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sábado, 6 de março de 2010

Os Gajos Mais Odiados da Blogosfera - Episódio 1: Os Visionários

Os recentes comentários, polidos com cortesia e boas maneiras na caixa de comentários do último texto sobre Liedson, trouxeram a lume a simpatia que as nossas palavras e as nossas ideias provocam em quem nos lê. A quantidade (foram 23!, pelo menos para já) de pessoas que manifestou o seu desprezo por nós é assinalável e vem reforçar a ideia de que há pouca gente que não nos odeie. É com a intenção de retribuir o carinho e a atenção que nos dedicam esses escorreitos leitores que iniciamos esta nova temática. O objectivo é recordar o percurso deste espaço, desde a sua criação até à actualidade, as ideias defendidas desde essa altura, os episódios caricatos, as disputas intelectuais, em suma, esboçar, em vários episódios, uma Autobiografia do Entre Dez e das façanhas dos seus autores e dos seus leitores. Cada episódio será subordinado a um tema, contará uma pequena história, invocará uma citação famosa e trará à baila, pelo menos, uma das coisas que fomos defendendo ao longo deste tempo e que o tempo - soberano juiz - se encarregou de tornar irrefutável.

Episódio 1:
Os visionários

Há muitas coisas que nos definem e às quais somos associados. Os nomes de Farnerud, Pereirinha, Liedson, Pepe, David Luiz e Hulk são apenas alguns dos que maiores controvérsias têm causado. Mas questões mais profundas, como a existência ou não de talento inato, o haver ou não funções numa equipa de futebol, a concepção do golo como consequência e não como objectivo do jogo, a esterilidade do 442 clássico, etc., foram também motivo de acesa polémica. Por causa destas coisas e de muitas mais, fomos vezes sem conta apelidados de "visionários" ou de "iluminados". Eis alguns exemplos:

1) Bruno Pinto, a 6 de Novembro de 2007: "Claro que para eles, os outros é que são incapazes de acompanhar a sua inteligência suprema... Autênticos visionários..."

2) Jonnybalboa, a 7 de Janeiro de 2009: "És um romântico da bola, tu e o "pipi"...

3) João, a 26 de Fevereiro de 2009: "E sim, é muitas vezes assim que se elevam a grandes personalidades, os tais visionarios. Mas para cada visionário existem milhões de gajos como tu."

4) Bruno Pinto, a 29 de Abril de 2009: "Acho que muita gente concorda com isso e as explicações são triviais. Ai Nuno, Nuno, essa tua mania de quereres ser visionário..."

5) Miguel, a 4 de Setembro de 2009: "Fica lá com a tua opinião de pseudo-iluminado. Depois quando a bola começar a ser redonda verás que até nem dizes coisa com coisa."

Não haverá, porém, tema deste espaço mais controverso do que Liedson. São pouquíssimas as pessoas, se as há mesmo, que defendem o mesmo que nós defendemos, desde sempre, sobre o avançado do Sporting. Se há algo que nos faz, de facto, visionários, no sentido de acreditarmos em coisas em que mais ninguém acredita, são as considerações acerca do Levezinho. Enquanto que, em relação a outras temas, as nossas posições, ainda que censuradas por maior parte das outras pessoas, são motivo de discussão, quando se trata de Liedson, a outra parte da contenda raramente se interessa por argumentos, tamanha é a heresia. Não raro, o espaço saudável do debate torna-se um espaço de crenças, como se houvesse verdades que não pudessem ser colocadas em causa por via da racionalidade. Assim, tal como os crentes em Deus não podiam aceitar a discussão racional sobre o que quer que fosse que pusesse em causa os atributos da omnipotência, omnipresença e omnisciência do seu Deus, pois aceitá-la seria aceitar a possibilidade de Ele não possuir esses atributos, também aqueles que acham coisas fantásticas de Liedson não podiam aceitar um debate racional sobre a sua pretensa qualidade, pois estariam a aceitar a possibilidade de ele não ser assim tão bom. Praticamente em todas as discussões sobre Liedson, os defensores da sua qualidade agiram como eclesiásticos radicais, incapazes por vocação de aceitar a possibilidade do erro da sua doutrina. Essa semelhança faz lembrar um episódio histórico que o seguinte diálogo procura retratar com desfaçatez.

A Verdadeira História de Galileu Galilei

Galileu: Senhores, estou firmemente convencido de que o grão Nicolau Copérnico, que embora tenha alcançado uma fama imortal perante alguns, foi ridicularizado e assobiado por uma multidão infinita, pois tão grande é o número dos idiotas, tinha, de facto, razão ao afirmar que os astros giram em torno do Sol e não da Terra.
Teóricos da Época: O quê? Estais louco, Galileu Galilei?
Galileu: Não. De ora em diante, o geocentrismo deveria dar lugar ao heliocentrismo.
Teóricos da Época: O héliocen-quê?
Galileu: Heliocentrismo.
Teóricos da Época: Que é isso? Não conhecemos. Isso não existe. Estais a alucinar, Galileu Galilei.
Galileu: Ao contrário do que se pensa hoje, a Terra não é o centro do Universo; é apenas mais um corpo celeste que gira em torno do Sol.
Teórico da Época: Galileu Galilei, andais metido na droga?
Galileu: É a mais pura das verdades. Apesar de isto poder entrar em choque com as doutrinas eclesiásticas vigentes e de me ter sido aconselhado a ponderar essa hipótese apenas como isso mesmo - uma hipótese - e só porque facilita os cálculos astronómicos, tenho argumentos que sustentam que é bem mais que isso. Aliás, possuo cálculos aprofundados que o comprovam.
Teóricos da Época: Pois, Galileu Galilei, mas a nós os cálculos aprofundados não nos dizem nada.
Galileu: Mas se comprovam...
Teóricos da Época: Tende-los convosco? Podeis mostrar-los?
Galileu: Sim. Aqui estão...
Teóricos da Época: Hmmm... Isto tem um bocado de matemática a mais, não tem? E não deveríeis confiar tão cegamente nestes Pitágoras! É só teoremas, só teoremas. Achamos isto um bocado confuso, ó Galileu Galilei... Do nosso ponto de vista, estes cálculos são só especulações.
Galileu: Matemática especulativa?!?!?!
Teóricos da Época: Pois, quer-nos parecer que sim. Isto são só números e continhas de algibeira... Deveríeis passar a dedicar-vos à pecuária.
Galileu Galilei: À pecuária?
Teóricos da Época: Sim, sim. E de ora em diante, aconselho-vos a ficar caladinho. Isto se não desejardes o Santo Ofício a bater-vos à porta. Já agora, Galileu Galilei, que achais do Liedson?
Galileu Galilei: Acho-o fraquinho...
Teóricos da Época: O quê??? Tendes noção da gravidade das vossas afirmações?
Galileu Galilei: Tenho boas razões para acreditar que assim seja...
Teóricos da Época: Pá, este só vai lá queimado em praça pública. Tragam os archotes...

A nossa posição em relação a Liedson não é só uma posição essencialmente controversa; é algo que vai para além disso, pois é quase unânime que o contrário daquilo que defendemos é que está certo. São poucos os adeptos que não o acham um jogador extraordinário e poucos os treinadores que não se ajoelhariam aos seus pés. Esta vassalagem esquisita e, de acordo com aquilo em que acreditamos, absurda, faz com que todos os que nos rodeiam sejam profundos admiradores de algo que não vale assim tanta admiração. Esse comportamento geracional, similar ao comportamento hodierno de grande parte do povo perante as mais diversas formas de arte, denota um conjunto de atributos dessa mesma geração que, de certa maneira, a caracteriza fielmente e provoca em nós, entre outras coisas, um vontade irreprimível de a invectivar. É nesse âmbito que a citação deste episódio se explica.

Citação

"Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi! É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!

Abaixo a Geração!"

(Almada Negreiros, in Manifesto Anti-Dantas)


Depois de já ter chamado a Liedson Papa-Açorda, Saltitão, Saguim, Tontinho, Burro, Banal, Estúpido e Napoleão, eis que lhe chamo agora Dantas. É provavelmente o avançado luso-brasileiro com mais alcunhas na História do Futebol... Vamos, por fim, ao espaço em que se relembram algumas das disputas mais interessantes.

Coisinhas em que, por acaso, até tínhamos razão

Como disse acima, de entre as várias coisas que cada episódio desta rubrica trará encontra-se algo que defendemos afincadamente e que, na altura, nos motivou acesas críticas. Para iniciar esse espaço, escolhi Pelé, o fantástico médio defensivo oriundo do Vitória de Guimarães e que, à custa de olheiros que dão especial interesse a características anatomicamente relevantes em gorilas e lutadores de boxe, foi contratado pelo Inter de Milão após um mundial de sub-20 em que as suas exibições foram patéticas, embora os seus músculos e os seus truques com a bola tenham sido bastante elogiados.

De Pelé dissémos desde o início que fora sobrevalorizado. Tratava-se de um jogador fisicamente muito poderoso e com alguma habilidade. Como, nos dias que correm, ainda se vê futebol de um modo essencialmente descontextualizado, olham-se para os jogadores como soma de atributos. Pelé tinha força e tinha técnica. Que mais se poderia desejar? Desde o início que fomos peremptórios em dizer que a Pelé faltava a única coisa que interessa num jogador de futebol: inteligência. Pelé foi então para Itália. Com Mancini, ainda fez uns minutos e marcou uns golos. Apressaram-se a dizer que era a comprovação de que tinha valor. Mantivemos a opinião. Pelé não crescera, continuava extraordinariamente burro a jogar. No ano seguinte, veio o fim da linha para o jovem. Mourinho dispensou-o, Jesualdo não contou com ele, e acabou por passar por três clubes sem nunca se afirmar. No futebol adulto, os atributos que Pelé revelava eram meros acessórios. Faltava-lhe o principal. E comprovou-se que o Entre Dez, que tantas críticas ouviu, é que tinha razão: Pelé jamais iria ser um jogador de futebol a sério.

Este é apenas um exemplo, talvez um dos mais esclarecedores, de que não dizemos as coisas à toa. A nossa opinião é sempre sustentada por ideias e as nossas convicções não são somente caprichos. Quando dizemos o que dizemos sobre certos jogadores, não o fazemos apenas por embirração, mas porque esses jogadores denotam problemas para os quais o comum adepto não costuma olhar. Gaba-se em excesso a transpiração, a garra, a agressividade, a capacidade técnica, a velocidade, porque são coisas fáceis de ver. Observar e averiguar talento é muito mais difícil e só pode ser feito no contexto do jogo e com muitos dados. Maior parte das pessoas que vê futebol repara nos atributos visíveis dos jogadores. O Entre Dez vai mais longe e tenta olhar para coisas não visíveis a olho nu. É por isso que acertamos mais vezes que os outros e é por isso que, ao contrário das outras pessoas, possuímos alguma segurança para dar, acerca de certos jogadores, tantas certezas em relação ao seu futuro. De Pelé, como de muitos outros, não nos enganámos. O tempo deu-nos razão e aqueles que, na altura, tanto o defenderam e tanto nos criticaram, devem agora penitenciar-se perante a confirmação do nosso palpite.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Dez tentativas

Pelé foi cedido, a título definitivo, ao Porto, tornando-se assim claro que José Mourinho não só não contava com ele para esta época, como também não considera que o internacional sub-21 venha a ter algum futuro. Eis dez tentativas para perceber por que razão isso aconteceu:

1. Porque ainda não sabia o que era um passe?

2. Porque José Mourinho andou a ler o nosso blogue?

3. Porque os seus dois neurónios não se adaptaram ao estilo de vida em Itália?

4. Porque, uma vez que Mourinho anda a adaptar jogadores para jogar na sua posição, mais depressa o Toldo jogava a médio-defensivo do que ele?

5. Porque os centrais começaram a regressar das lesões e já nem para fazer número servia?

6. Porque lhe prometeram que, com Mourinho, ele ia aprender a jogar à bola, mas num mês de trabalho ainda não sabia o que era um colega de equipa?

7. Porque continuava convencido que defender à zona era uma maneira de confeccionar bacalhau?

8. Porque suava demasiado e o seu cheiro ficava de tal modo entranhado na roupa que o Inter estava a ter prejuízo com roupa de treino?

9. Porque, com a chegada de Muntari, passou a haver demasiados pretos no plantel com os quais gozar?

10. Porque, tendo em conta as reais capacidades futebolísticas do Vítor, queriam que, em vez de Pelé, se passasse a chamar Vitinha?

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

12 coisas

1. Pelé anda agressivo. Depois de ter visto um cartão amarelo na primeira acção em campo frente ao Benfica, eis que, na jogada a seguir ao terceiro golo dos checos, que nasce numa perda de bola sua, perde a bola (de novo?) ao tentar fintar no meio-campo e vai às pernas do adversário, vendo um cartão vermelho directo. Será que, com Mourinho, percebeu que ser jogador de futebol é tudo menos uma questão de força, técnica e estilo e anda enervado porque não tem mais nada?

2. Por que é que ninguém dá um par de lambadas no Manuel da Costa? Ou então expliquem-lhe o que é jogar futebol...

3. Como é que se seleccionam jogadores para as equipas jovens? Pela quantidade de dinheiro dos seus empresários?

4. Começou a época em Inglaterra e o Chelsea goleou. O golo de Deco, além de um frango monumental, é a melhor ilustração do que é o futebol inglês. Naquela altura, parecia que o Chelsea estava a jogar contra 6 ou 7...

5. Fábio Paim vai ser emprestado ao Chelsea. Como não tem passaporte brasileiro, em Portugal não tinha lugar.

6. O Sporting limpou mais uma taça e venceu de novo o Porto. Coincidência ou falta de aprumo de Jesualdo?

7. Nos Jogos Olímpicos, a Argentina limpou, sem apelo nem agravo, um Brasil órfão de ideias. Quem continuar a achar que Anderson tem um talento ímpar só pode andar a dormir. O jogador do Manchester fez um jogo combativo, esteve sempre perto da luta, mas com bola é um desastre. Tem os seus argumentos técnicos, mas quando tem de decidir rápido decide mal. No meio-campo, pode ser bom para ajudar à luta, mas é um elemento a menos a construir. Hernanes é um jogador banal, apesar de se falar muito nele. Thiago Neves é francamente mais talentoso, mas nem a excelente exibição frente à China lhe valeu a titularidade. Lucas Leiva é, além de francamente lento, muito mau a nível posicional e pouco expedito com bola. Tudo o que de bom o Brasil fez nestes Jogos Olímpicos saiu dos pés de Diego, o tal que não é maduro nem tem qualidade para jogar ao mais alto nível. Tudo o que de bem construído o Brasil fez, passou por si. Além disso, no jogo contra a Bélgica, por exemplo, foi da sua garra que nasceu o golo de Hernanes, vencendo na luta o gigante Fellaini. Continuar a achar que ele também não defende é razão para uma consulta de oftalmologia. Contra a Argentina, esteve pouco em jogo, sobretudo graças ao mau jogo com bola dos restantes médios. Mas, sempre que a teve, fez o jogo fluir. Diego, Ronaldinho e os laterais, Rafinha e Marcelo (a quantidade de cuecas que este menino faz é uma coisa absurda!), foram os melhores. O guarda-redes Renan também me pareceu seguro; Pato ainda é muito novo, embora o talento já lá esteja. Quanto aos centrais, que miséria! Aquele que dizem ter 18 anos, mas que tem pelo menos 3 ou 4 a mais, parece o Pepe, mas ainda mais limitado de ideias e mais lento; do outro, basta dizer que é irmão do Luisão.

8. Na Argentina, destaque para Aguero, Messi, Riquelme e Gago. Mascherano não é mau, mas no meio destes roça o banal. Ver jogar Riquelme é um sonho. Que nunca desapareçam os jogadores como ele!

9. No Porto, Quaresma continua sem jogar. Há quem diga que já está vendido. Se não está, que sentido faz continuar de fora?

10. Fucile foi castigado por causa de ter marcado um penalty à Panenka contra a vontade do professorzinho ou Jesualdo quis dar hipóteses ao Sporting, não o pondo?

11. A David Luiz está a acontecer o mesmo que aconteceu a Anderson, há duas épocas. Fizeram meia-dúzia de jogos a um bom nível, embora tenham denotado algumas deficiências, lesionaram-se e pararam durante muito tempo. Durante essa altura, foram feitos de mártires e imaginados como salvadores da pátria. De repente, sem terem mostrado nada de relevante, passaram a génios. Tanto um como outro têm qualidades, mas essas qualidades foram muito exageradas pela opinião pública.

12. Derlei, Djaló e Postiga estão em boa forma. Se o Sporting continuar a ganhar e a jogar suficientemente bem, com que legitimidade poderá Paulo Bento relançar na equipa Liedson? Querem ver que esta é a época de todas as verdades...

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Pelé: um estudo

O jogo é o Portugal-França, na categoria de sub-21, a contar para o Torneio da Suécia. Em estudo, a exibição de Pelé, um dos novos ídolos, juntamente com o Gato das Botas e a Padeira de Aljubarrota, dos relvados portugueses. De referir, antes de começar, que Pelé esteve, na minha opinião, uns furos acima do que é normal, não abusando tanto do passe comprido, por exemplo. Isto deve-se, em parte, à forma como a equipa francesa defendeu, nunca pressionando em cima e fechando-se lá atrás, obrigando Pelé a passes mais laterais e recuados.

1 minuto: Má opção. (Recebe e dá em Manuel Fernandes, embora tivesse tido tempo para virar o flanco e pudesse, com isso, descongestionar o jogo.)

1 minuto: Boa opção. (Recebe um lançamento e entrega a Manuel da Costa.)

2 minutos: Falta. (Faz falta sem necessidade.)

5 minutos: Má opção. (Tenta driblar, perde, mas recupera graças ao porte atlético.)

6 minutos: Boa opção. (Dá atrás depois de receber.)

6 minutos: Má opção. (Drible arriscado no meio-campo que, por acaso, sai bem, havendo porém o perigo de, perdendo a bola, a França criar uma situação de superioridade numérica que era desnecessária.)

7 minutos: Mau passe. (Mau passe para a ala, a permitir a recuperação francesa.)

7 minutos: Recuperação de bola. (Recupera uma bola depois do jogador francês a adiantar em demasia.)

10 minutos: Mau passe. (Passe longo, na direcção de um francês.)

10 minutos: Má opção. (Tentativa de passe longo que acaba nas mãos do guarda-redes adversário)

15 minutos: Recuperação de bola. (Intercepta um passe e dá em Manuel Fernandes.)

15 minutos: Sofre falta. (Sofre falta à saída da grande-área, ao proteger a bola, após um ataque perigoso dos franceses.)

16 minutos: Mau posicionamento. (Demasiado subido no terreno, a permitir espaço entre linhas.)

18 minutos: Boa opção. (Devolve atrás.)

21 minutos: Mau passe. (Tenta pisar a bola, mas falha; o jogador francês escorrega e ele recupera, entregando depois mal a bola, obrigando Antunes a dividir a bola com um adversário.)

22 minutos: Mau posicionamento. (Novamente adiantado, concedendo muito espaço nas suas costas e entre os centrais.)

23 minutos: Boa opção. (Dá em Manuel da Costa.)

23 minutos: Boa opção. (Recebe e dá em Paulo Machado.)

25 minutos: Mau posicionamento. (Estando demasiado avançado, permite espaço entre si e os centrais, que Manuel da Costa tenta preencher, avançando ligeiramente; como Nuno André Coelho não acompanha, um lançamento longo apanha o avançado gaulês nas costas do defesa português, não sendo golo por manifesta falta de calma do francês.)

25 minutos: Boa opção. (Dá em Paulo Machado.)

25 minutos: Mau passe. (Executa um passe com demasiada força e para Bruno Gama, que não teria boas condições para receber a bola.)

26 minutos: Boa opção. (Devolve a Manuel da Costa.)

28 minutos: Mau remate. (Apesar de a opção não ser necessariamente má, o remate é francamente mau.)

30 minutos: Perda de bola. (Depois de a bola ter sobrado para uma zona de ninguém, tenta ganhar uma bola em habilidade, pisando-a, mas fá-lo de forma lenta e um francês rouba-lha.)

31 minutos: Boa opção. (Recebe, roda e dá em Manuel Fernandes.)

34 minutos: Boa opção. (Tabela com Manuel Fernandes, que no entanto estica demasiado o passe e o lance perde-se.)

39 minutos: Boa opção. (À entrada da área, tenta arranjar espaço para o remate; não consegue e dá para o remate de Paulo Machado.)

40 minutos: Boa opção. (Devolve a Nuno André Coelho.)

41 minutos: Ultrapassado. (É ultrapassado no um para um com relativa facilidade.)

42 minutos: Mau posicionamento. (Novamente muito subido, permite que apareça um adversário na sua zona, à entrada da área, a rematar completamente à vontade.)

44 minutos: Boa opção. (Recebe e dá em Manuel Fernandes.)

45 minutos: Má opção. (No meio-campo, com a selecção gaulesa a perder uma bola em transição e podendo jogar de forma mais cautelosa, efectua um passe longo para Edinho; este quase consegue chegar antes do guarda-redes, mas apenas porque a bola se afasta da baliza, obrigando o guarda-redes a percorrer um espaço maior.)

45 minutos: Má opção. (Com a equipa francesa descompensada, recebe uma bola de Antunes, podendo rodar o jogo para a direita, esticando-o, mas prefere fintar, voltar ao meio, perdendo a hipótese de uma transição rápida e permitindo à selecção francesa que se reorganizasse defensivamente.)

48 minutos: Boa opção. (Dá em Paulo Machado.)

51 minutos: Mau passe. (Passe sem nexo para o centro da defesa francesa.)

51 minutos: Ultrapassado. (É ultrapassado em velocidade por um adversário, junto à linha.)

55 minutos: Mau posicionamento. (Com Antunes fora a ser assistido, um dos centrais franceses entra pela esquerda da defesa e, através de um passe recuado, encontra um companheiro que tem tempo para tudo, numa zona que Pelé tinha de, obrigatoriamente, ter ajudado a preencher, coisa que não fez; do lance resulta o primeiro golo da França.)

56 minutos: Boa opção. (Dá para trás.)

58 minutos: Boa opção. (Recebe, tira um adversário e dá em Paulo Machado.)

58 minutos: Bom passe. (Passe vertical para Edinho.)

58 minutos: Ultrapassado. (Vai à queima e é ultrapassado.)

59 minutos: Corte. (Corte para o ar.)

62 minutos: Má opção. (Depois de deixar pregados ao relvado dois adversários, passando no meio deles, decide mal e entrega a bola a um adversário.)

64 minutos: Boa opção. (Entrega a Paulo Machado.)

66 minutos: Boa opção. (Recebe, dá em Manuel da Costa; este devolve a bola e Pelé abre na direita, para João Pereira.)

67 minutos: Corte. (Ganha um lance de cabeça.)

68 minutos: Má opção. (Tenta fazer uso do seu poderio atlético e segurar a bola junto à linha, quando a poderia entregar a um colega, e acaba por perdê-la.)

72 minutos: Boa opção. (Dá para Nuno André Coelho.)

73 minutos: Recuperação de bola. (Recupera uma bola.)

73 minutos: Má opção. (Depois da recuperação de bola, progride no terreno e, de muito longe e sem preparação, tenta alvejar a baliza adversária, quando se impunha que jogasse com um colega.)

75 minutos: Corte. (Corte com a ponta do pé, com a bola a sobrar para Paulo Machado.)

76 minutos: Remate. (Remate contra a barreira, na sequência de um livre indirecto.)

78 minutos: Bom passe. (Passe vertical para Hélder Barbosa.)

78 minutos: Má opção. (Ganha um ressalto; tenta fintar e perde a bola; ganha novamente o ressalto, dribla um adversário mas torna a perder a bola.)

80 minutos: Mau passe. (Mau passe para Tiago Gomes.)

80 minutos: Boa opção. (Recebe no peito e dá para Nuno André Coelho.)

81 minutos: Boa opção. (Entrega a João Moreira.)

81 minutos: Boa opção. (Dá atrás.)

81 minutos: Boa opção. (Dá a Paulo Machado.)

82 minutos: Boa opção. (Abre para João Pereira.)

83 minutos: Boa opção. (Intercepta e dá em Paulo Machado.)

84 minutos: Boa opção. (Entrega a Paulo Machado, recebe novamente e dá a Celestino.)

85 minutos: Bom passe. (Passe a abrir na esquerda, para Tiago Gomes, embora o facto de o lateral esquerdo não ter apoios tenha inviabilizado a jogada.)

85 minutos: Boa opção. (Passa a Hélder Barbosa.)

86 minutos: Mau passe. (Passe vertical para um colega que tinha marcação apertada, resultando numa bola dividida e, depois, perdida.)

86 minutos: Boa opção. (Dá atrás.)

86 minutos: Boa opção. (Recebe, tira um adversário com uma simulação de corpo e entrega bem no meio.)

87 minutos: Boa opção. (Dá para Manuel da Costa.)

87 minutos: Boa opção. (Passe lateralizado para Tiago Gomes.)

92 minutos: Má opção. (Tentativa de passe longo que acaba nas mãos do guarda-redes francês.)


Para melhor se aferirem os resultados, coloquei em negrito as acções negativas de Pelé. Vamos aos resultados:

1) 70 acções durante os 90 minutos; 41 acções positivas durante o jogo; 59% de acções positivas.
2) Em 53 lances com a bola nos pés e com condições para fazer algo (exclui-se portanto os lances de bola parada ou as disputas de cabeça, ou os lances em que procura recuperar a bola, ou os lances em que não tem a bola totalmente dominada), teve 34 boas opções contra 19 más opções; 64% de boas opções.
3) Destas 19 más opções, resultaram 15 perdas de bola, sendo que 9 delas não trouxeram perigo de maior à sua equipa, por terem ido para fora ou parar a zonas recuadas do campo, mas 6 delas provocaram desequilíbrios perigosos, permitindo à selecção francesa iniciar o seu processo ofensivo de imediato e com a selecção das quinas desorganizada defensivamente.
4) Pelé fez 3 cortes, ganhou 1 bola de cabeça e recuperou 3 bolas.
5) Fez 1 falta e sofreu outra.
6) Tentou desembaraçar-se individualmente dos seus adversários por 11 vezes, o que para um médio-defensivo é um exagero. Dessas 11 tentativas, apenas 6 foram bem sucedidas, sendo que, dessas 6, apenas 3 eram a melhor opção na altura.
7) Por sua vez, foi ultrapassado individualmente por 3 vezes.
8) Sendo um tipo que tem marcado golos que todos têm elogiado e que detém um pontapé invejável, fez 3 remates, sendo que 2 deles passaram muito por cima e outro saiu rasteiro e foi embater nos adversários que constituíam a barreira.
9) Passou o jogo todo mal posicionado, mas, em jogadas concretas de ataque francês, causou problemas à sua equipa por 5 vezes, o que, tendo em conta o pouco que os franceses atacaram, sobretudo na primeira parte, é muitíssimo. Desses lances, 1 deu golo da França, outro provocou o avanço de Manuel da Costa e o isolamento do avançado francês, outro permitiu a um francês um remate frontal, à entrada da área, sem oposição, e outros dois permitiram jogadas perigosas.
10) Efectuou 41 passes acertados contra 11 passes errados; 79% passes acertados. Este número revela que 1 em cada 5 passes de Pelé são errados. Não sendo um número muito problemático, tem de se ter em conta o risco dos mesmos. Destes 41 passes acertados, apenas 3 foram de risco elevado, sendo 2 deles passes verticais, pelo chão, que permitiram à equipa jogar entre linhas e 1 deles um passe a rasgar na esquerda. Se tivermos em conta o total dos 52 passes que efectuou, dos quais apenas 10 foram de risco elevado, vemos que apenas 19% dos passes que Pelé fez comportavam um risco elevado. Desses 10 passes de risco elevado, só 3 foram acertados, o que implica que os 79% de passes acertados diminuem drasticamente com o aumento do risco do passe. Assim, Pelé acertou 90% dos passes de risco baixo (38 passes acertados de um total de 42 passes de risco baixo) que efectuou, mas apenas 30% dos passes de risco elevado. Se é verdade que o seu acerto em passes de menor risco deve constituir prova de que conferiu alguma segurança com bola à equipa, não pode deixar de ser relevante que foi mal sucedido 2 em cada 3 vezes que tentava arriscar mais. Ora, tendo em conta o claro insucesso dos seus passes de maior risco, Pelé salvaguardar-se-á sempre que não abusar dos passes de risco elevado. Se é verdade que neste encontro obteve 79% de passes acertados, também é verdade que isso se deveu à percentagem relativamente baixa de passes de risco elevado, 19%. Uma vez que é conhecida a apetência de Pelé pelo risco, é de adivinhar que esta percentagem aumente noutros encontros, contra adversários que actuam de outra forma. Façamos um exercício: com estas contas e com uma percentagem de, por exemplo, 38% de passes de risco, o correspondente ao dobro do jogo de hoje e mais condizente com a apetência dele, Pelé teria, em 52 passes, 20 passes de risco, dos quais acertaria apenas 6; dos restantes 32 passes de risco menos elevado, à percentagem de 90%, Pelé acertaria 29; assim, com uma percentagem de passes de risco elevado nos 38%, Pelé acertaria, em 52 passes, apenas 35 e já não 41; o seu índice de passes acertados desceria de 79% para 67%. Se é evidente que 79% de passes acertados, não sendo uma marca óptima, é uma marca relativamente boa, não deixa de ser menos verdade que, num jogado mais normal de Pelé (como já o demonstrou noutras partidas, gosta de arriscar passes mais longos) esse índice relativamente bom tende a decrescer consideravelmente.

Notas finais: Tendo a equipa portuguesa a bola, Pelé raramente ofereceu linhas de passe aos colegas, andando nestas alturas a passo. Sem bola, quer em missão defensiva, quer ofensiva, foi um desastre, errando em termos posicionais como um principiante. Esta falta de aptidão para oferecer apoios ou para perceber que espaços deve ocupar nas diferentes situações de jogo são, talvez, o seu maior defeito. Sem bola, portanto, fica evidente que Pelé tem graves deficiências. Com bola, durante esta partida, não esteve tão mal como noutras alturas, sobretudo porque optou por não arriscar tanto quanto costuma. Ainda assim, para um jogador na sua posição, abusa de iniciativas individuais desnecessárias e não garante a segurança no passe que se desejaria. Como se não bastasse, não foi (nem é, normalmente), um jogador concentrado, andando a passo em muitas situações em que se exigia uma resposta rápida da sua parte. Esta lentidão de processos agravou-se ainda com a pouca disponibilidade de Pelé para as bolas divididas, coisa que, de acordo com o seu porte atlético, deveria ter facilidade em ganhar. Sabendo-se que Mourinho espera dos seus jogadores, além de inteligência e interesse pelo jogo, concentração máxima, estou em crer que Pelé precisa de modificar muito do seu futebol para entrar nas contas do técnico português.

Ainda sobre este encontro:

1) Um dos comentadores de serviço lembrou-se de comparar Nuno André Coelho a Ricardo Carvalho. O que eu gostava de saber era em que esquina esse indivíduo bateu com a cabeça.

2) A selecção nacional é das mais miseráveis de que me lembro neste escalão. Do onze inicial, aproveita-se um: Carlos Saleiro. O resto são tipos sem potencial, ou com menos potencial do que se diz, ou que pararam de evoluir, embora tivessem um potencial considerável.

3) Manuel da Costa foi repreendido por Rui Caçador e meio país ficou espantado. Foi preciso uma coisa dessas para se perceber que o jogador português é horrível na interpretação dos lances e na forma como abusa em subidas sem nexo, ou em lances individuais, ou em habilidades sem sentido?

4) Hélder Barbosa continua a não ser opção para Caçador. Agora, o melhor extremo português desta idade até já se vê ultrapassado por um ponta-de-lança adaptado... e que ainda por cima não tem idade para jogar nesta selecção. Brilhante!

5) E Fábio Coentrão, não?

6) Os comentadores disseram ainda que Pelé estava cansado, após uma época longa e desgastante. Segundo eles, o internacional português jogara mais de 20 jogos em Itália, tendo-se afirmado na equipa do Inter como poucos esperariam. Ya, ya. Pelé jogou 4 jogos a titular no campeonato, tendo entrado noutros 9. São 13. 496 minutos jogados. Isto é afirmar-se como?

domingo, 20 de abril de 2008

O que é um passe?

Foi aqui dito, há tempos, que o Entre 10 ensinaria a Pelé, o jovem internacional sub-21 português, em que consiste um passe. Chegou, pois, a altura de tão adiada tarefa. Ao contrário do que a generalidade das pessoas pensa, o passe é tudo menos um gesto técnico simples. Aliás, é até precipitado defini-lo como um gesto técnico, pois o que é mais relevante, para a obtenção de um bom passe, não tem rigorosamente nada a ver com condições técnicas. Assim sendo, enquanto a opinião do vulgo defende que um passe é um gesto técnico, eu defenderei, nestas linhas, que um passe é, isso sim, um gesto intelectual, ao qual a técnica serve apenas de intermediário. Ademais, defenderei que um passe, embora seja executado por um indivíduo, não é um gesto individual, mas sim um gesto colectivo, pois é resultado de diferentes dinamismos e só tem aproveitamento enquanto beneficiar uma acção colectiva.

Muito mais que saber colocar a bola num local preciso, do que ter a capacidade de executar com perfeição um passe, é importante, para o jogador que tem a bola e a quer endossar a um colega, perceber como, quando e por que razão o deve ou não fazer. Num passe, a técnica cumpre um papel meramente secundário: mais importante que conseguir colocar a bola onde se quer é querer colocar a bola no sítio correcto. A um passe preside uma intenção e é essa intenção e não o passe em si que concorre para a qualidade do mesmo. Por mais certeiro que um passe seja, são as condições em que o colega vai receber a bola, assim como aquilo que a equipa pode extrair desse passe, que verdadeiramente interessa. Se um jogador consegue colocar a bola a cinquenta metros no pé de um colega, mas este não tem qualquer espécie de apoios e está rodeado de adversários, o passe efectuado pelo primeiro, ainda que tecnicamente perfeito, não produz consequências positivas. É por isso que, num passe, a componente técnica é completamente independente da componente intelectual. Aquilo que defendo é que, para que um passe seja considerado bom, a segunda componente é muito mais decisiva que a primeira.

Assim, poder-se-ia dividir um passe, à partida, em ideia e execução. Em termos de ideia, contudo, há várias sub-divisões a fazer. Um jogador, ao pensar em fazer um passe, deve ter em conta várias coisas: condições de recepção do colega; apoios que o colega tem ou vai receber; ganhos colectivos; situação e necessidades presentes do jogo (se a equipa está a ganhar ou a perder); etc. Por exemplo, um bom passe a nível técnico não é necessariamente um bom passe se o jogador que receber a bola não tiver condições suficientemente boas para tal. Pelé, por exemplo, é um jogador, a nível do passe, de grande qualidade técnica: os seus passes, por norma, encontram o colega a que se destinam. A sua qualidade técnica não é, porém, condizente com a opção de passe. Não raro, o jogador do Inter, embora executando com qualidade, não tem em conta tudo aquilo que deve ter. Um passe seu é, do ponto de vista estético, de boa qualidade, mas, não pensando Pelé se o mesmo representa a melhor opção para a equipa e se o colega vai poder dar seguimento à jogada, o mesmo passe é, muitas vezes, inconsequente. Não são poucas as vezes que alonga o jogo sem necessidade nem poucas as vezes que faz o passe pelo ar quando pode fazê-lo pelo chão. Pelé não se preocupa com o que vai acontecer a seguir ao seu passe, mas apenas com o passe em si, o que é errado. Aquilo que define um bom passe é muito mais tudo o que vem depois do passe do que o próprio passe.

A capacidade de uma equipa fazer posse de bola advém muito mais da capacidade que os jogadores têm para entender o que vai acontecer a seguir a cada passe do que da capacidade e da qualidade de passe de cada um deles. Para que a equipa permaneça com a posse de bola, um jogador, ao passar, deve perceber que opções de passe terá o jogador que receber a bola, no momento em que a receber. Muito mais do que perceber se há uma linha de passe aberta, um jogador que tem a bola e a vai passar tem de conseguir perceber se, assim que receber a bola, o seu colega terá forma de dar continuidade à jogada. Se não tiver esta capacidade, o jogador que passa só poderá fazer bons passes por acaso: todos os passes que permitirem a continuidade da posse de bola ou que permitirem progressão acontecem então por acidente, porque o jogador que recebe, felizmente, soube encontrar uma solução, ou porque o adversário não tinha capacidade para inviabilizar a continuidade da jogada. O acto de passar, em futebol, é um pouco como cada jogada de xadrez: se não se tiver em conta as próximas jogadas, se não se imaginarem possibilidades futuras, uma jogada por si só é facilmente contrariada. Uma equipa cujos jogadores não tenham capacidade para imaginar aquilo que o colega vai ser capaz de fazer assim que receber a bola jogará muito em função da sorte e da capacidade individual dos jogadores. Os melhores jogadores, ao nível do passe, são aqueles que, ao entregarem a bola, percebem imediatamente quais as soluções que o colega vai ter. Pelé não é um destes casos. Os seu passes não são ponderados e, embora encontrem com regularidade o destinatário, colocam invariavelmente dificuldades ao mesmo, ou à equipa. Abusa dos passes longos em ocasiões em que, além de uma recepção difícil, o jogador que recebe não tem apoios para dar continuidade à jogada, o que torna um passe, já por si arriscado, numa jogada completamente ineficaz. Não se preocupa com as condições de recepção dos colegas e, muitas vezes, quando pode jogar curto e seguro, prefere arriscar e dificultar a acção dos mesmos. Além de tudo isto, não é capaz de perceber que uma equipa que ataca deve fazê-lo progressivamente e que, sem apoios, um passe só funciona como último passe. Apesar de revelar algum critério no descongestionamento dos flancos, ou demora a fazer o passe quando deveria apressá-lo, ou fá-lo rápido quando deveria contemporizar. É com alguma facilidade que vemos a equipa onde joga não ser capaz de progredir ou perder tempo relevante após um passe seu.

O passe é, na minha opinião, o elemento mais importante no processo ofensivo de uma equipa. Mas o passe em si, isto é, o gesto técnico, é uma parte muito irrelevante do mesmo. O passe engloba coisas como a visão de jogo, a imaginação, a capacidade de perceber movimentações colectivas, a velocidade de raciocínio, etc. E é a competência em todos estes processos que define um jogador com uma boa capacidade de passe. Por isso, porque são aspectos intelectuais e não técnicos que definem um bom passe, dificilmente um jogador pouco inteligente será bom nesse capítulo. Sem o auxílio do intelecto, um jogador não poderá compreender mais que o trivial e nunca fará bons passes para além daqueles mais fáceis do ponto de vista do raciocínio. É também por isso que me fascinam certos jogadores que, para a grande generalidade do público, são banais, jogadores esses que são capazes de pensar, a cada momento, o que é melhor para a equipa e de que forma uma acção aparentemente simples como um passe pode ser aproveitada nos momentos seguintes ao mesmo. Para a grande generalidade do público, o passe é uma coisa simples e qualquer um é capaz de fazê-lo. Por isso, um jogador que se destaque apenas neste capítulo não é, para esses, suficientemente bom. Para mim, como o passe é praticamente tudo no futebol, um jogador capaz de fazer bons passes com frequência (e por bons passes entende-se, por tudo o que foi dito, passes consequentes) deveria reunir maior apoio que qualquer outro tipo de jogador.

O passe é, pois, para a maior parte das pessoas, um gesto técnico individual. Para mim, não é nem um gesto técnico nem um gesto individual. É um gesto intelectual, porque o intelecto tem muito mais peso que a técnica na definição do mesmo, e é um gesto colectivo (engloba passe do jogador, recepção do colega, movimentação de toda a equipa, preocupação com posicionamento do adversário, preocupação com as eventualidades seguintes, etc.) porque só naquilo de bom que a equipa pode usufruir de um passe é que se pode medir a qualidade do mesmo.