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DIEGO SARTORATO*
Sempre foi difícil saber o que pensam exatamente nossos representantes políticos sobre a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), mecanismo de segurança criado pelo então presidente tucano Fernando Henrique Cardoso (à esquerda) em 2000/2001 para, na prática, criar um meio legal para impedir o calote à dívida externa e interna com os banqueiros, mesmo que isso nos custasse menos investimento em saúde, educação e programas sociais. À época da criação da lei, o PT (onde ainda estavam futuros dissidentes do PSol), PSB, PSTU e PCdoB votaram contra e tentaram, mais de uma vez, derrubar a medida por meio das Adin (Ações Diretas de Inconstitucionalidade). Depois que assumiram o governo, porém, PT e PCdoB mudaram completamente o discurso, chegando até a gabar-se do cumprimento à risca da LRF em suas administrações estaduais e municipais - bem verdade que depois de terem fechado a conta do Brasil com o FMI.
O bloquinho PSTU-PSol manteve-se contra, mas nem por isso pode ser considerado mais coerente. Basta ver que nesta segunda-feira, 25 de agosto, o presidente Lula decidiu liberar a autorização para empréstimos de pelo menos mais R$ 9,5 bilhões para financiamento de projetos dos governos estaduais, independentemente de suas dívidas públicas. A direita deu início às críticas na base do "Estado inchado não funciona" e os esquerdistas foram atrás, na sanha de atingir a imagem de Lula. "Essa liberação para os empréstimos não adianta nada. As liberações de verba do governo Lula para os estados e municípios são um processo muito pouco transparente, em que a gente fica sabendo do montante final mas não acompanha o investimento", afirmou Fernando Gamelho, secretário de organização do PSol de São Paulo, em entrevista exclusiva ao Futepoca.
Assim, na disputa para saber quem é dono de qual bandeira e por quê, não é de espantar que os partidos tenham cada vez menos credibilidade no papel de organizar o debate com a população. Como já dizia o ex-candidato a governador pelo PSol, Plínio de Arruda Sampaio (à direita), "no começo, eu era considerado da direita dentro do PT. Aí, o partido foi indo mais pra lá, mais pra lá, mais pra lá, e acabaram me taxando de esquerda radical. Mas eu nunca saí do lugar". Do jeito que vai, daqui a pouco ele perde o lugar no partido da Heloísa Helena também...
*Diego Sartorato é jornalista, corintiano e bebe Zvonka. Filiou-se ao PCdoB, trabalha para o PT e simpatiza com o PCO. Às vezes, desconfia que não foi boa coisa "ser gauche na vida". "Mas é melhor que ser de direita", resume.