É absolutamente patético ouvir Jaime Pacheco falar da sua estratégia convencido de que realizou um grande feito. Ganhou ao Sporting com um futebol medíocre, com uma estratégia errada e que denota a sua pequenez, mas acha que foi um justo vencedor. Justo? Porquê? Porque ganhou? É verdade que o Sporting realizou um jogo fraco, mas não merecia perder, muito menos para uma equipa que defendeu sempre atrás da linha da bola, que criou uma ou duas oportunidades de golo ao longo de todo o jogo. Jaime Pacheco acha que não e orgulha-se de a sua estratégia ter resultado. E que estratégia era essa, afinal? Nada mais, nada menos, do que tentar neutralizar Miguel Veloso. Medo...
Vamos por partes. A título individual, esta equipa do Boavista não é só modesta; vai bem além disso. Zé Kalanga, Mateus e Fary formam, provavelmente, o pior trio atacante da Liga. É caso para perguntar: onde andam Ivan Santos e Hugo Monteiro? O meio-campo é fraquíssimo, não tem um pingo de criatividade e não abunda em massa cinzenta. Diakité é um tipo grande, de cor, que é capaz de assustar e talvez de cheirar mal, mas de bola é fraquinho. É capaz de ser bom para uma distrital, mas mais do que isso não. Fleurival é mau. Jorge Ribeiro não é médio. A defesa é o sector menos mau desta equipa. Ricardo Silva não evoluiu enquanto jogador: continua forte, pesado e lento de rins. Mas é um defesa concentrado e forte nos lances de bola parada. Marcelão, o outro central, parece-me ser do mesmo tipo: é grande, marca em cima e, pelo ar, é quase tudo dele. Os laterais, dois miúdos, parecem-me razoáveis. Gilberto, o lateral direito, já conhecia. Tinha ficado com melhor impressão dele, pois parecia ter bons princípios de jogo, quando actuava pela equipa de júniores. Agora, treinado por Pacheco, talvez se tenha deixado influenciar pela filosofia do treinador: é duro, impetuoso e não perde muito tempo a pensar, como o fazia tão bem antigamente. O guarda-redes fez uma boa exibição, mas não sei o que valerá na realidade. Ou seja, individualmente, esta equipa é talvez a mais fraca de sempre do Boavista. Aliás, de uma equipa em que a vedeta é um defesa esquerdo de qualidade mediana a jogar como médio mais ofensivo, pouco há a dizer.
As equipas podem, se bem estruturadas colectivamente, suprir as deficiências individuais que os orçamentos reduzidos ou os azares lhes impõem. Veja-se o caso do Vitória de Setúbal e de Carlos Carvalhal. Mas uma equipa que individualmente seja fraca e que, colectivamente, seja um desastre, está condenada ao fracasso. O Boavista de Pacheco joga num 433 bem definido. Até aqui, nada a apontar. O problema raramente se prende apenas com o desenho táctico; muito mais importante é a dinâmica de jogo, a filosofia, etc. O Boavista de Pacheco joga, não raro, em função dos outros. Em primeiro lugar, não existe essa treta de marcação à zona. Nada disso! Isso são modernices a mais. O Boavista faz marcação homem a homem. E não são só os elementos mais recuados que o fazem: todos os onze jogadores têm, por tarefa defensiva, acompanhar o adversário que lhes compete para onde quer que este vá. Diakité, supostamente o médio mais defensivo, passou o jogo inteiro a cair nas faixas. A fazer o quê? A marcar Liedson. A Fary ficou entregue não a posição de ponta-de-lança, mas o sacrifício de andar atrás de Miguel Veloso. Ou seja, o Boavista jogou sem avançado para evitar que o Sporting jogasse. A minha pergunta é: Uma equipa que, para evitar que o adversário jogue, abdica de cada um dos seus jogadores, tem legitimidade para acreditar que pode ganhar um jogo? Para Jaime Pacheco, é mais importante que o adversário não jogue do que a sua equipa o faça. Se, por milagre, conseguir marcar um golo, muito bem. Mas isso, para Pacheco, não é importante. Com que moral pretende que os adeptos gastem dinheiro e se entusiasmem com o seu Boavista?
Além do sistema de marcação homem a homem, a filosofia de jogo do Boavista é de contra-ataque. Com o jogo em 1-0 para os axadrezados, vi Jaime Pacheco a pedir que os seus jogadores bombeassem bolas para a frente. E segurá-la, não? Trocar paulatinamente a bola entre os seus jogadores, para baixar o ritmo de jogo, para conservar a posse de bola, também não? Jogam os onze homens atrás da linha da bola, enfiados no seu meio-campo, cada um entregue a um adversário, e, quando recuperam a bola, tentam lançar os três homens da frente rapidamente; isto quer estejam a perder, quer estejam a ganhar. Uma equipa que jogue assim tem de ter três homens muito bons a nível individual na frente, coisa que não tem. Este Boavista não tem princípios de jogo. E não os tem porque Jaime Pacheco nem sabe o que isso é. Para ele, atacar é pontapear a bola para as costas da defesa e esperar que os seus avançados sejam mais rápidos que os defesas adversários.
Na zona de entrevistas rápidas, Jaime Pacheco vinha a ferver em orgulho. Disse que a sua estratégia fora anular Miguel Veloso, que era por onde passava, segundo ele, todo o jogo do Sporting, e que essa estratégia resultara em pleno e que, por causa dela, vencera o jogo. Devo dizer que Jaime Pacheco nem percebe por que é que ganha jogos. Sacrificar uma peça para evitar que outra jogue traz sempre maus resultados. Pode conseguir o que pretende, mas abre sempre espaços que não deveria abrir. Se o Sporting tivesse sabido aproveitar sobretudo o facto de Diakité raramente estar na zona central do terreno, uma vez que ia para onde Liedson ia, Jaime Pacheco estaria a esta hora a coçar a cabeça, sem saber o que tinha falhado. Mas, como ganhou, pensa que o deve à brilhante ideia de marcar homem a homem os jogadores do Sporting. Nada mais errado. Ganhou porque concretizou um lance de bola parada. Só isso. Se esse lance não tem acontecido, não sei se aguentaria o empate por muito mais tempo. E isto sem o Sporting estar a jogar bem. Se a nível individual o Boavista não tem, quanto a mim, qualidade para a primeira Liga, custa-me a acreditar que, a nível colectivo, haja equipas tão fracas como a de Jaime Pacheco na Liga Vitalis. A mentalidade não é só de equipa pequena; é de equipa de distrital. Interessa a Pacheco, essencialmente, anular o adversário. Se o conseguir, é o homem mais feliz do mundo e julga-se sábio. Não o é, nem uma coisa nem outra. Quer dizer, talvez seja feliz, porque nem tem inteligência para perceber que não o é. Mas como, de vez em quando, mais por demérito do adversário do que por mérito seu, consegue não sofrer golos jogando assim, vai conquistando uns pontitos. E, apesar de ser dos piores treinadores de que me lembro, talvez até consiga permanecer uma vez mais na Primeira Liga.
P.S. Há quem diga que Deus goza com os seres humanos. Se isso é verdade, o seu maior número cómico foi, sem dúvida, ter feito o Boavista de Jaime Pacheco campeão nacional...
Vamos por partes. A título individual, esta equipa do Boavista não é só modesta; vai bem além disso. Zé Kalanga, Mateus e Fary formam, provavelmente, o pior trio atacante da Liga. É caso para perguntar: onde andam Ivan Santos e Hugo Monteiro? O meio-campo é fraquíssimo, não tem um pingo de criatividade e não abunda em massa cinzenta. Diakité é um tipo grande, de cor, que é capaz de assustar e talvez de cheirar mal, mas de bola é fraquinho. É capaz de ser bom para uma distrital, mas mais do que isso não. Fleurival é mau. Jorge Ribeiro não é médio. A defesa é o sector menos mau desta equipa. Ricardo Silva não evoluiu enquanto jogador: continua forte, pesado e lento de rins. Mas é um defesa concentrado e forte nos lances de bola parada. Marcelão, o outro central, parece-me ser do mesmo tipo: é grande, marca em cima e, pelo ar, é quase tudo dele. Os laterais, dois miúdos, parecem-me razoáveis. Gilberto, o lateral direito, já conhecia. Tinha ficado com melhor impressão dele, pois parecia ter bons princípios de jogo, quando actuava pela equipa de júniores. Agora, treinado por Pacheco, talvez se tenha deixado influenciar pela filosofia do treinador: é duro, impetuoso e não perde muito tempo a pensar, como o fazia tão bem antigamente. O guarda-redes fez uma boa exibição, mas não sei o que valerá na realidade. Ou seja, individualmente, esta equipa é talvez a mais fraca de sempre do Boavista. Aliás, de uma equipa em que a vedeta é um defesa esquerdo de qualidade mediana a jogar como médio mais ofensivo, pouco há a dizer.
As equipas podem, se bem estruturadas colectivamente, suprir as deficiências individuais que os orçamentos reduzidos ou os azares lhes impõem. Veja-se o caso do Vitória de Setúbal e de Carlos Carvalhal. Mas uma equipa que individualmente seja fraca e que, colectivamente, seja um desastre, está condenada ao fracasso. O Boavista de Pacheco joga num 433 bem definido. Até aqui, nada a apontar. O problema raramente se prende apenas com o desenho táctico; muito mais importante é a dinâmica de jogo, a filosofia, etc. O Boavista de Pacheco joga, não raro, em função dos outros. Em primeiro lugar, não existe essa treta de marcação à zona. Nada disso! Isso são modernices a mais. O Boavista faz marcação homem a homem. E não são só os elementos mais recuados que o fazem: todos os onze jogadores têm, por tarefa defensiva, acompanhar o adversário que lhes compete para onde quer que este vá. Diakité, supostamente o médio mais defensivo, passou o jogo inteiro a cair nas faixas. A fazer o quê? A marcar Liedson. A Fary ficou entregue não a posição de ponta-de-lança, mas o sacrifício de andar atrás de Miguel Veloso. Ou seja, o Boavista jogou sem avançado para evitar que o Sporting jogasse. A minha pergunta é: Uma equipa que, para evitar que o adversário jogue, abdica de cada um dos seus jogadores, tem legitimidade para acreditar que pode ganhar um jogo? Para Jaime Pacheco, é mais importante que o adversário não jogue do que a sua equipa o faça. Se, por milagre, conseguir marcar um golo, muito bem. Mas isso, para Pacheco, não é importante. Com que moral pretende que os adeptos gastem dinheiro e se entusiasmem com o seu Boavista?
Além do sistema de marcação homem a homem, a filosofia de jogo do Boavista é de contra-ataque. Com o jogo em 1-0 para os axadrezados, vi Jaime Pacheco a pedir que os seus jogadores bombeassem bolas para a frente. E segurá-la, não? Trocar paulatinamente a bola entre os seus jogadores, para baixar o ritmo de jogo, para conservar a posse de bola, também não? Jogam os onze homens atrás da linha da bola, enfiados no seu meio-campo, cada um entregue a um adversário, e, quando recuperam a bola, tentam lançar os três homens da frente rapidamente; isto quer estejam a perder, quer estejam a ganhar. Uma equipa que jogue assim tem de ter três homens muito bons a nível individual na frente, coisa que não tem. Este Boavista não tem princípios de jogo. E não os tem porque Jaime Pacheco nem sabe o que isso é. Para ele, atacar é pontapear a bola para as costas da defesa e esperar que os seus avançados sejam mais rápidos que os defesas adversários.
Na zona de entrevistas rápidas, Jaime Pacheco vinha a ferver em orgulho. Disse que a sua estratégia fora anular Miguel Veloso, que era por onde passava, segundo ele, todo o jogo do Sporting, e que essa estratégia resultara em pleno e que, por causa dela, vencera o jogo. Devo dizer que Jaime Pacheco nem percebe por que é que ganha jogos. Sacrificar uma peça para evitar que outra jogue traz sempre maus resultados. Pode conseguir o que pretende, mas abre sempre espaços que não deveria abrir. Se o Sporting tivesse sabido aproveitar sobretudo o facto de Diakité raramente estar na zona central do terreno, uma vez que ia para onde Liedson ia, Jaime Pacheco estaria a esta hora a coçar a cabeça, sem saber o que tinha falhado. Mas, como ganhou, pensa que o deve à brilhante ideia de marcar homem a homem os jogadores do Sporting. Nada mais errado. Ganhou porque concretizou um lance de bola parada. Só isso. Se esse lance não tem acontecido, não sei se aguentaria o empate por muito mais tempo. E isto sem o Sporting estar a jogar bem. Se a nível individual o Boavista não tem, quanto a mim, qualidade para a primeira Liga, custa-me a acreditar que, a nível colectivo, haja equipas tão fracas como a de Jaime Pacheco na Liga Vitalis. A mentalidade não é só de equipa pequena; é de equipa de distrital. Interessa a Pacheco, essencialmente, anular o adversário. Se o conseguir, é o homem mais feliz do mundo e julga-se sábio. Não o é, nem uma coisa nem outra. Quer dizer, talvez seja feliz, porque nem tem inteligência para perceber que não o é. Mas como, de vez em quando, mais por demérito do adversário do que por mérito seu, consegue não sofrer golos jogando assim, vai conquistando uns pontitos. E, apesar de ser dos piores treinadores de que me lembro, talvez até consiga permanecer uma vez mais na Primeira Liga.
P.S. Há quem diga que Deus goza com os seres humanos. Se isso é verdade, o seu maior número cómico foi, sem dúvida, ter feito o Boavista de Jaime Pacheco campeão nacional...