quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Previsões de Ano Novo

Em futebol, fazer previsões sem as justificar é algo que parece muito pouco interessante. Nem foi nunca algo que me cativasse. Fazer previsões é, desse ponto de vista, como dar palpites, como tirar à sorte. Interessa, sobretudo, saber que fundamentos levam alguém a predizer algo. Este espaço foi sempre um espaço de fundamentos, um espaço mais preocupado com os processos que conduzem a uma determinada conclusão do que com a conclusão em si. Ainda assim, porque esta é uma altura em que é costume fazer-se este tipo de coisas, farei as minhas previsões, anunciando de antemão que a elas, embora só por quatro ou cinco linhas justificadas, presidem razões e convicções profundas.

1. Vencedor do Campeonato Português: Benfica. Acredito que este é o ano dos encarnados e acredito nisto mais ou menos desde o início da prova. A boa prestação do Braga até aqui tem ensombrado, de alguma maneira, a boa prova da equipa de Jorge Jesus, com percalços aqui e ali justificados pelo facto de se ignorarem os melhores princípios da equipa, mas a segunda parte do campeonato será o derradeiro teste à turma da Luz. O embate com o Porto, além de mostrar que o Benfica não vinha em decréscimo de produção, terá mostrado finalmente que a equipa de Jorge Jesus é o mais sério candidato ao título.

2. Vencedor do Campeonato Espanhol: Barcelona. Está tudo em aberto e o Real Madrid conseguiu um início de campeonato muito bom. Não foi tão assertivo quanto o Barcelona, ganhando vários jogos com muito sofrimento, mas conseguiu, pelo menos, manter-se colado ao líder. O Barcelona, no entanto, tem sido igual a ele próprio e, com o regresso em pleno de Iniesta espera-se que volte a ser regular como antes. A equipa está a jogar ainda melhor do que o ano passado e se as lesões não perturbarem a segunda metade do campeonato, o principal problema deste Barcelona, o plantel pequeno que possui, não ficará manifesto.

3. Vencedor do Campeonato Italiano: Inter. Em Itália, antevi no início da época que a Juventus era a equipa que melhor poderia fazer frente ao Inter de José Mourinho. Percorrido que está metade do caminho, a Juventus parece estar mais próxima da qualidade do Milan do que da do Inter. Assim sendo, e não me parecendo que venham a ocorrer modificações exibicionais extraordinárias, o Inter continuará a ser o único candidato ao título. Será mais um êxito na carreira de Mourinho, ainda que não coroado do brilho de outrora.

4. Vencedor do Campeonato Inglês: Arsenal. Quando o Arsenal perdeu com o Chelsea, parecia irremediavelmente afastado da luta pelo título. As últimas jornadas, com os sucessivos empates do Chelsea, colocaram porém a equipa de Arséne Wenger novamente na rota do título. Se ganhar o jogo que tem em atraso, o Arsenal fica apenas a 1 ponto do Chelsea, com a equipa comandada por Carlo Ancelotti a ter de jogar em Janeiro sem Drogba e Kalou, e tendo ainda Anelka lesionado. Com esta conjectura e a jogar o que está jogar, o Arsenal tem tudo para se impor. É a equipa que melhor futebol pratica em terras de Sua Majestade. O Manchester também terá uma palavra a dizer, mas parece-me francamente debilitado e dependerá muito dos desempenhos dos outros dois candidatos.

5. Vencedor do Campeonato Francês: Bordéus. Em França, o Bordéus não tem dado propriamente grandes hipóteses. Lyon e Marselha, os mais apresentáveis dos rivais, têm sido bastante irregulares e a equipa comandada por Laurent Blanc já leva uma vantagem considerável. Gourcuff e companhia são, também por isso, a minha aposta.

6. Vencedor do Campeonato Alemão: Bayern. O Bayern de Louis Van Gaal não começou bem, mas a recuperação é visível. Não só conseguiu o apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões, como está apenas a dois pontos da liderança do campeonato. A segunda volta deverá consolidar as ideias do controverso treinador holandês e o tempo tenderá a fortalecer esta equipa. Como a concorrência no campeonato alemão não é muito forte, o Bayern, ainda com alguns deslizes, é o grande favorito à vitória final.

7. Vencedor da Liga dos Campeões: Barcelona. A minha aposta é, uma vez mais, o Barcelona de Guardiola. Seria a consumação final daquela que é a melhor equipa de sempre e o lugar no Olimpo que tanto merece. Nunca uma equipa venceu por duas vezes seguidas a Liga dos Campeões, mas nenhuma também apresentou o futebol que esta equipa apresenta. Dependerá, como é óbvio, da fortuna das lesões e da sua capacidade para se superar continuamente. Ainda assim, acredito que é o candidato que reúne melhores condições.

8. Vencedor do Campeonato do Mundo: Espanha. A Espanha é a equipa que melhor colectivo apresenta. Neste tipo de provas, é sabido, isso não chega. Quando toca a eliminar, e ainda por cima a uma só mão, os melhores nem sempre se consagram. Ainda assim, e com as melhorias que a equipa teve em termos de competitividade sob o comando de Del Bosque, é a formação que me parece melhor preparada. Ainda estamos longe da prova e em seis meses muita coisa pode acontecer. Como acontece nestes torneios, dependerá muito da forma em que os jogadores chegarem à África do Sul.

9. Participação de Portugal no Campeonato do Mundo: Oitavos de final. A Espanha deverá passar em primeiro lugar, no seu grupo, e Portugal terá a difícil missão de se apurar à frente do Brasil ou da Costa do Marfim. Nenhum dos adversários será fácil, mas numa competição deste género é difícil fazer previsões acertadas no que diz respeito a um conjunto de três jogos. Ainda assim, os campeonatos recentes mostraram que a capacidade de superação da equipa lusitana neste tipo de competição é notável. É claro que isso era com Scolari e tudo pode ser diferente agora. Tendo em conta a dificuldade do grupo, a qualidade do futebol apresentado durante a fase de apuramento e a equipa técnica comandada por Carlos Queiroz, a eliminação logo na fase de grupos não seria de espantar. Mas admito que Portugal consiga superar essa primeira fase. A partir daí, já acho mais complicado.

10. João Pereira. É um dos nomes sonantes da reabertura do mercado. Ao contrário da maioria, acho que João Pereira está longe de ser um grande lateral direito. É um jogador rápido, muito agressivo, mas tem pouco mais que isso. Chega a um grande depois de ser um dos principais protagonistas, do ponto de vista do comum adepto, do Braga. Há alguns anos, morava em Braga um lateral direito em tudo idêntico ao que é hoje João Pereira: um jogador veloz, que participava muito nas investidas ofensivas da equipa, e que era tido como o melhor lateral direito a jogar num clube que não um grande. Alguém se lembra de quem era? Na altura, ao contrário do comum adepto, achei que a sua vinda para um grande lhe tornaria visíveis as debilidades. Assim foi. Entendo que João Pereira venha a ter um destino parecido. Os seus problemas posicionais, a má leitura dos lances, as más decisões com bola são coisas que no Braga não são tão importantes. No Braga, esse tipo de problemas é algo que mais jogadores possuem. Por isso mesmo, a exigência no Braga é mais baixa. No Sporting, não terá Alans, Vandinhos, Moisés, Evaldos ou Paulos Césares com quem se comparar. Terá jogadores de maior craveira, jogadores mais perfeitos, que cometem menos erros. Os problemas de João Pereira, no Sporting, serão por isso mais evidentes. É óbvio que pode corrigi-los, mas não é algo que consiga fazer de um dia para o outro. Pode até, porque a equipa está a atravessar um mau momento, conseguir destacar-se. Quando as coisas estão mal, normalmente jogadores vistosos como ele, jogadores que fazem das suas características físicas e técnicas as suas mais-valias, são mais apreciados. Mas dificilmente conseguirá construir uma carreira sólida, regular. João Pereira não é muito diferente de Nélson, por exemplo, se bem que não tão bom tecnicamente. É um lateral ofensivo, que pode causar desequilíbrios quando apoia o ataque, mas a qualidade das suas decisões e a sua capacidade defensiva não é brilhante. Nélson durou um ano, num ano em que a equipa do Benfica pouco ou nada jogava. Depois, quando foi preciso evoluir, estagnou, cometeu erros e foi-se embora. João Pereira será assim tão diferente? A minha previsão é que não trará ao Sporting a tão desejada qualidade para a lateral direita.

Antes de acabar o ano, gostaria ainda de fazer referência a um projecto em que eu e o Gonçalo estamos inseridos há aproximadamente três meses. Os mais atentos terão talvez estranhado a ausência, há já algum tempo, de textos sobre uma determinada jornada ou sobre a generalidade da actualidade futebolística. A ausência desses textos explica-se porque todas as semanas escrevemos um texto para o jornal online "Academia de Talentos" com esse tipo de conteúdos. Aqueles que nos quiserem seguir ainda mais podem sempre procurar os nossos textos na Área Técnica do respectivo jornal. A ligação encontra-se entre as várias ligações aqui ao lado. O "Academia de Talentos" é, possivelmente, o local com mais e melhor informação sobre a actividade futebolística a nível dos escalões de formação. Nesse aspecto, a sua relevância está para além de qualquer dúvida e qualquer pessoa que esteja interessada em acompanhar o que se passa na actualidade desportiva nos mais variados escalões de formação terá interesse em consultar com regularidade o jornal. Mais recentemente, o jornal tem procurado evoluir noutros sentidos e expandir os seus horizontes. O espaço designado por "Área Técnica" reúne, por isso, textos de outro carácter e com outros conteúdos. É precisamente nesse projecto que colaboramos e, além de nós, podem ser encontrados textos de outros bloggers que, normalmente, valem a pena ser lidos, como os do Pedro Bouças e do Rodrigo Rodrigues, do blogue "Lateral-Esquerdo" ou os do Paulo Santos, do "Apenas Futebol". Fica o anúncio e o convite, claro...

sábado, 26 de dezembro de 2009

Liedson, Saleiro e Postiga: um Estudo Comparativo

No passado fim-de-semana, o Sporting defrontou a Naval e Carlos Saleiro actuou ao lado de Liedson. Abaixo fica o registo das intervenções de ambos, assim como as de Hélder Postiga, que entrou a render o primeiro aos 75 minutos de jogo.

1 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha de cabeça.)

2 mins: Boa opção. (Saleiro joga de frente em Miguel Veloso.)

3 mins: Perda de bola. (Liedson recebe, vira-se, tenta fintar e perde a bola.)

3 mins: Boa opção. (Saleiro recebe e dá pelo ar para João Moutinho.)

5 mins: Boa opção. (Liedson dá de primeira em Izmailov.)

7 mins: Mau passe. (Liedson tenta jogar com Saleiro, mas um defesa corta a jogada.)

8 mins: Cabeceamento. (Saleiro perde de cabeça.)

8 mins: Deixa-se antecipar. (Liedson esconde-se atrás de um defesa, ignorando a linha de passe que deveria dar, e não recebe o passe de Miguel Veloso, que se perde.)

10 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha de cabeça após passe longo de Tonel.)

10 mins: Remate. (Liedson recebe depois de um ressalto e chuta contra o guarda-redes.)

12 mins: Perda de bola. (Saleiro recebe uma bola à queima-roupa e perde no ressalto.)

13 mins: Boa opção. (Saleiro recebe na esquerda, alonga o passe para Adrien, que ganha canto.)

15 mins: Faz falta. (Saleiro ganha de cabeça, vira-se e faz pé em riste.)

15 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha de cabeça para Veloso, que chega tarde.)

17 mins: Cabeceamento. (Saleiro salta de cabeça e perde.)

18 mins: Cabeceamento. (Liedson perde de cabeça.)

18 mins: Boa opção. (Liedson recebe na esquerda, roda sobre si mesmo e joga para trás para Moutinho.)

19 mins: Perda de bola. (Liedson, entre dois adversários, tenta fazer cueca e perde a bola.)

20 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha de cabeça.)

21 mins: Cabeceamento. (Liedson ganha de cabeça.)

21 mins: Cabeeamento. (Saleiro ganha de cabeça.)

22 mins: Cabeceamento. (Saleiro perde de cabeça.)

24 mins: Perda de bola. (Liedson tenta fintar, perde a bola e faz falta.)

24 mins: Corte. (Liedson, em esforço, corta para fora.)

25 mins: Má opção. (Liedson, na esquerda, recebe passe longo, mas deixa a bola bater duas vezes e permite o corte do defesa da Naval.)

26 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha de cabeça.)

28 mins: Boa opção. (Saleiro joga de frente, embora a bola viesse pelo ar e difícil.)

29 mins: Recuperação de bola. (Liedson recua e ganha de cabeça, recuperando a bola para a sua equipa.)

30 mins: Cabeceamento. (Liedson perde de cabeça.)

33 mins: Boa opção. (Saleiro recebe a bola, roda para a direita e dá em Izmailov.)

33 mins: Sofre falta. (Liedson recebe e sofre falta.)

34 mins: Cruzamento. (Saleiro recebe a bola na esquerda e cruza contra um defesa.)

35 mins: Boa opção. (Liedson, após um canto, fica com a bola e joga para trás.)

35 mins: Remate. (Liedson salta dentro da área, tenta rematar de cabeça, a bola bate no defesa que saltara com ele e sobra para Saleiro, que marca golo.)

35 mins: Golo. (Saleiro, ao segundo poste, aproveita um ressalto para introduzir a bola na baliza.)

36 mins: Cruzamento. (Liedson falha a recepção e vai cruzar à linha para as mãos do guarda-redes da Naval.)

37 mins: Recuperação de bola. (Saleiro ganha a bola e com um pontapé lança Liedson, que estava em posição irregular.)

37 mins: Fora-de-jogo. (Liedson é apanhado em fora-de-jogo.)

38 mins: Recuperação de bola. (Saleiro ganha a bola.)

38 mins: Má opção. (Saleiro perde muito tempo a soltá-la e embrulha-se. A bola acaba por sobrar para Veloso.)

40 mins: Boa opção. (Saleiro dá de primeira para Liedson.)

40 mins: Má opção. (Liedson recebe a bola de Saleiro, tenta fintar e perde a bola, que no entanto sobra para Izmailov.)

40 mins: Remate. (Saleiro é lançado por Izmailov, chuta em esforço, no chão, o guarda-redes defende e choca com Saleiro. Ao levantar-se para perseguir a bola, Saleiro é agarrado pelo guarda-redes. Penalty não assinalado.)

42 mins: Cabeceamento. (Saleiro perde de cabeça.)

42 mins: Má opção. (Liedson faz a bola passar por cima de um adversário e perde a bola.)

42 mins: Perda de bola. (Saleiro é solicitado de frente, joga de primeira, mas Adrien e Veloso não percebem, ficando a bola à mercê de um adversário.)

43 mins: Faz falta. (Liedson chega atrasado ao lance e faz falta.)

44 mins: Sofre falta. (Saleiro sofre falta.)

45 mins: Remate. (Liedson responde a um cruzamento, tocando ao de leve na bola, que chega ao guarda-redes adversário.)

45 mins: Má recepção. (Saleiro recebe um passe longo, mas a recepção não é a melhor e acaba por perder a bola.)

45 mins: Deixa-se antecipar. (Liedson deixa-se antecipar depois de um bom passe vertical.)

46 mins: Mau passe. (Saleiro recebe mas entrega mal.)

46 mins: Deixa-se antecipar. (Liedson deixa-se antecipar.)

46 mins: Cabeceamento. (Liedson perde de cabeça.)

46 mins: Boa opção. (Saleiro entrega de cabeça, de frente.)

48 mins: Boa opção. (Saleiro ganha um lance disputado e joga de frente.)

48 mins: Sofre falta. (Liedson sofre falta.)

49 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha um lance de cabeça na direcção de Liedson, que no entanto fica quieto atrás do defesa.)

49 mins: Deixa-se antecipar. (Liedson fica atrás de um defesa e deixa-se antecipar.)

50 mins: Boa opção. (Saleiro recebe a bola na linha e ganha lançamento.)

52 mins: Sofre falta. (Saleiro sofre falta por trás.)

53 mins: Cabeceamento. (Saleiro perde de cabeça, mas a bola sobra para Moutinho.)

53 mins: Bom passe, mas má opção. (Liedson recebe de Moutinho na zona central, dá três toques na bola, permitindo a recolocação da defensiva contrária, e acaba por dar atrasado em Moutinho, novamente.)

57 mins: Sofre falta. (Liedson sofre falta.)

57 mins: Boa opção. (Saleiro ganha a bola no meio de vários adversários e joga com Izmailov.)

59 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha de cabeça.)

60 mins: Boa opção. (Saleiro tabela com Moutinho.)

60 mins: Boa opção. (Saleiro recebe novamente de Moutinho e dá em Adrien.)

60 mins: Cabeceamento. (Liedson perde de cabeça.)

60 mins: Recuperação de bola. (Liedson recupera uma bola.)

63 mins: Boa opção. (Saleiro tabela com Miguel Veloso.)

65 mins: Cabeceamento. (Liedson ganha de cabeça.)

65 mins: Cabeceamento. (Saleiro perde de cabeça.)

67 mins: Má opção. (Liedson recebe a bola através de um passe longo, tenta inventar, perde, mas a bola sobra para Grimi.)

67 mins: Boa opção. (Saleiro recebe de um lançamento lateral e dá em Veloso.)

69 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha de cabeça.)

69 mins: Corte. (Liedson corta para fora.)

70 mins: Boa opção. (Saleiro assiste Veloso, que remata.)

70 mins: Má opção. (Liedson recebe de Moutinho e tenta lançar Saleiro, quando tinha apoios de frente. A bola bate em Diego Ângelo e fica em poder da Naval.)

70 mins: Boa opção. (Saleiro recebe e joga no meio, em João Moutinho.)

73 mins: Cabeceamento. (Saleiro perde lance de cabeça.)

74 mins: Má recepção. (Liedson recebe e perde a bola depois de má recepção.)

75 mins: Sai Saleiro, entra Postiga.

76 mins: Perda de bola. (Postiga recebe a bola e perde.)

77 mins: Cabeceamento. (Postiga ganha de cabeça para o meio.)

78 mins: Boa opção. (Postiga recebe de Moutinho e tenta lançar Liedson, que no entanto é apanhado em posição irregular.)

78 mins: Fora-de-jogo. (Liedson é apanhado em fora-de-jogo.)

79 mins: Boa opção. (Postiga recebe e dá em Adrien.)

79 mins: Boa opção. (Postiga recebe e dá em Veloso.)

79 mins: Remate. (Postiga recebe novamente de Veloso, finta e remata de pé esquerdo, obrigando o guarda-redes a defesa apertada para canto.)

80 mins: Cabeceamento. (Liedson perde de cabeça.)

80 mins: Boa opção. (Postiga entra na área e, fingindo o remate, assiste Liedson, que no entanto se deixa antecipar.)

80 mins: Deixa-se antecipar. (Liedson não percebe a intenção de Postiga e deixa-se antecipar.)

82 mins: Boa opção. (Liedson dá atrás em Moutinho.)

84 mins: Recuperação de bola. (Postiga pressiona, recupera a bola e dá atrás.)

84 mins: Boa opção. (Postiga recebe novamente e joga de primeira.)

84 mins: Remate. (Liedson recebe no meio e remata ao lado.)

85 mins: Cabeceamento. (Liedson ganha de cabeça.)

86 mins: Boa opção. (Postiga joga com Liedson, que lhe devolve a bola)

86 mins: Boa opção. (Liedson tabela com Postiga.)

86 mins: Deixa-se antecipar. (Postiga vai para rematar, após tabela com Liedson, mas um defesa corta a bola.)

87 mins: Boa opção. (Liedson assiste Adrien, que remata.)

89 mins: Má opção. (Liedson recebe a bola, fá-la passar por cima de um defesa e perde-a.)

89 mins: Boa opção. (Postiga tabela com Veloso.)

89 mins: Boa opção. (Postiga recebe a devolução de Veloso, progride e dá em Liedson.)

89 mins: Má opção. (Liedson recebe de Postiga, vira-se e perde a bola.)

89 mins: Recuperação de bola. (Postiga recupera a bola.)

89 mins: Sofre falta. (Liedson recebe, vira-se e ganha falta.)

90 mins: Liedson sai.

90 mins: Boa opção. (Postiga dá atrás.)

91 mins: Boa opção. (Postiga tabela com Pereirinha, mas a bola perde-se.)

92 mins: Boa recepção. Postiga recebe em esforço com o peito.

Para que seja mais fácil distinguir a acção de cada um, as suas acções estarão denotadas com cores diferentes: vermelho para Saleiro, verde para Liedson e azul para Postiga. As boas acções de cada um ficam em negrito, para melhor apreciação. Vamos às conclusões:

1) Liedson teve 48 acções durante o tempo que esteve em campo; 20 acções positivas; 42% de acções positivas. Saleiro teve 45 acções durante o tempo que esteve em campo; 32 acções positivas; 71 % de acções positivas. Postiga teve 17 acções durante o tempo que esteve em campo; 15 acções positivas; 88% de acções positivas.
2) Considerando agora os lances com a bola nos pés e com condições para fazer algo (exclui-se, portanto, os lances de bola parada ou as disputas de bola, ou disputas de cabeça, ou os lances em que procura recuperar a bola, ou os lances em que não tem a bola totalmente dominada), Liedson teve 8 boas opções contra 10 más opções; 44% de boas opções. Saleiro teve 20 boas opções contra 3 más opções; 87% de boas opções. Postiga teve 11 boas opções contra 1 má opção; 92% de boas opções.
3) Liedson foi responsável por 14 perdas de bola, 1 por má recepção, 2 por maus passes, 5 por se deixar antecipar e 6 por se virar para o adversário ou por tentar fintar (de fora destas contas ficaram ainda dois lances em que tentou inventar, perdeu a bola, mas ela sobrou para um colega de equipa); Saleiro foi responsável por 4 perdas de bola, 2 por má recepção e 2 por maus passes; Postiga foi responsável por 2 perdas de bola, 1 por mau passe e 1 por se deixar antecipar.
4) Liedson recuperou 2 bolas e fez 2 cortes; Saleiro recuperou 2 bolas; Postiga recuperou 2 bolas.
5) Liedson sofreu 4 faltas e cometeu 1; Saleiro sofreu 2 faltas e cometeu 1; Postiga não sofreu nem cometeu faltas.
6) Liedson foi apanhado em fora-de-jogo por 2 ocasiões; Saleiro e Postiga não foram apanhados em fora-de-jogo.
7) Liedson efectuou 4 remates, sendo que apenas 1 deles levou perigo, 1 foi para fora, outro foi para as mãos do guarda-redes e outro acabou por bater no defesa e sobrar para Saleiro, que fez golo; Saleiro efectuou 2 remates, sendo que 1 deles deu golo e outro foi defendido à queima pelo guarda-redes, que de seguida agarrou Saleiro, fazendo penalty; Postiga fez apenas 1 remate, após boa combinação com Miguel Veloso.
8) Liedson disputou 8 bolas de cabeça, tendo ganho 3 e perdido 5; 38% de lances de cabeça ganhos. Saleiro disputou 16 bolas de cabeça, tendo ganho 9 e perdido 7; 56% de lances de cabeça ganhos. Postiga disputou apenas 1 lance de cabeça, ganhando-o.
9) Liedson recebeu 13 bolas de costas para o jogo e jogou de frente apenas 5 vezes; em 62% dos lances, optou por se virar para o jogo, tendo perdido maior parte das bolas nessas situações. Saleiro recebeu 14 bolas de costas para o jogo, tendo jogado de frente 13 dessas vezes; optou por se virar apenas em 7% dos lances. Postiga recebeu 9 bolas de costas para o jogo, tendo jogado de frente em 8 ocasiões; optou por se virar em apenas 11% dos lances.

Comentários:

O Sporting, enquanto equipa grande, dificilmente se pode dar ao luxo de ter um jogador que, no centro do terreno, funcione tão mal como apoio vertical. Está já exausto o nosso desapreço pelo futebol de Liedson, mas este estudo ajuda a comprovar, uma vez mais, o quão nocivo o jogador é a todo o processo ofensivo. Deste ponto de vista, é muito frutuosa, a meu ver, a comparação com o seu colega de ataque, seja ele Saleiro ou Postiga. Estes dois são os avançados que melhor jogam de costas para a baliza, no plantel, e os que maior quantidades de boas decisões são capazes. Em meu entender, um avançado tem de ser muito mais do que os golos que faz e Saleiro e Postiga, ao contrário de Liedson, são-no.

Saleiro e Postiga têm mais ou menos o dobro da percentagem de boas opções que Liedson, o que indicia que, em relação ao Levezinho, conseguem dar continuidade a duas vezes mais jogadas. A quantidade de bolas que os três jogadores perdem é outro indício do quão problemático é o futebol de Liedson e de quão melhor servido estaria se, na frente, o Sporting jogasse com qualquer um dos outros dois. Há quem diga, ainda, que Liedson não vale apenas pelos golos, mas pelo trabalho defensivo, pelo esforço, pela abnegação. Este estudo demonstra que isso é uma mentira em que muitos quiseram acreditar. Liedson é responsável por tantas recuperações de bola quantas os seus companheiros de ataque, sendo que ambos estiveram em campo menos tempo que ele. O facto de correr muito, como sempre disse, de parecer um tontinho atrás dos outros, não significa que seja bom em termos defensivos. Se quisermos falar em esforço e em dedicação, podemos ainda olhar para quem foi a principal referência no futebol aéreo. Saleiro disputou o dobro das bolas de cabeça de Liedson, mostrando-se competente o suficiente no mesmo e mostrando-se com capacidade de choque. Como se vê, na capacidade de luta não há grande diferença.

A principal característica de Liedson - e a única verdadeiramente relevante, diria eu - é a sua capacidade concretizadora. Como é óbvio, o facto de, neste jogo, Carlos Saleiro se ter revelado bastante mais eficaz que Liedson não demonstra nada. Não significa isto que Liedson seja um exímio finalizador. Não é. É um jogador com uma taxa de aproveitamento até relativamente baixa, embora se pense que não. A principal diferença está na quantidade de vezes que aparece em zonas de finalização. Nisso, Liedson revela de facto um instinto felino. Mas é minha convicção que essa faculdade é conseguida a expensas de outras coisas. No meu entender, Liedson consegue aparecer em zonas de finalização mais vezes que os colegas porque é a única coisa com a qual se preocupa. Enquanto Saleiro e Postiga, por exemplo, estão preocupados em procurar os colegas, em entender a movimentação colectiva, em perceber qual a melhor forma de a equipa criar perigo, Liedson está apenas preocupado com a baliza. O exemplo do lance do Hungria-Portugal, que referimos aqui atempadamente, ilustra bem tudo isto. Com bola, Liedson pensa mais em virar-se para a baliza do que em fazê-la girar, recuando se necessário, permanecendo de costas se necessário. Não é estranho, por isso, que 62% dos lances em que recebe a bola de costas sejam resolvidos virando-se para o adversário. Sem bola, Liedson está sempre mais interessado em fugir aos defesas, de modo a aparecer em zonas privilegiadas, do que em aproximar-se do portador da bola para servir como apoio vertical. Não é, por isso, de estranhar, que se tenha deixado antecipar 5 vezes nesta partida, contribuindo para 5 perdas de bola da equipa.

Liedson só é bom em zonas muito próximas da baliza, em zonas em que é mais importante fugir a marcações, demonstrar agilidade e reflexos, aparecer em sítios certos e atacar zonas importantes. Em todo o resto do campo, é miserável. Talvez seja mais expedito que Postiga e Saleiro dentro da área, mas é sem dúvida menos inteligente fora dela, com e sem bola. Saleiro e Postiga compreendem colectivamente o jogo e, com eles em campo, o Sporting jogará sempre melhor. Liedson é um jogador útil num espaço diminuto do campo e perfeitamente inútil na maior parte dele. Nenhuma equipa grande, que queira impor-se como grande, pode ter jogadores que sejam apenas úteis numa zona do terreno. É por isso que Mantorras não joga no Benfica e é por isso que Farías é apenas um plano B no Porto. Liedson é um jogador deste tipo. Poderia ser uma arma para lançar nos minutos finais das partidas, em jogos em que o coração manda mais que a razão, mas jamais um jogador para ser titular indiscutível.

Como já aqui o dissemos várias vezes e não apenas por capricho ou ousadia, o Sporting jamais será campeão enquanto tiver Liedson. A razão pela qual afirmamos repetidamente tal coisa encontra-se relevantemente ilustrada por este estudo. Com Liedson, o Sporting só pode ser uma equipa de coração, uma equipa que tanto ganha um jogo como perde outro, uma equipa incapaz de se impor convenientemente, incapaz de sustentar um futebol de ataque, baseado na posse e circulação de bola, uma equipa, em última análise, pequena, sem ideias, esforçada mas irregular, lutadora mas irracional. Com Saleiro e Postiga, ainda que nenhum destes marcasse talvez tantos golos quantos Liedson, a equipa seria bem mais ofensiva, passaria bastante mais tempo com bola, seria capaz de construir mais jogadas de ataque, seria bem mais racional, bem maior. A resolução dos problemas actuais do Sporting começaria, portanto, aqui, na compreensão de que, com Liedson, jamais se erradicarão tais problemas.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Hexa

O Barcelona entrou hoje para a História do Futebol como a primeira equipa a ganhar as seis competições possíveis numa época: à Taça do Rei, à Liga Espanhola, à Liga dos Campeões, à Supertaça de Espanha e à Supertaça Europeia juntou agora o Mundial de Clubes, troféu que não conquistara ainda na sua História. Esta vitória é a consagração inevitável da melhor equipa de sempre na História do Futebol.

À homenagem gostaria, porém, de acrescentar algumas palavras de desapreço por aquilo que se passou em Abu Dabi. Não foi uma vitória fácil e o Barcelona conseguiu empatar a partida apenas em cima da hora, levando o jogo para prolongamento, durante o qual o viria a resolver. Para quem não assistiu à partida, haverá certamente a suspeita de que a equipa comandada por Guardiola sofreu bastante para conseguir alcançar o triunfo final. Sofrimento houve. Mas não o tipo de sofrimento que imaginam. É que o Barcelona, além de ter de lutar contra um conjunto de argentinos atrevidos, teve ainda de lutar contra uma arbitragem francamente tendenciosa. De outra maneira, só com muita simpatia dos catalães poderia uma equipa tão banal como o Estudiantes arrastar o jogo até prolongamento.

O Barcelona foi prejudicadíssimo pela arbitragem, mas não porque ficou um penalty claríssimo por marcar sobre Xavi, ainda a partida ia em 0-0, ou porque o golo dos argentinos foi obtido em posição irregular. Isso são erros pontuais e que acontecem em todos os campos, por esse mundo fora, e aos melhores árbitros. Nem o Barcelona precisaria da correcção desses lances para vencer a partida, se esta tivesse sido apitada competentemente. O Barcelona foi prejudicado, isso sim, porque do primeiro ao último minuto os argentinos puderam jogar à sul-americana, acertando nas pernas do adversário a cada disputa de bola, fazendo carrinhos assassinos a cada lance. E a quantidade de faltas que ficaram por marcar, com os catalães no chão e os argentinos a seguir a bola, foi uma coisa absurda. Não me lembro de uma arbitragem tão má desde os malogrados anos 90 em Portugal e não me lembro de uma equipa fazer tantos carrinhos num só jogo e sofrer um golo apenas no último minuto.

Para ser sincero, nem sequer acho que houvesse muita maldade da parte dos argentinos, mas aquilo que o árbitro foi concedendo dotou-os de uma arma quase invencível. Apoiando-se numa agressividade bem à margem das leis, conseguiam invariavelmente interromper os lances de ataque do Barcelona sem cair no risco de acumular faltas perto da sua baliza. E os catalães, procurando exercer o seu domínio através do futebol de posse e circulação a que nos habituaram, eram repetidamente travados por atropelos, por rasteiras, por empurrões, sem que isso lhes concedesse a compensação de um livre. Para o final, com o cansaço, as entradas dos argentinos passaram a ser mais ríspidas e ainda foram várias vezes admoestados com o cartão amarelo. Mas uma arbitragem honesta deixá-los-ia, ao fim de meia-hora, com menos dois ou três jogadores em campo e com maior parte dos restantes jogadores amarelados. Foi contra isto que o Barça teve de lutar.

Não creio que a arbitragem tivesse a intenção de prejudicar propriamente a equipa catalã. Acho, isso sim, que o estilo permissivo da arbitragem prejudica qualquer equipa que se destaque pela inteligência e pela técnica, uma vez que favorece o jogo agressivo do adversário. E é isso que tem de ser erradicado do futebol. Na última década, as arbitragens têm melhorado gradualmente a este nível e isto tem permitido ao futebol tornar-se um jogado muito mais elaborado. Esta arbitragem permitiu aos argentinos jogarem como se jogava há 20 anos, ou seja, numa altura em que vencia quem fosse mais agressivo, quem "comesse mais relva". Os argentinos correram tanto, esforçaram-se tanto, deram tanta porrada que por volta dos 70 minutos já não se mexiam. Acabaram por perder também pela estratégia que empreenderam, mas por pouco essa estratégia não lhes trazia proveitosos frutos.

Não acho, como disse, que o árbitro tenha agido de má fé, mas sim por manifesta incompetência. E essa incompetência foi de tal forma gritante que, para além de permitir o jogo duro e ilegal dos argentinos, ainda cometeu erros de apreciação que só podem comprovar essa mesma incompetência. Destaco dois lances patéticos que tornam evidente que esta arbitragem prejudicou o futebol técnico e de categoria do Barcelona e beneficiou a combatividade e a agressividade dos argentinos. No primeiro lance, ainda na primeira parte, já depois de suportar duas cargas à margem das leis, Ibrahimovic finca o pé no chão e protege a bola de um adversário que vem atrás dele. O adversário despenha-se com toda a força contra o sueco, com o intuito claro de prejudicar a sua acção de uma forma ilegal e, obviamente, não estando tão equilibrado e não tendo a força de Ibrahimovic, cai por terra, permanecendo o avançado do Barça com a bola. Por ordem do fiscal de linha, o árbitro assinala falta contra o Barcelona. O ridículo da situação não está só no facto de aquele que tem a posse de bola ter sido acusado de fazer falta a quem lhe tentou tirar a bola; está ainda mais no facto de, mesmo tendo a bola e levando porrada, mesmo tendo evitado a agressividade, ter sido penalizado por ter conseguido permanecer na posse de bola contra alguém que não teve outra intenção senão acertar nele. O segundo lance é já na segunda parte e é protagonizado por Henry. O francês consegue driblar o central do Estudiantes, na entrada da área, e é rasteirado. Antes de cair, consegue tocar a bola para Ibrahimovic, que se encontrava dentro da área e poderia ter dado seguimento à jogada. O árbitro não só não deu a lei da vantagem, o que possivelmente beneficiaria o Barcelona, como assinalou falta a favor dos argentinos e amarelou Henry. Confesso que, a não ser que agora ser rasteirado seja motivo para amarelo, não percebi a decisão. Se o árbitro tiver interpretado que Henry o tentou enganar, simulando uma falta à entrada da área, fica por explicar então por que razão ainda se teria esforçado para endereçar a bola para Ibrahimovic.

Após este segundo lance, viu-se Xavi com as mãos na cabeça, não acreditando no que estava a acontecer. A incompetência da arbitragem acabara de exceder todos os limites e o Barcelona parecia condenado. Felizmente para o futebol, já em cima do minuto 90, Pedro conseguiu igualar a partida e levá-la para prolongamento. Já com os argentinos a pagar a factura de um jogo jogado à máxima intensidade, o Barcelona dominou por completo e Messi, com o peito, selaria a vitória. A tendência da arbitragem acabou por não ser suficiente para uma equipa ridícula vencer este Barcelona. O Estudiantes, enquanto colectivo, foi francamente mau, aguentando o desafio até tão tarde apenas graças à permissividade do árbitro. Com marcações homem a homem demasiado cerradas e em quase todo o campo, uma equipa só se poderá aguentar contra este Barcelona se puder jogar repetidamente à margem das leis. Foi o que aconteceu. Os argentinos, pela deficiência posicional, chegavam sempre tarde aos lances, mas, como podia atropelar os adversários, essa deficiência não era preocupante. Assim, com os argentinos entregues a marcações ao homem em todo o campo e pressionando alto, o Barcelona não conseguiu jogar como habitualmente porque a sua capacidade para sair de zonas de pressão ficava invariavelmente posta em causa por aquilo que o árbitro permitia aos adversários e foi tendo problemas em conseguir circular a bola como tão bem faz. O triunfo acabou por lhes sorrir também porque os argentinos não conseguiram continuar a ser agressivos como no início e o árbitro não poderia ajudar de outra forma. Para bem do futebol, o Barcelona venceu. Mas arbitragens como esta deveriam ser seriamente punidas pelos dirigentes da FIFA. O futebol agradecia. E evitar-se-ia a possibilidade de um conjunto de cães com cio ganhar uma final à melhor equipa do mundo.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Certezas (16)

No Arsenal estão alguns grandes jovens jogadores que importa referenciar no futuro. Para já, é relevante falar deste extraordinário avançado, até porque já apareceu há algumas épocas e o devido destaque ainda não lhe tinha sido feito neste espaço. É um jogador muito móvel, como é hábito nos avançados de Arsène Wenger, com uma capacidade técnica invulgar, rápido e, sobretudo, muito inteligente. Conheci-o durante o mundial de sub-20 de 2007, quando a sua selecção enfrentou a congénere portuguesa. Jogava na frente de ataque juntamente com aquele que era, no momento, a grande figura da sua selecção na altura: Giovani dos Santos. Desde logo, achei-o superior ao então jovem promissor do Barcelona. Essa superioridade não residia nos atributos técnicos, igualmente presente no craque do Barça, mas sim na maturidade, na inteligência, na forma adulta como compreendia o jogo e o levava para dimensões colectivas raramente presentes em escalões jovens. Fiquei impressionado, na altura, para além dos seus 18 anos, pela capacidade que tinha para jogar de costas para a baliza e em espaços curtos, encontrado boas soluções com relativa facilidade. Esta capacidade, e não os dribles estonteantes ou a força bruta, é a principal prova daquilo que um jovem jogador conseguirá fazer no futuro. Ao contrário de Giovani dos Santos, que impressionava os mais facilmente impressionáveis porque ia muitas vezes no drible e era muito explosivo, este jogador era mais fino, mais elegante com a bola, menos interessado em ultrapassar vários adversários e mais objectivo. Dois anos e qualquer coisa volvidos, parece quase inquestionável que o potencial de Giovani dos Santos está no seu limite e que os mais facilmente impressionáveis estavam enganados. Ao contrário do compatriota e ao contrário de grande parte dos jovens jogadores que são considerados promissores pelos atributos físicos e técnicos que demonstram precocemente, Carlos Vela tem um potencial infinitamente superior porque é inteligentíssimo e isso é tudo o que é necessário para expandir as suas capacidades ao longo da sua carreira.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Os erros de Sagna

No derby londrino do passado fim-de-semana, o Arsenal ambicionava aproximar-se do rival Chelsea. Para isso, precisava de vencer o desafio. Quem não viu o encontro, certamente pensará que o resultado final de 3-0 a favor dos "blues" expressa a supremacia do conjunto orientado por Carlo Ancelotti. Tal não foi o caso. O Arsenal, esta época, está a jogar muitíssimo bem e os deslizes que teve, até agora, podem ser explicados pelo azar, no caso do desafio contra o Manchester United, e pelos erros individuais de Clichy, frente ao Manchester City. Desta vez, o jogador a comprometer foi o lateral direito, Bacary Sagna, um jogador muito apreciado pelas suas capacidades ofensivas, mas que continua a denotar problemas defensivos gravíssimos. Em suma, o Arsenal dominava claramente a partida com o Chelsea, dispondo de várias oportunidades para marcar e sendo capaz de constantemente entrar nas linhas defensivas adversárias. O Chelsea raramente teve bola e as suas iniciativas ofensivas, até ao primeiro lance em destaque, eram pouco mais que nulas. No entanto, e apesar do domínio claro do Arsenal, o Chelsea viria a adiantar-se no marcador, graças a um erro individual, e adiantar-se-ia mais ainda logo depois, num auto-golo do infeliz Vermaelen. A história do jogo não é a de uma equipa superior a outra e que venceu expressivamente, mas a de uma equipa bastante superior, que atacou muito e bem, e a de outra que, nas primeiras duas vezes que consegue chegar à frente, faz dois golos. Os pragmáticos dirão que o Chelsea se mostrou mais determinado e que foi letal. Os sensatos dirão que tiveram sorte, sobretudo graças ao contributo de Sagna. Vamos aos dois lances que importa observar.



No primeiro lance, Sagna (que aparece ao fundo da imagem) está demasiado aberto em relação aos restantes colegas do sector defensivo. Assim, um passe que até era direccionado para Drogba, acaba por passar por entre Sagna e o central, caindo em Anelka, que passara nas costas do lateral francês sem que este conseguisse reagir condignamente. Bastava, para anular toda esta jogada, que Sagna tivesse defendido por dentro, ocupando um espaço mais central e deixando a linha para o compatriota Anelka. Sagna, talvez demasiado preocupado com a marcação ao homem, talvez desconcentrado, estava por isso mal posicionado e quando reagiu já era tarde. A jogada termina com o falhanço de Anelka, mas Sagna, como se não bastasse o erro inicial, ainda cometeu penalty, puxando o avançado do Chelsea e impedindo-o de concretizar nas melhores condições. Esta falta, para felicidade do Arsenal, passou em claro. Foi o primeiro lance de perigo do Chelsea na partida e estava dado o mote para o que se seguiria.

O segundo lance é o do primeiro golo do Chelsea, lance que determinou toda a partida. Com o Chelsea manietado atrás, raramente capaz de actuar em organização ofensiva e a sofrer para manter o nulo frente a um Arsenal muito competente na dinâmica ofensiva, só um lance pontual como uma bola parada ou um erro grosseiro poderia suscitar um golo para a equipa de Ancelotti. Foi precisamente o que aconteceu, uma vez mais com o contributo de Bacary Sagna. A linha defensiva do Arsenal está uns bons cinco metros atrás, mas ainda assim Sagna avança para ocupar um espaço onde a acção era perfeitamente inútil. Em vez de se manter na linha dos colegas, recuado e inviabilizando um passe entre si e Arshavin, que recuara para ajudar a defender, Sagna dá dois passos à frente, permitindo que a bola entre precisamente nessa zona. O passe provém de John Terry e, até por aí, se pode perceber que não foi extraordinariamente bem executado. Aquilo que permitiu, contudo, que se tornasse num passe providencial para o desfecho da jogada foi o mau movimento do lateral francês. Ao colocar-se onde se colocou, permitiu que Ashley Cole recebesse a bola numa zona privilegiada. Depois, o lateral inglês trabalhou bem e cruzou para Drogba, que apareceu muito bem na zona de finalização. Mas o mais difícil estava feito logo desde início. Sem grande elaboração, o Chelsea conseguiu introduzir a bola em zona de cruzamento e com a defensiva dos da casa a recuar, ou seja, com as condições ideais para uma boa finalização. Sagna, ao colocar-se horrivelmente, contribuiu de forma decisiva para aniquilar a boa pressão que o resto da equipa estava a fazer, constrangendo o Chelsea a procurar as linhas, onde supostamente seria menos perigoso.

Vistos os lances, gostaria de concluir reforçando uma ideia que costumo defender. Raramente aponto erros de carácter técnico a jogadores e não chamaria a atenção para estes lances se tal fosse o caso. Mas erros de concentração ou erros intelectuais são coisa para me irritar. O futebol espectacular do Arsenal, esta época, tem sido esmagador e só erros deste tipo têm contribuído para os poucos maus resultados da equipa. A jogar como estava a jogar, vergando o líder do campeonato, perder por causa de burrices destas devia ser coisa para deixar os nervos em franja a Wenger. O problema aqui é que me parece que o treinador francês, embora muito competente em vários aspectos do jogo e na capacidade de análise de atletas, tem um defeito crónico do qual continua sem se conseguir livrar e que tem a ver directamente com a fase defensiva da sua equipa. Embora este ano tenha abdicado do seu 442 clássico, fonte de problemas defensivos que impediam o Arsenal de ser uma equipa tão competitiva quanto o seu desempenho ofensivo merecia, Wenger continua a parecer-me um treinador pouco competente na fase defensiva do jogo. E aqui entra tanto a avaliação das características dos jogadores, preferencialmente jogadores rápidos e tecnicamente evoluídos, mas muitas vezes sem cérebro para conseguirem ler adequadamente os lances, como é o caso de Sagna, como a própria postura defensiva da equipa, muitas vezes negligente em termos tácticos. O Arsenal de Wenger, defensivamente, é uma equipa que não ocupa bem os espaços, que raramente mantém a linha de quatro defesas bem formada e com os jogadores bem próximos entre si. Não havendo uma preocupação vincada em relação a isso, é natural que depois os jogadores se sintam tentados a atacar zonas que não devem e a ocupar espaços consoante os adversários e a posição da bola. Sagna deixa muito a desejar na leitura dos lances e no posicionamento defensivo, mas Wenger, apesar de todas as competências que lhe reconhecemos, não pode ficar ilibado de responsabilidades quando os comportamentos defensivos dos seus jogadores se manifestam tão anárquicos.