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O Brasil adota políticas de combate ao fumo que ganham destaque internacional pelo rigor. As restrições à publicidade e as fotos no verso de maços de cigarro foram algumas delas. A onda mais recente é a das leis que proíbem o consumo de cigarro e afins em lugares fechados (ou quase fechados), modalidade inaugurada por Rondônia em outubro e que avança depois do destaque de mídia conquistado pelo governo de São Paulo por adotar a medida.
Diante do que consideram ser uma caçada comparável a práticas nazistas, grupos de fumantes se organizam na internet para se defender. Trata-se, em sua visão, de políticas contra quem fuma, e não contra o cigarro. Um deles é o Fumantes Unidos, no ar desde 2008, criado por Fabrício Rocha.
O braziliense é jornalista e publicitário e apresenta o programa Participação Polular na TV Câmara. Em entrevista por telefone ao Futepoca, ele explica os objetivos do site e do grupo, que é o reconhecimento ao direito de escolha do cidadão.
"Os fumantes sabem dos riscos que correm, não há falta de informação atualmente", sustenta. "As pessoas fumam porque veem vantagens em fumar, é uma escolha", resume.
Ele lamenta a forma como são combatidos comportamentos fora do modelo "máquina de trabalho e consumo" que se assemelha "com a busca pela raça ariana na Alemanha nazista", para usar termos do manifesto do grupo.
Em sua visão, os obesos também são alvo desse tipo de campanha, conforme alerta a Organização Internacional do Trabalho (OIT). No site, há uma seção dedicada exclusivamente à "arte de fumar".
A postura é polêmica e o site mantém até um "Leia antes de criticar", para antecipar respostas a críticas.
Confira os principais trechos da entrevista.
Futepoca – Qual foi a origem do Fumantes Unidos?
É uma organização informal, não uma ONG com estrutura jurídica. Em 2007, eu tinha participado de uma audiência pública da Anvisa sobre a criação de fumódromos. Fui o único a apresentar contraproposta, que se tornou parte de um dossiê que encaminhei a diferentes políticos. Nesse material, estavam apresentados contra-argumentos a ONGs e projetos antitabagistas.
Esse levantamento inspirou a criar o site, a exemplo do que acontece em alguns lugares do mundo. Aos poucos, ele ganhou visibilidade das pessoas, da mídia, rendeu convite para um debate na MTV.
Futepoca – Quantos colaboradores a página possui?
Há um grupo de colaboradores mais ou menos regulares. São em torno de 40 os que já produziram artigos e notícias. Não estou contando comentários de apoio. Recebemos muitas mensagens de apoio e de protesto de todo o país mas, ultimamente, a maioria vem de São Paulo. Se bem que agora tem outros estados que também aprovaram leis, tentando pegar carona na mídia que o (José) Serra teve com a lei.
Futepoca – A rigor, a rigor, o primeiro estado a aplicá-la foi Rondônia.
Os outros estados viram que o tema dá mídia e querem isso também.
Futepoca – No manifesto do movimento, há uma comparação forte do antitabagismo com o Nazismo e a eugenia de forma mais ampla, que vai além da questão do fumo e inclui a apresentação e outros hábitos. Não é exagerada a comparação?
No governo Nazista, Hitler era um antitabagista declarado. O regime fez várias campanhas que apresentavam o fumante como um fraco, inferior assim como os judeus. A intenção era afirmar a superioridade ariana apontando outros grupos e pessoas como inferiores. E havia o contexto de guerra, já que Roosevelt, Churchil – fumante inveterado que sempre aparecia com o charuto na boca – e Stálin eram todos fumantes.
Atualmente o preconceito é mais velado, de certo modo, mas há uma demonização e ridicularização dos fumantes. Aliás, a primeira coisa que se faz em uma ação como essa é chamar o "alvo" de doentes. Até pouco tempo, os homossexuais eram vistos como doentes. O mesmo ocorre com os obesos. Agora a OMS quer considerar os fumantes como doentes, viciados, descontrolados mesmo. São esteriótipos construídos de forma parecida com os dos nazistas.
Futepoca – Por quê?
Os fumantes sabem dos riscos que correm, não há falta de informação atualmente. As pessoas fumam porque veem vantagens em fumar, é uma escolha.
Futepoca – E qual à consequência disso?
O que é preocupante da eugenia é que o mundo vai ficando muito chato. Proibimos tudo. Parece haver uma busca para se criar restrição, suprimir prazeres às pessoas, tirar o livre arbítrio de se avaliar o que é bom ou ruim. Com isso se cometem absurdos legislativos como a lei seca, que fere o princípio da desproporcionalidade ao taxar como criminoso um pai de família que bebe uma batida de limão para acompanhar a feijoada no sábado. Não foi a lei seca que diminuiu os acidentes de trânsito, mas a mídia fazendo alarmismo. E a obesidade é a próxima bola da vez.
Futepoca – Qualquer pessoa que se oponha a projetos antitabagistas é logo acusado de ser financiado pela indústria do fumo. Como você se relaciona com essas críticas? Antes: o site é financiado pela indústria tabagista?
Fiquei surpreso recentemente quando fiz uma pesquisa com o nome do site no Google e encontrei um documento da Aliança de Controle do Tabagismo (ACTBR). Parecia uma coisa de órgãos como a CIA, sobre como falar com fumantes, o que é falado no mundo contra as campanhas de combate ao cigarro. Na parte em que falava do Brasil, citou o site e reconheceu que "não havia qualquer evidência disso". Já ocorreu de sermos procurados, mas não aceitamos apoio em dinheiro, para poder manter independência editorial.
Futepoca – Por que o site mantém uma seção com links para quem quer parar de fumar?
O propósito do site é atender a fumantes. Com o combate que se faz aos fumantes, em vez de se combater o cigarro, com quem ele vai se congregar? Que serviço existe? O fumante assume o risco abertamente, mas ele pode querer parar. O FumantesUnidos busca oferecer apoio se essa for a opção consciente, mas com certeza há outras fontes mais bem preparadas para isso. É inerente à pessoa escolher, não se pode impor, é até ilegal.
E temos ainda a preocupação de dar informações de saúde, porque é recomendável que a pessoa adote mais cuidados do que outras pessoas, porque ela está mais exposta. As doenças atribuídas ao fumo são, na verdade, causados pelo acúmulo de fatores, como poluição, hábitos, genética. É um dos fatores que pode levar a doenças, mas há outros sobre os quais não se fala. O mais comum é se atribuir milhões de mortes só a um fator.
Futepoca – O site é mantido por um certo ativismo. Isso já lhe trouxe algum problema no trabalho ou na vida pessoal?
Uma vez, no último mês, o tema do programa era a lei antitabagista de São Paulo. Como apresentador, eu não poderia participar, porque são pessoas com quem debate constantemente. Eu poderia adotar uma postura de "pôr lenha na fogueira" e usar o debate para favorecer uma das posições, mas por uma questão ética eu disse à TV que não poderia participar. O pessoal da produção entendeu bem, ficou satisfeito com a postura e não houve problema.