Pacheco Pereira não é personalidade que me provoque admiração ou simpatia. Tenho um preconceito assumido em relação a pessoas da minha geração que foram de extrema-esquerda no período revolucionário e que se passaram de armas e bagagens para a direita. Esse foi o caso de PP. Na altura eu era militante do PCP e ficava sumamente irritado com os ataques destes intelectuais que nos acusavam de "revisionistas".
Para eles nós éramos muito moderados e, por isso mesmo, "traidores da classe operária e dos camponeses". E foram eles que desencadearam acções violentas e provocações desastrosas, numa altura em que era necessário reunir todos os democratas na defesa de um regime que acabava de ser implantado. Foram eles que desencadearam greves selvagens e ocupações de terras sem critério; que ocuparam a Rádio Renascença, criando um conflito inútil com a hierarquia da Igreja; que atacaram a embaixada espanhola na Praça de Espanha, contribuindo para criar um ambiente internacional hostil contra a Revolução de Abril. Foram eles que lançaram palavras de ordem completamente irresponsáveis como a que dizia "Nem mais um soldado para Angola", e que criaram a anarquia em muitas unidades militares, contribuindo de forma decisiva para o descalabro da descolonização descontrolada. Sei do que falo porque, na altura, estava a cumprir serviço militar em Tancos e em Abrantes e tive de defrontar estes rapazolas irresponsáveis que me insultavam porque eu era "revisionista ao serviço de Moscovo".
Claro que a direita da altura aproveitava e acusava o Partido Comunista Português por estes acontecimentos. E este tentava defender-se, e com razão, mostrando que os partidecos da extrema-esquerda, na sua prática violenta e extremista, apenas serviam para anular aqueles que mais haviam lutado contra o Estado Novo de Salazar e Caetano e acabavam por ser aliados objectivos da direita reaccionária.
Que eram gente de direita travestida de extremistas de esquerda, isso logo se provou, passada a tempestade revolucionária: foi bom de ver estes tipos a passarem-se para o chamado "Arco do Poder", essa marosca inventada para garantir a serenidade do pântano: Durão Barroso foi um deles, Pacheco Pereira, outro.
Tudo isto me veio, talvez a despropósito - perdoem-me, ó meus amigos! - com a leitura da revista LER, de que sou fã confesso. P. Pereira é tema de capa. E lá fui ler a grande entrevista que lhe foi feita por Ana Sousa Dias. A verdade é que gostei. Fechadas as contas de ressentimentos antigos fiquei impressionado com o enorme trabalho arquivístico de que ali se dá conta circunstanciada. PP junta materiais e organiza espólios que são já um enorme manancial para o estudo da nossa História contemporânea.
Referência especial para o site EPHEMERA, de consulta aberta, onde se podem consultar muitos dos materiais que fazem parte do valioso arquivo de Pacheco Pereira.
A LER não se resume a isto, é bom de ver. E não há como LER!...
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