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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Coisas do estúpido futebol que temos

1. António Tadeia, no Domingo Desportivo desta semana, quando inquirido sobre se a equipa apresentada por Paulo Bento, na última jornada, era a melhor do Sporting, respondeu que tinha dúvidas sobre o companheiro de Liedson. Segundo o douto senhor, Postiga deveria ser mais utilizado nos jogos em casa do que nos jogos fora (até porque toda a gente sabe que fora o Sporting joga contra 13 adversários e em casa apenas contra 11) e o seu argumento é - e agora vem o momento "Por que é que eu falo quando deveria estar caladinho? - Postiga "estraga muito jogo ao Sporting". Para António Tadeia, Hélder Postiga - e parafraseio - "é muitas vezes apanhado em fora-de-jogo", "enrola demasiado o jogo da equipa" e "mexe-se muito de um lado para o outro e retira, com isso, espaço a Liedson". Tenho uma palavra para o senhor António Tadeia: "Óculos". Ou isso ou Liedson é de tal maneira perfeito que quando é apanhado em fora-de-jogo ou a enrolar o jogo tem a capacidade de se metamorfosear em Hélder Postiga. Mas brilhante, brilhante, é o facto de Hélder Postiga "estragar" jogo por se mexer muito e cair em zonas do Liedson. Tenho impressão que, também aqui, António Tadeia confundiu Liedson com Postiga - o que é normal, visto que eles são parecidos -, mas mesmo que assim não seja, que raio de Deus é que Liedson é para que todos os espaços do campo lhe pertençam? Queres ver que o segredo do Sporting seria passar a jogar só com Liedson, de modo a que os colegas não lhe retirem espaço? E que mais tem o Postiga de mal? Mau hálito? Problemas de gaguez? Não ser igualzinho a São Liedson? Ai, ai, os mentecaptos...

2. O Sporting fez um jogo razoável, embora Moutinho tenha estado acima dos companheiros, e depressa voltaram as antigas vozes irritantes que afirmam que a melhor posição de Moutinho, no losango, é a 10. Sempre que se disse isto, no passado, as seguintes exibições de Moutinho trataram de refutá-lo. Mas elas insistem. Embora Moutinho possa jogar ali, e o faça com relativa facilidade, não é ali que mais pode render, nem é o melhor jogador do plantel naquela posição. Uma das razões para se dizer isto é porque Moutinho fica mais livre de tarefas defensivas e ocupa zonas mais centrais, onde pode fazer uso da sua visão de jogo. Além disso, com isto, possibilita-se que se jogue com Izmailov e Vukcevic nas alas do losango, o que para esta gente é sinónimo de maior largura. Desmistificando coisinhas: 1) num 442 losango, os alas do losango são médios interiores, devem ser jogadores capazes de ocupar espaços centrais e não flanqueadores; 2) Moutinho é um jogador extraordinário, com uma inteligência invulgar, com boa visão de jogo, mas falta-lhe alguma criatividade (nesse sentido, Romagnoli é um jogador que desequilibra com muito mais facilidade naquela posição); 3) o facto de jogar a 10 não iliba Moutinho de tarefas defensivas (tem tantas como na outra posição, ainda que em posições diferentes); 4) jogar com Moutinho numa ala só pode ser danoso para as características do jogador se se entender que os alas de um losango têm mais tarefas exteriores que interiores, o que não é verdade. 5) Jogar com um jogador mais agressivo a 10 para compensar o facto de se jogar com outro menos culto tacticamente noutra posição do losango é uma forma de pensar uma equipa em termos individuais, como uma balança, levando-se a fantasia de um prato da balança para o outro e compensando movendo a cultura táctica no sentido inverso, para equilibrar os pratos.

3. Liedson fez uma primeira parte notável, frente ao Setúbal. Sem ironias. A sério. Quase sempre que tinha a bola, decidia bem; raramente tentou resolver as coisas sozinho, ainda que estivesse a quilómetros da baliza, como é hábito; a sua prioridade foi sempre procurar um colega e não driblar; soube perceber o momento certo para soltar a bola, etc. Muito bem. Com isso, participou activamente nos dois golos da equipa. E tê-lo-ia feito mesmo que não tivesse sido ele a finalizar o lance do primeiro, porque o momento chave do lance é o seu passe para Abel. Ou seja, Liedson teve uma participação positiva em dois lances de golo, coisa raríssima nele, se exceptuarmos a finalização dos lances. Além disso, teve em muitos outros lances de ataque da equipa, permitindo desenvoltura ofensiva à mesma. Não emperrou, como habitualmente faz, o ataque do Sporting. Infelizmente, este Liedson dura pouco. Na segunda parte, voltou ao mesmo de sempre, voltou à banalidade sofrível de um jogador com poucos argumentos para rivalizar com os melhores avançados do nosso campeonato.

4. Bruno Gama - dizem - fez uma boa exibição e começa a mostrar sinais de evolução. Sim, talvez tenha feito uma boa exibição. Mas sinais de evolução não os vejo. Foi dos jogadores mais inconformados, é verdade. Foi aquele que se calhar mais remates tentou. Mas não é um jogador extraordinário. Teve o mérito de não tentar passar tantas vezes no um para um (as que tentou, falhou), como tentava, mas pouco mais. O único movimento individual digno de registo são as suas diagonais para o meio, pouco eficazes, porém. Esteve menos individualista do que é costume, mas continua a não revelar um talento invulgar. É um jogador veloz, com uma capacidade técnica razoável, mas não creio que tenha capacidades para algum dia jogar num grande ou chegar à selecção nacional. Nesse capítulo, continua a ficar a anos de luz de Hélder Barbosa, que fez mais um magnífico jogo contra o Benfica; continua a não ser muito diferente de Vieirinha, Ivanildo, Diogo Valente, etc. E, como disse Luís Freitas Lobo durante o jogo, começa a ser tarde para Bruno Gama explodir.

5. Olegário Benquerença foi o árbitro do Setúbal-Sporting e, uma vez mais, mostrou uma falta de classe absolutamente contraditória com a distinção de melhor árbitro português com que o estatuto europeu o define. A expulsão de Daniel Carriço é uma barbaridade. São duas faltas no meio-campo, derrubes ou rasteiras, sem intenção de aleijar, e que não constituíam jogadas de perigo. É verdade que aceito que se mostre amarelo nessas situações. Mas, para fazê-lo, os árbitros teriam de fazê-lo sempre. Com esse critério, aos quinze minutos de jogo, em qualquer jogo, já havia três expulsões para cada lado. É uma estupidez. Ainda bem que este primo do Quim Barreiros é considerado o melhor árbitro português. Duarte Gomes e Pedro Proença, claramente os dois árbitros mais competentes a actuar em solo português, devem estar satisfeitíssimos.

6. O Benfica perdeu na Trofa e, de repente, Quique já não é assim tão bom e já toda a gente afiança que o 442 clássico é um erro. É impressionante como, para se aferir o valor das coisas, se depende dos resultados. Agora que o Benfica está mal é fácil dizer que o treinador é obtuso e que o sistema é permeável. O Entredez fez isso há 6 ou 7 meses. E da mesma forma que achava que Quique não era assim tão bom, agora afirma que Quique não é assim tão mau. Falta-lhe perceber que o 442 clássico não é uma boa opção e que os problemas ofensivos de uma equipa não podem ser resolvidos pela inspiração individual dos seus executantes. Ah, e falta-lhe perceber que Bynia não é jogador de futebol. De resto, continua a ter o mesmo valor de antes.

7. Mais uma coisa gira e contraditória é dizerem que o problema do Benfica não tem a ver directamente com o sistema de jogo (ou seja, com o facto de jogar em 442 clássico), mas depois criticar-se o facto de a equipa não formar apoios próximos do portador da bola, obrigando este a executar, invariavelmente, passes de risco. Ora, é precisamente por o Benfica jogar em 442 clássico que o espaço entre os diferentes jogadores é tão grande. E não há forma de modificar isto drasticamente. Jogar em 442 clássico significa jogar com os alas a dar largura, abertos, e com os avançados a dar profundidade. Alterar isto para permitir uma melhor rede de apoios ao portador da bola (por exemplo, aproximar um avançado ou um ala do homem do meio-campo que tem a bola) é já não jogar em 442 clássico.

8. Hugo Leal está de volta.

9. Que terá passado na cabeça do defensor do Nacional para pôr a mão à bola naquele remate de longe que, provavelmente, iria para fora ou para as mãos do guarda-redes madeirense? Um cesto de fruta?

10. Mais dois golos de Hulk cujo mérito é todo de Lisandro. É por estas e por outras que contabilizar golos e assistências não serve, rigorosamente, para nada. Então o segundo golo de Hulk, o quarto do Porto, é o cúmulo da contradição. Era só encostar para Rodriguez finalizar, mas ele quis fintar o defesa e finalizar ele. Acabou por ter sorte, pois a bola roçou no pé do defesa do Nacional e ganhou altura, tornando-se indefensável. Num lance tão fácil de resolver, Hulk tomou a pior das decisões e, só por acaso, averbou mais um golo. Significa isso que está melhor? Não, não significa. Pelo contrário. É por isso que os golos marcados servem tanto para perceber a qualidade de um avançado quanto o tamanho do nariz de uma pessoa serve para conhecer o QI da mesma.