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“Eu sei que o DNA
do Santos é jogar bonito, mas a torcida não gosta de ver o time
namorando com a zona de rebaixamento, gosta de ver namorando com o
g4. A gente tem que buscar coisa grande. Às vezes os jogadores que
tem essa qualidade técnica, mas não tem rodagem, sentem um pouco.”
Era
com essa declaração que o técnico Claudinei Oliveira assumia, após
a partida contra o Goiás, início da maratona de quatro partidas em
oito dias do Santos, sua opção por um esquema de jogo mais,
digamos, cauteloso. Ontem, contra o Internacional, em Novo Hamburgo,
tal opção estava evidente desde o início. Sem poder contar com
Montillo e com Pedro Castro e Léo Cittadini não tendo ainda
convencido, o meio de campo tinha os volantes Alan Santos e Alisson,
e os “meio-volantes” Cícero e Leandrinho.
É
preciso entender o contexto de transição do time, e Claudinei,
ex-técnico da base, conhece o potencial dos jogadores que tem em
mãos e sabe que alguns ainda vão precisar entrar em campo mais
vezes para ganharem confiança. Contudo, às vezes o treinador
exagera no defensivismo quando atua fora de casa, como ocorreu na
partida
contra o Bahia. Ontem, no entanto, teve a seu favor com a
inteligência de Thiago Ribeiro à frente, decisivo nos lances
capitais do jogo.
Além
disso, Claudinei contou com o que talvez possa se chamar de sorte,
pelo menos na peleja de ontem. Alan Santos se contundiu e deu lugar a
Renê Júnior, volante que apareceu bem no início do ano mas logo
foi preterido por Muricy, nunca mais voltando a atuar da mesma forma.
Mais rápido que o jovem, Renê jogou uma partida interessante, a
despeito de errar um ou outro passe, e deu opção de saída de bola
para o Alvinegro.
Até
o meio do primeiro tempo, o Internacional tentava, mas não conseguia
criar oportunidades diante da sólida marcação santista. O Peixe
também não criava, tocava a bola e mantinha o controle, tanto que
terminou o primeiro tempo com 55% de posse da redonda. Mas, exceção feita a uma chance logo aos 2 minutos, com Giva, os visitantes eram pouco
efetivos à frente, o ataque seguia isolado. Tanto que o primeiro gol
saiu de um lance no qual Giva, que sairia minutos depois também
contundido, cavou um escanteio por pura falta de opção do que fazer
com a bola, lembrando o lendário
atacante pela ponta irlandês Duff, craque nesse tipo de arte. E,
da jogada, saiu o gol. Cícero deu uma casquinha e Thiago Ribeiro fez
um gol de centroavante-centroavante.
Thiago Ribeiro comemora com Alison (Reprodução) |
A
equipe continuou trocando passes e os donos da casa sofriam com um
meio de campo pouco criativo, dependente de D'Alessandro. Mesmo
assim, criaram uma boa chance, uma finalização de dentro da área
de Otávio, defendida magistralmente por Aranha. O arqueiro ainda
salvaria o Peixe direcionando uma bateria antiaérea contra o
bombardeio colorado na área no fim da etapa inicial, um temporal de
chuveirinhos.
Estrela
de Claudinei e pênalti questionável
Dunga
voltou com o mesmo time para o tempo final, mas logo promoveu duas
mudanças: colocou Caio na vaga de Scocco e o meia Alex no lugar do
volante Jackson. O Colorado veio pra cima, principalmente à base de
cruzamentos, e tornou o clima tenso para o torcedor peixeiro,
comandando as ações da peleja. Mas, aos 20, Thiago Ribeiro sofre
falta. Claudinei faz sua última substituição, a primeira “não
forçada”, e coloca Renato Abreu no lugar de Leandrinho. No
primeiro toque na bola, na cobrança da falta aos 21, Abreu contou
com a barreira malfeita dos donos da casa para fazer o segundo, seu
primeiro pelo Alvinegro.
O
que se viu depois disso foi um Internacional desnorteado. A afobação,
combinada com uma “pilha a mais” que às vezes caracterizava a
seleção treinada por Dunga, em especial naquela partida contra a
Holanda, piorou e o jogo dava mostras de favas contadas. Até o
juizão Marcelo de Lima Henrique ver um pênalti, aos 30, na disputa
de bola entre Alison e Caio, com a bola resvalando na cabeça do atacante gaúcho e tocando seu braço. O comentarista Batista, no PFC,
justificava o pênalti dizendo que a bola “ia em direção ao gol”
(ia mesmo, fraca). Mas o que diz a regra?
Será concedido um
tiro livre direto a equipe adversária se um jogador comete uma das
seguintes seis (06) faltas de uma maneira que o árbitro considere
imprudente, temerária ou com o uso de uma força excessiva:
(…)
- tocar a bola com
as mãos deliberadamente (exceto o goleiro dentro de sua própria
área penal).
Sobre
o tema, esse
post do ex-árbitro Leonardo Gaciba, para ser mais didático:
Vamos
aproveitar e “matar” algumas lendas que foram criadas para a
interpretação de mão. NÃO
EXISTE ABSOLUTAMENTE NADA ESCRITO
a respeito de:
- Falta
pois desviou a bola que iria em direção ao gol;
- Falta
pois se a mão não estivesse ali a bola passaria ou ficaria para
outro jogador;
- Os braços
estavam abertos. Então foi mão;
- Ele foi
imprudente no lance por isso deve-se marcar mão;
Nesse outro
post, Gaciba ainda completa:
A
FIFA colocou nas interpretações das regras do jogo e diretrizes
para árbitros o seguinte texto auxiliar para facilitar a compreensão
do que é mão deliberada.
Lá
está escrito que o árbitro deverá considerar as seguintes
circunstâncias:
-
O movimento da mão em direção a bola (e não da bola em direção
a mão);
-
A distância entre o adversário e a bola (bola que chega de forma
inesperada);
-
Ainda, lembra que a posição da mão não pressupõe necessariamente
uma infração (deve-se analisar se o movimento ou a posição dos
braços são naturais, forçados pelo deslocamento no campo de jogo
ou se ali estão em uma ação de defesa);
Ou
seja, Alison já subiu com o braço levantado, movimento natural de
quem vai para o cabeceio, entender que ele fez um movimento
intencional em um átimo de segundo após a bola resvalar em sua
cabeça é muita interpretação pra qualquer um... Mas tudo bem,
lance difícil, tem que se tomar a decisão na hora e numseiquelá
numseiquelá numseiquelá.
Voltemos
ao jogo. D'Alessandro cobrou e fez. O Inter voltou pra partida de
corpo e alma e passou a acuar os visitantes, que antes já estavam colocando o pé na mesa de centro da sala e agora ficavam confinados na cozinha. E é aí que aparece
novamente Aranha. Em uma bola mal recuada por Cicinho, Leandro Damião
chega cara a cara com o goleiro que faz uma saída mais que perfeita
evitando o gol.
Com
a entrada de Rafael Moura, aos 35, Dunga consolidou a opção
preferencial por cruzamentos incessantes na área santista para
buscar o tento de empate. Até porque, na hora do aperto, todo mundo
apela para um pouco de Muricybol... Foram 40 cruzamentos colorados na
partida, 33 errados, contra 6 do Santos, de
acordo com o Footstats.
A
peleja ainda reservaria a expulsão do arredio Fabrício, uma chance
desperdiçada por Caio e uma bola na trave de Thiago Ribeiro. Em
resumo, contaram para o Santos ontem a estrela/sorte do técnico, o
jogo taticamente perfeito de Ribeiro e a grande forma de Aranha.
Agora, ainda com uma partida a menos a ser disputada contra o
Náutico, o Santos está em sétimo lugar, a seis pontos do G-4 e
distante nove da zona de baixo. Vitória parcial do estilo
pragmático.