2. No rescaldo da conquista do campeonato, insiste-se num erro que não faz sentido. Os méritos de Jesualdo são evidentes e a justiça não poderia consagrar outra equipa. Mas se há coisa em que o professor continua a mostrar ser pouco dotado é na apreciação de jogadores. No entanto, a douta sabedoria da populaça afirma com galhardia que Jesualdo sabe, melhor que ninguém, explorar o potencial dos jogadores e fazê-los crescer. Isso não é verdade. As contratações falhadas voltaram a ser bastantes: Sapunaru, Benitez, Pelé e Guarín vieram juntar-se a Kazmierczak, Bollati e Stepanov, de anos anteriores. E para o ano já estão anunciados pelo menos mais dois jogadores que não terão vida fácil no Dragão: Varela e Miguel Lopes. O Porto continua a depender muito de alguns jogadores fulcrais como Helton, Lucho, Meireles e Lisandro. Fala-se em renovação do plantel, mas esquece-se que, à excepção de Hulk, todos os jogadores que entraram este ano na equipa fizeram-no por não haver outras soluções. Rolando e Cissokho são jogadores medianos, ao nível do que há nos rivais, de Tonel e Grimi, de David Luiz e Jorge Ribeiro. Daí até serem uma mais-valia individual vai um bocado. São melhores que as alternativas, mas não foram nunca jogadores determinantes. Fernando veio fazer a pré-época e acabou por agarrar o lugar, não sem antes o professor experimentar várias outras opções. A qualidade de Fernando veio logo ao de cima e a única coisa que foi melhorando ao longo da época foi a sua confiança. Não houve mão de Jesualdo, também aqui. Teve a sorte de lhe aparecer ali aquele fulano e de não ter uma opção para o lugar que reunisse consenso. Quanto a Rodriguez, o seu valor ficara já evidente a época passada. Pelo que resta Hulk, o único em quem Jesualdo apostou continuamente, em que demonstrou depositar uma confiança inexcedível. Resumindo, os jogadores que despontaram neste Porto, à excepção de um ou outro, despontaram não porque Jesualdo tenha olho para a coisa, mas porque alguém tinha de agarrar o lugar. E o que dizer de Tarik, praticamente ostracizado depois de ser uma das peças fundamentais na época passada? E a não aposta deliberada em nenhum jovem da casa, chegando ao cúmulo de mandar vir Hélder Barbosa a época passada para logo o preterir? Jesualdo continua a demonstrar não ser muito competente na hora de escolher jogadores. Os seus méritos existem, são o motivo pelo qual o Porto é um justo vencedor, mas estão noutro lado.
3. No Benfica, antecipa-se o cenário mais lógico: a demissão de Quique. O treinador espanhol tem coisas boas, mas a incapacidade para perceber como é que isso pode ser exponenciado chega a ser bizarra. A persistência num sistema que nunca funcionou e que, aos poucos, todos foram percebendo que não podia dar mais não deixaria antever uma segunda época brilhante. Há quem seja contra trocas constantes de treinadores e que queira dar mais tempo a Quique. O problema, para mim, não está nos resultados. Era admissível, num primeiro ano em Portugal, com uma equipa completamente nova, não se conseguir bons resultados. O que não é admissível é não haver evolução, não haver planos alternativos, não se perceber coisas básicas acerca da forma como se trabalha e, em última instância, não se perceber o que se está a fazer mal para poder melhorar. Perante tudo isto, Quique não pode continuar. Seria prolongar o vínculo com a mediocridade.
4. Por falar em mediocridade, o que dizer do futebol actual do Sporting? A era Paulo Bento terá chegado ao fim. Para bem do Sporting, é o melhor que pode acontecer. O futebol praticado foi perdendo riqueza à medida que a era de Paulo Bento avançava. Nos primeiros tempos, o Sporting jogava de forma fluida e alegre. Hoje, é tudo em esforço, sem imaginação, apelando às individualidades em vez de apelar ao colectivo. Em tempos, cheguei a pensar que Paulo Bento conseguiria impor um futebol suficientemente competente para ser campeão, ainda que com parcos recursos financeiros, quando comparados com os dos rivais. Hoje, repetidos até à exaustão os muitos erros que foi cometendo, já não possuo essa crença. Não perceber que o mal de Romagnoli é causado pelo mal da equipa, não perceber que certos jogadores precisam de certos mimos, não perceber que não pode gerir um balneário com indiscutíveis de qualidade discutível, não perceber que os atributos colectivos dos jogadores devem ser preferidos aos atributos individuais, não perceber que Liedson é nocivo a qualquer estratégia que pretenda dos avançados algo mais do que competência individual, tudo isto são pequenas falhas que, juntas, condicionam a capacidade da equipa. E o futebol ressente-se; e torna-se medíocre.
5. Jaime Pacheco foi finalmente despedido a duas jornadas do fim. O Belenenses está com um pé na segunda divisão e Rui Jorge deverá assumir a liderança do barco. Talvez fosse uma boa aposta para manter na próxima época, aconteça o que acontecer. Rui Jorge é daqueles para com quem o futebol ainda está em dívida.
6. Lá por fora, o Barça empatou mas acrescentou um ponto à diferença para o segundo classificado, o que o deixa ainda mais perto do título. Mas a notícia é mesmo a lesão de Iniesta. A sua ausência da final da Liga dos Campeões é agora uma possibilidade real e pode ser um duro revés nas ambições blaugranas. O médio-espanhol confere à equipa algo que, além dele, só Xavi consegue dar, doses abundantes de imaginação. A sua ausência não torna o Barcelona menos forte em termos atléticos ou técnicos, mas sim mais previsível, menos capaz de furar em espaços curtos. No futebol de toque curto da equipa catalã, Iniesta é o seu melhor intérprete e isso pode ser decisivo.
7. Entretanto, veio a final da Taça do Rei e o Barcelona venceu o primeiro troféu da época. Expressivos 4-1 frente ao Atlético de Bilbao, pelo menos mais 6 ou 7 oportunidades de golo, e uma segunda parte jogada unicamente num dos meios-campos. O futebol do Barça é demolidor e a quantidade de goleadas esta época uma coisa sem par. Falta a Liga dos Campeões para ser uma época inesquecível.
8. Depois da polémica meia-final entre Barcelona e Chelsea, a Sporttv não transmitir, em três canais possíveis, a final da Taça do Rei, optando por transmitir, à mesma hora, a interessantíssima final da taça de Itália entre Lazio e Sampdoria, ou um interessantíssimo Wigan vs Manchester United, não cheira nada bem. A mim, em particular, cheira-me a ressabiamento. Ou a malta que tinha apostado bom dinheiro no Chelsea e ficou a ver navios. O que é interessante tentar perceber é o que vai dentro da cabeça de quem escolhe transmitir um jogo do campeonato inglês, e a final da taça de Itália, e também outro jogo do campeonato francês, em vez de uma final da taça que, além de muito aguardada em Espanha, colocaria em campo a melhor equipa da época e o futebol mais espectacular da década. A mim, isto parece-me propaganda nazi. Virada para Cristiano, não para Adolfo, claro está.
9. Por falar em finais, Diego vai estar ausente da final da UEFA. Tudo por causa de um amarelo daqueles que dá vontade de perguntar ao árbitro se ele gosta mesmo de futebol. A UEFA já deveria ter intervindo, há muito, sobre estes casos. A hipótese de os melhores jogadores ficarem excluídos de uma final devido a um amarelo é absurda. Diego carregou literalmente o Bremen às costas e é inequivocamente a figura da edição deste ano da prova. Sem ele, a final nem sequer vale a pena ser vista. Restar-lhe-á o consolo de ter voltado à ribalta do futebol mundial e de lhe ser finalmente reconhecido todo o talento que tem e do qual certas pessoas não foram capazes de se aperceber.
10. De resto, em Itália é praticamente certo que o "scudetto" é de Mourinho, naquela que terá sido a pior época da carreira do técnico português. Em Inglaterra, o Manchester também já poderá encomendar as faixas.