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terça-feira, 22 de março de 2022

«A Noiva Judia» de Nuno Nepomuceno [Opinião]


Todas as histórias chegam ao fim e as aventuras do professor Afonso Catalão tiveram o seu último capítulo neste A Noiva Judia.

Tenho acompanhado o trabalho do Nuno Nepomuceno e foi com muita expetativa que iniciei a leitura do seu mais recente thriller.

Antes de mais, deixo a recomendação de que leias os seus livros por ordem de edição. Se não tiveres oportunidade, antes de leres A Noiva Judia, lê primeiro A Morte do Papa e O Cardeal. Estes três livros complementam-se e desenvolvem personagens comuns aos três.

A história inicia-se com o aparecimento do corpo de um homem espancado até à morte. Na mesma noite, um jovem confessa o homicídio, porém, as provas encontradas apontam para a sua inocência. O mistério vai adensar-se com o aparecimento da noiva da vítima e com um outro crime.

A Noiva Judia é uma trama que traz ao palco um conjunto de personagens que foram passando pelos diversos livros da série Afonso Catalão. Senti este reencontro com todas estas personagens como uma despedida do autor e talvez um bocadinho como uma homenagem aos que povoaram estas histórias.

[Fotografia da minha autoria]

Surgiram novas informações sobre o passado de Afonso Catalão e do escritor Adam Immanuel, uma personagem que gostei de conhecer, embora ele seja antipático e arrogante. A viagem ao seu passado permite perceber o traste que este homem realmente é.

A primeira metade do livro deixou-me um pouco confusa. Isto porque estava a acontecer muita coisa ao mesmo tempo, havia inúmeras ligações para fazer e a minha cabeça só perguntava «como raio é que o autor vai atar todos estes nós?»
Mas o Nuno tem o seu talento para as tramas complexas e as respostas começaram a chegar. O que este livro tem de interessante é que nos dá uma nova visão dos crimes que ocorreram em O Cardeal, daí que seja imprescindível ler esse livro primeiro.

Tinha expetativas de reencontrar as duas personagens implacáveis do livro anterior, ou seja, os dois assassinos a soldo, mas o autor não seguiu esse caminho. Quem sabe se, no futuro, possa voltar a pegar numa delas e desenvolvê-la num livro.

Embora tenha apreciado bastante A Noiva Judia, este não conseguiu conquistar o pódio, no qual continua O Cardeal, o meu livro preferido do autor.
Pela minha parte, vou ficar muito curiosa a aguardar o que o autor nos trará no futuro!

Classificação: 4/5 estrelas

sábado, 15 de janeiro de 2022

«Castas: As Origens do Nosso Descontentamento» de Isabel Wilkerson [Opinião]


Não consegui ficar indiferente a este livro.
É doloroso, devastador, completamente revoltante.
 
Com base numa extensa pesquisa, a autora explica-nos o sistema de castas da Índia e compara-o com a América no período da escravatura e com a Alemanha nazi. Raramente a autora utiliza o termo «racismo», uma vez que é pouco abrangente.
 
O Holocausto é uma pequena porção de horror, se o compararmos com os 250 anos de escravatura na América e com as barbaridades que os afro-americanos sofreram (e ainda sofrem).
 
Este livro dói. Custa muito. Algumas descrições impressionam, por isso deixo o alerta para os leitores mais sensíveis. Porém, fica a recomendação: é uma leitura fundamental.

Classificação: 5/5 estrelas

sábado, 24 de julho de 2021

"A Mão que Mata" de Lourenço Seruya [Opinião]


Adoro policiais e thrillers. São os géneros literários que atualmente mais leio e que estão presentes em abundância na minha estante. Não me considero uma especialista, porém, depois de tantas experiências com diversos autores, consigo reconhecer que não é fácil trazer algo de novo e é necessário muito trabalho e criatividade para abordar de forma original algumas das temáticas mais batidas neste tipo de livros.

A Mão que Mata é o romance de estreia de Lourenço Seruya, ator e professor de teatro, e agora também escritor. Neste livro nota-se a influência da profissão do autor, que estará certamente muito habituado a ler guiões e a estudar diálogos e personagens.
 
Sentia-me curiosa quando iniciei a sua leitura. No entanto, considero que o livro daria um bom argumento para uma telenovela, mas como romance policial acabou por ficar aquém das minhas expectativas e não me cativou tanto como eu esperava.
 
Foram vários os aspetos que não me cativaram. Começando pela premissa, esta não é das mais interessantes que já encontrei num policial. Após o falecimento de um empresário rico, os seus familiares reúnem-se na sua mansão para fazer as partilhas. No dia seguinte, um dos membros da família aparece morto.

Em relação às personagens, achei-as muito estereotipadas, muito saídas de uma novela. Temos o empresário rico, a moça pobre que vai trabalhar como criada, o político rude e insuportável que só pensa na campanha, a tia solteira que todos detestam, a mulher que não se separa do marido porque não se consegue sustentar sem ele, a mulher que trai o marido com o jardineiro, o inspetor jovem cheio de perspicácia, a melhor amiga jornalista...
Além disso, o livro tem demasiadas personagens. As que recebem mais destaque (familiares da vítima e agentes policiais) são cerca de quinze, mas ultrapassam as vinte e cinco se contarmos todas as outras que têm pequenas aparições. Não é anormal isto acontecer, há livros com muitas personagens. Contudo, senti que eram exageradas para um livro tão pequeno, não havendo tempo nem espaço para as conhecer.
Não me senti cativada por nenhuma personagem. Não posso dizer que tenha uma personagem preferida, mas houve uma que detestei: o inspetor Rodrigues. Este inspetor quase reformado passou todo o livro a ser inútil, a criticar e a descredibilizar os palpites do inspetor Bruno, alegando que não se resolvem crimes com palpites ou sensações. Sinceramente, não sei como é que um homem tão obtuso trabalhou tantos anos como inspetor.

[Fotografia da minha autoria]

Devo ainda mencionar que o livro recebeu uma revisão descuidada. Perdi a conta às vírgulas que encontrei fora do sítio e que podiam, simplesmente, ter sido apagadas. Isto é mais forte do que eu, não consigo abstrair-me destes pormenores e acabo por não desfrutar da leitura.

O clímax do livro, o momento em que é descoberto e interrogado o assassino, é tal e qual um episódio do Inspetor Max. Não digo isto como uma crítica negativa. Eu apenas criei expectativas que não se concretizaram, uma vez que leio imenso este género, tenho certas preferências e preciso de policiais com mais substância para me entusiasmar.

O autor consegue conduzir os diálogos com à-vontade e dar-nos a conhecer os pequenos detalhes característicos das personagens, bem como os seus comportamentos. Este é um aspeto positivo e que demonstra que o autor está habituado a trabalhar com diálogos.

Acredito sinceramente que o autor tem potencial para melhorar, tem muito por onde crescer. Não sei se pretende continuar neste registo, mas a verdade é que eu gostaria que ele se distanciasse um pouco mais das novelas e explorasse algo mais fora da caixa.

Por aqui, sou sempre sincera. Acredito que não devemos ficar inebriados quando lemos autores portugueses; devemos manter o nosso espírito crítico e partilhar opiniões fundamentadas que ajudem os autores a melhorar.
 
Em conclusão, mesmo não tendo sido um livro que me conquistou, não deixo de recomendar a sua leitura. É um trabalho de um autor português que até tem cativado leitores e só lendo é que poderão formular uma opinião.

Classificação: 2/5 estrelas

domingo, 11 de abril de 2021

"O Cardeal" de Nuno Nepomuceno [Opinião]


O final deste livro é tão bom, tão intenso, que quando terminei fiquei dois dias sem conseguir ler nada. Foi como se me tivessem sugado as energias do corpo e precisei realmente de uma pausa antes de me dedicar a uma nova leitura.

Mas não vamos começar pelo fim!

Antes de mais, deixo um conselho: recomendo que leias a série Afonso Catalão por ordem, de forma a compreenderes toda a dinâmica entre as personagens. Se não for possível, ou se pretenderes começar pelo O Cardeal, a recomendação é que leias antes A Morte do Papa, uma vez que há uma continuidade nos acontecimentos.

Este livro apresenta duas histórias em paralelo. Por um lado, a cidade de Cambridge é confrontada com dois crimes: a morte de Laura Emanuel e um menino que desaparece a caminho da escola e é encontrado nu e estrangulado.
Por sua vez, um novo cardeal chega à Cidade do Vaticano num ambiente de polémica, ao mesmo tempo que também se inicia um novo conclave.

Assim, ao longo desta leitura vamos viajar entre Cambridge e a Cidade do Vaticano. Teremos também a participação de Afonso e da sua esposa Diana.

[Fotografia da minha autoria]

O Cardeal conseguiu prender-me de tal forma desde as primeiras páginas que li metade do livro em apenas um dia.
E porque é que eu gostei tanto deste livro? Creio que terá sido por ele ter uma componente religiosa mais pequena e um maior destaque na investigação dos crimes. Eu sou fã de policiais e thrillers e nem sempre a parte religiosa é o que mais me atrai nos livros do Nuno.

Adam Immanuel é uma personagem que já vem do livro A Morte do Papa e que ganha agora mais destaque, uma vez que vai ser implicado em ambos os crimes. Adam é um escritor inglês que acabou de publicar o seu mais recente trabalho — A Morte do Papa — que está a ser um sucesso estrondoso. Foi uma das personagens que mais me deu gozo conhecer, isto porque é um homem completamente rude, agressivo, antipático e arrogante. Descobri que adoro este tipo de personagens, de descobrir o que está por detrás daquele comportamento, ou seja, tem de haver algo escondido, algum problema, alguma frustração, alguma dor recalcada.

Tenho ainda de deixar um elogio à Vanessa Robbins, uma outra personagem mais passageira que me provocou uma boa quantidade de gargalhadas.

Senti-me mais ligada a esta história porque também fala muito de livros, ou seja, Adam é escritor, a sua irmã Lizzie adora livros, vemos algumas interações entre Adam e o seu editor, e isso ajuda o leitor a identificar-se. Eu, pelo menos, adoro livros que falem de outros livros ou cujas personagens partilhem do meu fascínio pelos livros.

As últimas páginas são intensas, completamente arrebatadoras, com surpresas atrás de surpresas. Quando eu achava que estaria prestes a desvendar o mistério, o autor introduzia novos elementos que me deixavam boquiaberta. Foi uma teia mirabolante de revelações! O autor deixou-me sem palavras, tirou-me o chão por diversas vezes naquelas derradeiras páginas e não tive dúvidas de que este livro merecia as 5 estrelas!

O último capítulo deixou-me maluca! Será que o próximo livro nos vai trazer um confronto entre duas personagens implacáveis que não posso identificar?

Recomendo absolutamente este trabalho do Nuno, que acabou de se tornar no meu preferido do autor!

Classificação: 5/5 estrelas

quinta-feira, 11 de junho de 2020

"A Morte do Papa" de Nuno Nepomuceno [Opinião]


A Morte do Papa foi lançado em janeiro deste ano e é o novo thriller religioso de Nuno Nepomuceno. Entretanto, mesmo há poucos dias, foi lançada um reedição de A Célula Adormecida, um dos seus trabalhos anteriores, e cuja opinião publiquei aqui.

Neste thriller, o catolicismo volta a estar em grande plano. Nuno inspirou-se na vida do Papa João Paulo I e em todo o mistério que envolveu a sua morte, 33 dias depois de ter sido eleito Papa.

A par disso, incluiu na narrativa o desaparecimento da jovem Gabriella Accardi, inspirada na história de Emanuela Orlandi, uma jovem que desapareceu com 15 anos, pouco tempo depois de sair da aula de música. De acordo com a pesquisa do autor, o desfecho deste caso continua atualmente por explicar, pelo que o desfecho que encontramos no livro partiu da imaginação do autor.

Cheguei a referir que A Última Ceia teria sido um dos meus livros preferidos do autor por apresentar um registo diferente, mas devo dizer que mudei novamente de ideias. A Morte do Papa surpreendeu-me imenso e, após ultrapassar alguns obstáculos iniciais, conseguiu agarrar-me e tornar-se uma leitura bastante frenética.

[Fotografia da minha autoria]

Este livro volta a confirmar a excelente trabalho de pesquisa que o autor leva a cabo em cada um dos seus livros. Somos conduzidos para dentro do seio da Igreja Católica, conhecendo o seu modo de funcionamento bem como as intrigas e o ocultar da verdade por parte das personagens.

Adorei reencontrar o Professor Catalão e a sua esposa Diana Santos Silva. Ambos vão colaborar com Paolo, um jornalista italiano que se encontra a investigar o desaparecimento da jovem Gabriella.

Conhecemos também outra faceta humana e insegura do Professor, quando tem um ataque de ciúmes por acreditar que anda a ser traído. Esta atitude deixou, contudo, algumas feridas neste casal e estou curiosa por descobrir como será o desenrolar da história destes dois, num futuro livro.

Voltei a encontrar o fantástico humor do autor em introduzir personagens de outros livros e em referir-se a ele próprio. Confesso que estou sempre à espera destes momentos quando pego nos seus livros novos.

No que diz respeito à escrita, acredito que o autor continua a evoluir. Tive a confirmação neste livro de que os seus diálogos são muito bons. É difícil escrever diálogos, torná-los claros, reais, coerentes, sem excesso de floreados, e o Nuno consegue isso muito bem.

Em conclusão, A Morte do Papa é mais um excelente trabalho deste autor que já é tão acarinhado pelo público português. Se nunca leram nada do autor, creio que está mais do que na hora de finalmente experimentar. Apoiem e leiam os autores portugueses!

Classificação: 4/5 estrelas

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

"A Última Ceia" de Nuno Nepomuceno [Opinião]


Este ano li três livros do Nuno Nepomuceno. Queria lê-los por ordem de publicação antes de pegar no A Última Ceia, que foi publicado no mês de janeiro.

Os livros não precisam necessariamente de ser lidos por ordem, uma vez que as histórias são independentes e não estamos perante nenhuma série. Contudo, o aparecimento do Professor Catalão é algo transversal a todos os livros desde A Célula Adormecida e, como é natural, a vida do professor vai evoluindo e é interessante acompanhar essas mudanças desde o início.
Este livro apresenta uns pequenos spoilers do que aconteceu no final de Pecados Santos e é só por esta razão que recomendo que sejam lidos por ordem.

A Última Ceia apresenta um registo um pouco diferente do que aquilo a que o autor nos tem habituado. Ele aventurou-se no roubo de um quadro, mais precisamente A Última Ceia, de Giampietrino, uma cópia do original de Leonardo Da Vinci.

Conhecemos Sofia Conti, uma jovem mulher que se apaixona por um carismático milionário que poderá ser um ladrão de obras de arte. Quando, mais tarde, ela é abordada por um antigo professor, percebe que acabou de ser colocada perante um dilema: deverá denunciar o homem com quem vai casar-se ou tornar-se cúmplice dele?

Gostei muito de conhecer estas novas personagens que o Nuno criou, especialmente Giancarlo, de quem gostava de ter visto um pouquinho mais, confesso.
A intervenção de Afonso Catalão foi mais pequena desta vez, mas não deixou de ser muito bom reencontrar esta personagem.

[Fotografia da minha autoria]

A ação decorre entre Londres e Milão, com hábeis descrições que nos transportam para cada um dos locais por onde as personagens se movimentam.
Quando li Pecados Santos, senti que o livro não me provocou aquela vontade de o ler compulsivamente. Neste novo thriller do autor, o caso mudou de figura. A história entusiasmou-me muito mais e as últimas 100 páginas foram praticamente lidas de uma só vez, tal era a minha ânsia em descobrir como terminava esta história.

Dou os parabéns ao autor pelas reviravoltas que criou no final e que me deixaram boquiaberta. A verdade é que fomos todos enganados, a história prometia um determinado desfecho, porém, acabou por acontecer algo que ninguém estava a prever. Eu, pelo menos, não previ, uma vez que o autor se esforçou em captar a nossa atenção para outros pormenores.

Não posso esquecer-me de mencionar que adorei as referências que o autor introduziu aos seus anteriores livros, tal como já vem sendo hábito. É muito engraçado encontrar estas brincadeiras do autor!

Em conclusão, penso que talvez este tenha sido o livro de que mais gostei. Nota-se o trabalho de pesquisa do autor, a dedicação e esforço que coloca em todo o livro e o cuidado na escrita. Não me apercebi de grandes gralhas ou erros de revisão, pelo que também encontramos aqui um bom trabalho por parte da equipa da Cultura Editora.

Uma leitura a não perder! Apoiem os autores portugueses! E esta opinião vem mesmo a calhar, dado que o Nuno já apresentou o seu novo thriller, que será lançado em janeiro de 2020.

Classificação: 4/5 estrelas

sexta-feira, 21 de junho de 2019

"Pecados Santos" de Nuno Nepomuceno [Opinião]


Pecados Santos foi o livro que escolhi para junho, para o meu desafio de ler pelo menos um autor português por mês.

Tal como já referi numa opinião anterior, admiro imenso o trabalho e a persistência do Nuno e procuro sempre ler as entrevistas e textos onde ele explica como é o seu processo criativo, o qual se inicia com uma grande pesquisa e, sempre que possível, a visita aos locais onde a narrativa vai decorrer.

Pecados Santos é o seu quinto romance e apresenta-nos duas histórias, duas linhas narrativas: a primeira, no presente, quando ocorrem uma série de homicídios, todos eles recriando episódios bíblicos; a segunda, no passado, envolvendo um episódio da vida de Afonso Catalão.

Neste livro vamos reencontrar Afonso Catalão e Diana Santos Silva, personagens já nossas conhecidas do anterior romance, A Célula Adormecida.
Para quem decidiu estrear-se com este livro, não se preocupem por não conhecerem as personagens, uma vez que os livros podem ser lidos independentemente.

Afonso é um homem cuja vida está repleta de mistérios. Em Pecados Santos, recuamos treze anos para o acompanhar quando ele deu aulas em Cambridge e conheceu os gémeos Hannah e Jonathan. Esta linha narrativa agradou-me talvez um pouco mais do que a que decorreu no presente e mantive-me sempre curiosa por descobrir o que teria acontecido com os gémeos.

Este livro mostra-se igualmente cativante na medida em que o autor explorou a temática dos homicídios, não se coibindo de os descrever com bastantes detalhes, e apostando na sua interpretação através da ajuda de uma psicóloga criminal.

(Tomei a liberdade de incluir na fotografia um pequeno galho e uma flor de romãzeira, uma vez que a romã tem um significado especial no livro.)
[Fotografia da minha autoria]

A juntar a tudo isto, ao longo do livro vamo-nos apercebendo da extensa pesquisa feita pelo autor e de como ele domina os assuntos de que está a falar, nomeadamente as religiões. Enquanto, em A Célula Adormecida, nos falou do Islamismo, desta vez centra-se no Judaísmo e em vários aspetos relacionados com o surgimento desta religião. É um livro que não só entretém como também ensina, sem se tornar monótono.

O livro está estruturado em capítulos pequenos, que são dos meus preferidos e que mais facilmente impelem o leitor a ler mais e mais. Contudo, não senti que o livro me desse aquela vontade de ler compulsivamente e este é um dos aspetos que eu mais procuro num thriller. Quando pego num livro deste género, gosto de receber uma injeção de adrenalina, e este livro não me proporcionou isso. Precisava de um pouco mais de suspense, mas não significa que não seja muito bom de ler.

Gostaria, antes de terminar, de salientar dois aspetos que eu creio que mereciam mais atenção.
O primeiro é sobre a relação de Afonso e Diana. Quem leu o livro anterior, conhece as circunstâncias em que eles se conheceram. O final do livro não me deixou nenhuma pista de que eles estariam a apaixonar-se, pelo que foi uma surpresa encontrá-los juntos neste novo romance. Sei que o propósito do livro não era criar uma história de amor, mas não senti química entre ambos. Senti que estavam juntos por serem duas almas um pouco solitárias. Mesmo sendo um thriller, gostava de ter visto mais da faísca própria dos relacionamentos recentes.

O segundo aspeto prende-se por uma questão de revisão. Embora esta esteja bem feita, por diversas vezes apercebi-me do emprego exagerado da expressão "corpo seco" ou "físico seco" para caracterizar mais do que uma personagem. Provavelmente este aspeto passará despercebido à maior parte dos leitores, contudo, eu costumo fazer revisão de texto e talvez por isso tenha o olho mais apurado. Incomodou-me um pouco estar sempre a ler a mesma descrição quando, algumas delas, poderiam ser substituídas por adjetivos de significado similar.

Por fim, posso ainda referir que o final me surpreendeu mesmo muito. Eu não tinha nenhuma teoria acerca de quem seria o assassino e acabei por ficar boquiaberta com a revelação. É um final poderoso e difícil de esquecer!

Para concluir, deixo a minha recomendação caso procurem um thriller intenso e que aborda a temática da religião. Apostem nos autores portugueses e venham conhecer o trabalho de Nuno Nepomuceno!

Classificação: 4/5 estrelas

sábado, 27 de janeiro de 2018

"Limões na Madrugada" de Carla M. Soares [Opinião]


Limões na Madrugada é o mais recente trabalho da autora Carla M. Soares, publicado no final do ano passado. Da autora, já li Alma Rebelde e A Chama ao Vento. Ainda me falta ler O Cavalheiro Inglês e O Ano da Dançarina, o que farei assim que surgir oportunidade.

Comprei este livro no Natal para poder começar o novo ano a ler em português e também porque acho importante apoiarmos os nossos autores.

A autora tem-se destacado pelos seus romances históricos e de época, e agora apresenta-nos uma história num registo diferente, mais contemporâneo.
Apresenta-nos Adriana, que vive na Argentina, terra da sua mãe. A sua família paterna vivia no Porto, local onde nasceu. Quando recebe uma pequena herança, os últimos quadros que o seu tio pintou, regressa a Portugal para os vir buscar e conhecer a casa da sua família, assim como a sua história e os seus segredos.


Quando se inicia a leitura deste romance, é impossível o leitor não reparar de imediato na escrita sublime da autora. Uma escrita lindíssima, trabalhada mas deliciosa de ler, com um toque próprio da autora.
Ainda não li os dois romances históricos anteriores a este, mas sem dúvida que se nota uma evolução enorme, em comparação com o primeiro livro publicado.

Em capítulos pequenos, de leitura muito agradável, a autora vai desvendando o passado e o presente de Adriana, oferecendo-nos, aos poucos, a história desta mulher um pouco reticente em desvendar o passado da sua família. Também conhecemos os seus amigos, Chloe e Javier, e a sua família.

A autora foi mantendo o mistério até ao fim, cativando o leitor até que finalmente descobrimos o que de tão terrível aconteceu no seio daquela família e o que terá levado os pais de Adriana a fugir à pressa para a Argentina. Infelizmente, é uma temática muito atual ainda nos dias de hoje.

Adorei o pormenor dos limões, o seu significado e consegui, por várias vezes, imaginar o seu aroma ao longo da leitura. Li em algumas opiniões que houve quem não gostasse do título, mas eu gosto imenso. Parece-me um título elegante, que combina na perfeição com a escrita da autora e com a história desta páginas.

O final ficou em aberto, algo que não costumo gostar muito que aconteça. Porém, dá-nos também a possibilidade de imaginar como teria continuado a vida de Adriana e eu escolho acreditar que ela conseguiu voltar para os braços de Javier. Sou uma romântica, é verdade.

No geral, foi uma leitura agradável e que aconselho vivamente, quer conheçam ou não as obras desta autora. Se não apreciam romances históricos, podem experimentar este que é mais contemporâneo.

Classificação: 4/5 estrelas

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

"Pecados Santos" de Nuno Nepomuceno [Divulgação]

Título: Pecados Santos
Autor: Nuno Nepomuceno
Edição: 2018
Editora: Cultura
Páginas: 448
Preço: 18,95€

Nas livrarias a 19 de janeiro

Lançamento Nacional
FNAC C.C. Colombo
24 de janeiro, às 19h00

Sinopse:

Nas comunidades judaicas de Londres e Lisboa, ocorre uma série de homicídios, todos eles recriando episódios bíblicos. Atos bárbaros de antissemitismo ou de pura vingança?

Um rabino é encontrado morto numa das mais famosas sinagogas de Londres. O corpo, disposto como num quadro renascentista, representa o sacrifício do filho de Abraão, patriarca do povo judeu.
O caso parece encerrado quando um jovem professor universitário a lecionar numa das faculdades da cidade é acusado do homicídio. Descendente de portugueses, existem provas irrefutáveis contra si e nada poderá salvá-lo da vida na prisão.
Mas é então que ocorrem outros crimes, recriando episódios bíblicos em circunstâncias cada vez mais macabras. E as dúvidas instalam-se.
Estarão ou não estes acontecimentos relacionados?
Poderá o docente vir a ser injustamente condenado?
Porque insistirá a sua família em pedir ajuda a um antigo professor, ele próprio ainda em conflito com os seus próprios pecados?
As autoridades contratam uma jovem profiler criminal para as ajudar a descobrir a verdade. Mas conseguirá esta mente brilhante ultrapassar o facto de também ela ter sido uma vítima no passado?

Abordando temas fraturantes da sociedade contemporânea como o antissemitismo e o conflito israelo-árabe, e inspirando-se nos Dez Mandamentos e noutros episódios marcantes do Antigo Testamento, Pecados Santos guia-nos através das ruas históricas de Londres, Lisboa e Jerusalém, numa viagem intimista e chocante sobre o que de mais negro e vil tem a condição humana.

Sobre o autor:

NUNO NEPOMUCENO venceu, em 2012, o Prémio Literário Note! com O Espião Português, o seu primeiro romance. Seguiram-se A Espia do Oriente e A Hora Solene, com os quais concluiu a trilogia Freelancer, ambos publicados em 2015, o mesmo ano em que integrou a coletânea Desassossego da Liberdade com o conto «A Cidade».
Em 2016 lançou A Célula Adormecida, o primeiro thriller psicológico da carreira. Já foi n.º 1 do top de vendas de livros policiais em lojas como a Fnac, Bertrand, Wook e Amazon.
Desde 2017 que passou a ser representado pela Agência das Letras.
Notabilizado pela sua narrativa elegante, Pecados Santos assinala o seu regresso ao thriller psicológico.

Consultem o site site oficial do autor: www.nunonepomuceno.com