O Chelsea perdeu ontem em casa com o Arsenal por 5 a 3, num jogo esquisito, com mais incidências do que aquelas que certamente André Villas-Boas desejaria. A primeira parte foi, na maior parte do tempo, dominada pelo Chelsea, mas na segunda o Arsenal mandou no jogo e acabou por justificar a vitória. Os comentadores de serviço passaram os 90 minutos a maldizer o Arsenal, a falar da falta de competitividade da equipa, do mau arranque de campeonato, dos insucessos dos últimos anos. Esquecem-se que a equipa de Wenger, apesar de não ganhar nada há algum tempo, andou a lutar com Manchester e Chelsea nos últimos anos, até às últimas jornadas, pelo campeonato, e com um orçamento francamente inferior. Este ano, o campeonato começou pior e muitos apressaram-se a dizer que era o fim da era do francês. Esquecem-se, uma vez mais, que o Arsenal perdeu Fabregas e Nasri, que praticamente ainda não pôde contar com Wilshere, Diaby e Vermaelen, e que, por exemplo, na goleada sofrida em Old Trafford, jogava sem oito habituais titulares. Ontem, frente ao Chelsea, apesar de todos os problemas defensivos que a equipa continua a ter e que justificam a sua incapacidade para se superiorizar aos adversários mais poderosos, o Arsenal voltou a mostrar por que não pode ser tão facilmente descartado das contas do título. É que não há equipa, em Inglaterra, com princípios ofensivos tão interessantes como os "gunners".
Trago os lances do primeiro e do segundo golo do Arsenal, o primeiro para mostrar como é evoluída, ofensivamente, a equipa de Wenger, e o segundo para pôr em evidência um erro individual primário em que não se parece ter reparado e que permitiu que o Arsenal regressasse ao jogo. Chamo ainda a atenção para os comentários feitos pela equipa inglesa, no vídeo, e para a incongruência dos mesmos, criticando os defesas no primeiro golo do Chelsea e no primeiro golo do Arsenal por não terem marcado em cima o avançado, e criticando igualmente Bosingwa no segundo golo do Arsenal por ter saído da sua posição para ir marcar em cima o avançado. Vamos aos lances.
O primeiro golo do Arsenal é uma boa demonstração de como o futebol vai evoluir no futuro. Na altura, disseram os comentadores que o Chelsea deixou o Arsenal jogar, e que, portanto, o primeiro golo surgiu na sequência de certa permeabilidade defensiva. Não concordo com isso. A equipa de Villas-Boas está bem organizada, e é suficientemente agressiva a tentar condicionar o portador da bola e a efectuar a zona de pressão central. Se há, no momento em que Ramsey recebe a bola, algum espaço entre linhas é porque Mikel acabara de tentar tirar a bola a Gervinho, ligeiramente à frente. Mas veja-se que é Fernando Torres quem vem tentar fechar a linha de passe. O Chelsea não poderia estar mais compacto. O que aconteceu foi que o Arsenal soube arranjar os espaços de penetração certos, e nesse capítulo não há outra equipa igual em terras de Sua Majestade. Ramsey vem do espaço interior para receber e Gervinho, que antes atraíra Mikel para a zona dos médios, deixando o espaço entre linhas momentaneamente desprotegido, vai explorar esse espaço. Ramsey utiliza-o e Gervinho fica isolado, oferecendo o golo a Van Persie. Há quem diga que atacar pelo meio é errado, e que se devem explorar as alas para abrir brechas no bloco contrário. O Arsenal mostra que não é bem assim, que mesmo contra um bloco muito compacto e organizado, é possível, com toques curtos e sabendo aproveitar o espaço entre as diferentes linhas do adversário, forçar o bloco a abrir pequenos buracos pelo centro. Claro que isto, para resultar, tem de ser feito com muitos toques, com muito rendilhado. Atacando pelo meio, o truque consiste precisamente em tocar e devolver, para desposicionar o adversário, para se trazer os jogadores adversários para onde se pretende, criando espaços nas zonas que mais nos convêm.
O segundo golo do Arsenal é diferente e, embora não haja, como foi sugerido pelos comentadores da Sporttv, sempre empenhados em dizer disparates, problemas colectivos alguns, há um erro individual que compromete todo o lance. É pena que a câmara aérea, neste vídeo, abra apenas no momento em que Song faz o passe. Uns instantes antes serviriam para se verificar que a equipa de Villas-Boas está extraordinariamente bem posicionada, toda praticamente do lado esquerdo do campo, onde se desenrola a jogada, com todos os espaços bem fechados, utilizando a linha lateral para asfixiar os comandados de Wenger. A pressão é, também ela, bem executada, obrigando o Arsenal a recuar, por não ter soluções ofensivas nem espaço entre linhas a explorar. Colectivamente, a resposta da equipa não podia ter sido melhor, neste lance. Lampard obriga Djorou a dar no apoio recuado, Ramires obriga Song a rodar sobre si, mas depois aparece André Santos, o lateral esquerdo, completamente isolado na esquerda. Colectivamente, o Chelsea defendeu-se o melhor que podia. Não houve mau posicionamento, nem falta de agressividade, uma vez mais. Houve, contudo, um erro primário de Bosingwa, que foi atrás de Gervinho para o espaço entre linhas, não mantendo a linha defensiva, e desguarneceu o seu flanco, por onde o Arsenal acabou por entrar. Um passe do trinco que deixa o flanqueador na cara do guarda-redes, num lance de ataque organizado, só é possível com erros deste tipo. Bosingwa não cumpriu o seu papel no lance, que era de defender perto de Ivanovic, mantendo-se na mesma linha, e sentiu necessidade de ir atrás do seu opositor directo. Isso permitiu à equipa de Wenger, cujo lance ofensivo fora muito bem condicionado pela pressão colectiva dos jogadores do Chelsea, chegar facilmente a uma ocasião de golo. Bosingwa tem atributos atléticos notáveis, mas a má leitura que faz de grande parte dos lances continua a impedir que seja um lateral de eleição.
De resto, creio que ainda é cedo para tecer conjecturas acerca do futuro de André Villas-Boas. Mas passou já tempo suficiente para que se possa fazer uma análise do seu trabalho até ao momento. A intenção é clara e passa por tornar o Chelsea uma equipa mais competente na gestão da bola, mais dominadora com bola, mais autoritária. No entanto, parecem-me faltar soluções colectivas, no momento ofensivo, para que isso possa ser feito com mais eficácia. E parece também que, perante as adversidades, Villas-Boas não tem insistido muito para que a equipa se mantenha fiel aos seus princípios. A inclusão das dinâmicas de Mata no onze são, para já, a única boa notícia no futebol ofensivo da equipa. Torres não é um avançado que se sinta bem entre os centrais, e o Chelsea ainda não conseguiu tirar partido dos seus abaixamentos. O espaço entre linhas continua a ser pouco povoado (geralmente apenas por Mata) e a equipa, embora com mais bola, continua com índices de criatividade muitíssimo baixos. Talvez fosse útil, como resposta a este momento, perceber não só onde se errou, mas de que modo é possível melhorar. E aí a resposta pode estar precisamente no modo em que o Arsenal explora os espaços ofensivos. Neste momento, estas duas equipas parecem estar fora da corrida do título, que para já tem nos dois clubes de Manchester os mais sérios candidatos. Mas o campeonato inglês é longo e não é crível que as diferenças actuais não possam ser recuperadas. Colectivamente, a forma como o Chelsea defende, apesar dos cinco golos (não esquecer que houve erros individuais, escorregadelas e incidências esquisitas), é já muito boa, a meu ver, e a equipa tirará dividendos disso no futuro. Se for capaz de evoluir, em termos colectivos, no que diz respeito ao capítulo ofensivo, aproximando-se daquilo que o Arsenal faz, por exemplo, talvez possa, no final, estar de facto a discutir o campeonato inglês.
Trago os lances do primeiro e do segundo golo do Arsenal, o primeiro para mostrar como é evoluída, ofensivamente, a equipa de Wenger, e o segundo para pôr em evidência um erro individual primário em que não se parece ter reparado e que permitiu que o Arsenal regressasse ao jogo. Chamo ainda a atenção para os comentários feitos pela equipa inglesa, no vídeo, e para a incongruência dos mesmos, criticando os defesas no primeiro golo do Chelsea e no primeiro golo do Arsenal por não terem marcado em cima o avançado, e criticando igualmente Bosingwa no segundo golo do Arsenal por ter saído da sua posição para ir marcar em cima o avançado. Vamos aos lances.
O primeiro golo do Arsenal é uma boa demonstração de como o futebol vai evoluir no futuro. Na altura, disseram os comentadores que o Chelsea deixou o Arsenal jogar, e que, portanto, o primeiro golo surgiu na sequência de certa permeabilidade defensiva. Não concordo com isso. A equipa de Villas-Boas está bem organizada, e é suficientemente agressiva a tentar condicionar o portador da bola e a efectuar a zona de pressão central. Se há, no momento em que Ramsey recebe a bola, algum espaço entre linhas é porque Mikel acabara de tentar tirar a bola a Gervinho, ligeiramente à frente. Mas veja-se que é Fernando Torres quem vem tentar fechar a linha de passe. O Chelsea não poderia estar mais compacto. O que aconteceu foi que o Arsenal soube arranjar os espaços de penetração certos, e nesse capítulo não há outra equipa igual em terras de Sua Majestade. Ramsey vem do espaço interior para receber e Gervinho, que antes atraíra Mikel para a zona dos médios, deixando o espaço entre linhas momentaneamente desprotegido, vai explorar esse espaço. Ramsey utiliza-o e Gervinho fica isolado, oferecendo o golo a Van Persie. Há quem diga que atacar pelo meio é errado, e que se devem explorar as alas para abrir brechas no bloco contrário. O Arsenal mostra que não é bem assim, que mesmo contra um bloco muito compacto e organizado, é possível, com toques curtos e sabendo aproveitar o espaço entre as diferentes linhas do adversário, forçar o bloco a abrir pequenos buracos pelo centro. Claro que isto, para resultar, tem de ser feito com muitos toques, com muito rendilhado. Atacando pelo meio, o truque consiste precisamente em tocar e devolver, para desposicionar o adversário, para se trazer os jogadores adversários para onde se pretende, criando espaços nas zonas que mais nos convêm.
O segundo golo do Arsenal é diferente e, embora não haja, como foi sugerido pelos comentadores da Sporttv, sempre empenhados em dizer disparates, problemas colectivos alguns, há um erro individual que compromete todo o lance. É pena que a câmara aérea, neste vídeo, abra apenas no momento em que Song faz o passe. Uns instantes antes serviriam para se verificar que a equipa de Villas-Boas está extraordinariamente bem posicionada, toda praticamente do lado esquerdo do campo, onde se desenrola a jogada, com todos os espaços bem fechados, utilizando a linha lateral para asfixiar os comandados de Wenger. A pressão é, também ela, bem executada, obrigando o Arsenal a recuar, por não ter soluções ofensivas nem espaço entre linhas a explorar. Colectivamente, a resposta da equipa não podia ter sido melhor, neste lance. Lampard obriga Djorou a dar no apoio recuado, Ramires obriga Song a rodar sobre si, mas depois aparece André Santos, o lateral esquerdo, completamente isolado na esquerda. Colectivamente, o Chelsea defendeu-se o melhor que podia. Não houve mau posicionamento, nem falta de agressividade, uma vez mais. Houve, contudo, um erro primário de Bosingwa, que foi atrás de Gervinho para o espaço entre linhas, não mantendo a linha defensiva, e desguarneceu o seu flanco, por onde o Arsenal acabou por entrar. Um passe do trinco que deixa o flanqueador na cara do guarda-redes, num lance de ataque organizado, só é possível com erros deste tipo. Bosingwa não cumpriu o seu papel no lance, que era de defender perto de Ivanovic, mantendo-se na mesma linha, e sentiu necessidade de ir atrás do seu opositor directo. Isso permitiu à equipa de Wenger, cujo lance ofensivo fora muito bem condicionado pela pressão colectiva dos jogadores do Chelsea, chegar facilmente a uma ocasião de golo. Bosingwa tem atributos atléticos notáveis, mas a má leitura que faz de grande parte dos lances continua a impedir que seja um lateral de eleição.
De resto, creio que ainda é cedo para tecer conjecturas acerca do futuro de André Villas-Boas. Mas passou já tempo suficiente para que se possa fazer uma análise do seu trabalho até ao momento. A intenção é clara e passa por tornar o Chelsea uma equipa mais competente na gestão da bola, mais dominadora com bola, mais autoritária. No entanto, parecem-me faltar soluções colectivas, no momento ofensivo, para que isso possa ser feito com mais eficácia. E parece também que, perante as adversidades, Villas-Boas não tem insistido muito para que a equipa se mantenha fiel aos seus princípios. A inclusão das dinâmicas de Mata no onze são, para já, a única boa notícia no futebol ofensivo da equipa. Torres não é um avançado que se sinta bem entre os centrais, e o Chelsea ainda não conseguiu tirar partido dos seus abaixamentos. O espaço entre linhas continua a ser pouco povoado (geralmente apenas por Mata) e a equipa, embora com mais bola, continua com índices de criatividade muitíssimo baixos. Talvez fosse útil, como resposta a este momento, perceber não só onde se errou, mas de que modo é possível melhorar. E aí a resposta pode estar precisamente no modo em que o Arsenal explora os espaços ofensivos. Neste momento, estas duas equipas parecem estar fora da corrida do título, que para já tem nos dois clubes de Manchester os mais sérios candidatos. Mas o campeonato inglês é longo e não é crível que as diferenças actuais não possam ser recuperadas. Colectivamente, a forma como o Chelsea defende, apesar dos cinco golos (não esquecer que houve erros individuais, escorregadelas e incidências esquisitas), é já muito boa, a meu ver, e a equipa tirará dividendos disso no futuro. Se for capaz de evoluir, em termos colectivos, no que diz respeito ao capítulo ofensivo, aproximando-se daquilo que o Arsenal faz, por exemplo, talvez possa, no final, estar de facto a discutir o campeonato inglês.