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Meu sobrenome tem origem ibérica. Digo isso porque, apesar de meu trisavô ter sido um legítimo português, do nome (Manoel) aos bigodes, já ouvi falar que os Palhares também têm seu ramo na Espanha. Aqui no Brasil, pelo o que sei, a família se dispersou primeiro por Minas Gerais. Meu pai conta que nossos ascendentes viveram um tempo na cidade mineira de Ouro Fino, antes de irem para o interior de São Paulo, onde nasci. Numa comunidade do orkut sobre os Palhares, a grande maioria dos participantes é de Minas - e isso com certeza tem a ver com minha espontânea e absoluta identificação com os mineiros e sua maneira de ver e viver o mundo. Pois bem, faço esse preâmbulo porque, apesar de (infelizmente) ainda não conhecer Belo Horizonte, um de seus redutos boêmios mais tradicionais é o Café Palhares, que neste ano está completando sete décadas de existência. E foi lá que surgiu uma das comidas de buteco mais famosas do país: o Kaol (acima, à esquerda) - sigla de cachaça (com "k", por uma questão de estilo), arroz, ovo e lingüiça.
Reza a lenda que o Café Palhares foi fundado pelos irmãos Antônio e Nilton Palhares Diniz em junho de 1938, na rua Tupinambás, quase esquina com a avenida Afonso Pena - onde funciona até hoje. Em 1944, foi vendido ao uberabense João Ferreira ("Seu Neném") e seu cunhado Aziz. Hoje, o lugar é administrado por João Lucio e Luiz Fernando, filhos de "Seu Neném". Quem chega ao estabelecimento já vê uma placa dependurada na parede com o seguinte dizer: "Ser mineiro é comer um Kaol". Batizado pelo radialista e boêmio Rômulo Paes, o prato foi incrementado com o passar do tempo e, a partir da década de 1970, adicionou à cachaça, arroz, ovo e lingüiça a farofa, couve e torresmo. Hoje, a lingüiça pode ser trocada por pernil, carne cozida, dobradinha, língua ou peixe. E ainda leva molho de tomate por cima, como toque final. De fato, uma ótima pedida antes de começar ou depois de enfrentar uma bebedeira.
Ah, e o melhor é que, além do Kaol, que inclui cachaça, o Café Palhares (foto acima) também tem a ver com o Futepoca pelos outros dois motivos: sempre foi um local de encontro político e futebolístico. Era freqüentado por gente como Juscelino Kubitschek e Magalhães Pinto e por lá sempre passavam os candidatos em campanha eleitoral. Quanto ao futebol, basta dizer que, antes de existir o Mineirão, eram vendidos lá os ingressos para os jogos do Atlético-MG e do Cruzeiro no estádio Independência. Ou seja: parada obrigatória para os futepoquenses e simpatizantes em BH.