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Dia de jogo do Corinthians no Pacaembu. O jogo já havia começado, o que garante uma quarta-feira de pouco movimento dentro do ônibus. Melhor para um casal na faixa dos 50 que permanece sentado do Centro da cidade até o cruzamento da rua da Consolação com a Paulista.
A importância da acomodação em local seguro só poderia ser percebida depois. Para desembarcar na parada do Hospital das Clínicas, o homem avisa a esposa que o desembarque deles é no próximo ponto. Ele se prepara para se levantar.
É só aí que se nota em seu colo uma garrafinha pet de cachaça de meio litro. Com uma das mãos ocupadas, ele agarra-se com a outra às barras do veículo para manter-se em pé. Mesmo sem solidez alguma, ele não deixa de ajudar sua senhora a se erguer. Ela também tinha sua garrafa no colo. Mas ao contrário dele, abandona-a, já vazia, no banco. Com auxílio daquele braço firme do esposo e companheiro de boteco, também se posta e caminha em direção à porta.
O equilíbrio é dificultado pela sinuosidade natural do trecho. Descidas em curva são a diversão de motoristas desejosos por encurtar a viagem.
O casal chega à porta, com o ônibus ainda em alta velocidade. A mulher quase perde o equilíbrio e faz menção de se aproximar de outra das barras internas de apoio para quem viaja de pé. O marido, com reflexos levemente embargados, tem a nítida impressão de que ela tensiona voltar a se sentar, e adverte:
– Não senta de novo, porque já é o próximo.
A mulher não responde, como que para economizar energias preciosas, consumidas na manutenção do corpo sobre dois pequenos e frágeis apoios sobre o piso. Balançam a cada saculejo do veículo, seguram-se como podem.
Finalmente chega-se à parada. O ônibus para. Mas os dois continuam balançando por alguns instantes, possivelmente indicando que o mundo continuava a se mexer para eles. Com a confiança dos que querem um chão estático, eles deixam o veículo, trocando palavras de incentivo:
– Vai, mulher!
– Vamô, homem!
Sãos e salvos em terra firme eles seguem passo a passo até a faixa de segurança. Não há bares ao alcance da vista.
O coletivo segue viagem, permitindo que os passageiros, que a tudo assistiam, passassem da contemplação silenciosa à galhofa maledicente e às risadinhas sobre desgraça alheia. O cobrador adere:
– Cada uma que me aparece. É mole?
A passageira que passa a catraca dirime a dúvida no ar:
– Firme não é... São dois pudins de pinga, ora.
O cobrador não discorda.
Da série bêbados no ônibus:
3 comentários:
Pô, eu morava bem ali na esquina da Consolação com a Paulista. A descida e a curva na pracinha que vem logo depois que o busão entra à direita, no finzinho da Paulista, são de derrubar até quem não está bêbado.
Que declarações mais discriminatórias sobre o casal de manguaças... De se lamentar, não fosse a história tão bem contada.
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