Tema 4:
O tesouro
— Deu-me uma bússola e um mapa. E agora, o que é que eu faço com isto?
— Não fazes nada! — resmungo, com vontade de lhe arrancar aquilo das mãos.
Ainda não consigo acreditar no que está a acontecer. Acabamos de chegar do notário, onde assistimos à leitura do testamento do meu avô. O avô, o homem que eu mais amava nesta vida, que me criou desde pequenina, conseguiu dar-me o primeiro desgosto agora que já não está entre nós.
Deixou-me um envelope com uma carta que já me fez chorar três vezes. Recebi também um envelope dourado. Trazia no interior uma folha A4 com alguns rabiscos. Conseguem acreditar nisto? O meu avô deixou-me uma folha com rabiscos!
E o que é que ele deixou ao paspalho do Joel? Uma bússola e um mapa!
Quem é o Joel?, perguntam vocês.
O Joel é este loiro idiota que se encontra à minha frente. É restaurador de antiguidades, especializado em livros antigos e, há alguns meses, o meu avô contratou-o para trabalhar a tempo inteiro na biblioteca pessoal. O avô era um homem excêntrico e amava livros. Tinha a maior coleção que eu alguma vez vi.
Suponho que fiquei com ciúmes por ele ter passado os últimos meses de vida na companhia do Joel.
Contudo, agora que descobri esta traição, sinto-me mesmo zangada.
Deixou-lhe uma bússola e um mapa? Ainda não consigo acreditar!
— Dá-me cá isso — arranco-lhe o papel da mão.
Analiso a folha. Tem um título escrito com uma letra muito floreada. O Último Tesouro.
Estava a imaginar um mapa do tesouro como aqueles dos livros de aventuras, mas faço uma careta quando vejo umas linhas sem graça nenhuma. A única semelhança com um mapa do tesouro é o “X” desenhado ao centro da página.
Ele aproxima-se de mim, espreitando por cima do meu ombro.
— Deixa-me ver a folha que recebeste — pede, naquela voz gentil que sempre me fez perder as estribeiras.
Passo-lhe o papel, mal-humorada.
Não me interpretem mal, geralmente sou uma joia de moça. Simpática e alegre. Mas tudo em mim se altera quando estou na presença deste imbecil.
— Hum, curioso… — diz ele.
Está pensativo. Deve achar que vai ser capaz de desvendar aqueles rabiscos incompreensíveis.
— Isto não é um mapa — acrescenta.
Reviro os olhos. Até aí já eu tinha chegado.
— Claro que não é um mapa. É um monte de riscos.
— Não. Olha… — aponta para a folha dele, ainda na minha mão. — Parece a planta de uma casa.
O quê? Estão a ver como ele é palerma. Está a alucinar! Onde é que aquilo se parece com a planta de uma casa?
— Não vejo nada… — digo. E desta vez nem sequer estou a contrariá-lo de propósito. De facto, continuo a não ver nada mais que rabiscos.
Ele tira-me a folha das mãos e aproxima-se de uma mesa. Pousa as duas folhas lado a lado. Eu abeiro-me dele.
— Sei que não se parece exatamente com a planta de uma casa. Pelo menos, não uma convencional — explica. — Não temos as divisões tão perfeitas como se fosse desenhado por um arquiteto. Mas eu diria que estes rabiscos do meu papel são os contornos.
Continuo na mesma. Só vejo rabiscos.
— Talvez as duas folhas precisem de ser sobrepostas — sugere. — Tens papel vegetal?
Digo-lhe que sim e afasto-me para procurar o que ele me pediu. Habitualmente não seria tão solícita com ele, mas estou mesmo curiosa por desvendar este enigma que o avô nos deixou.
Assim que encontro o papel, volto para junto dele e fico a vê-lo copiar os desenhos da minha folha. De seguida, coloca a folha de papel vegetal em cima da folha dele e… uau! Que magia foi esta que aconteceu aqui?
Surpreendentemente, ele estava certo. Depois de sobrepor as duas folhas, os desenhos que, isolados, pareciam apenas rabiscos, transformaram-se perante nós. Agora víamos um mapa mais composto, com contornos, pequenas divisões e uma saliência que eu julgava ser uma porta.
— Acho que o teu avô queria que trabalhássemos juntos — diz, sorrindo-me. Formou-se no rosto dele uma daquelas covinhas enervantes. Mas porque é que ele tem de ser tão imbecil e… atraente? — Reconheces isto?
Analiso melhor o desenho.
— Não me parece a planta de uma casa. — Havia qualquer coisa que não me fazia sentido. De repente, abro muito os olhos. Percebi finalmente o que aquilo era. — É a planta da biblioteca!
Ele parece confuso durante três segundos e depois concorda comigo.
— Anda, vamos! — agarra-me na mão e puxa-me em direção à biblioteca do avô.
O meu corpo obedece. Não tenho qualquer voto na matéria, uma vez que me sinto enfeitiçada pelo toque suave da pele dele, pelo calor que daí emana e que se alastra braço acima, causando-me arrepios.
Já na biblioteca, ele larga-me a mão, completamente indiferente às sensações que provocara em mim.
— Temos de procurar o “X” — diz ele.
Tentando recompor-me, analiso o papel e procuro situar-me. O “X” parece estar entre as estantes e a secretária de mogno. Nesse espaço, apenas existe uma enorme carpete.
Aponto para ela.
— Vamos levantá-la.
Ele apressa-se a enrolar a carpete e ficamos a olhar para o chão de madeira. Não parece haver ali nada.
Ajoelhamo-nos e tateamos ao longo de todo o chão.
A certa altura, os meus dedos tocam num pedaço de madeira mais oca que a restante. Chamo-o.
Com alguma perícia, ele consegue levantar uma das extremidades. Por baixo da madeira, há um pequeno esconderijo.
Lá dentro, uma caixinha de madeira.
Naquele momento, nenhum de nós consegue esconder o entusiasmo. Estamos perante uma verdadeira busca pelo tesouro.
Abrimos a caixa e encontramos uma espécie de chave, mas que se assemelhava mais a um tubo.
E agora, para que serve aquilo?
Voltamos para junto da secretária, onde estavam pousados os mapas, e foi então que demos com a bússola, completamente esquecida.
Pego nela. Se o avô a deixara era porque servia para alguma coisa.
— Esta bússola é falsa — afirmo. — Vês como o ponteiro não se mexe e está fixado no norte?
Ele abre a boca de espanto.
Analiso a bússola e encontro um pequeno orifício, onde cabia a chave que encontráramos.
Apressamo-nos a experimentar a chave e ouvimos um clique.
A bússola abre-se como um porta-joias.
Lá dentro encontramos outra chave. Está enrolada numa tira de papel, onde se lê novamente: O Último Tesouro.
— Fazes ideia de onde pertence esta chave? — pergunta-me o Joel, confuso.
Os meus olhos brilham. Sei exatamente o que aquela chave abre. Há muito tempo que pedia ao avô para me mostrar o seu esconderijo secreto e ele nunca concretizara o meu desejo.
Conduzo o Joel para junto da grande estante que cobria quase uma parede completa. De um dos lados, há uma saliência que eu conheço de cor. Introduzo a chave, rodo duas vezes e ouve-se um clique. A parte da frente da estante mexe-se. Juntos, puxamo-la e abre-se uma passagem.
Entramos. O Joel liga a lanterna do telemóvel para iluminar o interior. Ficamos assoberbados com o que vemos diante de nós.
Pousado num cavalete de enormes dimensões, encontra-se um magnífico quadro. É um retrato da avó, a mulher que ele amara toda a vida.
O avô deixara-nos o seu último tesouro. O amor.
A bússola abre-se como um porta-joias.
Lá dentro encontramos outra chave. Está enrolada numa tira de papel, onde se lê novamente: O Último Tesouro.
— Fazes ideia de onde pertence esta chave? — pergunta-me o Joel, confuso.
Os meus olhos brilham. Sei exatamente o que aquela chave abre. Há muito tempo que pedia ao avô para me mostrar o seu esconderijo secreto e ele nunca concretizara o meu desejo.
Conduzo o Joel para junto da grande estante que cobria quase uma parede completa. De um dos lados, há uma saliência que eu conheço de cor. Introduzo a chave, rodo duas vezes e ouve-se um clique. A parte da frente da estante mexe-se. Juntos, puxamo-la e abre-se uma passagem.
Entramos. O Joel liga a lanterna do telemóvel para iluminar o interior. Ficamos assoberbados com o que vemos diante de nós.
Pousado num cavalete de enormes dimensões, encontra-se um magnífico quadro. É um retrato da avó, a mulher que ele amara toda a vida.
O avô deixara-nos o seu último tesouro. O amor.