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Após a conquista da primeira medalha de ouro do Brasil no Pan do Rio, o lutador de Tae Kwon Do Diogo Silva virou celebridade instantânea. Foi complicado, mas consegui entrevistá-lo para a revista Fórum ainda em meio à competição que rolava na cidade, aproveitando a brecha de uma reunião com possíveis patrocinadores. Na conversa de pouco mais de uma hora, Diogo contou algo que nunca esqueci. Depois do quarto lugar em sua categoria nos Jogos de Atenas, um resultado de histórico, ninguém reconheceu a importância de seu desempenho. Ao voltar ao Brasil, no aeroporto, não havia uma só pessoa para esperá-lo. Pegou um ônibus e seguiu para casa.
Essa falta de reconhecimento é comum para o atleta que não alcança o pódio. Às vezes, consegue ter um desempenho fantástico, mas não atrai holofotes de pessoas que só sabem contabilizar medalhas, e não atitudes. Por isso, seguem abaixo alguns exemplos de esportistas que estiveram em Pequim e merecem não somente reconhecimento, mas também apoio, principalmente da iniciativa privada, pra lá de ausente nas modalidades olímpicas. A eles, os parabéns e a gratidão por representar um país que lhes dá as costas.
Rosângela Conceição – aos 35 anos, ela foi a primeira atleta brasileira da prova de luta a participar de uma edição dos Jogos Olímpicos. Antes, já havia feito história no Pan de 2007, ao garantir a primeira medalha do país, de bronze, na modalidade.
Inicialmente praticante de judô por influência do irmã, Rosângela foi reserva de Edinanci Silva em 1996. A luta olímpica apareceu para ela em 2003, por meio de uma sugestão do treinador cubano Alejo Morales. A troca foi vantajosa e em maio ela conseguiu a vaga para Pequim no Pré-Olímpico, superando lutadoras de países com muito mais tradição no esporte. Passou pela romena Elena Diana Mudrag, pela egípcia Doaa Ahmed Maher e bateu a francesa Audrey Prieto Bokhashvili.
Em Pequim, na sua primeira luta superou simplesmente a terceira colocada no último Mundial na categoria até 72 quilos, a cazaque Olga Zhanibekova. Na luta seguinte veio a pentacampeã mundial Kyoko Hamaguchi. A japonesa venceu Rosângela, e terminou em terceiro lugar na disputa. Caso chegasse à final, a brasileira poderia tentar o bronze na repescagem. Mesmo assim, ficar entre as oito melhores do planeta é um desempenho admirável. A Caixa Econômica Federal é a patrocinadora oficial da Confederação Brasileira de Lutas Associadas. “Zanza”, como é chamada pelos amigos, recebe apoio do governo federal por meio do Bolsa Atleta.
Paulo Carvalho – em Atenas, o boxe brasileiro teve apenas uma vitória. Agora, em Pequim, foram cinco vitórias de pugilistas nacionais, com dois lutadores chegando às quartas-de-final e ficando a apenas uma vitória do bronze. Os autores da façanha foram Washington Silva, de 30 anos e que não disputará mais Olimpíada, e Paulo Carvalho, que aos 22 anos ainda sonha com uma nova chance em Londres.
Carvalho conta que começou a lutar por admirar o Acelino Popó Freitas. Participante da categoria Mosca-Ligeiro, esses soteropolitano de 1,61 m e 48 quilos penou para chegar às Olimpíadas. No primeiro Pré-Olímpico em Trinidad & Tobago foi derrotado pelo argentino Junior Zarate, mas teve sua revanche na edição da Guatemala, sua última oportunidade, quando derrotou o mesmo rival por 18 a 7. Depois, superou John Nelson Azama, de El Salvador, e o colombiano Oscar Negrete Padilla, garantindo a vaga olímpica.
Em Pequim, derrotou Redouane Bouchtouk, do Marrocos, por 13 a 7, e Manyo Plange, de Gana, por 21 a 12. Nas quartas, topou com o cubano Yampier Hernández, e foi derrotado por 21 a 6. O confronto era entre um país que tinha ganho uma única medalha olímpica, o bronze de Servílio de Oliveira em 1968, contra outro que ganhou 32 ouros, mais do que o total obtido pelo Brasil (20) em todas as modalidades na história. Como tantos outros pugilistas do país, a falta de apoio em uma das modalidades mais marginalizadas do país possa empurrá-lo para o profissionalismo.
Ana Marcela Cunha – esta foi a primeira vez que a maratona aquática foi disputada nas Olimpíadas. Na versão feminina, são dez quilômetros onde 24 atletas competem pelo ouro. Dentre elas, duas brasileiras: Poliana Okimoto, sétima colocada, e a impressionante Ana Marcela Cunha, com apenas 16 anos de idade e quinta na prova.
Baiana residente em Santos, a menina apareceu no cenário da nova modalidade após uma vitória na etapa de Setúbal (Portugal) da Copa do Mundo, disputada neste ano. Mas antes já havia se destacado no Brasil, quando se tornou a vencedora mais nova da Travessia dos Fortes (RJ), feito realizado aos 14 anos.
Ana é nadadora da Universidade Santa Cecília (Unisanta) e tem o patrocínio dos Correios, que concede uma ajuda mensal e custeia despesas com viagens internacionais.
Nivalter Santos - migrante sergipano, saiu de Aracaju, sua terra natal, aos 14 anos. Depois de morar em Santos, mudou-se para a vizinha São Vicente e foi morar junto com a mãe na favela México 70, que já foi a maior do Brasil. Ali, conheceu um projeto social, o Navega São Paulo, e começou a treinar canoagem. Tinha 17 anos.
No entanto, a mensalidade de R$ 20 era muito para quem tinha que ajudar a pagar R$ 300 pelo aluguel de um barraco. Abandonou depois do primeiro mês e só voltou por insistência do treinador Pedro Sena, técnico da seleção brasileira e coordenador pelo programa, que bancou suas remadas.
Bastaram três anos para chegar a seleção do país. Na carreira, já tem oito ouros e duas pratas no Campeonato Brasileiro, um ouro, duas pratas e um bronze no Sul-Americano de canoagem e um nono lugar do Mundial. Esta, uma conquista inédita na história do esporte no Brasil, já que nunca um canoísta da categoria canoa havia chegado a uma final A do torneio.
Ganhou também a medalha de bronze no C-1 500 m da canoagem no Pan, mas parou nas semifinais da mesma categoria e também no C1-1000 em Pequim. Mesmo assim, com somente 20 anos de idade, é uma das maiores promessas da modalidade. O atleta ainda está à procura de patrocínio e a Confederação Brasileira de Canoagem tem o apoio do Ministério dos Esportes.