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Com todo destaque da mídia e a crecente espetacularização do esporte, nossos ídolos esportivos, principalmente os do futebol, nos parecem cada vez mais distantes. Não que sejam realmente seres de outro planeta, mas adoram se comportar como tal. Muitos acham que jogam mais do que jogam, outros acreditam que valem mais do que valem. Às vezes, quando começam a despontar nas categorias de base, já passam a olhar de forma diferente. Do alto. E a partir de então exorcizam o passado, não se recordam mais de onde vieram e adotam o pedestal como seu lar definitivo.
Assim, ver ídolos humildes é algo cada vez mais raro. Na saída do jogo do Santos com o Bragantino, no sábado, esperava o ônibus sozinho em um ponto da avenida Doutor Arnaldo. Nisso, chegam um negro alto, aparentando 40 e poucos anos, junto com uma moça de idade semelhante. Olho pra eles e reconheço o homem. Ele, vendo minha camisa santista, puxa papo. "Então só empatamos hoje, hein?".
Era Zequinha Barbosa, um dos maiores fundistas da história do atletismo brasileiro. Participou de quatro Olimpíadas (4º colocado em Barcelona, 1992), foi nº 1 do mundo nos 800 metros, campeão mundial indoor em 1987 e prata em 1991, além de ter sido o primeiro brasileiro a ganhar ouro no Grand Prix de Roma, um dos eventos mais importantes do atletismo mundial. E ali estava ele, pegando ônibus e puxando papo com um desconhecido que, em comum com ele, tinha o time do coração.
Logo, mais uma pessoa, uma jornalista da Federação Paulista de Futebol, se integraria ao papo. Durante quinze minutos, Zequinha falou de futebol, tirou um sarro de leve da palmeirense que o acompanhava e corou a jornalista tricolor quando disse que a atual geração de torcedores do São Paulo "era difícil de aguentar". Contou também do seu Santos, elogiou Luxemburgo e lembrou que havia feito uma aposta com o técnico Emerson Leão, em 2002, prometendo um jantar a ele caso o Alvinegro fosse campeão.
Comentou sobre seu curso de Educação Física na FMU, depois de passar vinte anos morando nos EUA. E assim seguia a conversa. Animada, tanto que, sabendo que os quatro fariam itinerário parecido, Zequinha sugeriu à moça que o acompanhava, quando chegou um ônibus que servia para os dois, que esperassem o próximo apenas para ir conosco e continuar o papo. Diante da delicada negativa, se despediu e subiu no ônibus, ainda falante.
A jornalista, um pouco incrédula, virou pra mim e exclamou "era o Zequinha Barbosa!". De fato, é difícil acreditar que você pode encontrar um ídolo de infância no ponto de ônibus.