Eu morria de ti
Mas tu eras o meu viver
Tu ias comigo
Tu cantavas em mim
Quando percorria as ruas
Sem nenhum destino
Tu ias comigo
Tu cantavas em mim
Tu convidavas os pardais apaixonados do meio das árvores
Para a manhã da janela
Quando a noite se embaciava
Quando a noite não se acabava
Tu convidavas os pardais apaixonados do meio das árvores
Para a manhã da janela
Tu davas as tuas mãos
Tu davas o teu carinho
Quando eu tinha fome
Tu davas a tua vida
Tu eras generoso como a luz
Tu vinhas ao nosso beco com as tuas luzes
Tu vinhas com as tuas luzes
Quando as crianças partiam
E as pétalas das acácias adormeciam
E eu ficava sozinha no espelho
Tu vinhas com as tuas luzes…
Tu colhias as pétalas
E cobrias as minhas madeixas
Quando as minhas madeixas tremiam de desejo
Tu colhias as pétalas
Tu encostavas o teu rosto
À inquietude do meu peito
Quando eu
Não tinha mais nada para dizer
Tu encostavas o teu rosto
À inquietude do meu peito
E escutavas
O meu sangue que corria
A minha paixão lacrimejante que morria
Tu ouvias-me
Mas não me vias
Forough Farrokhzad
(encontrado aqui)
Mostrar mensagens com a etiqueta forough farrokhzad. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta forough farrokhzad. Mostrar todas as mensagens
Janela
Uma janela é suficiente
Uma janela para contemplar
Uma janela para escutar
Uma janela
parecida com o anel de um poço
a alcançar a terra na finitude do seu coração
abrindo para a vastidão desta bondade azul e repetitiva
uma janela limando as pequenas mãos da solidão
com a benevolência nocturna
do perfume de estrelas prodigiosas
janela de onde
é possível convocar o sol
para a alienação dos gerânios.
Uma janela ser-me-á suficiente.
Eu venho da terra das bonecas
de debaixo das sombras das árvores de papel
no jardim de um livro de desenhos
das estações secas das experiências incapazes na amizade e no amor
nas ruas sujas da inocência
dos anos das letras pálidas, crescendo, do alfabeto
atrás das mesas da escola tuberculosa
do minuto em que as crianças eram capazes de escrever ¿pedra¿
no quadro
e os estorninhos eufóricos voavam abandonando
a velha árvore.
Eu venho do meio das raízes das plantas carnívoras
e o meu cérebro está ainda inundado
pelo guincho aterrorizado de uma borboleta
crucificada por alfinetes
num caderno.
Quando a minha confiança estava presa pelo frágil fio da justiça
e na cidade inteira
os corações das minhas lanternas eram feitos em bocados
quando os olhos infantis do meu amor
estavam a ser vendados com o lenço negro da Lei
e dos meus ansiosos templos do desejo
jorravam fontes de sangue
quando a minha vida se tornara nada
nada
senão o tique-taque de um relógio,
eu descobri
que tenho
tenho
tenho de amar,
loucamente.
Uma janela ser-me-á suficiente
uma janela para o momento da consciência
da observância
e do silêncio.
agora,
a pequena nogueira
cresceu tanto que é já capaz de explicar
o significado do muro
às suas jovens folhas.
Pergunta ao espelho
o nome do redentor.
Não estará a terra fremente debaixo dos teus pés mais só que tu?
os profetas trouxeram a missão da destruição para o nosso século
não serão estas consecutivas explosões
e nuvens venenosas
a reverberação dos versículos sagrados?
Tu,
camarada,
irmão,
confidente,
quando chegares à lua
escreve a história dos massacres das flores.
Os sonhos precipitam-se sempre da sua altura ingénua
e morrem.
Cheiro o trevo de quatro folhas
que cresceu sobre o túmulo dos significados arcaicos.
Não seria a mulher
enterrada no sudário da expectativa e da inocência
a minha juventude?
Subirei a escadaria da curiosidade
para saudar o bom Deus que se passeia no telhado?
Sinto que o tempo passou
sinto que o momento é a minha parte das páginas da história
sinto que a mesa é uma distância fingida
entre as minhas madeixas
e as mãos deste triste estranho.
Diz-me
Que mais poderá querer de ti aquele que oferece a ternura de um corpo quente
senão a encarnação da sensação de existir?
Fala comigo
eu estou no refúgio da janela
eu tenho uma relação com o Sol.
Forough Farrokhzad
Tradução de Vasco Gato
Uma janela para contemplar
Uma janela para escutar
Uma janela
parecida com o anel de um poço
a alcançar a terra na finitude do seu coração
abrindo para a vastidão desta bondade azul e repetitiva
uma janela limando as pequenas mãos da solidão
com a benevolência nocturna
do perfume de estrelas prodigiosas
janela de onde
é possível convocar o sol
para a alienação dos gerânios.
Uma janela ser-me-á suficiente.
Eu venho da terra das bonecas
de debaixo das sombras das árvores de papel
no jardim de um livro de desenhos
das estações secas das experiências incapazes na amizade e no amor
nas ruas sujas da inocência
dos anos das letras pálidas, crescendo, do alfabeto
atrás das mesas da escola tuberculosa
do minuto em que as crianças eram capazes de escrever ¿pedra¿
no quadro
e os estorninhos eufóricos voavam abandonando
a velha árvore.
Eu venho do meio das raízes das plantas carnívoras
e o meu cérebro está ainda inundado
pelo guincho aterrorizado de uma borboleta
crucificada por alfinetes
num caderno.
Quando a minha confiança estava presa pelo frágil fio da justiça
e na cidade inteira
os corações das minhas lanternas eram feitos em bocados
quando os olhos infantis do meu amor
estavam a ser vendados com o lenço negro da Lei
e dos meus ansiosos templos do desejo
jorravam fontes de sangue
quando a minha vida se tornara nada
nada
senão o tique-taque de um relógio,
eu descobri
que tenho
tenho
tenho de amar,
loucamente.
Uma janela ser-me-á suficiente
uma janela para o momento da consciência
da observância
e do silêncio.
agora,
a pequena nogueira
cresceu tanto que é já capaz de explicar
o significado do muro
às suas jovens folhas.
Pergunta ao espelho
o nome do redentor.
Não estará a terra fremente debaixo dos teus pés mais só que tu?
os profetas trouxeram a missão da destruição para o nosso século
não serão estas consecutivas explosões
e nuvens venenosas
a reverberação dos versículos sagrados?
Tu,
camarada,
irmão,
confidente,
quando chegares à lua
escreve a história dos massacres das flores.
Os sonhos precipitam-se sempre da sua altura ingénua
e morrem.
Cheiro o trevo de quatro folhas
que cresceu sobre o túmulo dos significados arcaicos.
Não seria a mulher
enterrada no sudário da expectativa e da inocência
a minha juventude?
Subirei a escadaria da curiosidade
para saudar o bom Deus que se passeia no telhado?
Sinto que o tempo passou
sinto que o momento é a minha parte das páginas da história
sinto que a mesa é uma distância fingida
entre as minhas madeixas
e as mãos deste triste estranho.
Diz-me
Que mais poderá querer de ti aquele que oferece a ternura de um corpo quente
senão a encarnação da sensação de existir?
Fala comigo
eu estou no refúgio da janela
eu tenho uma relação com o Sol.
Forough Farrokhzad
Tradução de Vasco Gato
O par
A noite chega
e depois da noite a escuridão
e depois da escuridão
olhos
mãos
e respiração e mais respiração
e o som da água
que da torneira
goteja goteja goteja.
Em seguida dois pontos vermelhos
de dois cigarros acesos
o tique-taque do relógio
e duas cabeças
e duas solidões.
Forough Farrokhzad
Tradução de Vasco Gato
e depois da noite a escuridão
e depois da escuridão
olhos
mãos
e respiração e mais respiração
e o som da água
que da torneira
goteja goteja goteja.
Em seguida dois pontos vermelhos
de dois cigarros acesos
o tique-taque do relógio
e duas cabeças
e duas solidões.
Forough Farrokhzad
Tradução de Vasco Gato
Opressão
O meu coração está carregado, carregado.
Vou até à varanda, os meus dedos afagam
a pele tensa da noite.
As luzes da comunicação apagaram-se,
as luzes da comunicação apagaram-se.
Ninguém me levará ao sol
ou me apresentará o carnaval dos pardais.
Relembra o voo:
o pássaro em si é mortal.
Forough Farrokhzad
Tradução de Vasco Gato
Vou até à varanda, os meus dedos afagam
a pele tensa da noite.
As luzes da comunicação apagaram-se,
as luzes da comunicação apagaram-se.
Ninguém me levará ao sol
ou me apresentará o carnaval dos pardais.
Relembra o voo:
o pássaro em si é mortal.
Forough Farrokhzad
Tradução de Vasco Gato
Subscrever:
Mensagens (Atom)