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O modo funcionário de viver


à memória de Bernardo Soares

O mundo dos pequenos funcionários
lembra-nos no fervor o patrão Vasques
e traz aos nossos actos mais diários
a poesia do mundo sem disfarces.

Quando longe do jogo das intrigas
(deram aos nossos dias emoção),
lembramos em agendas mais antigas
o que ficou aquém da ilusão.

Este mundo é perfeito como um ovo
de si suficiente e não merece
poder ser corrompido pelo novo.

Aqui em bom rigor nada acontece.
E vemos flutuar à nossa volta
um rumor sem um eco de revolta.


Luís Filipe Castro Mendes
O Jogo de Fazer Versos
Quetzal, 1994
Dizias que nos sobram as palavras:
e era o lugar perfeito para as coisas
esse escuro vazio no teu olhar.

E demorava a dura paciência,
fruto do frio nas nossas mãos vazias
que mais coisas não tinham para dar.

Dizia então a dor o nosso gesto
e durava nas coisas mais antigas
a solidão sem rasto que há no mar.



Luís Filipe Castro Mendes
Música Calada de Poesia Reunida (1985-1999)
Quetzal, 1999