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segunda-feira, maio 16, 2011

No campo dos sonhos, Santos se sagra bicampeão paulista

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Nelson Rodrigues dizia que uma torcida vive e influi no destino das batalhas pela força do sentimento. Quem está no estádio, muitas vezes acredita piamente nisso, mas nem sempre é possível estar junto do time do coração. Aí, outros fatores entram no jogo.

O futebol tem o dom de fazer do ateu um agnóstico, e do agnóstico, muitas vezes um fundamentalista. Cada um desenvolve seus rituais como uma forma de pensar que está auxiliando os defensores da sua fé que entram em campo. No meu caso, gosto de pensar em coincidências, relembrando histórias, pessoais ou não, de confrontos e campeonatos.

Nem sempre, porém, tais coincidências foram positivas. Lembro, nas semifinais do Paulista de 2001 contra esse mesmo Corinthians de ontem, que o Santos levava vantagem até os 48 minutos do segundo tempo, quando Ricardinho fez o gol que eliminou o Peixe. Ali, antes do fatídico lance, achava que o clube sairia da fila – àquela altura, de 16 anos sem títulos – contra a Ponte Preta, como aconteceu com o Corinthians em 1977 e, mais tarde, com o Palmeiras, em 2008. Mas o Botafogo se classificava na partida que era simultânea ao clássico e a partir dali eu já esperava pelo pior, que veio no fim do jogo. Não, o Peixe não poderia sair da fila contra o Botafogo... Da mesma forma, tive a certeza (de torcedor, claro) de que o Peixe seria bem sucedido em 2002, já que sair da fila em cima do histórico rival, em um campeonato brasileiro, fazia mais sentido (de novo, em uma lógica de torcedor, claro).

Nesse aspecto, a final entre Santos e Corinthians me deixou inquieto durante parte da semana. Acreditava no potencial da equipe, mas o cansaço de idas e vindas nas últimas duas semanas e a sequência de decisões também causava algum temor pelo resultado. E faltavam as coincidências, alguma elaboração histórica para se agarrar e ter a certeza da vitória.


Esta só surgiu na manhã de domingo. Ao ler a Folha de S. Paulo, lá estava o texto sempre brilhante de José Roberto Torero, que desvendava o motivo pelo qual eu deveria estar certo da vitória peixeira. Há 50 anos, desde 1961, ano mágico para o Santos, o clube não decidia um campeonato na Vila Belmiro. Sim, houve o Paulista de 2006, mas eram pontos corridos (de um turno só, pérola da FPF) e o jogo final foi contra uma equipe que não disputava o título, a Lusa. Desde então, o Peixe levantou taças em inúmeros estádios: Pacaembu, Morumbi, Maracanã, Estádio da Luz etc etc etc. Mas nunca na Vila mais famosa.

E é claro, uma efeméride dessas não ia ser celebrada com derrota. Os atletas do Santos que entraram no campo dos sonhos do futebol não iam cometer esse desatino contra a Vila de tantos craques. E aos 16 minutos veio o primeiro gol. Que foi também o primeiro tento de Arouca no clube, na sua 66a partida pelo Alvinegro. Na primeira etapa, o volante, que já merecia há algum tempo uma chance na seleção, ainda meteu uma bola na trave. Neymar perdeu um gol cara a cara com Júlio César e deixou Alan Patrick também em excelentes condições para marcar, mas a finalização foi pra fora. O rival pouco chegou, finalizou somente duas vezes e teve uma oportunidade só em uma bola alçada na área.

Obviamente, o Corinthians viria pra cima no segundo tempo. E veio. Tite fez a óbvia substituição de Dentinho por Willian e partiu para o abafa. E a chance mais clara do clube da capital veio com um chute dele, aos 14, que resultou em um rebote perigoso de Rafael. O Santos resistia à pressão sem permitir que o Corinthians criasse, a zaga estava segura, especialmente Durval, com uma atuação sublime para um zagueiro. Mas não encaixava contra-ataques, já que Alan Patrick não conseguia nem armar os contra-ataques, nem segurar a bola no ataque. Zé Eduardo fez uma partida acima da sua média, além da assistência para o gol de Arouca, conseguiu se movimentar bem, mas também não mantinha a bola na frente. As esperanças se depositavam em Neymar. E ele correspondeu.

Uma arrancada pelo lado esquerdo e um chute surpreendente, mas sem muita força. A bola escorregadia traiu Júlio César, que aceitou, aos 38. O título que parecia decidido àquela altura voltou a estar em disputa, quando, aos 41, Rafael também falhou após um cruzamento de Morais tocar o chão e ir para o gol. Mas o time paulistano não conseguiu criar mais nada e o Santos assegurou o bicampeonato. Aliás, o clube tornou-se o que tem mais bicampeonatos na história da competição: 55/56, 60/61 (depois tri), 64/65, 67/68 (também seria tri), 2006/2007 e 2010/2011. E é também o maior vencedor do Paulista no século XXI, com quatro títulos, um a mais que o atual vice, Corinthians.

E, 50 anos depois, a Vila viu o Santos decidir um título. Certamente, sorriu.

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Três jogos para esquecer

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Não tem nada que se salve da noite passada para o Corinthians. Eliminação inédita para um time brasileiro, desde que a tal Pré-Libertadores começou a ser disputada, em 2004. Eliminado sem marcar nenhum gol. Eliminado jogando mal de doer os olhos do torcedor, tanto em casa quanto na Colômbia.
Tudo isso em dois jogos que nem deveriam ter acontecido. Bastava ter vencido o Goiás na última rodada do Brasileiro que estariam garantidos o segundo lugar e a vaga na fase de grupos. Com isso, perde o torcedor, que vai aguentar um bom tempo de piadas dos rivais, e perde até o tal do marketing, apontado como culpado por muitos: são pelo menos três jogos como mandante com casa cheia no Pacaembu, mais cota de TV e outros bichos de perda financeira, sem falar na diminuição da exposição da marca, que impacta em acordos de patrocínio.
Voltando a ontem, nada funcionou. O técnico (fora!) Tite montou uma espécie de 4-3-3 sem meias, com Jucilei e Paulinho de volantes-armadores, Dentinho e Jorge Henrique de pontas-armadores. Na prática, ninguém armava, e todos tinham prejudicadas suas outras funções, fosse marcar ou atacar. Quando vi a notícia, imaginei que Dentinho ou Jorge Henrique jogariam livres, bem próximos de Ronaldo. Na vida real, via-se Dentinho dando botinadas na defesa corintiana e JH correndo atrás dos meias. Retranca da braba.
Na defesa, o desentrosado Fábio Santos deixava espaços que o fraco, pra dizer o mínimo, Leandro Castán não tinha qualquer condição de cobrir. A dupla não ganhou uma jogada sequer contra o ataque do Tolima e (fora!) Tite demorou a mexer no posicionamento dos volantes para dar mais segurança por ali.
Mas esses são meio que detalhes no cenário mais amplo de um time desarrumado, sem organização, sem criatividade. Presa fácil para um time que se não é tão ruim quanto imagina a cabeça futebolisticamente auto-centrada de nós brasileiros, está longe, muito longe de ser uma brastemp.
Tite tem muita culpa no cartório, não tenho dúvida, e por mim nem teria vindo. Mas o buraco é mais embaixo. Desde o ano passado, talvez antes, o Corinthians tem que se espremer para acomodar o principal nome de seu elenco. Ronaldo não vai jogar nada muito diferente do que fez ontem ou na reta final do Brasileiro do ano passado. Parado, com piques de no máximo três metros, sem brigar pela bola, mas com lampejos de inteligência em passes e finalizações acima da média. Dessa forma, pode até contribuir, mas a equipe precisa se armar em torno dele. Não é possível uma renovação ampla do jeito de jogar sem que Ronaldo saia da equipe.
E o Corinthians hoje precisa de renovação. Este campeonato Paulista é a hora perfeita para começar a colocar alguns jogadores com potencial, mas que ficaram encostados na reserva, e garotos que se destacaram na base. E aí aparece outro problema do tal do planejamento. Na primeira categoria, temos Edno, que voltou de empréstimo, mas teríamos também Defederico, emprestado sei lá pra quem. Na segunda, temos um atacante, Elias, mas teríamos William Morais e Dodô, também despachados para “ganhar experiência”.
Enfim, depois de dois anos de futebol em bom nível e altas expectativas, entrando com chances reais de ganhar os torneios que disputou, o Timão começa 2011 em baixa. Para completar, hoje torcedores invadiram o CT e quebraram carros de jogadores e funcionários (espero que o clube ajude estes últimos, que não ganham nem de longe o salário dos boleiros). E Roberto Carlos tira o seu da reta, dizendo que sua ausência no jogo de ontem não foi causada por lesão, mas decisão de Tite. Ah, e tem eleição no final do ano. Jogue-se com um barulho desses...