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DIEGO SARTORATO*
Em época de Olimpíadas, a imprensa vai a carga para colocar toda a população no transe ufanista que transforma as vitórias e derrotas individuais dos atletas em mobilização coletiva. Pelo menos no Congresso funcionou: na segunda-feira, dia 18, haveria uma reunião de lideranças partidárias na Câmara dos Deputados para discutir projetos, mas a pauta do dia acabou sendo dominada pelo fracasso canarinho diante dos hermanos no futebol. E como sempre acontece quando a única interferência política sobre o esporte é o pitaco, já teve gente falando mais do que devia.
"Ele [Dunga] já devia ter caído. Falar da queda do Dunga depois da derrota para a Argentina é fácil. Eu já achava antes desses episódios que o Dunga era um técnico que precisava melhorar muito o seu desempenho", sentenciou Arlindo Chinaglia (PT), presidente da Casa (na foto, apontando o placar de 3 a 0 para os vizinhos). Nada de errado com a opinião, que, aliás, jogou com a torcida e apelou para a unanimidade. Mas é o tipo de declaração que não tem (e nem deve ter) nada a ver com o governo. Debates mais importantes e que deveriam ser bandeira dos partidos de esquerda, como a falta de qualquer regulamentação que limite a influência dos patrocinadores privados sobre as equipes nacionais, têm passado longe da discussão.
Assim, a disputa entre Olimpikus e Nike colocou o Brasil em campo sem o brasão e as estrelas de campeão mundial no peito, mas com o símbolo do patrocinador. O ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB), foi chamado para intervir e não conseguiu negociar nem uma bandeirinha brasileira para caracterizar minimamente o uniforme. Claro, não há investimento e nem políticas públicas significativas para os atletas, que acabam sendo mantidos pelas empresas. O raciocínio óbvio de uma corporação é o direito de propriedade, daí que o representante do país pode ser ignorado e as coisas resolvidas em outras instâncias.
O exemplo é pequeno e, para o menos preciosista, até bobo. Mas abre precedentes para uma sobreposição de autoridade que pode ser desastrosa para o país que vai sediar a Copa de 2014, quer as Olimpíadas de 2016 e vai gastar os tubos para isso. É quase como emprestar o apartamento e o cartão de crédito para que uma pessoa dê uma festa para a qual você não será convidado. Numa dessas, se deixar, a pessoa ainda convida e te "janta" a namorada (ou namorado) dentro da tua casa...
*Diego Sartorato é jornalista, corintiano e bebe Zvonka. Filiou-se ao PCdoB, trabalha para o PT e simpatiza com o PCO. Às vezes, desconfia que não foi boa coisa "ser gauche na vida". "Mas é melhor que ser de direita", resume.
4 comentários:
Acho que esse tipo de debate não acontece porque interessa pouco mesmo à sociedade, mas tive a oportunidade de ver o projeto olímpico da candidatura de São Paulo em 2012 e a articulação possível para investimentos e crescimento em infra-estrutura pode ser um salto para um país.
Mas essa questão da apropriação do esporte por empresas privadas não é algo exclusivo daqui,a contece inclusive na China, dita comunista. O abandono do campeão dos 110 metros com barreira do chinês Liu Xiang e asuposta interferência da Nike é um exemplo disso. Na Inglaterra, os torcedores reagem contra clubes que são comprados por investidores suspeitos, aqui, quando isso aocntece, a torcida comemora.
Está longe de ser culpa só dos políticos...
Que não é só culpa das lideranças políticas e que realmente é um assunto que não desperta muito o interesse do torcedor brasileiro, eu concordo. E tampouco a China pode ser considerado um país comunista (ao menos não nos moldes clássicos da coisa).
Mas eu sempre tive pra mim que uma equipe caracterizada pela excelência é que 'empresta' seu prestígio para que o patrocinador alavanque suas vendas. Em troca, a empresa fornece material de treino e jogo. Em tese, quem teria maior prejuízo com o fim de um contrato desses seria a empresa, não a equipe.
Esse tipo de situação, pra mim, é como se o rabo estivesse tentando abanar o cachorro...
Deixando de pensar somente no futebol, a verdade é que depender exclusivamente de patrocinador privado é roubada. É só dar uma olhada nessas olimpíadas e ver que as poucas medalhas que "o Brasil" são resultado de esforço individual ou oportunidade de se livrar da (falta de) estrutura que assola a maioria das modalidades esportivas do país.
Mas claro, isso não chama atenção de ninguém.
"e te "janta" a namorada (ou namorado) dentro da tua casa".
rapaz. mto bom.
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