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Uma tragédia ou crime bárbaro de grande repercussão é suscedido por uma onda de conservadorismo. Essa tendência era o que esperava este ébrio autor após tomar contato com as notícias terríveis do massacre na escola municipal do Rio de Janeiro em Realengo, na zona oeste da cidade. Passada uma semana do episódio trágico, o que se sucedeu como repercussão dominante foi o contrário.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), sugeriu a proibição da venda de armas e munição no país. E que isso fosse decidido por um plebiscito, com votação de todo o eleitorado brasileiro. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e ministros da Justiça e dos Direitos Humanos, José Eduardo Cardozo e Maria do Rosário, foram atrás.
Quer dizer, não bastasse ter sido uma reação que pode ser considerada ponderada, sensata e não moralista, o instrumento para isso é um de democracia participativa.
E a proposta de realizar um plebiscito sobre o tema esquentou. Diferentemente do referendo de 2005, o formato envolveria uma consulta ao Congresso Nacional antes de vigorar. Quer dizer, o que o povo decidir depende da homologação do Legislativo. Até aí, tudo bem. O mais incrível é que os membros do governo de Dilma Rousseff concordaram harmonicamente até no tom da reação, defendendo a possibilidade de se rediscutir o tema.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski, disse que a consulta pode, Arnaldo.
Mas a vitória do "não" na consulta popular de seis anos atrás deveu-se a uma reação dos setores mais conservadores da sociedade. Basta lembrar o nível dos argumentos da revista Veja à época. O governo de então, a começar por Luiz Inácio Lula da Silva, era favorável ao desarmamento. Mais, via a proibição como parte de seu programa para desequipar civis de armas de fogo.
Mas, por quê?
O que aconteceu? A sociedade mudou? Os conservadores estavam ocupados defendendo Jair Bolsonaro (PP-RJ), o deputado federal acusado de reiteradas manifestações de racismo e homofobia? Estavam combatendo o avançodos direitos civis de homossexuais? Não puderam defender prisão perpétua nem pena de morte porque o autor do crime já estava morto? Nem redução da maioridade penal, porque não era um adolescente?
A informação de que autor dos crimes teria relação com a religião muçulmana esboçou uma onda reacionária. Alguns comentários de blogueiros e tuiteiros ligados a evangélicos indicava que a questão poderia crescer. Ainda mais na semana em que a capa da supracitada revista falava da suposta presença da rede terrorista Al Qaeda no Brasil. Mas mesmo isso minguou.
O melhor que os setores conservadores conseguiram fazer com o episódio de Realengo foi apontar falta de segurança nas escolas. E defender a instalação de equipamentos como detectores de metal. Fernando Haddad deu ótimas declarações defendendo que as escolas tinham mais é que ser abertas à comunidade, que isso até ajudava a promover a segurança desse espaço.
Seja por ter tido resposta, seja pela conjuntura, as respostas moralistas não foram majoritárias nem mesmo na mídia convencional que adora um sensacionalismo.