõe é: para que é que Queiroz convocou três guarda-redes se dois deles nem no amigável entraram? Ou foram castigados a meio do estágio por terem sido encontrados a jogar ao berlinde?

11. A selecção B também jogou e Queiroz esteve na bancada. Acho que depois disso já castigou o operador de câmara que o filmou a roer uma unha. Do jogo em si, é sempre bom destacar o golo de Djaló, bem como o facto de nenhum dos jogadores portugueses ter sido castigado. Pelé fez 30 passes de ruptura inconsequentes e continua um senhor jogador.

12. Na zona sul do nacional de juniores, o Sporting foi vencer ao Seixal o Benfica, dando um passo seguro rumo à fase final. O Belenenses, que vai a Alcochete esta semana, ficou a 1 ponto do Benfica, que não contará com Nélson Oliveira nos próximos jogos, por ter sido expulso. Acho que Queiroz pensou em castigar toda a equipa do Sporting por ser muito melhor que a do Benfica.

13. Se os filhos do Queiroz aparecerem com um olho à belenenses, aposto que foi por o pai ter encontrado os miúdos a dizer que o Ibrahimovic jogava para caramba.

14. Na Liga, Lisandro foi castigado por ter simulado um penalty frente ao Benfica. Isto cheira-me a coisa do Queiroz.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Curtas da Jornada 18

1. Paulo Bento apresentou um 442 clássico. Resultado até mudar de ideias: 1-0 para o Belenenses e um deserto de ideias.

2. A melhor oportunidade do Sporting na primeira parte foi cortada para fora por uma cabeçada sem nexo de São Liedson. Carriço tinha tudo para fazer o golo, mas Liedson, desamparado, sem qualquer hipótese de fazer golo, vendo o colega em melhor posição, decidiu lançar-se à bola para lhe tocar de qualquer forma. Boa decisão, sem dúvida.

3. O Belenenses é patético. Defende homem a homem em todo o terreno. Ainda assim, o Sporting fez um jogo miserável e, apesar de conseguir um domínio territorial evidente, não criou oportunidades de golo à excepção de dois ou três remates de longe. Romagnoli, o melhor jogador leonino em espaços curtos, continua inexplicavelmente proscrito.

4. Polga está irreconhecível. A facilidade com que é, constantemente, ultrapassado no um para um é constrangedora. Tonel e Carriço teriam de ser os titulares, neste momento.

5. Miguel Veloso, a lateral, está a ser queimado. Não sei se as suas dificuldades defensivas na posição serão mesmo dificuldades. Lembro-me de vê-lo jogar a lateral esquerdo na selecção de sub-21 e não lhe reconhecia estes defeitos. Creio estar certo quando afirmo que as dificuldades são mais falta de vontade do que outra coisa.

6. Rochemback não tem lugar neste Sporting. E os seus defeitos não terminam com a má forma física. Compreende mal o jogo e as necessidades da equipa a cada momento, é francamente displicente em termos posicionais e não oferece rigorosamente nada ao conjunto. Talvez seja por perceber isto que Veloso anda chateado e por Paulo Bento não perceber isto que o Sporting não joga nada à bola.

7. Postiga tem obrigatoriamente de jogar nesta equipa. Não é pelo golo nem pela assistência; é pela classe, pela tranquilidade, pela imaginação, pela capacidade de decisão e pelo sentido de colectivo que empresta em todos os momentos do jogo. É, com Romagnoli, o melhor leão a funcionar como apoio vertical, coisa de que a equipa necessita como um indigente necessita de pão.

8. Vukcevic é extraordinário. Ao contrário do que muita gente diz, as qualidades do montenegrino não terminam na explosão e na capacidade de resolver individualmente. Para os argumentos técnicos e físicos que possui, é um jogador que decide muitas vezes bem, ao contrário de outros parecidos com ele, como Hulk ou Di Maria.

9. O Porto venceu, mas a coisa esteve tremida. Valeu um argentino pequenino que, para muitos, não vale nada. Farias não é um jogador extraordinário, mas é um ponta-de-lança eficaz, esperto, concentrado, com um instinto de baliza formidável. Dentro da área, é um jogador temível: sabe esperar o momento certo para atacar a bola e perceber o espaço onde ela vai cair como poucos. Fora da área, é banal, mas ainda assim não inventa muito, pelo que não prejudica em demasia a sua equipa. Os pontos de contacto com São Liedson são evidentes, mas enquanto um é Deus, o outro é só um peão descartável.

10. Luis Freitas Lobo, no Domingo Desportivo, disse que Hulk é bom é no meio. Mas também disse que David Luiz é lateral-direito, por isso se calhar é melhor não ligar. Hulk no meio é fraco. Até pode não sê-lo contra equipas que defendem mal, como o Rio Ave, mas contra equipas que defendam mais ou menos, é previsível, fácil de anular, e muito, muito contraproducente. A insistência nos lances individuais é angustiante. Ontem, teve uma jogada que toda a gente gabou. Passou pelo meio de dois, tirou Gaspar do caminho e chutou do meio da rua, atingindo o poste da baliza de Paiva. O que muita gente não percebe é que esta jogada mostra o que de bom Hulk pode dar a uma equipa e, ao mesmo tempo, o que de mau pode oferecer. O bom é, naturalmente, capacidade de arranque, drible e remate forte, ou seja, argumentos individuais. O mau é a tomada de decisão. O primeiro drible, a passar pelo meio de dois adversários, ainda que arriscado, é consequência de não ter apoios, mas a seguir há vantagem numérica. Se o drible sobre Gaspar é uma coisa de recurso, pois o defesa saiu-lhe às pernas, já o remate é um disparate. Após a finta, o defesa-direito do Rio Ave aproxima-se de Hulk para evitar a progressão do brasileiro. Nessa altura, Hulk deveria ter soltado em Mariano, que ficaria isolado, ainda que ligeiramente descaído para a esquerda. Optou pelo remate. Poderia ter dado um grande golo, é verdade. Mas a opção não foi a melhor. E o resultado foi o mais provável. Ou seja, Hulk, apesar de ter a capacidade de provocar desequilíbrios, raramente os aproveita da melhor maneira. Assim, o seu desempenho continua muito aquém do que as suas capacidades individuais possibilitam.

11. Na hora de trocar Fucile, lesionado, Jesualdo introduziu Tomás Costa. Até aqui, nada de estranho. O esquisito foi ter puxado Fernando para a direita e colocado o argentino no meio. Fernando é o principal responsável pelo equilíbrio exibicional que a equipa nortenha atingiu esta época. A sua inclusão na equipa constituiu o maior reforço desta temporada. Abdicar dele ali foi um erro que Jesualdo só não pagou caro porque não calhou.

12. Fábio Coentrão voltou a marcar um golo fantástico ao Porto. Merece, sem dúvidas algumas, uma oportunidade para lutar por um lugar no Benfica na próxima época. É, de longe, o melhor extremo português da sua idade. O que é parvo é, na selecção de sub-21, não ter a notoriedade que têm Bruno Gama, Ukra e Candeias, uma vez que é claramente superior a qualquer um deles.

13. Na Luz, o Benfica mostrou que o bom jogo contra o Porto foi uma excepção. Este Benfica tem a capacidade de ser forte contra grandes, mas é absolutamente banal quando tem de tomar a iniciativa de jogo. Contra uma equipa francamente má e que veio discutir o jogo com uma estratégia muito primitiva, viu-se facilmente manietado. Não teve capacidade para criar superioridade numérica em posse, nem inteligência para evitar a armadilha do fora-de-jogo. Valeu um erro do guarda-redes adversário, para abrir o marcador, e dois momentos de inspiração de Ruben Amorim e Di Maria.

14. Aimar continua a mostrar por que é que os caluniadores são gente sem massa encefálica. É aquele jogador sem o qual o modelo táctico de Quique atingiria o cúmulo da previsibilidade.

15. Carlos Martins arrisca-se a passar ao lado de uma época. Tudo porque as suas qualidades não são minimamente potenciadas por um modelo estupidamente inadequado.

16. Onde jogou Miguel Vítor, essa grande "referência" do Benfica dos dias de hoje?

17. O Braga escorregou. Nada de muito impressionante. A equipa de Jorge Jesus não é o monstro papão que têm feito dela.

18. Manuel Machado, apesar das referências individuais na marcação defensiva, continua a fazer um bom campeonato. Continua a valer Nené, uma das maiores revelações da temporada.

19. Em Itália, amainou a tempestade para o Inter de Mourinho. O campeonato está praticamente no papo, o que pode bem dar a dose de confiança necessária para enfrentar as restantes provas com maior tranquilidade.

20. O Barcelona voltou a empatar, mas é de salientar a forma saudável como conseguiu reagir à desvantagem. As grandes equipas também se vêem nestes momentos.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Curtas para fazer pensar

1. Mantorras entrou outra vez e marcou outra vez. Há quem diga que o angolano é o amuleto da sorte da Luz e quem explique a sua produção recorrendo a misticismos, a superstições e bruxedos. Por cá, acreditamos que Mantorras, ainda que não seja um jogador minimamente completo, possui um atributo em que é bastante forte: o instinto de baliza. A capacidade de perceber onde a bola vai cair, a apetência pelo golo e a forma como se aproxima de zonas de concretização sempre que é preciso fazem de Mantorras um jogador talhado para o último toque na bola. Nisto, não é inferior a Liedson. Ou talvez o seja apenas em lances aéreos. Aliás, a sua média de golos nos últimos anos é algo de espantoso: 0,95 golos por jogo. Mas o que importa perguntar é: por que razão é que um é um Deus e o outro é só um coxo por quem grande parte do público nutre afeição e se compadece?

2. O Porto venceu facilmente o Belenenses. Hulk é fortíssimo a jogar contra equipas desorganizadas defensivamente e que defendem ao homem. Contra essas equipas e sobretudo quando descai para uma das linhas, o seu poder de explosão é demolidor. Não são raras as vezes que ganha a linha e cruza atrasado. Dessa forma, pode ser um jogador importante para o Porto. O problema é quando joga contra equipas mais fechadas ou quando anda no meio do ataque. Aí é francamente mau.

3. Há quem ache que uma equipa, quando não consegue resolver as coisas colectivamente, depende das suas unidades capazes de desequilibrar individualmente. Recorrendo a essa teoria, consideram que o Sporting tem menos apetência para solucionar jogos pois tem menos unidades destas do que os rivais. Devo confessar que isto me causa alguma confusão. O problema está em pensar que o colectivo serve o individual. Eu sei que maior parte dos treinadores pensa assim e que constroem o seu modelo para tirar o melhor proveito dos seus atletas. Só que isso é sempre uma estratégia pensada em função das individualidades. Uma equipa a sério deve tentar resolver todos os seus problemas colectivamente. A capacidade para desequilibrar a nível individual deve ser sempre um bónus e nunca a principal fonte de eficácia. É também por isto que o Sporting está a jogar pior desde que Liedson recuperou da sua lesão e passou a integrar regularmente os titulares de Paulo Bento. Não sei quanto tempo esta lesão durará, mas se for caso disso, não demorará para que a equipa, sem Liedson, comece a jogar, em termos colectivos, bem melhor.

4. Nuno Assis fez três golos. Tendo em conta as circunstâncias em que os fez, não é um feito extraordinário. O que é extraordinário é que haja pessoas que precisem que ele faça três golos para lhe darem o devido valor. Às vezes, penso que estas pessoas vão ao estádio e ficam o tempo todo a jogar às cartas.

5. Entretanto, o Porto é o único grande a movimentar-se no mercado de Inverno. Adquiriu, para já, Cissokho, Miguel Lopes e Andrés Madrid. O argentino pode ser útil, embora Fernando esteja de pedra e cal no lugar de médio-defensivo. Quanto aos outros, a única coisa boa que se pode dizer deles é que não serão tiros no pé tão grandes quanto a contratação - a confirmar-se - de Silvestre Varela. Confesso que, ao ler a notícia, fui ao calendário para me assegurar que não era dia 1 de Abril. A única coisa que ainda não percebi é se o Porto contrata por caridade ou se é mesmo para ver se consegue lixar todos os eventuais negócios aos restantes rivais.

6. Lá fora, Raúl igualou o record de golos de Di Stefano. Feito assinalável para um dos melhores jogadores dos últimos anos e que só não foi campeão europeu este Verão porque não o deixaram.

7. O Barcelona soma e segue. Messi é de outra galáxia e está a milhas de toda a concorrência. Não há igual desde Zizou. Ronaldo, na Playstation, quando joga contra o Barcelona, deve aproveitar todos os lances em que Messi conduz a bola para entrar de carrinho sobre ele.

8. Em Itália, o Inter de Mourinho continua a marcar passo. Apesar dos seis pontos de avanço, o "scudetto" parece menos assegurado do que aquilo que se previa há umas semanas. A eliminatória da Liga dos Campeões com o Manchester United será, provavelmente, o jogo decisivo da temporada. Se o Inter conseguir passar pelos actuais detentores do ceptro, a confiança da equipa atingirá os níveis suficientes para enfrentar com tranquilidade uma recta final de temporada que, em caso contrário, não será fácil.

9. Ao mesmo tempo, Quaresma foi emprestado ao Chelsea. É verdade que a relação com os adeptos não era fácil, mas Mourinho poderia ter feito mais. Parece agora que desistiu daquele que denominou um dos maiores desafios da sua carreira, cedendo o jogador. Não sei o que isto significará na carreira do internacional português, mas não ter vingado em Itália, numa equipa treinada por aquele que poderia ter extraído o melhor dele, é sempre um grande revés.

10. Em Inglaterra, Scolari continua sem ganhar jogos grandes e o Manchester agradece. O Liverpool é - parece-me - a única equipa com uma palavra a dizer, no que diz respeito ao campeonato.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Fala quem sabe...

Só para encher chouriços, os momentos mais importantes de uma entrevista com Deus:

1. "Mourinho è uno splendido comunicatore, molto bravo a caricare il suo ambiente e a mettere pressione sugli avversari."

Enquanto os outros enfiam a carapuça com o que Mourinho diz, São Alessandro diz que é sinal de que ele é bom. Perspicácia.

2. "La Champions ha un fascino unico. E poi avendone vinta solo una contro 5-7 scudetti se dovessi scegliere la preferirei anch’io."

A Juventus aponta baterias à Champions. Scolari que se cuide, assim como os restantes adversários. Com um bom reforço de Inverno (já se falou em Diego), não sei, não...

3. "Si parla sempre di Cristiano Ronaldo ma Rooney è straordinario."

O quê? Quem és tu para te atreveres a comparar o Rooney com o primeiro, o segundo e terceiro melhor do mundo num só?

4. [Sobre o Barcelona] "Gioca davvero bene e ha Messi che probabilmente è il più forte in assoluto."

Messi, o melhor do mundo, em termos absolutos? Quem sabe, sabe...

5. [Quando inquirido sobre o porquê de, aos 34 anos, estar a fazer uma das suas melhores épocas] "Dipende dai muscoli, che stanno bene. E dalla testa: dentro c'è tanta voglia di vincere."

Reforço a parte "dalla testa". Para Del Piero, parte da sua boa produção depende da cabeça, isto é, da inteligência.

6. "Il mio tiro è un po’ cambiato rispetto al passato. Ho dovuto adeguarmi al fatto che oggi i portieri sono più bravi; e poi mi alleno molto con barriere che stanno a 8 metri e non ai canonici 9,15 perché in campo la distanza regolare viene fatta rispettare poco."

Os grandes são aqueles que se adaptam às necessidades. É por isso que Del Piero continua na alta roda do futebol europeu. Destaco o facto de treinar os livres com barreiras colocadas a oito metros.

7. "Sonia è straordinaria. Tra noi è stato un colpo di fulmine. L'ho vista in un bar e... Ho cominciato a corteggiarla mandandole dei fiori. Lo faccio anche adesso. Credo che quelli di oggi siano più importanti di allora."

Dentro de campo, é um "gentleman". Fora, ao que parece, não é diferente. É como o outro: dentro de campo, faz gestos para a bancada a dizer que é o número 1; fora do campo, espatifa carros de alta cilindrada.

8. "andare ai Mondiali è un mio obiettivo."

Teremos Pinturrichio na África do Sul? É eterno...