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Um jogo inusitado e com
lances inesperados, de todas as formas. O empate de 2 a 2 entre
Santos e Atlético-MG, na Vila Belmiro, começou com um gol relâmpago
dos donos da casa logo aos 19 segundos, marcado pelo
peixe
grande Miralles, que pela primeira vez atuava como titular ao
lado de Neymar, o presente ausente santista.
Neymar reencontrava
Ronaldinho Gaúcho no campo onde ambos protagonizaram uma
partida
antológica em 2011. O garoto pegou uma bola, foi fominha e
perdeu. Em outro lance, fez bela jogada mas forçou, ao invés de
passar para seu companheiro de ataque portenho. Dava a impressão de
estar cansado, já que chegou ontem pela manhã do amistoso da
seleção contra o Japão, na Polônia. Mas...
Na sua ducentésima
peleja pelo Alvinegro, o craque pegou a bola e deu um drible de
calcanhar, deixou dois marcadores no chão, ficou de frente para o
zagueiro, limpou e tocou com precisão por baixo de suas pernas.
Alguém manda o Benjor musicar porque foi um gol daqueles que vão
faltar adjetivos. Eram 12 do primeiro tempo.
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Ao fundo, dois atleticanos tentam levantar após dribles de Neymar |
Mas, assim como naquela
partida contra o Flamengo, o Alvinegro Praiano facilitou. Primeiro, o
sistema defensivo falhou deixando Léo no mano a mano com Serginho,
sem cobertura. Ele cruzou para o baixinho Bernard marcar. Aos 26,
depois de cobrança de escanteio no qual aconteceu o choque que
mandou Rafael Marques, do Atlético-MG para o hospital, os atletas
santistas pararam no campo adversário em virtude do lance e o Galo
foi para o contra-ataque pegar o Peixe desprevenido. Gol de Jô,
depois da defesa de Rafael em chute de Bernard.
Depois da paralisação
de onze minutos, que será comentada mais à frente, a partida
esfriou, aparentemente pela preocupação dos jogadores com o estado
de saúde do zagueiro atleticano, que passou a noite em observação
na Santa Casa de Santos e deve ter alta hoje.
Na segunda etapa, jogo
equilibrado com chances para ambos os lados. Felipe Anderson foi
substituído por Bernardo, que deu outra mobilidade ao time. Os
laterais passaram a subir menos e o jogo passou a ter um ritmo bem
menos intenso, com o Atlético tentando surpreender nos
contra-ataques e os donos da casa pegando mais no meio de campo.
E, quem diria, outra
ocorrência médica. Em disputa pelo alto, Henrique “cabeceia”
Bernard e o atacante mineiro também se lesiona, convulsionando. A
partida ainda teria um outro lance, desta vez na bola, de Neymar que,
em meio a três marcadores rivais, inventa
uma lambreta e sofre
falta, desperdiçada por Bernardo.
O resultado faz a
Libertadores ser uma realidade quase impossível para o Santos e
mantém a diferença do Galo para o Fluminense que, a essa altura, se
torna uma barreira quase intransponível.
“Ah, tem que
interditar a Vila Belmiro”
Sem dúvida, a
Vila Belmiro não é o estádio mais confortável do Brasil. Tampouco
é o mais desprovido de condições para sediar uma partida de
futebol profissional. No jogo contra o
Atlético-MG, o zagueiro Rafael Marques se lesionou após um choque
em cabeceio com um companheiro de time. Foi atendido pelos médicos
dos dois clubes, ficou desacordado entre um e dois minutos, e a
ambulância não pôde entrar no gramado por conta de um degrau que
impedia o acesso ao local. O zagueiro foi carregado em maca especial,
imobilizado, até o veículo. No total, o atendimento durou oito
minutos.
Em nota oficial, o
Santos disse que “o estádio passa por vistorias anuais, realizadas
por vários órgãos diferentes, e nunca foi constatada esta
necessidade anteriormente”, alertando que providenciará o acesso
no local. Quem regulamenta a disponibilidade de ambulâncias nos
estádios de futebol é o Estatuto do Torcedor e, segundo a nota,
“durante a realização de partidas, [o clube] conta sempre
com três ambulâncias ao todo (uma a mais do que pede o Estatuto do
Torcedor, de acordo com a capacidade do estádio), sendo duas UTI,
que ficam nos dois lados do campo, mais uma de remoção. Há também
dois postos médicos para pronto atendimento: um no vestiário do
visitante e outro no ginásio”.
Claro que o acesso ao gramado tem que ser viabilizado para preservar
a segurança e a saúde de atletas, comissão técnica e demais
profissionais que trabalham no gramado. Mas espanta (ou não) a
indignação seletiva e o pedido de “medidas drásticas” como interdição. Para quem lembra do paradigmático
caso
Serginho, zagueiro do São Caetano que morreu após sofre parada
cardíaca no Morumbi, sabe que o defensor foi levado até a
ambulância de maca, assim como não foi usado o desfibrilador. Esses
fatos foram criticados à época por leigos e especialistas, mas não
lembro de alguém ter pedido a interdição do Morumbi. Como o atleta
tinha problemas cardíacos e o São Caetano foi negligente ao
colocá-lo em campo, a questão da qualidade do atendimento ficou em
segundo plano.
Mas também ninguém
pediu a interdição do Engenhão mesmo havendo críticas à demora
da ambulância atender ao treinador do Vasco Ricardo Gomes.
Disse
o diretor do centro médico do estádio, Alex Bousquet, à época: "A
gente parte do pressuposto de que a ambulância tenha equipamento de
suporte básico completo. O que me chamou a atenção foi a demora da
ambulância e a necessidade de os médicos levarem ele ao centro
médico para fazer esse suporte”. Ninguém pediu interdição do
Engenhão.
No caso da fratura que
faz com que o goleiro tcheco Petr Cech jogue com proteção até
hoje, ocorrida em outubro de 2006, o
treinador
José Mourinho falou à época, reclamando do atendimento. “Há
algumas coisas que me deixam em uma situação muito emocional. Meu
goleiro estava no vestiário por 30 minutos esperando uma ambulância.
O futebol inglês deve pensar a respeito disso. É algo muito mais
importante que o futebol.”
Convém não fazer a
tradicional mistura de alhos e bugalhos: é preciso discutir e
aprimorar cada vez mais a presteza do atendimento médico e, se for,
preciso, modificar normas e exigir mais rigor na fiscalização de todos os estádios, não só da Vila. Mas pedir a interdição de um local que tem licenças e alvarás
regularizados na base do “porque eu acho que o estádio é um
lixo”, como fazem muitos jornalistas e/ou torcedores, cheira a demagogia. Contudo, como existem operadores do Direito e cartolas bem afeitos a apelos demagógicos, ainda mais quando vêm da mídia comercial, não duvido nada que a justiça seletiva se faça novamente.