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este planeta, às vezes, cansa,
almas pretas com suas caras brancas
suas noites de briga braba,
sujas de água mansa,
minutos de luz e pavor

casa cheia de doce,
ondas tinindo de dor,
acabou-se o que era amargo,
pisar este planeta
como quem esmaga uma flor


Paulo Leminski
O Ex-estranho
Iluminuras, 2001

Bem no fundo

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela - silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.



Paulo Leminski

Sintonia para pressa e presságio

Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Sôo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.
.
Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala



Paulo Leminski

Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século
Editora Objetiva, 2001