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Vida

Um pássaro de papel no peito
diz que o tempo dos beijos não chegou;
viver, viver, o sol invisível crepita,
beijos ou pássaros, tarde ou cedo ou nunca.
Para morrer basta um pequeno ruído,
o de outro coração ao calar-se,
ou esse regaço alheio que na terra
é um barco dourado para os cabelos louros.
Cabeça dolorida, têmporas de ouro, sol que declina;
aqui na sombra sonho com um rio,
Juncos de verde sangue que neste instante nasce,
sonho apoiado em ti, calor ou vida.


Vicente Aleixandre

Antologia de Vicente Aleixandre
Editorial Inova, 1977
Selecção, tradução e notas de José Bento

Mais além

Para além da vida, amor meu, sempre mais além,
ligeiros, agora, únicos, sobre um leito de estrelas,
povoamos a noite sem limites, vivemos
em morte, ó formosa minha, uma noite infinita.


Sobre um seio azulado repousa-lhe a cabeça,
brandamente, fatigada do mundo. Sinto apenas
o teu sangue povoado de luzes, de miríades
de astros, beijando o pulso suave do universo
e o teu rosto com o leve fulgor da minha maxila.


Ó triste, ó grave noite completa. Amada, jazes
perfeita e eu revejo-te, cinjo-te. Mundo apenas.
Universal viver de um corpo que, feito luzes,
para lá da vida de um homem amor permites.


Vicente Aleixandre
Tradução A.M.