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terça-feira, janeiro 13, 2009

Ghigghia tirou duas vezes o título de 50 do Brasil

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Pesquisando para fazer o post em homenagem à morte de Friaça, descobri uma informação que, com certeza, poucos aficcionados por futebol conhecem. A campanha do Brasil na Copa de 1950 foi tão espetacular (até a decisão, 5 jogos, 4 vitórias, 1 empate, 21 gols pró e só 4 contra), com goleadas de 7 a 1 sobre a Suécia e 6 a 1 sobre a Espanha, que todos sabem que o time só precisava de um empate com o Uruguai para ficar com o título. Mas um fato esquecido - e absolutamente fantástico - é que o trágico jogo de 16 de julho, o "Maracanazo" que nos tirou o título, poderia nem ter sido disputado.

Nossa seleção poderia ter levantado o troféu no dia 13, quando ensacolou os espanhóis com a torcida cantando "Touradas de Madri", do compositor João de Barro, no Maracanã. Para isso, bastava que Suécia e Uruguai empatassem no Pacaembu, em São Paulo. A partida, que foi disputada simultaneamente à do Rio, ficou em 2 a 2 até os 40 minutos do segundo tempo. Mais 5 minutinhos e o Brasil seria campeão antecipado. Mas eis que, nesse momento, o camisa 7 Alcides Ghigghia disparou na lateral direita, invadiu a área e fez 3 a 2, levando o Uruguai à final.

E o mais curioso é que seu gol foi praticamente idêntico ao que faria na decisão, aos 34 minutos da etapa final (fotos acima), selando a vitória de nossos adversários. Dizem que, naquele momento, o idealizador da Copa do Mundo, Jules Rimet, já havia saído de seu camarote, no Maracanã, para atravessar o túnel no subsolo a tempo de entregar a taça para os brasileiros assim que o juiz desse o apito final. Quando partiu, o clima era de festa, com fogos e gritos, pois o placar de 1 a 1 nos garantia o título. Só que, ao subir para o gramado, Rimet não entendeu nada: os uruguaios pulavam e 200 mil brasileiros observavam em silêncio. Ele não viu o gol de Ghigghia.

Pois esse episódio esquecido, de que o Brasil já poderia ter sido campeão contra a Espanha, evitando a partida contra o Uruguai, reforça a devida importância do camisa 7 naquela conquista. Por muito tempo, o falecido capitão Obdulio Varela (à direita, levantando Ghigghia após a vitória) foi apontado como principal figura da decisão, pois teria empurrado sua seleção à virada com berros e pressão nos companheiros. Mas os gols decisivos contra a Suécia e Brasil apontam mesmo Ghigghia como o grande herói uruguaio. O ex-jogador tem hoje 82 anos e vive em Montevidéu. Em 2006, o governo de seu país lançou um selo comemorativo com seu rosto e a frase "Ghigghia nos hizo llorar" ("Ghigghia nos fez chorar"). É, os brasileiros também choraram...

Naquele mesmo ano, o uruguaio recebeu o prêmio "Golden Foot", um molde de ouro de seu pé direito, em cerimônia celebrada em Monte Carlo, na França. Para construir uma casa para sua atual esposa, que tem 35 anos, Ghiggia leiloou esse troféu em julho do ano passado. Quem arrematou foi o Banco de la República Oriental del Uruguay, único participante do leilão, por cerca de 510 mil pesos (R$ 41 mil). "Por sorte não tenho apertos econômicos, mas ter um troféu tão valioso em minha casa é perigoso e quero deixar algo para a minha esposa, que é muito jovem", afirmou Ghiggia, na ocasião. De fato, um craque dentro e fora do campo.


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7 comentários:

fredi disse...

Bela descoberta, Marcão, nunca ouvi falar sobre isso.

Mas qual era o regulamento, por que o Brasil seria campeão antecipado?

Abraço

Olavo Soares disse...

Que sensacional! Eu também não conhecia essa história.

Frédi, o Brasil seria campeão porque a Copa de 1950 não teve final (foi a única da história sem uma finalíssima, aliás), e sim um quadrangular decisivo. Tipo o Paulistão de 1997, por exemplo. O Brasil seria campeão por somar 4 pontos, mais que qualquer outro concorrente poderia alcançar.

Marcão disse...

É exatamente o que o Olavo explicou:

O Mundial teve 4 grupos, para classificar 4 times para o que era chamado de "rodada final" - quando os 4 se enfrentariam entre si, sendo campeão quem mais pontuasse.

O Brasil goleou Suécia e Espanha (7 a 1 e 6 a 1) e somou 4 pontos logo de cara. Enquanto isso, o Uruguai empatou com a Espanha (2 a 2) e ia empatando também com a Suécia.

Se isso acontecesse, somaria 2 pontos e, na última partida, mesmo se vencesse, o Brasil seria o campeão pela melhor campanha disparado.

Da mesma forma, se empatasse com o Uruguai, a Suécia só teria chances de chegar a 3 pontos na última rodada (a Espanha também). Logo, se Suécia e Uruguais empatassem, o Brasil seria campeão antecipado.

Ps.: O mais louco, na história, é que Brasil e Espanha disputaram a primeira fase em grupos de 4 times. Já o Uruguai jogou apenas contra a Bolívia, pois Turquia e Escócia desistiram de vir ao Brasil. Da mesma forma, a Suécia jogou o início apenas contra Itália e Paraguai, pois a Índia também desistiu.

Abraço!

Glauco disse...

Ghiggia eterno! Quanto ao Obdulio, Eduardo Galeano disse que era seu "quase-ídolo". E explica:

Não sou um homem que tem ídolos, não idolatro ninguém. O mais próximo que tenho de um ídolo é um jogador de futebol, um cara que me acompanha quando escrevo, já que tenho um pôster dele no meu escritório. Era um inimigo, pois jogou no Peñarol e sou torcedor do Nacional. Fui conquistado por ele, pelo que fazia e por sua personalidade.
Seu nome era Obdulio Varela e foi o herói de um episódio que os brasileiros chamam, com certo exagero, de “nosso Hiroshima”, a final da Copa de 50, quando o Uruguai ganhou, contra todas as possibilidades, do Brasil. Após a partida, os jogadores foram festejar essa impossibilidade.
Mas ele fugiu do hotel e foi beber em um boteco do Rio. Ele me disse que o que havia nas arquibancadas era uma besta, um monstro de 200 mil cabeças. “Eu os odiava”, contou. Depois, tomou uma, duas, três cervejas e via as pessoas, uma a uma, tristes, chorando. E pensou: “Como eu fiz isso com essa gente tão boa?”. E todos atribuíam a vitória a ele, “foi o Obdulio”, diziam. Por isso o admiro, ele não se acusou, não comemorou e passou a noite inteira abraçado aos vencidos.

Só pelo episódio etílico, o Obdulio já vale ser admirado, rs. A entrevista inteira do Galeano aqui .

Felipe Mendes disse...

Acho que não é bem assim. O Uruguai chegaria a dois pontos, o Brasil teria quatro. Como os dois se enfrentariam na última rodada, o Uruguai, com a vitória, empataria com o Brasil em pontos.

Não sei o que previa o regulamento da época, mas acredito que seria necessário um jogo extra entre as duas seleções.

Anselmo disse...

com tanta desistência, foi a copa do mundo mais fácil da história?

Dude_CFC disse...

é... eu ia comentar essa história que o Glauco comentou aí em cima, sobre o obdúlio varela ter ido beber em algum canto da ZS carioca, em vez de comemorar o título com os companheiros.

e da importância absurda, que ele viu que os brasileiros deram àquele jogo.

em verdade, histórias que só o futebol pode nos proporcionar.