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quinta-feira, 14 de maio de 2009

Semana de Decisões

1. O Porto sagrou-se campeão nacional pela quarta vez consecutiva. E foi outra vez um justo vencedor. Apesar das dificuldades, dos contratempos, foi o conjunto mais conjunto, por assim dizer. E isso é o suficiente, quando os rivais se revelam tão fracos. Para mim, Jesualdo só não merecia ter sido campeão no seu primeiro ano. De lá para cá, tem sido capaz de construir uma equipa competitiva, assente numa ideia colectiva clara. A defender, os seus processos estão ao nível dos melhores da Europa e nem sequer tem comparação com o que se faz cá dentro. A atacar, tem algumas limitações, necessitando e muito da capacidade de explosão dos seus jogadores mais ofensivos e, no fundo, das individualidades que um clube grande consegue colocar ao seu dispor. Não sendo perfeito a esse nível, esteve uma vez mais melhor que os treinadores rivais e pode mesmo gabar-se de ser campeão tendo um plantel inferior ao do Benfica e ao do Sporting.

2. No rescaldo da conquista do campeonato, insiste-se num erro que não faz sentido. Os méritos de Jesualdo são evidentes e a justiça não poderia consagrar outra equipa. Mas se há coisa em que o professor continua a mostrar ser pouco dotado é na apreciação de jogadores. No entanto, a douta sabedoria da populaça afirma com galhardia que Jesualdo sabe, melhor que ninguém, explorar o potencial dos jogadores e fazê-los crescer. Isso não é verdade. As contratações falhadas voltaram a ser bastantes: Sapunaru, Benitez, Pelé e Guarín vieram juntar-se a Kazmierczak, Bollati e Stepanov, de anos anteriores. E para o ano já estão anunciados pelo menos mais dois jogadores que não terão vida fácil no Dragão: Varela e Miguel Lopes. O Porto continua a depender muito de alguns jogadores fulcrais como Helton, Lucho, Meireles e Lisandro. Fala-se em renovação do plantel, mas esquece-se que, à excepção de Hulk, todos os jogadores que entraram este ano na equipa fizeram-no por não haver outras soluções. Rolando e Cissokho são jogadores medianos, ao nível do que há nos rivais, de Tonel e Grimi, de David Luiz e Jorge Ribeiro. Daí até serem uma mais-valia individual vai um bocado. São melhores que as alternativas, mas não foram nunca jogadores determinantes. Fernando veio fazer a pré-época e acabou por agarrar o lugar, não sem antes o professor experimentar várias outras opções. A qualidade de Fernando veio logo ao de cima e a única coisa que foi melhorando ao longo da época foi a sua confiança. Não houve mão de Jesualdo, também aqui. Teve a sorte de lhe aparecer ali aquele fulano e de não ter uma opção para o lugar que reunisse consenso. Quanto a Rodriguez, o seu valor ficara já evidente a época passada. Pelo que resta Hulk, o único em quem Jesualdo apostou continuamente, em que demonstrou depositar uma confiança inexcedível. Resumindo, os jogadores que despontaram neste Porto, à excepção de um ou outro, despontaram não porque Jesualdo tenha olho para a coisa, mas porque alguém tinha de agarrar o lugar. E o que dizer de Tarik, praticamente ostracizado depois de ser uma das peças fundamentais na época passada? E a não aposta deliberada em nenhum jovem da casa, chegando ao cúmulo de mandar vir Hélder Barbosa a época passada para logo o preterir? Jesualdo continua a demonstrar não ser muito competente na hora de escolher jogadores. Os seus méritos existem, são o motivo pelo qual o Porto é um justo vencedor, mas estão noutro lado.

3. No Benfica, antecipa-se o cenário mais lógico: a demissão de Quique. O treinador espanhol tem coisas boas, mas a incapacidade para perceber como é que isso pode ser exponenciado chega a ser bizarra. A persistência num sistema que nunca funcionou e que, aos poucos, todos foram percebendo que não podia dar mais não deixaria antever uma segunda época brilhante. Há quem seja contra trocas constantes de treinadores e que queira dar mais tempo a Quique. O problema, para mim, não está nos resultados. Era admissível, num primeiro ano em Portugal, com uma equipa completamente nova, não se conseguir bons resultados. O que não é admissível é não haver evolução, não haver planos alternativos, não se perceber coisas básicas acerca da forma como se trabalha e, em última instância, não se perceber o que se está a fazer mal para poder melhorar. Perante tudo isto, Quique não pode continuar. Seria prolongar o vínculo com a mediocridade.

4. Por falar em mediocridade, o que dizer do futebol actual do Sporting? A era Paulo Bento terá chegado ao fim. Para bem do Sporting, é o melhor que pode acontecer. O futebol praticado foi perdendo riqueza à medida que a era de Paulo Bento avançava. Nos primeiros tempos, o Sporting jogava de forma fluida e alegre. Hoje, é tudo em esforço, sem imaginação, apelando às individualidades em vez de apelar ao colectivo. Em tempos, cheguei a pensar que Paulo Bento conseguiria impor um futebol suficientemente competente para ser campeão, ainda que com parcos recursos financeiros, quando comparados com os dos rivais. Hoje, repetidos até à exaustão os muitos erros que foi cometendo, já não possuo essa crença. Não perceber que o mal de Romagnoli é causado pelo mal da equipa, não perceber que certos jogadores precisam de certos mimos, não perceber que não pode gerir um balneário com indiscutíveis de qualidade discutível, não perceber que os atributos colectivos dos jogadores devem ser preferidos aos atributos individuais, não perceber que Liedson é nocivo a qualquer estratégia que pretenda dos avançados algo mais do que competência individual, tudo isto são pequenas falhas que, juntas, condicionam a capacidade da equipa. E o futebol ressente-se; e torna-se medíocre.

5. Jaime Pacheco foi finalmente despedido a duas jornadas do fim. O Belenenses está com um pé na segunda divisão e Rui Jorge deverá assumir a liderança do barco. Talvez fosse uma boa aposta para manter na próxima época, aconteça o que acontecer. Rui Jorge é daqueles para com quem o futebol ainda está em dívida.

6. Lá por fora, o Barça empatou mas acrescentou um ponto à diferença para o segundo classificado, o que o deixa ainda mais perto do título. Mas a notícia é mesmo a lesão de Iniesta. A sua ausência da final da Liga dos Campeões é agora uma possibilidade real e pode ser um duro revés nas ambições blaugranas. O médio-espanhol confere à equipa algo que, além dele, só Xavi consegue dar, doses abundantes de imaginação. A sua ausência não torna o Barcelona menos forte em termos atléticos ou técnicos, mas sim mais previsível, menos capaz de furar em espaços curtos. No futebol de toque curto da equipa catalã, Iniesta é o seu melhor intérprete e isso pode ser decisivo.

7. Entretanto, veio a final da Taça do Rei e o Barcelona venceu o primeiro troféu da época. Expressivos 4-1 frente ao Atlético de Bilbao, pelo menos mais 6 ou 7 oportunidades de golo, e uma segunda parte jogada unicamente num dos meios-campos. O futebol do Barça é demolidor e a quantidade de goleadas esta época uma coisa sem par. Falta a Liga dos Campeões para ser uma época inesquecível.

8. Depois da polémica meia-final entre Barcelona e Chelsea, a Sporttv não transmitir, em três canais possíveis, a final da Taça do Rei, optando por transmitir, à mesma hora, a interessantíssima final da taça de Itália entre Lazio e Sampdoria, ou um interessantíssimo Wigan vs Manchester United, não cheira nada bem. A mim, em particular, cheira-me a ressabiamento. Ou a malta que tinha apostado bom dinheiro no Chelsea e ficou a ver navios. O que é interessante tentar perceber é o que vai dentro da cabeça de quem escolhe transmitir um jogo do campeonato inglês, e a final da taça de Itália, e também outro jogo do campeonato francês, em vez de uma final da taça que, além de muito aguardada em Espanha, colocaria em campo a melhor equipa da época e o futebol mais espectacular da década. A mim, isto parece-me propaganda nazi. Virada para Cristiano, não para Adolfo, claro está.

9. Por falar em finais, Diego vai estar ausente da final da UEFA. Tudo por causa de um amarelo daqueles que dá vontade de perguntar ao árbitro se ele gosta mesmo de futebol. A UEFA já deveria ter intervindo, há muito, sobre estes casos. A hipótese de os melhores jogadores ficarem excluídos de uma final devido a um amarelo é absurda. Diego carregou literalmente o Bremen às costas e é inequivocamente a figura da edição deste ano da prova. Sem ele, a final nem sequer vale a pena ser vista. Restar-lhe-á o consolo de ter voltado à ribalta do futebol mundial e de lhe ser finalmente reconhecido todo o talento que tem e do qual certas pessoas não foram capazes de se aperceber.

10. De resto, em Itália é praticamente certo que o "scudetto" é de Mourinho, naquela que terá sido a pior época da carreira do técnico português. Em Inglaterra, o Manchester também já poderá encomendar as faixas.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O "problema" de Quique...

Quique Flores (treinador a quem reconheço qualidades e cuja filosofia de jogo, baseada em pressupostos ofensivos, me agrada bastante), na sequência da ausência de Ruben Amorim, optou por alterar o sistema de jogo com o qual vinha trabalhando. O treinador espanhol afirmou que, sem Amorim, era complicado apresentar um sistema equilibrado, optando então pelo losango, sob o pretexto de que este sistema lhe "permitia ter mais bola".

O 442 "clássico" é um sistema favorável a ataques rápidos. A sua estrutura permite-nos fazer "campo grande" de forma célere e sem grande dificuldade (com dois médios-alas, concedendo largura, e dois avançados, proporcionando profundidade). Este facto, aliado à capacidade de colocar muitos homens na parte final do processo ofensivo, permite que o conjunto de Quique alterne momentos em que consegue colocar o adversário sob grande pressão, através de um vendaval de futebol ofensivo, com outros em que os desequilíbrios inerentes à estrutura do próprio sistema saltam à vista. Por outras palavras, não é fácil encontrar meio-termo neste Benfica.

Este aspecto só não ganha mais destaque devido à (grande) qualidade dos jogadores à disposição do treinador espanhol. No processo ofensivo, por exemplo, é notória a necessidade de os jogadores (principalmente os alas e os avançados) resolverem através de iniciativas individuais, problemas que (supostamente) são do foro colectivo. São "espremidos" até à última gota jogadores como Reyes, Aimar, Suazo, etc (isto só para citar os casos mais gritantes).

A velocidade que caracteriza as várias fases do processo ofensivo, associada ao facto de apenas existirem dois jogadores no centro do terreno (médios-centros), deixa demasiadas vezes os jogadores sem "rede"(apoios), não lhes deixando outra solução para além da iniciativa individual.

Transições

É nestes dois momentos (defesa/ataque e ataque/defesa, mas principalmente nesta última) que são evidenciadas as várias debilidades do sistema benfiquista.

Se na transição defesa/ataque os perigos de jogar demasiado aberto e com poucos jogadores na zona da bola (o que impossibilita a saída de zonas de pressão de forma apoiada e segura), são dissimulados com a qualidade individual dos seus jogadores, na transição ataque/defesa a história é diferente.

O deficiente povoamento central, aliado à escassez de linhas, torna o conjunto da luz demasiado permeável, quer a passes verticais, quer a movimentações entre linhas. Por outro lado, o facto de apresentar poucas linhas "obriga" a um grande deslocamento posicional dos seus jogadores. Na sequência do processo ofensivo, os jogadores (os dois médios-centro), no intento de criar apoios, desposicionam-se, (através de movimentos verticais, que geralmente leva a que cubram grandes distâncias) resultando desta evidência uma grande vulnerabilidade às transições ataque/defesa.

É importante, a meu ver, que uma equipa se apresente equilibrada em todos os momentos do jogo, e não me parece que o conjunto de Quique o consiga, pelo menos neste sistema - um sistema que dá demasiado ênfase à largura, quando o centro do jogo se determina em função da bola e não só na intenção de colocar mais dificuldades ao adversário portador da bola. Uma equipa que privilegie o lado "forte" do jogo poderá não ter a hipótese de conseguir uma variação de flanco tão rápida, por exemplo, mas ganha em segurança no seu processo ofensivo, assim como em capacidade de reacção sobre o esférico, assim que este é recuperado pelo adversário.

Tudo isto dá origem aos seguintes sintomas:

- Dificuldade em controlar o jogo sem sofrer: o conjunto benfiquista experimenta grandes dificuldades quando não consegue encostar a equipa adversária ao seu último reduto.

- Demasiada permeabilidade frente a equipas que apresentem uma boa posse e circulação de bola.

- Grandes dificuldades para jogar em ataque continuado contra equipas que sejam organizadas e que não assumam uma postura demasiado submissa.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

O admirável mundo novo de Quique Flores

Quique Flores, o treinador do Valência, talvez ainda dorido pelo falhanço da contratação de Lucho Gonzalez ao Porto, decidiu ignorar as virtudes do argentino, preferindo elogiar aquele que acabou por ser o seu substituto, isto é, a segunda opção. A sério, não percebo certas coisas. O que é que custa admitir que queria um jogador, mas que isso não foi possível? Por que é que tem que tentar rebaixá-lo?

Segundo Quique Flores, Lucho Gonzalez não era o jogador com o perfil certo para o Valência. Aqui há várias coisas que se podem dizer. 1) Não estou a ver muitos médios-centro da categoria do argentino do Porto que sejam tão completos e conciliem tão bem o desempenho ofensivo com o defensivo, coisa essencial no 442 clássico de Quique. 2) Se Lucho não tem o perfil certo, é Kallstrom que o tem? Em que medida? É isso que ficamos a saber quando Quique diz que pretendia um jogador com personalidade e que fizesse a equipa jogar. Ora, Lucho é dos jogadores com personalidade mais forte que conheço. Além disso, é extraordinariamente abnegado e põe os interesses da equipa sempre à frente dos seus.

Continuo sem entender onde quer chegar Quique Flores com as suas explicações esfarrapadas. Segundo Quique, Lucho era um jogador que não tinha bem posição, que era um pouco de tudo, e que perderia tempo a adaptá-lo. Adaptá-lo? A quê? Guarda-redes? Lucho é um pouco de tudo? Como assim? É polivalente? Não. É um médio-centro extraordinariamente completo. Quando Quique diz que Lucho é um pouco de tudo, só pode querer dizer que Lucho é um médio que ataca bem e defende bem, que é o jogador que, numas jogadas, faz o último passe e que, noutras, é o jogador que se desmarca para receber o último passe. Isso é mau? Em que sentido? E no 442 clássico, em que se querem dois médios de consistência defensiva, não é óptimo arranjar um que além disso consegue oferecer boas garantias a atacar? E o que significa afirmar que Lucho não tem bem posição? Será que Quique não consegue enxergar que há três tipos essenciais de médios-centro, uns mais vocacionados para médios defensivos, outros para médios ofensivos, e outros para uma posição intermédia, que acarreta responsabilidades defensivas e ofensivas? Será que não percebe que Lucho não é nem médio defensivo nem médio ofensivo, mas sim um misto dos dois? E será que não sabe que, para o seu sistema, os melhores médios são os deste terceiro tipo?

Basicamente, Quique queria Lucho, mas achava que Lucho não era bem Lucho. Então, preferiu Kallstrom, alegando que Kallstrom é mais Lucho que Lucho. Aprecio bastante o sueco e não está em causa a qualidade da contratação. O que está em causa é que Quique pretendia um jogador com as características de Lucho, mas preferiu contratar Kallstrom, que não é bem o mesmo. Kallstrom não tem as capacidades defensivas de Lucho, a disciplina táctica, o rigor, a frieza. É um jogador muito dotado tecnicamente, extraordinário no passe longo e desenrascado no um par um. Mas no futebol do Valência encaixaria sempre melhor alguém capaz de conciliar estas capacidades com o rigor táctico e com a abnegação do argentino. Não tenho quaisquer dúvidas: Lucho era muito mais o jogador que interessava à filosofia de Quique Flores.

Se isto não é argumento suficiente, gostaria ainda de lembrar que Kallstrom, em termos de características, é em tudo idêntico a Hugo Viana. E em categoria também não anda longe. E todos sabemos a utilidade que o português teve na época passada. Se Lucho ia para Valência para, provavelmente, ser titular, Kallstrom irá, certamente, para fazer as vezes de Hugo Viana. Quique Flores, frustrado por não ter conseguido Lucho Gonzalez, preferiu ser orgulhoso e não revelar a dor de cotovelo que sentiu. Preferiu manter a dignidade, mas, acrescento eu, perder nobreza.