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terça-feira, 9 de março de 2010

Nuno Assis e Master Kodro

Depois de duas semanas, nos jogos frente a União de Leiria e Nacional da Madeira, em que não só foi decisivo como rubricou excelentes exibições, Nuno Assis é novamente tema deste espaço. A qualidade, mais do que suficiente para que Quique Flores tivesse ficado com ele no Benfica a época passada e para que Carlos Queiroz já se tivesse lembrado dele para a selecção, é inegável. Trata-se de um dos melhores jogadores da Liga a actuar fora dos três grandes e será, juntamente com Hugo Viana, o jogador mais injustiçado quando o seleccionador nacional divulgar a convocatória para o mundial. Há, apesar disso, uma determinada fatia da populaça para quem Nuno Assis é um jogador banal e para quem as suas qualidades são pouco interessantes. A essa fatia de gente escandalosamente impudica decidi chamar Master Kodro. A referência não é, por isso, directa ao conhecido palrador, embora se baseie nele e nas suas ideias tacanhas acerca de Nuno Assis, mas uma sinédoque que, partindo da opinião de uma pessoa, a expande a um universo alargado de carneiros que comungam da opinião e não deviam falar de futebol. O texto é por isso sobre Nuno Assis e sobre pessoas que não percebem, em particular, o valor de Nuno Assis e, em geral, de futebol.

De Nuno Assis tem dito Master Kodro atrocidades como, por exemplo, que é um jogador de contra-ataque. O seu problema com o passado de Nuno Assis é relevante, mas não creio que seja essa a principal causa de tais ideias. A sua opinião radica, isso sim, num erro apreciativo que está enraízado na forma como olha para uma partida de futebol. Como acha que Nuno Assis deve ser responsável por pautar o jogo ofensivo da sua equipa, acha que ele deve fazer passes de ruptura, deve furar por entre a defesa, deve provocar desequilíbrios, etc. Está na base deste erro assumir que os jogadores têm funções. Assim, quando uma equipa cria oportunidades de golo, mas não marca, os culpados são os avançados; quando a equipa não consegue cruzar para os avançados, o problema são os extremos; quando a equipa não consegue penetrar na defensiva adversária, o problema são os médios de ataque. Isto é tão redutor quanto imbecil. E Nuno Assis é precisamente o tipo de jogador que sabe que um médio de ataque não serve para as coisas que Master Kodro pensa que serve.

A teoria assenta ainda na verificação de que é em contra-ataque que Nuno Assis dá mais nas vistas. O que tenho a dizer a isto é que é em contra-ataque que qualquer jogador dá mais nas vistas. Isso não é exclusivo de Nuno Assis. Em contra-ataque, há sempre mais espaços, as jogadas são mais objectivas, a quantidade de soluções a considerar é menor. E bons executantes, como Nuno Assis e tantos outros, têm tendência a fazer-se notar e a serem decisivos neste tipo de lances. É natural, pois, que em contra-ataque Nuno Assis dê nas vistas. Mas em contra-ataque Nuno Assis não é muito diferente de Tiago Targino, por exemplo. E é quase herético tentar assemelhar dois jogadores tão distintos. Aquilo em que Nuno Assis é francamente diferente dessa outra rapaziada que só é boa em contra-ataque é que é um jogador notável do ponto de vista intelectual, que descobre soluções muito rapidamente, que sabe a utilidade de jogar curto. Um jogador de toque curto, que procura prioritariamente uma tabela, extraordinariamente criativo a encontrar soluções inusitadas nunca pode ser um jogador de contra-ataque. É alguém que tem uma facilidade rara para jogar em espaços curtos e entre linhas adversárias. Nuno Assis é, por isso, o oposto daquilo que Master Kodro pensa que é.

A opinião de Master Kodro cai ainda no exagero de dizer que se comprova a si mesma pelo facto de ele só fazer grandes jogos contra as grandes equipas, em desafios em que o Vitória passa a maior parte do tempo em contra-ataque. Além de isto ser mentira, como facilmente se verifica pelos dois últimos jogos, por exemplo, denuncia um problema perceptivo grave e que é comum à grande maioria dos adeptos de futebol. É que, para estas pessoas, fazer um grande jogo é estar associado aos momentos decisivos do mesmo. Ora, sempre que Nuno Assis não protagoniza jogadas de relevo, a opinião de Master Kodro é de que fez um mau jogo. Isto é francamente estúpido. Em muitos jogos, sobretudo em jogos em que os adversários se encolhem lá atrás e reduzem os espaços, é natural que jogadores mais imaginativos, mais criativos e inteligentes procurem soluções mais simples, soluções que permitam à equipa manter a posse de bola e gerir pacientemente o seu ataque. O que Master Kodro pretende é que Nuno Assis se arme em super-herói e invente jogadas de génio. Não é assim que funciona. É precisamente por Nuno Assis ser extraordinariamente inteligente que não cai nessa tentação, que não procura desequilíbrios individuais, que não arrisca passes de ruptura condenados à priori ao fracasso. O seu jogo é o que tem de ser quando há pouco espaço: procura soluções curtas, joga atrás, ao lado, fazendo girar a bola até que o colectivo (e não o indivíduo) consiga desequilibrar o adversário. Nuno Assis põe o colectivo à frente do individual e, como tal, nesse tipo de jogos, dá menos nas vistas. Para pessoas que não sabem olhar para um jogo de futebol, isto significa que não faz um bom jogo. Ora, pelo contrário, é precisamente por isso que ele faz um bom jogo.

A carneirada a que chamo Master Kodro é, por isso, um conjunto alargado de pessoas que não sabe ver futebol, que olha para o jogo como uma soma de bonecos. Há dias, num transporte público, estava sentado ao lado de dois velhos que comentavam o jogo da selecção realizado no dia anterior. Falavam, como qualquer adepto de futebol, pretensiosamente, julgando infalíveis as suas opiniões. Aquela que registei com maior interesse foi a de que Paulo Ferreira jamais poderia ir ao mundial, pois não era nem nunca fora um bom jogador. Admitindo que, sendo velhos, fossem pessoas com um grau de senilidade relevante, não deixa de ser engraçado que sustentassem opiniões que muita gente sustenta. Esquecendo agora a falta de memória das pessoas em causa e a qualidade óbvia que Paulo Ferreira teve há uns anos, é importante tentar perceber por que é que se ousa dizer (e não há pouca gente a pensar assim) que Paulo Ferreira não tem qualidade. Para mim, é óbvio. A opinião de Master Kodro, ou seja, a opinião do comum adepto de futebol, tem tendência a privilegiar jogadores espalhafatosos, jogadores que manifestam atributos visíveis. Paulo Ferreira não é rápido, não é agressivo, logo não presta. Preferem-se Bosingwa, Miguel e João Pereira porque dão mais nas vistas. Paulo Ferreira é melhor jogador que qualquer um destes e só admitiria que fosse suplente de Bosingwa pois aquilo que este pode oferecer, em termos de velocidade, é mesmo extraordinário. Mas Paulo Ferreira é mais inteligente, defende melhor, é posicionalmente muito mais forte e tem na lucidez e na experiência pontos a favor. Não querendo insistir na análise do jogador do Chelsea, serve esta história para ilustrar o modo de pensar de Master Kodro. Master Kodro gosta de jogadores que dêem nas vistas. E gosta desse tipo de jogadores porque o seu cérebro não tem capacidade para processar mais do que é visível. Como não se é capaz de conceptualizar o jogo a um nível mais profundo, tudo o que não sejam correrias loucas, agressividades de gorilas e macacadas com bola não é relevante. A capacidade intelectual de um jogador de futebol é, para Master Kodro, um mito e pouco lhe interessa percebê-la. É por isso que vê em Nuno Assis tanta banalidade. O que, porém, é irónico nisto tudo é que é precisamente ao ver banalidade num jogador que é tudo menos banal que denuncia a própria banalidade do seu olhar. Aquele que, tendo à frente dos olhos um objecto invulgar, é incapaz de perceber onde reside o carácter invulgar da coisa, não tem especial apetência para ver coisas. Master Kodro é aquele que não surpreende no mundo mais do que aquilo que é facilmente perceptível a quem tem olhos, e o seu Nuno Assis, isto é, o objecto que o comum observador julga que vê, é por isso muito mais Master Kodro que Nuno Assis, é muito mais o próprio reflexo da mediocridade de Master Kodro do que o verdadeiro Nuno Assis. É do emaranhado deste novelo de porcaria em que se constitui o conjunto de gente pequena que fala de futebol que este espaço procura escapar, alertando para aquilo que este tipo de gente, Master Kodro, não é capaz de ver. O trabalho é hercúleo e, possivelmente, ineficaz. Mas vale a pena, nem que seja pela consciência de estar certo.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Pouca coisa...

1. Aimar não presta. Passes de letra são coisas para gajos que vieram passar férias a Portugal, de certeza.

2. Nuno Assis é outro que não vale nada. O facto de ter sido o jogador vimaranense mais esclarecido em campo foi coincidência.

3. Andrezinho, esse sim, é um jogador e tanto. Aquela assistência para Aimar, que permitiu ao argentino solicitar a corrida de Suazo, é de uma classe extraordinária. Melhor, só o pontapé no queixo do hondurenho ou aquela dança esquisita à frente de Reyes, durante quase um minuto, sem sair do mesmo sítio.

4. No golo do Guimarães, pode falar-se em erros de Maxi Pereira, que deveria estar mais metido para dentro, ou de Luisão, que não deveria ter tentado interceptar a bola, mantendo-se na corrida com Douglas, mas o lance só acontece porque o sistema do Benfica a isso convida. Com apenas dois passes rasteiros, o Guimarães ultrapassou 8 jogadores do Benfica. Roberto veio buscar a bola ao espaço vazio e o passe do médio minhoto para ele ultrapassou toda a linha do meio-campo do Benfica. A partir desse momento, está criado o desequilíbrio. O resto é mais ou menos fácil. A chave do lance é esse passe e não os erros posicionais dos defesas. É por estas e por outras razões que não consigo perceber como é que o 442 clássico continua a ser o modelo táctico mais utilizado. E não me venham falar de dinâmicas. Aquilo acontece com qualquer equipa que jogue com uma linha de 4 homens no meio-campo. Não há dinâmicas que o impeçam.

5. Muitos afirmam que Aimar não foi atropelado por Danilo dentro da área e que, portanto, não haveria lugar à marcação de um penalty que, para mim, foi claríssimo. O argumento é que já ia em queda quando se dá o contacto. Se um camião TIR vier direito a mim, de certeza que também não vou ficar quietinho à espera que ele me acerte. Aimar encolheu-se, prevendo o choque. Mas nada disso importa. Deixando-se ou não cair, a verdade é que há um contacto evidente que derruba o argentino.

6. Liedson continua a facturar, dizem alguns. O que eu gostava mesmo de saber era quanto é que Liedson paga aos defesas adversários para que estes façam disparates e o deixem isolado. Ou então, quando é que Liedson volta a marcar um golo cujo mérito seja mesmo dele. Aposto que vai vir muito palerma dizer que há mérito na forma como ele pressiona. Sinceramente, isso dá-lhe quase tanto mérito como a mim, que, sentado no meu sofá, estava a torcer para que aquele defesa dominasse mal a bola e depois inventasse daquela forma.

7. O Porto perdeu novamente e fala-se em crise. O que é certo é que Jesualdo, em 2 anos, não conseguiu lançar na equipa principal do Porto praticamente nenhum jogador de relevo. Foi vivendo daquilo que já vinha de trás e quase todas as suas contratações foram fracassos: Kazmierczak, Bollatti, Guarín, Farías, Lino, Stepanov, Benitez, etc. Agora que escasseia a qualidade trazida em tempos, a qualidade do plantel portista já não disfarça a pouca qualidade de Jesualdo nesse âmbito. A palavra "qualidade", três vezes referida na frase anterior, parece-me aquela que, pela sua ausência, melhor define o que se está a passar no Dragão.

8. Bruno Alves deu mais um beliscão num adversário, desta vez Davide. Beliscar com o cotovelo não é uma arte para qualquer um, mas Bruno Alves também não é qualquer um. Continuo é sem perceber por que é que os tipos que ele belisca fazem fita para tentar expulsá-lo, quando é evidente que esse tipo de truques mesquinhos não resulta.

9. José Mota lidera. No campeonato e nas loas que os estultos lhe tecem.

10. Lá fora, o Barça continua sem ganhar... por diferenças pequenas.

11. Em Itália, grande campeonato. 3 pontos separam os 5 primeiros; 6 pontos separam os 9 primeiros. Só para comparar, em Inglaterra, os primeiros 5 já estão separados por 6 pontos e os primeiros 9 por 12.

12. Del Piero marcou mais um golo espantoso. Quero distingui-lo com dois prémios. 1) É o melhor marcador de livres de que me recordo, à excepção de David Beckham; 2) É, para mim, provavelmente, o melhor jogador de sempre que nunca ganhou o prémio de melhor do mundo.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Nuno Assis: um estudo

João Rosado, o comentador de serviço no jogo Benfica-Académica, para a Taça de Portugal, disse aos 39 minutos do encontro, após o pontapé de canto cobrado por Nuno Assis que originou o golo de Luisão, que aquela era a primeira coisa positiva que Nuno Assis fizera no desafio. Sem querer faltar ao respeito a quem não vê, há quem goste de ser cego. Este mesmo senhor, aquando de um remate do central dos estudantes Kaká, dentro da área encarnada, que levou a bola a embater em Luisão, disse que o jogador da Académica talvez tivesse tentado chutar propositadamente contra o braço do defesa do Benfica, para assim ganhar um penalty. Devo dizer que foi talvez a coisa mais estúpida que ouvi nos últimos tempos. Fiquei a saber, contudo, que há quem pense que há jogadores que, podendo marcar golo, optam por chutar contra braços. Genial! Esquecendo a palermice aqui retratada, este texto visa então averiguar a qualidade das intervenções de Nuno Assis no respectivo encontro.

2 minutos: Boa opção. (Recebe a bola e dá num colega, recuado, conservando a posse de bola.)

6 minutos: Bom passe. (Binya passa por trás de dois defesas da Académica e Nuno Assis coloca-lhe a bola, possibilitando-lhe o cruzamento.)

11 minutos: Má opção. (Passe para Nuno Gomes, que se encontrava fora-de-jogo. Demorou algum tempo e acabou por não tomar a melhor decisão.)

14 minutos: Recuperação de bola. (Beneficia de uma atrapalhação do adversário e chega primeiro à bola, recuperando-a e entregando-a de primeira para Binya.)

17 minutos: Mau passe. (Espera que Nélson lhe passe nas costas, dando-lhe depois a bola, mas o passe sai demasiado curto e permite a recuperação de Hélder Barbosa, que corta para fora.)

19 minutos: Boa movimentação. (Percebe o sentido da jogada e aparece no meio da área, onde percebe que Cardozo, após cruzamento da esquerda, irá colocar a bola de cabeça. Chega ligeiramente atrasado, sendo eventualmente empurrado pelo opositor.)

22 minutos: Má opção. (No meio-campo, salta sozinho de cabeça, quando poderia ter dominado a bola; esta, contudo, fica em posse de jogadores do Benfica.)

22 minutos: Boa opção. (A seguir a um ressalto, domina no peito e entrega a um colega.)

24 minutos: Canto. (Canto batido no lado direito, cortado ao primeiro poste por um adversário.)

28 minutos: Boa opção. (Recebe no meio-campo, dribla um adversário, tabela com Cardozo e dá profundidade colocando na esquerda em Di Maria, para este cruzar.)

29 minutos: Boa opção. (Recebe a bola vinda de um lançamento, tabela bem com Binya, mas este devolve mal o passe, ficando curto.)

32 minutos: Boa opção. (Dá a bola para Petit, no meio, recuado.)

33 minutos: Boa opção. (Dá a bola para trás, para Léo.)

38 minutos: Boa opção. (Recebe à linha depois de excelente movimentação, a desembaraçar-se do opositor, espera pela entrada de Binya e faz um bom passe, que bate no calcanhar de um adversário, mas que ainda assim chega ao camaronês.)

39 minutos: Canto. (Bate um canto na esquerda e Luisão marca o primeiro golo.)

40 minutos: Drible. (Dribla N'Doye e sofre falta.)

41 minutos: Boa opção. (Recebe, dá em Nélson e desmarca-se.)

42 minutos: Bom passe. (Dribla N'Doye, no meio, pica a bola para Di Maria, que remata de primeira, de fora da área, levando a bola a passar por cima da baliza.)

43 minutos: Boa opção. (Tabela com um colega, dá atrás, desmarca-se e vai receber à frente; depois, espera pela movimentação de Nuno Gomes e dá-lhe a bola.)

49 minutos: Desarmado. (Recebe no peito no meio de dois adversários e é desarmado.)

51 minutos: Recuperação de bola. (Tira a bola a Ivanildo.)

52 minutos: Boa opção. (Ganha um ressalto à entrada da área, joga rápido em Di Maria, que dá de primeira a Binya, mas este perde a bola e N'Doye faz golo.)

54 minutos: Bola de cabeça. (Perde na disputa de uma bola de cabeça, chocando com Ivanildo.)

56 minutos: Boa opção. (Recebe um passe de Nuno Gomes, que ficara curto, dribla o seu opositor, vindo para o meio e dá em Cardozo, que está à entrada da área; este dá de primeira para Nuno Gomes, que estava em posição irregular.)

57 minutos: Recuperação de bola. (Recupera uma bola junto à linha lateral.)

64 minutos: Recuperação de bola. (Tira a bola a Ivanildo, após o remate ao poste de Hélder Barbosa.)

64 minutos: Boa opção. (Tabela com Binya, dá-lhe novamente a bola, este dá em Nuno Gomes, que a volta a dar a Nuno Assis; este dá novamente a Binya, o que garante uma progressão de mais de 40 metros.)

67 minutos: Perda de bola. (Contra-ataque perfeito, tabelando com Nuno Gomes; sem apoios, tenta ganhar no um para um, mas acaba por ficar rodeado de adversários; volta para trás, dribla um e, junto à linha, acaba por perder, ficando a dúvida se não é empurrado.)

71 minutos: Corte. (Evita um contra-ataque perigoso, cortando a bola a Hélder Barbosa.)

76 minutos: Bom cruzamento. (Recebe a bola vinda de um lançamento, ultrapassa o seu opositor e cruza para remate de primeira de Adu.)

85 minutos: Boa opção. (Recebe junto à bandeirola de canto, após cruzamento demasiado largo, dá em Nuno Gomes, que cruza para golo de cabeça de Cardozo.)

89 minutos: Boa opção. (Recebe no meio, tira um adversário da frente e dá para Binya.)

90 minutos: Bola de cabeça. (Perde uma bola de cabeça.)

91 minutos: Livre. (Bate um livre para a área, sem consequências.)

Coloquei em negrito as coisas más que Nuno Assis fez. Vamos aos resultados:

1) 34 acções durante 90 minutos; 29 boas açções; 85% de acções positivas.
2) Em 21 lances com a bola nos pés e com condições para fazer algo (exclui-se portanto os lances de bola parada ou as disputas de cabeça, ou os lances em que procura recuperar a bola, ou os lances em que não tem a bola totalmente dominada), teve 17 boas opções contra 4 más opções; 81% de boas opções.
3) Destas 4 más opções, resultaram apenas 2 perdas de bola, sendo que, numa delas, parou o jogo, por fora-de-jogo, e noutra fica a dúvida se não terá sofrido falta.
4) Recorreu ao um para um, ou por falta de apoios, ou por recurso, por 7 vezes, tendo sido bem sucedido em 6 delas; 86% de dribles com êxito.
5) Destes 6 dribles bem sucedidos, num sofreu falta, noutros dois proporcionou remates a Di Maria e a Adu, noutro proporcionou remate a Cardozo que, por sua vez, tentou isolar Nuno Gomes, noutro permitiu a Di Maria ir à linha cruzar e noutro pôde conservar a posse de bola. Destes 6 dribles, só dois não tiveram consequências imediatas. 4 destes dribles provocaram desequilíbrios significativos; 66% de dribles que causaram desequilíbrios.
6) Não fez nenhuma falta.
7) Há quem ache que os virtuosos não se entregam a trabalhos menos nobres como o de recuperação defensiva, mas Nuno Assis recuperou 4 bolas por força das suas acções defensivas e ainda cortou um lance de contra-ataque que poderia ter causado muitos danos.
8) Repetiu movimentações excelentes, ganhando invariavelmente espaços através das suas movimentações sem bola.
9) Conferiu velocidade ao jogo não através de correrias estonteantes, mas executando quase sempre de primeira e bem.
10) Apesar de não ter marcado nenhum golo, participou activamente em dois deles, sendo o responsável pela assistência para o primeiro.

Notas finais: Nuno Assis não é um jogador de muitos desequilíbrios; o drible nunca é a sua primeira opção, justificando-se apenas em caso de recurso ou quando não há outra solução. Não sendo jogador para desequilibrar individualmente, empresta à sua equipa muita qualidade de passe, ajuda à preservação da posse de bola e à gestão adequada dos ritmos, etc. Acelera o jogo porque pensa e executa extraordinariamente rápido. Pode dizer-se que Nuno Assis desequilibra através dos equilíbrios que proporciona. Estes números demonstram isso mesmo...

Outras coisas sobre este jogo:

1) Depois do jogo de ontem, ainda há quem ache que Vieirinha e Bruno Gama têm mais potencial que Hélder Barbosa?
2) Camacho optou por um 442. Mostrou variedade estratégica ou igual irresponsabilidade táctica? Opto pela segunda.
3) Petit e Binya fizeram um jogo horrível. Quando os defesas tinham a bola, nunca vinham ao meio buscar jogo ou abrir linhas de passe. Subiam, levando consigo as marcações e obrigando a equipa a jogar comprido. Muito por causa disso, o futebol do Benfica foi desligado e, à excepção de apontamentos individuais, nunca conseguiu criar perigo. Não fosse um lance de bola parada e tudo seria mais complicado.
4) No lance do segundo golo, o primeiro de Cardozo, os comentadores não hesitaram em atribuir todo o mérito a Léo, autor do passe decisivo. Há, contudo, um momento fundamental na jogada, que possibilita todo aquele desenrolar: a tabela de Léo com Nuno Gomes, ainda no meio-campo defensivo, fez com que 3 adversários ficassem para trás e o lateral esquerdo do Benfica tivesse espaço para depois executar com perfeição o passe. Excelente, Nuno Gomes.
5) Butt é mal batido, mas não chego a perceber o que se passou.
6) Luisão e Edcarlos formam a pior dupla de centrais do Benfica dos últimos 5 anos.
7) O público da Luz prefere mascotes a jogadores de futebol; já não bastava Mantorras, agora também idolatram Adu.

domingo, 21 de outubro de 2007

Os mal-amados

Já todos sabemos que o futebol português é pródigo em esbanjar talentos. Não preciso, por isso, de recordar nomes como Diego, Roger, Mostovoi, etc. Hoje em dia, como noutros tempos, há jogadores que, muito injustamente, são mais criticados do que aplaudidos. Para mim, os cinco casos mais gritantes são os que se seguem:

5) Custódio.

Foi o melhor médio-defensivo português a nível posicional desde Paulo Sousa e, nem por isso, lhe guardam saudades os adeptos leoninos. Ocupava os espaços como ninguém; dava apoios perfeitos; jogava sempre, sempre simples, não tentando fazer nada que não fosse para ele; sabia sempre quando travar os contra-ataques adversários em falta. Era correctíssimo e inteligente, embora não fosse extraordinário a nível técnico nem muito agressivo a tentar recuperar a bola. Para a sua posição, antes de Miguel Veloso, não havia ninguém com a sua qualidade. Preferiu-se sempre jogadores com mais sangue, com mais vigor, com mais músculos. E perdeu-se alguém que sabia muito melhor quais os verdadeiros deveres de um médio-defensivo.

4) Hélder Postiga.

Mourinho, quando o seu jovem ponta-de-lança ficou impossibilitado de jogar a final da UEFA, disse dele que não se deveria preocupar, pois teria ainda muitas finais para jogar ao longo da sua promissora carreira. Enganou-se o "Special One" e Postiga não evoluiu enquanto jogador? Definitivamente, não. A opção pelo futebol inglês não terá sido a melhor, pois as suas características são pouco apreciadas por quem aprecia um futebol mais físico, mais intenso e menos pensado. Voltou a Portugal e, melhor que toda a concorrência, acabou por ser afastado da equipa pelo punho ditatorial de Co Adrianse. Voltou no ano seguinte, marcou mais golos que toda a gente e jogou que se fartou. Mesmo assim, não convenceu. Ao fim de algumas jornadas sem marcar, numa altura em que ainda liderava a tabela dos melhores marcadores, fruto de um arranque de campeonato fantástico, começou a ser criticado. Na pré-época, este ano, foi o melhor marcador da equipa. Não deixa de ser estranho que, depois disso, tenha voltado a ser afastado. Muito mais do que os golos que Postiga marca, vale por tudo o que pode dar à equipa. Não reconhecer que não há em Portugal, por esta altura, ninguém melhor que ele para a sua posição é, no mínimo, ingenuidade.

3) Nuno Gomes.

É um pouco como Postiga. É um avançado inteligentíssimo. Sabe que não é muito dotado tecnicamente, que não é forte e que não é rápido. Compensa tudo isso pensando, a cada instante, qual é a melhor opção. Seja a desmarcar-se, seja a adivinhar onde a bola vai cair, seja a tabelar com os colegas, seja a abrir espaços para que outros possam entrar, Nuno Gomes é um avançado como há poucos. É verdade que não é frio na hora de finalizar, que se precipita e falha golos fáceis. Mas também marca outros quase impossíveis e ninguém fala disso. O que é certo é que, muito do bom futebol que o Benfica pratica está ligado às acções de Nuno Gomes. Dizem que é desastrado, que é efeminado, que cai no chão com facilidade, que não vai ao choque. Talvez. Mas as suas decisões são melhores que as da generalidade. E boas decisões é quase tudo em futebol. Ah, e ainda é o melhor marcador em actividade no campeonato e, se tivesse tantos minutos como outros na selecção, estaria a lutar pela posição de melhor marcador de sempre.

2) Pontus Farnerud.

Achar que este sueco não tem qualidade é a melhor ilustração possível da falta de inteligência de quem fala de futebol. O mais parvo é que, embora não hesitem em falar mal dele, se lhes perguntarem que atributos maus tem ele para que não seja bom jogador, não sabem responder. Não é um jogador de choque; não é agressivo; o seu futebol não tem muita intensidade. Tudo isto é verdade. Mas nada disto é importante. Quase não falha um passe. E muitos deles verticais. Compensa defensivamente como poucos; é inteligentíssimo a posicionar-se; circula a bola com toda a segurança do mundo. A qualidade de passe é excelente; as opções, as melhores em cada lance. Dá à equipa um equilíbrio inigualável, gere os ritmos como mais ninguém, mas como não arrisca no um para um, como não faz passes a rasgar, como não disputa os lances como um rapaz esfomeado, acham que ele é mau. Esquecem-se, contudo, que em muitas fases de construção, é muito melhor ter jogadores que passam curto, que são discretos mas cumpridores, etc. Na primeira fase de construção, aquela que lhe compete, é excelente. Não perceber isto não é só estúpido; é criminoso.

1) Nuno Assis.

Falou-se, durante algum tempo, que Portugal não tinha opções válidas para fazer face a possíveis ausências de Deco. Não acreditando que Moutinho ou Hugo Viana façam a mesma posição de Deco, poderia sugerir o nome de Nuno Assis. Muitos se levantariam em fúria. Diriam alarvidades do 25 do Benfica. Não consigo perceber como é que não se gosta de um jogador do talento de Nuno Assis. Não falha um passe; é óptimo a nível técnico; sabe quais as necessidades da equipa em todos os momentos de jogo e conserva a posse de bola ou fá-la girar com tranquilidade. Joga quase sempre curto; não arrisca passes de difícil execução ou que não facilitem a recepção dos colegas. Executa e pensa mais rápido que qualquer outro jogador em Portugal. Faz-me lembrar, e muito, Pablo Aimar, outro mal-amado, mas a nível internacional. Como o argentino, que deveria ser considerado dos maiores astros da actualidade, Nuno Assis deveria ser considerado dos melhores da sua posição. Uma das maiores críticas que lhe poderão fazer é o não arriscar muito. Nem sempre o faz, é certo, embora não o faça porque sabe que a equipa ganha muito mais com outras opções, mas o jogo da Taça da Liga deste Sábado serve para calar toda a gente que lhe teça esta crítica. Nuno Assis assumiu o jogo ofensivo da equipa; driblou adversários, sentando alguns; foi, juntamente com Katsouranis e, a espaços, Di Maria, tudo o que de bom o Benfica construiu. A sério, não percebo e nem sequer aceito que digam que o rapaz é banal.