Antes de começar, devo avisar o leitor que esta é uma rubrica séria. Estava pensada para falar sobre tácticas, sobre o 442, o 433, por exemplo, e a seu tempo esse será o intuito. Hoje, porém, tinha o sono trocado e decidi escrever um texto... vá lá... trocado... E quero falar dessa táctica maravilhosa que é... o Bife...
Quem é a grande mente por trás deste sistema? Aquele que ficou conhecido, enquanto jogador, pelo pontapé-canhão e que, enquanto treinador, ambicionará, por certo, o epíteto de cérebro-canhão: a cada sinapse, uma bomba de ideias... e cheiro a queimado... Falo obviamente de Ronald Koeman. O timoneiro holandês, que noutra vida terá afundado cada navio que comandava, chegou a época passada à Luz e fez um trabalho - chamemos-lhe assim - esquisito. Deixou a equipa em terceiro, nada que outros treinadores não tivessem feito, e levou-a até aos quartos de final da Champions, feito pelo qual se pensava na sua renovação. Antes que mudassem de ideias, preferiu abandonar o navio e voltar a casa, não fosse a segunda época correr ainda pior. Disseram - e ainda dizem - que é de aplaudir o que obteve. Não consigo entender porquê. Devo lembrar que um homem não é aquilo que alcança, mas a forma como o faz. É muito mais fácil ser culto de terno e gravata, ou ser justo e bom se tiver o que comer. Não me apetece enumerar todos os treinadores que ganharam coisas em clubes que tinham possibilidades de o fazer, mas que nem por isso têm qualquer mérito. Quer dizer, até me apetece. António Oliveira, Artur Jorge, Alex Ferguson, Del Bosque, etc. Fiquemos por aqui. Bom, não falemos do campeonato. Na Liga dos Campeões, Koeman chegou aos quartos de final. Como? Retrocedamos um pouco. A duas jornadas do fim da primeira fase, estava em último no grupo, com 4 pontos. O Lille e o Manchester tinham 5 pontos, o Villareal 6. Acontece então que o holandês se lembra de ir a França jogar - pasmem-se - à defesa. O último classificado, a duas jornadas do fim, com uma equipa francamente acessível, vai ao reduto destes à procura do 0-0. E conseguiu-o. Como é que ele fez isto? Com 2 centrais, 4 laterais e 3 trincos. Inaudito! Com que intenção fez Koeman isto? Simples. Deixar a decisão do grupo para a última jornada, altura em que o Benfica recebia o Manchester. O que o cérebro de Koeman não conseguiu atingir foi que, nessa mesma noite, caso o Manchester vencesse em casa o Villareal, algo francamente provável, a passagem na eliminatória já não dependia somente da sua equipa. Ou melhor, poderia depender, mas teria de ganhar o jogo por mais de 1 golo de diferença. Acontece, porém, que Manchester e Villareal empatam. Sai a sorte grande ao holandês. Agora bastaria vencer o Manchester pela margem mínima, coisa que qualquer clube no mundo deve ambicionar, sobretudo um que joga com 3 médios defensivos. E o que aconteceu? Ganhou mesmo. Como? Com 20 minutos bons e 70 de pontapé para a bancada, contra uns ingleses desinspiradíssimos. Nos oitavos, o poderoso Liverpool. Não poderia ter calhado melhor. Uma equipa inglesa, muito equilibrada defensivamente, mas sem ponta de criatividade, que pratica um futebol directo, ideal para os defesas do Benfica, altos e bons no jogo aéreo. Num lance de bola parada, um golo, e 1-0 na primeira eliminatória, num jogo paupérrimo de lado a lado. Com esta configuração, o Liverpool tinha de ir à procura de um golo, coisa em que não é, de todo, uma equipa capaz. Fê-lo. Enviou 2 bolas ao poste. Depois o Benfica fez um golo... e acabou a eliminatória. Ainda haveria de marcar mais um, deixando para a história um total de 3-0 ao Liverpool, coisa que os estultos gostam de lembrar, imaginando tratar-se de um feito louvável. Chegou aos quartos de final e, por esta altura, nem toda a sorte do mundo lhe poderia valer. Ainda conseguiu adiar as decisões para o segundo jogo, mas Ronaldinho e companhia não deixaram os créditos por mãos alheias. No final, campanha interessante, ao colocar o Benfica honrosamente entre os últimos oito.
Já esta época, Koeman herdou o melhor plantel holandês, a equipa mais equilibrada, fruto de um trabalho bem conseguido por Hiddink. Levou novamente a sua equipa aos quartos de final da Champions. Vejamos como o fez. Na fase de grupos, Liverpool, Galatasary e Bordéus. Resultado: segundo lugar. Nada de extraordinário. Nos oitavos, enfrenta o Arsenal, finalista vencido da edição anterior. Consegue um bom resultado em casa, vencendo por 1-0. Na segunda eliminatória, voltava a precisar apenas de um golo. O Arsenal massacrou, massacrou, massacrou. Enviou bolas ao poste, bolas ao poste, bolas ao poste... Até que conseguiu marcar um golo. Mas, já no final, de novo num lance de bola parada, a sorte sorriu uma vez mais a Koeman, e o PSV passou aos quartos. O que aconteceu aqui? Foi cilindrado pelo Liverpool. E no campeonato? Bom, no campeonato chegou a ter onze pontos de avanço. E como qualquer treinador de sucesso, desperdiça onze pontos para dar emoção à coisa e parte para a última jornada em terceiro, a depender dos outros, como gosta. Van Gaal consegue perder a liderança do campeonato e a mais que provável vitória do mesmo, perdendo o desafio. Já o Ajax, ganhou. Mas o PSV de Koeman também ganhou e os dois ficaram empatados pontualmente. Como decidir então quem era campeão? Recorrendo à prática comum e - arrogo dizê-lo - a mais justa, desempatando através do registo do confronto entre as duas equipas em questão? Não, nada disso. Se assim fosse, o Ajax, que tinha esmagado não há muito tempo o PSV com esclarecedores 5-1, seria campeão. Na Holanda, o primeiro factor de desempate é a diferença entre golos marcados e sofridos e, feitas as contas, o PSV tinha mais um golo que o Ajax. Koeman sagrou-se campeão por um golo. Feito notável, para quem tinha a melhor equipa, o clube mais estável, e onze pontos de avanço...
Em dois anos, Koeman conseguiu ganhar o respeito de quem acompanha o futebol. De quem acompanha mal, acrescento eu. Feitos e títulos não são certificados de habilitações. Koeman atingiu o que atingiu sempre a par da sorte, esse elemento tão previsível. Confesso que não vi o PSV jogar senão contra o Liverpool. Mas vi o que fez no Benfica e tudo indica que não mudou muito. Tacticamente, é um horror. Preferir 3 médios defensivos numa equipa grande é, na minha opinião, uma demonstração inequívoca de falta de categoria. Há quem me diga que são gostos. Talvez sejam, mas os gostos também se discutem, ao contrário do que se pensa. Poderia chamar muita coisa ao sistema táctico empregado por Koeman: leite, vaca, etc... Prefiro chamar-lhe bife... São gostos. Koeman também quis dispensar Nuno Assis, esqueceu-se de Karagounis e recusou a contratação de Van der Vaart. Preferiu o Beto para número 10. São gostos...
Quem é a grande mente por trás deste sistema? Aquele que ficou conhecido, enquanto jogador, pelo pontapé-canhão e que, enquanto treinador, ambicionará, por certo, o epíteto de cérebro-canhão: a cada sinapse, uma bomba de ideias... e cheiro a queimado... Falo obviamente de Ronald Koeman. O timoneiro holandês, que noutra vida terá afundado cada navio que comandava, chegou a época passada à Luz e fez um trabalho - chamemos-lhe assim - esquisito. Deixou a equipa em terceiro, nada que outros treinadores não tivessem feito, e levou-a até aos quartos de final da Champions, feito pelo qual se pensava na sua renovação. Antes que mudassem de ideias, preferiu abandonar o navio e voltar a casa, não fosse a segunda época correr ainda pior. Disseram - e ainda dizem - que é de aplaudir o que obteve. Não consigo entender porquê. Devo lembrar que um homem não é aquilo que alcança, mas a forma como o faz. É muito mais fácil ser culto de terno e gravata, ou ser justo e bom se tiver o que comer. Não me apetece enumerar todos os treinadores que ganharam coisas em clubes que tinham possibilidades de o fazer, mas que nem por isso têm qualquer mérito. Quer dizer, até me apetece. António Oliveira, Artur Jorge, Alex Ferguson, Del Bosque, etc. Fiquemos por aqui. Bom, não falemos do campeonato. Na Liga dos Campeões, Koeman chegou aos quartos de final. Como? Retrocedamos um pouco. A duas jornadas do fim da primeira fase, estava em último no grupo, com 4 pontos. O Lille e o Manchester tinham 5 pontos, o Villareal 6. Acontece então que o holandês se lembra de ir a França jogar - pasmem-se - à defesa. O último classificado, a duas jornadas do fim, com uma equipa francamente acessível, vai ao reduto destes à procura do 0-0. E conseguiu-o. Como é que ele fez isto? Com 2 centrais, 4 laterais e 3 trincos. Inaudito! Com que intenção fez Koeman isto? Simples. Deixar a decisão do grupo para a última jornada, altura em que o Benfica recebia o Manchester. O que o cérebro de Koeman não conseguiu atingir foi que, nessa mesma noite, caso o Manchester vencesse em casa o Villareal, algo francamente provável, a passagem na eliminatória já não dependia somente da sua equipa. Ou melhor, poderia depender, mas teria de ganhar o jogo por mais de 1 golo de diferença. Acontece, porém, que Manchester e Villareal empatam. Sai a sorte grande ao holandês. Agora bastaria vencer o Manchester pela margem mínima, coisa que qualquer clube no mundo deve ambicionar, sobretudo um que joga com 3 médios defensivos. E o que aconteceu? Ganhou mesmo. Como? Com 20 minutos bons e 70 de pontapé para a bancada, contra uns ingleses desinspiradíssimos. Nos oitavos, o poderoso Liverpool. Não poderia ter calhado melhor. Uma equipa inglesa, muito equilibrada defensivamente, mas sem ponta de criatividade, que pratica um futebol directo, ideal para os defesas do Benfica, altos e bons no jogo aéreo. Num lance de bola parada, um golo, e 1-0 na primeira eliminatória, num jogo paupérrimo de lado a lado. Com esta configuração, o Liverpool tinha de ir à procura de um golo, coisa em que não é, de todo, uma equipa capaz. Fê-lo. Enviou 2 bolas ao poste. Depois o Benfica fez um golo... e acabou a eliminatória. Ainda haveria de marcar mais um, deixando para a história um total de 3-0 ao Liverpool, coisa que os estultos gostam de lembrar, imaginando tratar-se de um feito louvável. Chegou aos quartos de final e, por esta altura, nem toda a sorte do mundo lhe poderia valer. Ainda conseguiu adiar as decisões para o segundo jogo, mas Ronaldinho e companhia não deixaram os créditos por mãos alheias. No final, campanha interessante, ao colocar o Benfica honrosamente entre os últimos oito.
Já esta época, Koeman herdou o melhor plantel holandês, a equipa mais equilibrada, fruto de um trabalho bem conseguido por Hiddink. Levou novamente a sua equipa aos quartos de final da Champions. Vejamos como o fez. Na fase de grupos, Liverpool, Galatasary e Bordéus. Resultado: segundo lugar. Nada de extraordinário. Nos oitavos, enfrenta o Arsenal, finalista vencido da edição anterior. Consegue um bom resultado em casa, vencendo por 1-0. Na segunda eliminatória, voltava a precisar apenas de um golo. O Arsenal massacrou, massacrou, massacrou. Enviou bolas ao poste, bolas ao poste, bolas ao poste... Até que conseguiu marcar um golo. Mas, já no final, de novo num lance de bola parada, a sorte sorriu uma vez mais a Koeman, e o PSV passou aos quartos. O que aconteceu aqui? Foi cilindrado pelo Liverpool. E no campeonato? Bom, no campeonato chegou a ter onze pontos de avanço. E como qualquer treinador de sucesso, desperdiça onze pontos para dar emoção à coisa e parte para a última jornada em terceiro, a depender dos outros, como gosta. Van Gaal consegue perder a liderança do campeonato e a mais que provável vitória do mesmo, perdendo o desafio. Já o Ajax, ganhou. Mas o PSV de Koeman também ganhou e os dois ficaram empatados pontualmente. Como decidir então quem era campeão? Recorrendo à prática comum e - arrogo dizê-lo - a mais justa, desempatando através do registo do confronto entre as duas equipas em questão? Não, nada disso. Se assim fosse, o Ajax, que tinha esmagado não há muito tempo o PSV com esclarecedores 5-1, seria campeão. Na Holanda, o primeiro factor de desempate é a diferença entre golos marcados e sofridos e, feitas as contas, o PSV tinha mais um golo que o Ajax. Koeman sagrou-se campeão por um golo. Feito notável, para quem tinha a melhor equipa, o clube mais estável, e onze pontos de avanço...
Em dois anos, Koeman conseguiu ganhar o respeito de quem acompanha o futebol. De quem acompanha mal, acrescento eu. Feitos e títulos não são certificados de habilitações. Koeman atingiu o que atingiu sempre a par da sorte, esse elemento tão previsível. Confesso que não vi o PSV jogar senão contra o Liverpool. Mas vi o que fez no Benfica e tudo indica que não mudou muito. Tacticamente, é um horror. Preferir 3 médios defensivos numa equipa grande é, na minha opinião, uma demonstração inequívoca de falta de categoria. Há quem me diga que são gostos. Talvez sejam, mas os gostos também se discutem, ao contrário do que se pensa. Poderia chamar muita coisa ao sistema táctico empregado por Koeman: leite, vaca, etc... Prefiro chamar-lhe bife... São gostos. Koeman também quis dispensar Nuno Assis, esqueceu-se de Karagounis e recusou a contratação de Van der Vaart. Preferiu o Beto para número 10. São gostos...