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Breno foi emprestado ao Nuremberg |
Alex Silva atuando pelo Boa Esporte |
Lugano, fiasco no West Bromwich |
Alex Bruno jogou pela Portuguesa |
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Lugano, fiasco no West Bromwich |
Alex Bruno jogou pela Portuguesa |
Ganso jogou descansado contra o Atlético-PR e nada produziu (Foto: Felipe Gabriel/Lance!Press) |
Opa! Estive longe de internet nos últimos dias e, por isso, me atraso ao analisar a estreia do São Paulo na fase de grupos da Libertadores. Ainda bem que o Fredi viu e já comentou o jogo, pois, na quarta-feira, eu só alcancei uma TV aos 27 da segunda etapa - bem a tempo de ver Ronaldinho Gaúcho convidar o volante Wellington para bailar e cruzar da esquerda na cabeça de Réver: Atlético-MG 2 x 0. A partir daí, não vi muita coisa para poder comentar a partida, a não ser o gol (irregular, empurrão de Aloísio no adversário) que fechou o placar em 2 a 1. Farei, portanto, pequenas observações sobre o São Paulo.
Primeiro de tudo: bola aérea na defesa sãopaulina é gol. E já faz alguns anos isso, por mais que troquem técnico, zagueiros ou laterais. Segundo: se o lado direito é o mais fraco do ataque, o lado esquerdo é o pior da defesa. Nos dois gols do Atlético-MG, Ronaldinho fez a festa no setor do lateral Cortez e do zagueiro Rhodolfo, com cobertura adicional do volante Wellington (aliás, como bem observou o Fredi, a lambança no primeiro gol foi bem digna do quarteto Trapalhões, juntando ao trio citado acima o "bobo da garrafa d'água", Rogério Ceni). E, além de não defender, o lado esquerdo não aciona Osvaldo na frente.
O gol de Réver pareceu replay do segundo feito pelo Bolívar em La Paz, quando Yecerot foi ao mesmo ponto da linha de fundo, passou por Cortez e Welington e cruzou na cabeça de Cabrera. O terceiro do Bolívar também foi de cabeça, numa bola levantada em cobrança de falta. Pelo Campeonato Paulista, Neymar cruzou tranquilamente na cabeça de Miralles, que entrou livre na pequena área para cabecear e fechar o clássico em 3 a 1 para o Santos. Contra o Atlético de Sorocaba, uma cobrança de escanteio encontrou Fábio Sanchez sozinho para fazer o gol de honra do visitante. Ou seja: cruza, que é gol...
E isso porque estou observando só as bolas aéreas, sem contar cruzamentos rasteiros na pequena área, como os que propiciaram gols ao Guarani e ao Atlético-MG. Assim, fica claro que Ney Franco terá mais trabalho para ajeitar a defesa - e o lado esquerdo do time - do que para definir o ponta-direta ideal. Nos dois jogos mais difíceis de 2013, até aqui, derrotas para Santos e Atlético-MG (ainda que as duas tenham sido fora de casa). De minha parte, só uma cornetada: Douglas não pode ser titular, em hipótese alguma. Melhor insistir com Aloísio ou Cañete por ali. E Ganso continua sendo ótimo para esquentar o banco.
A venda de André Dias (foto) para a Lazio por 2,5 milhões de euros, cerca de R$ 6,5 milhões, deixa a zaga do São Paulo totalmente exposta, desentrosada e sem opções para a estreia na Copa Libertadores, dia 10, contra o Monterrey do México. Afinal, como confiar em Renato Silva? Quem é Xandão? Pior: Miranda vem jogando muito mal, Alex Silva ainda demora para se recuperar de contusão e Andre Luis cumpre suspensão e está fora da primeira fase do torneio (se bem que isso pode até ser considerado um alívio!). Resumo da ópera: se o técnico Ricardo Gomes escalar o time no 3-5-2 na Libertadores, só terá Miranda, Renato Silva e Xandão em campo - e NENHUM zagueiro no banco. Se alguém se machucar ou for expulso, terá que improvisar Richarlyson na defesa. Isso é planejamento? Gomes ainda espera a contratação de um bom lateral-direito, para poder voltar ao 4-4-2. Cicinho não vem e, se viesse, é ofensivo e só renderia com três zagueiros em campo. Sei não. Nesta temporada me parece que a vaca foi para o brejo com menos de um mês no pasto...
Um zero a zero justo.
Será que posso descrever assim um jogo em que no segundo tempo um time praticamente só atacou e o outro se defendeu, com alguns poucos contra-ataques que, embora perigosos, não romperam a virgindade das traves do adversário? Depois de um primeiro tempo bastante equilibrado, o Corinthians viveu um segundo tempo de pressão constante, com o Vasco da Gama no ataque buscando obstinadamente o gol. Nossa natural e cultivada admiração pelo jogo ofensivo nos levaria a dizer que o time carioca merecia o gol e a classificação à final da Copa do Brasil. Mas isso seria impreciso, pois deslocaria os méritos a quem também não foi capaz de marcar.
Na realidade, os maiores destaques em campos foram esses dois artistas do desarme, Chicão e William. Poucos times suportariam tanto tempo de jogadas incisivas nas franjas de sua área sem fazer faltas, sem aceitar provocações e sem deixar que a bola efetivamente ameaçasse o gol de Felipe. O arqueiro alvinegro fez uma grande defesa – numa cabeçada de Elton, se não me engano – e teve que sair do gol em mais um momento decisivo.
Fiquei pensando em como descrever a atuação dessa zaga, e me vieram à mente ideias do escritor italiano Italo Calvino.
"Logo dei-me conta de que entre os fatos da vida, que deviam ser minha matéria-prima, e um estilo que eu desejava ágil, impetuoso, cortante, havia uma diferença que eu tinha cada vez mais dificuldade em superar. Talvez que só então estivesse descobrindo o pesadume, a inércia, a opacidade do mundo – qualidades que se aderem logo à escrita, quando não encontramos um meio de fugir a elas." (Cia. das Letras, 1990, trad. de Ivo Barroso)
É a leveza do toque, da movimentação, a não-violência de seus zagueiros que mais admira neste time do Corinthians. Em nenhum momento o time vascaíno conseguiu impor o seu peso, fazer valer a força de sua pressão. Ao contrário, quem se impunha, não pela força mas pela precisão do desarme, foram os zagueiros. O ataque do Vasco foi criativo e veloz, mas a arte do desarme está aí, em superar a qualidade do atacante sem agredir, jogando com chuteiras de pelica. Pois, lembra Calvino, "A leveza (...) está associada à precisão e à determinação, nunca ao que é vago ou aleatório".
Que me acusem de comemorar um empate. O ataque do Corinthians foi medíocre, o meio campo não criou nada. A defesa, porém, fez por merecer, e não só pela garra, mas por sua qualidade. Ainda haveria que mencionar a garra do restante time, em particular de Alessandro e Cristian, e até os momentos de brilho de Dentinho. Mas quis falar dos zagueiros.
A inércia do mundo
Do lado oposto, o do peso e da inércia, poderia comentar a pança do Ronaldo. Muito acionado, perdeu gols feitos, errou nas decisões sobre chutar ou tocar a bola em momentos decisivos, criou jogadas pseudogeniais, na verdade pequenos delírios – penso no toque de calcanhar que deu pro Cristian "chegar chutando" quando o volante estava lá do outro lado, na frente do Ronaldo... Nada disso é o que se espera dele.
Acontece que, quando é "poupado", Ronaldo inexoravelmente ganha peso, e isso deveria ser levado em conta. É como jogar na altitude. Precisa de um tempo de adaptação. Sem dúvida, o centro de gravidade se deslocou, e Ronaldo precisa de um tempo de jogo para reencontrar seu equilíbrio. Atenção para esta dica, Mano.
Mas para mim, o mundo mostra seu peso, sua inércia, sua incapacidade de se renovar quando sabemos da notícia de que um torcedor corintiano foi morto a pauladas e facadas por torcedores do Vasco (segundo notícias, reforçados por torcedores do Palmeiras). Não quero com isso insinuar que "a torcida" corintiana seja uma vítima e os vilões, os seus adversários. O torcedor assassinado sem dúvida é vítima. Mas o que eu quero é só lembrar que passam os anos e não conseguimos reinventar nossas vidas e transformar em "uma fase do passado" a realidade de brutal violência das torcidas. Ao final do jogo, corintianos queimaram um ônibus vascaíno, na saída do Pacaembu. Aqui a reportagem do Globo.com.
Com uma visão cada vez mais opaca, esses jovens não conseguem ver o óbvio, que estão se matando por nada – não é pelo time, não é pela honra nem pela glória: é por nada. É bonito e emocionante sentir a vibração de um estádio que canta que seu time é "sua vida, sua história, seu amor". Mas quando isso se torna literal e completamente verdade, quando o time toma todos os ínfimos espaços da vida e da história de um bando de jovens, uma estranha "ética" se forma, de índole religiosa ou militar: a ética do homem-bomba, que se mata e morre por fidelidade cega a um símbolo – neste caso, até o símbolo está ausente, o que há é um distintivo que deveria significar outra coisa que não uma bandeira de guerra, um valor absoluto...
Seria preciso entender mais a fundo esse fenômeno, não sei se alguém realmente o fez. Comportamento de massa, desconsolo, falta de praia... tudo isso me parece perfumaria na compreensão do sentido essencial da violência que faz com que milhares de jovens joguem fora aqueles que deveriam ser os melhores e mais inventivos anos de suas vidas.