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Mais uma da "grande imprensa", que, como apropriadamente observou o Glauco, está ficando cada vez mais "imprensinha". Na página A-6 de O Estado de S.Paulo desta terça-feira, 11 de dezembro, a matéria "Superfaturamento de obra vai a 525%, indica relatório" traz denúncias do deputado federal Giovanni Queiroz (foto), do PDT do Pará, que apontou à Comissão Mista de Orçamento do Congresso indícios de superfaturamento nos projetos de adequação e construção de rodovias com contrapartidas do governo federal. O preço de referência da Caixa Econômica Federal seria de R$ 1,6 milhão por quilômetro, mas, em algumas obras, esse valor salta para até R$ 30 milhões.
O objetivo da reportagem, para variar, é malhar o governo Lula como "irresponsável" e "esbanjador de dinheiro público". Mas há indícios de que a história não é bem essa. Para começar, o texto não mereceu uma chamadinha de capa sequer no Estadão. Em vez disso, Odebrecht vencendo leilão do Madeira e CPMF são manchete e submanchete, respectivamente. Só "pau" no governo federal. Então, por que o caso das rodovias não é destaque? O título vago "Superfaturamento de obra" (grifo nosso) é a pista.
A obra é paulista - Logo no segundo parágrafo, a matéria diz que "entre as obras sob suspeita apontadas pelo pedetista está a construção do trecho sul do Rodoanel de São Paulo", com um custo de R$ 25 milhões por quilômetro. Fosse o governo paulista do PT, alguém aí duvida que esse seria o lead (primeira informação) do texto e que a matéria seria a manchete do Estadão? Pois o jornal sequer cita o governo do Estado como tendo alguma participação no caso. E, segundo levantamos aqui pelo jornal ABCD Maior, de São Bernardo (SP), quem desenvolve o projeto e estima o valor por quilômetro é o ... governo do Estado! No caso, o PSDB de José Serra.
Conversando por telefone com o deputado Giovanni Queiroz, o repórter Diego Sartorato apurou que, ao contrário do linchamento proposto pelo Estadão ao governo federal, o relatório do parlamentar pede apenas a padronização do valor por quilômetro nas obras de rodovias das quais a União tem contrapartida e que se investigue aqueles que fizeram projetos com valor tão alto - no caso, os Estados. Queiroz citou o exemplo da duplicação da Fernão Dias, entre 1996 e 1999. No trecho mineiro da obra, segundo ele, o governo do Estado de Minas Gerais estimou um custo de R$ 1 milhão por quilômetro no projeto. Já em São Paulo, o governo do Estado (na época, o PSDB de Mário Covas) estipulou preço de R$ 3 milhões.
"A rodovia é contínua, não há nada de diferente de um Estado para outro. Percorri o trecho de divisa e a pista é a mesma. A única diferença, no lado paulista, é a faixa de acostamento. Para isso, triplicaram o valor", ironizou o deputado do PDT.
Rodoanel é telhado de vidro - Mas essa não é a primeira vez que a "imprensinha" poupa o governo de São Paulo pelo tão decantado Rodoanel. Em 27 de maio deste ano, o governador José Serra (PSDB) teve a cara de pau de "iniciar oficialmente" as obras do trecho sul, que corta a região do ABC, em pomposa cerimônia na cidade de Mauá. "Nunca havíamos começado o trecho sul. Agora sim é o ponto de partida", bravateou o tucano. Sim, bravateou: oito meses antes, em 19 de setembro de 2006, outra pomposa solenidade, dessa vez em São Bernardo, foi realizada com o então governador Cláudio Lembo (DEM) para, justamente, marcar o início "imediato" das obras.
Apesar das duas pantomimas, o governo estadual manteve as obras paradas. E o trecho sul só começou a sair do papel em junho, depois que o governo federal (sim, do PT de Lula) socorreu o Estado às pressas com R$ 300 milhões do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Porém, de que forma vocês acham que a "grande imprensa", digo, "imprensinha", contou a história? Simples: o "eficiente" Serra desempacou a obra, mesmo com o governo federal "superfaturando" o valor por quilômetro. Depois o Caetano Veloso vem dizer que não considera a mídia brasileira golpista...