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Corintianos protestam contra beijo de Sheik |
O selinho do jogador corintiano Emerson Sheik no amigo Isaac Azar trouxe à tona a
questão da homofobia no futebol em função da reação agressiva
de torcedores do clube que protestaram contra a atitude do herói da
Libertadores de 2012.
Mas não é
uma questão nova, ainda que não tenha merecido a atenção devida
nem dos dirigentes esportivos da CBF e das federações, tampouco das equipes profissionais. “Os clubes de futebol, a imprensa esportiva e
outros atores envolvidos com o futebol legitimam a homofobia ao
silenciarem sua existência. Ao não serem citados, os xingamentos
homofóbicos acabam sendo naturalizados”, acredita Gustavo Andrada
Bandeira, pedagogo e autor da dissertação intitulada Eu canto, bebo
e brigo... alegria do meu coração: currículo de masculinidades nos
estádios de futebol. “Os nossos grandes clubes possuem origens e
histórias mais ou menos semelhantes. Não vejo, neste momento,
condições para que um clube de futebol brasileiro levante qualquer
bandeira política que o diferencie dos demais.”
O surgimento
das torcidas queer, que combatem a homofobia nas redes sociais, teve
o mérito de tirar esse tema da invisibilidade.
Mas,
mesmo ganhando inúmeros adeptos e o apoio de outros tantos,
reconhecem dificuldades para fazerem coisas simples, como manifestar
o amor pelo seu time em um estádio de forma coletiva.
“Frequentamos
o estádio e temos sim esse objetivo [de
comparecer como organizada].
Mas queremos fazer tudo com calma e no momento certo, é preciso
garantir a integridade física de todos os participantes.
Infelizmente a intolerância é muito grande e, a julgar pelas
ameaças que recebemos na página, sabemos que não será fácil
fazer protestos no estádio. Estamos pensando na melhor forma de
fazer isto”, diz Milena Franco, da Galo Queer, torcida considerada
precursora do movimento atual.
Algumas torcidas já tentaram ir aos estádios levando a temática LGBT. Muito antes da internet e das redes sociais, em 1977, surgiu a primeira organizada gay do Brasil, a Coligay, fundada por Volmar Santos, então dono da boate Coliseu, para apoiar o Grêmio. Hostilizada pelos próprios
torcedores do clube, foi extinta na década de 1980. Outro exemplo que também não foi adiante é a FlaGay, fundada pelo carnavalesco botafoguense Clóvis Bornay e que teve idas e vindas entre o final da década de 1970 e os anos 1990.
Quanto ao
comparecimento em estádios, a Bambi Tricolor enfrenta a mesma dificuldade da Galo Queer, mas em um nível talvez pior, já que são-paulinos são muitas vezes alvo
de ofensas homofóbicas por parte dos rivais. “Há uma forte
resistência entre os torcedores, agravada, inclusive, pela escolha
do nome Bambi Tricolor. E embora a maioria que se manifesta tenha
consciência de que as provocações e ofensas contra os são-paulinos
tem um forte caráter homofóbico, não é muito clara a ideia de que
a reação da torcida, de modo geral, tende a reforçar a homofobia”,
conta Aline, representante da Torcida.
Confira nos
links abaixo as três entrevistas feitas pelo Futepoca em abril e
maio deste ano sobre a homofobia
no futebol brasileiro.
Entrevista
com Gustavo
Andrada Bandeira,
pedagogo e autor da dissertação intitulada Eu canto, bebo e
brigo... alegria do meu coração: currículo de masculinidades nos
estádios de futebol.
Entrevista com Aline,
representante da Bambi Tricolor
Entrevista com Milena
Franco, da Galo Queer.
(Texto com contribuições de Glauco Faria, Marcão Palhares e Nicolau Soares)