Esta foi a minha leitura do mês de agosto para o desafio Português no Feminino que, confesso, me está a correr muitíssimo bem.
Desta autora, já tinha lido em 2013 o romance Demência e, no ano passado, aproveitei para comprar em promoção O Funeral da Nossa Mãe. Guardei-o na estante e lá ficou por mais de um ano, até que decidi que teria obrigatoriamente de o incluir neste desafio de ler em português. E assim foi.
A história transporta-nos para o Alentejo rural, mais especificamente para Vila Flor, uma aldeia fictícia. Tudo começa com o suicídio de Carolina Alves, aos 58 anos, acontecimento que deixa toda a povoação perturbada e surpresa, pois não esperavam semelhante reviravolta na vida de Carolina.
Ao tomar esta decisão, Carolina deixa um último pedido às suas três filhas: que se reúnam e participem na festa em honra da padroeira da vila e recuperem os laços de sangue que as unem.
As três irmãs não podiam ser mais diferentes: Luísa, a mais velha, emigrou para Paris, e é a mais destemida e pragmática das três, sendo também pouco dada a sentimentalismos e demonstrações de afeto. Cecília é a irmã sonhadora, tal como a mãe; é uma pianista muito talentosa e refugia-se na música para escapar aos problemas. Finalmente, Inês, a mais nova e mais insegura, que anda constantemente mal-humorada e não consegue confiar em nenhum homem.
Durante estes dias em que se juntam para o funeral da mãe, vão descobrir, com a ajuda da tia Elisa, os segredos e os erros que assombraram o casamento dos pais.
Eu já tinha ficado admirada com a escrita da autora ao ler a sua obra Demência, e este segundo livro só veio confirmar que estamos perante uma escritora extremamente talentosa. A escrita é muito madura, cuidada, bem estruturada e sem qualquer erro ortográfico e de construção frásica. Este é um livro para ler e saborear cada palavra, cada linha; é como se existisse uma melodia escondida em casa frase.
A história cativou-me imenso; eu gosto de segredos, de descobrir pouco a pouco o passado das personagens e fico extasiada quando esse passado se revela, de certa forma, dramático. O passado de Carolina revela as suas fraquezas e a forma como os seus atos, mesmo tendo sido feitos por amor, acabaram por trazer sofrimento à própria e às pessoas que a rodeavam.
Não diria que esta é uma história de amor mas sim a história de um amor destrutivo, um amor egoísta.
A narrativa alterna entre o presente e o passado, onde nos é contada ao pormenor a história de Carolina e Lourenço. A autora também teve o cuidado de contextualizar a época em que as personagens viviam e de dar a devia atenção aos comportamentos, costumes e pensamentos associados a essa época, aspeto que resultou muito bem e enriqueceu a narrativa.
Esta é uma história maravilhosa, cativante e intensa (o próprio título do livro chama a atenção) que recomendo sem qualquer reserva. As personagens são credíveis, a escrita transborda sensibilidade e a história acaba por tocar o coração do leitor e alojar-se num cantinho da sua memória. Adorei aquele final ternurento e desejo que esta história possa chegar ainda a muitos leitores.
Classificação: 5/5 estrelas