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segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O Boavista de Pacheco: aquilo que uma equipa NÃO deve ser...

É absolutamente patético ouvir Jaime Pacheco falar da sua estratégia convencido de que realizou um grande feito. Ganhou ao Sporting com um futebol medíocre, com uma estratégia errada e que denota a sua pequenez, mas acha que foi um justo vencedor. Justo? Porquê? Porque ganhou? É verdade que o Sporting realizou um jogo fraco, mas não merecia perder, muito menos para uma equipa que defendeu sempre atrás da linha da bola, que criou uma ou duas oportunidades de golo ao longo de todo o jogo. Jaime Pacheco acha que não e orgulha-se de a sua estratégia ter resultado. E que estratégia era essa, afinal? Nada mais, nada menos, do que tentar neutralizar Miguel Veloso. Medo...

Vamos por partes. A título individual, esta equipa do Boavista não é só modesta; vai bem além disso. Zé Kalanga, Mateus e Fary formam, provavelmente, o pior trio atacante da Liga. É caso para perguntar: onde andam Ivan Santos e Hugo Monteiro? O meio-campo é fraquíssimo, não tem um pingo de criatividade e não abunda em massa cinzenta. Diakité é um tipo grande, de cor, que é capaz de assustar e talvez de cheirar mal, mas de bola é fraquinho. É capaz de ser bom para uma distrital, mas mais do que isso não. Fleurival é mau. Jorge Ribeiro não é médio. A defesa é o sector menos mau desta equipa. Ricardo Silva não evoluiu enquanto jogador: continua forte, pesado e lento de rins. Mas é um defesa concentrado e forte nos lances de bola parada. Marcelão, o outro central, parece-me ser do mesmo tipo: é grande, marca em cima e, pelo ar, é quase tudo dele. Os laterais, dois miúdos, parecem-me razoáveis. Gilberto, o lateral direito, já conhecia. Tinha ficado com melhor impressão dele, pois parecia ter bons princípios de jogo, quando actuava pela equipa de júniores. Agora, treinado por Pacheco, talvez se tenha deixado influenciar pela filosofia do treinador: é duro, impetuoso e não perde muito tempo a pensar, como o fazia tão bem antigamente. O guarda-redes fez uma boa exibição, mas não sei o que valerá na realidade. Ou seja, individualmente, esta equipa é talvez a mais fraca de sempre do Boavista. Aliás, de uma equipa em que a vedeta é um defesa esquerdo de qualidade mediana a jogar como médio mais ofensivo, pouco há a dizer.

As equipas podem, se bem estruturadas colectivamente, suprir as deficiências individuais que os orçamentos reduzidos ou os azares lhes impõem. Veja-se o caso do Vitória de Setúbal e de Carlos Carvalhal. Mas uma equipa que individualmente seja fraca e que, colectivamente, seja um desastre, está condenada ao fracasso. O Boavista de Pacheco joga num 433 bem definido. Até aqui, nada a apontar. O problema raramente se prende apenas com o desenho táctico; muito mais importante é a dinâmica de jogo, a filosofia, etc. O Boavista de Pacheco joga, não raro, em função dos outros. Em primeiro lugar, não existe essa treta de marcação à zona. Nada disso! Isso são modernices a mais. O Boavista faz marcação homem a homem. E não são só os elementos mais recuados que o fazem: todos os onze jogadores têm, por tarefa defensiva, acompanhar o adversário que lhes compete para onde quer que este vá. Diakité, supostamente o médio mais defensivo, passou o jogo inteiro a cair nas faixas. A fazer o quê? A marcar Liedson. A Fary ficou entregue não a posição de ponta-de-lança, mas o sacrifício de andar atrás de Miguel Veloso. Ou seja, o Boavista jogou sem avançado para evitar que o Sporting jogasse. A minha pergunta é: Uma equipa que, para evitar que o adversário jogue, abdica de cada um dos seus jogadores, tem legitimidade para acreditar que pode ganhar um jogo? Para Jaime Pacheco, é mais importante que o adversário não jogue do que a sua equipa o faça. Se, por milagre, conseguir marcar um golo, muito bem. Mas isso, para Pacheco, não é importante. Com que moral pretende que os adeptos gastem dinheiro e se entusiasmem com o seu Boavista?

Além do sistema de marcação homem a homem, a filosofia de jogo do Boavista é de contra-ataque. Com o jogo em 1-0 para os axadrezados, vi Jaime Pacheco a pedir que os seus jogadores bombeassem bolas para a frente. E segurá-la, não? Trocar paulatinamente a bola entre os seus jogadores, para baixar o ritmo de jogo, para conservar a posse de bola, também não? Jogam os onze homens atrás da linha da bola, enfiados no seu meio-campo, cada um entregue a um adversário, e, quando recuperam a bola, tentam lançar os três homens da frente rapidamente; isto quer estejam a perder, quer estejam a ganhar. Uma equipa que jogue assim tem de ter três homens muito bons a nível individual na frente, coisa que não tem. Este Boavista não tem princípios de jogo. E não os tem porque Jaime Pacheco nem sabe o que isso é. Para ele, atacar é pontapear a bola para as costas da defesa e esperar que os seus avançados sejam mais rápidos que os defesas adversários.

Na zona de entrevistas rápidas, Jaime Pacheco vinha a ferver em orgulho. Disse que a sua estratégia fora anular Miguel Veloso, que era por onde passava, segundo ele, todo o jogo do Sporting, e que essa estratégia resultara em pleno e que, por causa dela, vencera o jogo. Devo dizer que Jaime Pacheco nem percebe por que é que ganha jogos. Sacrificar uma peça para evitar que outra jogue traz sempre maus resultados. Pode conseguir o que pretende, mas abre sempre espaços que não deveria abrir. Se o Sporting tivesse sabido aproveitar sobretudo o facto de Diakité raramente estar na zona central do terreno, uma vez que ia para onde Liedson ia, Jaime Pacheco estaria a esta hora a coçar a cabeça, sem saber o que tinha falhado. Mas, como ganhou, pensa que o deve à brilhante ideia de marcar homem a homem os jogadores do Sporting. Nada mais errado. Ganhou porque concretizou um lance de bola parada. Só isso. Se esse lance não tem acontecido, não sei se aguentaria o empate por muito mais tempo. E isto sem o Sporting estar a jogar bem. Se a nível individual o Boavista não tem, quanto a mim, qualidade para a primeira Liga, custa-me a acreditar que, a nível colectivo, haja equipas tão fracas como a de Jaime Pacheco na Liga Vitalis. A mentalidade não é só de equipa pequena; é de equipa de distrital. Interessa a Pacheco, essencialmente, anular o adversário. Se o conseguir, é o homem mais feliz do mundo e julga-se sábio. Não o é, nem uma coisa nem outra. Quer dizer, talvez seja feliz, porque nem tem inteligência para perceber que não o é. Mas como, de vez em quando, mais por demérito do adversário do que por mérito seu, consegue não sofrer golos jogando assim, vai conquistando uns pontitos. E, apesar de ser dos piores treinadores de que me lembro, talvez até consiga permanecer uma vez mais na Primeira Liga.

P.S. Há quem diga que Deus goza com os seres humanos. Se isso é verdade, o seu maior número cómico foi, sem dúvida, ter feito o Boavista de Jaime Pacheco campeão nacional...

domingo, 30 de setembro de 2007

Curtas da Taça da Liga e da Jornada 6 da Superliga

Curtas da Taça da Liga, por Gonçalo:

1. Duas coisas que o Fátima tem melhor que o Sporting: o relvado e o ponta-de-lança.

2. Jesualdo diz que é preciso ter cuidado com o Fátima, recorda o desaire ante o Atlético e depois apresenta uma equipa integralmente diferente da equipa principal. Ou não queria mesmo ganhar, ou tem memória de peixe-balão.

Curtas da Jornada 6 da Superliga, por Nuno:

3. Sem exagerar rigorosamente nada, Romagnoli faz mais cuecas por jogo do que Liedson acerta passes em 90 minutos.

4. Camacho falava a sério quando disse que queria um dos três primeiros lugares. Mal colocado na liga, a jogar em casa, não arrisca um milímetro e troca jogador por jogador. Para quem ambiciona um dos três primeiros lugares, sem dúvida que é bom empatar em casa com uma equipa que ambiciona o primeiro.

5. Jaime Pacheco, no final do derby da Invicta, disse que já viu antigos campeões europeus jogar no Dragão mais à defesa que o Boavista. Mas disse mais: disse que o seu plano foi - e passo a citar - "jogámos no sistema habitual, o 4x3x3, e tentámos que quando o F.C. Porto saísse para o ataque o Edgar marcasse o Paulo Assunção, tentando com isso ganhar superioridade no meio-campo, porque o Fleurival marcava Raul Meireles, o Diakité marcava o Lucho e o Jorge Ribeiro ficava livre." Justificou depois a má primeira parte dizendo que o problema foi que - e volto a citar - "demos muito espaço, fizemos marcações a quilómetros, não a centímetros." Coisas que Jaime Pacheco não sabe: 1) Não sabe que provocar José Mourinho, por si só, é estúpido. 2) Não sabe que provocar José Mourinho, quando se treina o Boavista, é ainda mais estúpido. 3) Não sabe que provocar José Mourinho na semana em que este ganhou mais dinheiro num dia do que Jaime Pacheco em 70 vidas, é um pouco mais estúpido ainda. 4) Não sabe que provocar José Mourinho, alegando que não jogou à defesa, mas declarando que o seu plano era fazer marcações individuais a todos os jogadores do adversário, é das coisas mais estúpidas que se podem dizer. 5) Não sabe que, ao justificar a derrota confessando erros nos processos defensivos, é sintoma de que só pensou em defender. 6) Não sabe o que é um 4x3x3. 7) Não sabe que, não tendo condições para se armar em bom, deveria ser humilde.

6. Neste artigo, lê-se a seguinte conclusão: Com Pedro Henriques, está aberto caminho para um «derby» sem casos. Tiro em cheio: porta-aviões ao fundo. À margem da má arbitragem deste Sábado, discordo dos argumentos que são utilizados a favor do tipo de arbitragem de Pedro Henriques. Estou à vontade para fazê-lo, sem que pareça que o faço no momento conveniente, ou seja, depois do descalabro de ontem, porque sempre fui contra o estilo de apitar inglês, como o escrevi aqui, e tinha inclusivamente um texto sobre o tema preparado antes do jogo de ontem, precisamente em resposta ao dito artigo, e que só por manifesta falta de tempo não pude publicar. Adiante. Diz-se que "defende o espectáculo em detrimento do jogo mastigado por constantes interrupções". Mas quem é ele para decidir se o jogo tem constantes interrupções? Se há faltas, ele está lá para as marcar. Não tem autoridade para infringir as regras em favor de um jogo menos "mastigado por constantes interrupções". E defende o espectáculo como? Permitindo que a força tenha mais poder que a técnica? Que espectáculo é que ele defende? Futebol não é, de certeza. E defender o espectáculo não deveria ser sinónimo de defender os artistas? E é permitindo que os brutos, os que não têm habilidade nem inteligência, se equiparem aos talentosos que ele defende os artistas? Ao contrário, portanto, do título do artigo, Pedro Henriques era uma escolha contornável.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Doentes Mentais ou Génios?

Jaime Pacheco diz que Mourinho é doente mental. Hmmm... pois... Jaime, Jaime, o que é que andas a fumar, pá? Ora façamos um paralelo. A diferença entre um doente mental e Napoleão é que o primeiro pensa que é o Imperador de França e o segundo foi-o. O primeiro julga que é um génio militar e que venceu imensas batalhas, mas só o segundo é que as venceu. Então vejamos. Entre Pacheco e Mourinho, quem é o Napoleão e quem é o doente mental? Diz Pacheco que Mourinho deve ser um frustrado por nunca ter ganho nada como jogador. Acredito. Será tão frustrado como os outros 9 milhões, 999 mil e tal portugueses que nunca ganharam nada como jogador. E como treinador, quem será o mais frustrado?

Já há tempos, Jaime Pacheco, numa entrevista, tinha dito que Mourinho só se tornou no que se tornou porque teve sorte, pois nunca treinara equipas pequenas, que fora logo para as grandes. Recapitulemos. Mourinho andou mais de uma década à sombra de Robson e Van Gaal. Realmente, poderia ter usado este tempo para se iniciar como treinador, mas preferiu passá-lo a aprender, coisa que falta a... vá lá... quase todos os treinadores além dele. Depois, chegou ao Benfica. Um grande, é verdade. Mas deu-se ao luxo de abandonar o cargo de treinador e foi para o Leiria. Parece que afinal sempre treinou equipas pequenas. E vejamos o que fez no Leiria. Pois, saiu a meio da época para o Porto, porque era evidente que era bom. Deixou o Leiria em terceiro no campeonato, à frente do Benfica. Depois, no Porto, foi o que se viu. Em duas épocas, só não ganhou uma taça de Portugal. E se quisermos, no panorama europeu, o Porto era uma equipa pequena, mas ainda assim ganhou a UEFA e a Champions. Resumindo, o que Jaime Pacheco diz não tem qualquer fundamento. Mourinho treinou equipas pequenas. Ganhou sempre mais do que era esperado. Parece-me doença mental não saber interpretar isto, sr. Pacheco.

Para finalizar - é preciso dizê-lo sem medo - Jaime Pacheco não percebe nada de futebol. As suas equipas baseiam-se na força. Na força, imagine-se. E como sabemos, tudo o que é preciso num futebolista é força. Mourinho terá reagido a uma acusação de Pacheco dizendo que este só tinha um neurónio. Na minha opinião, foi simpático. Se Jaime Pacheco tivesse um neurónio, tê-lo-ia usado para permanecer calado e não se meter com Mourinho. Jaime Pacheco, como maior parte dos treinadores portugueses, não faz ideia do porquê do sucesso de Mourinho. Julga que teve sorte ou que é por saber disciplinar os seus jogadores. Há que dizê-lo também sem medo: Mourinho teve sucesso porque percebe de futebol e porque não deixa a sorte do jogo ao acaso ou à inspiração dos jogadores. Trabalha e potencia os seus jogadores, de acordo com um modelo de jogo concreto e de acordo com uma filosofia de jogo que não só é a mais correcta como a única que faz sentido. A diferença entre um doente mental e um génio é muito ténue. O que diferencia o génio do doente mental consiste na consciência que o primeiro tem do êxito que alcança. Mourinho não ganhou, como se ganha na maior parte dos casos, acidentalmente. Ganhou porque era muito melhor que os outros. E era de tal forma melhor que dificilmente não ganharia.